Ele conta que era de uma timidez doentia, incapaz de falar em público, o que, para um advogado, não facilita as coisas. Num dia em que devia tomar posição a favor do vegetarianismo, não confiando em sua inspiração, redigiu um discurso: uma pequena folha de papel foi suficiente. No entanto ficou sem voz. “Levantei-me para ler e não consegui: tudo se embaralhava diante de meus olhos, eu tremia." Vergonha, impotência, tristeza.
O caso não é isolado, uma vez que, após seu retorno à Índia, quando se lançava na carreira de advogado – “era a minha estréia no tribunal correcional” -, a coragem novamente lhe faltou no momento de tomar a palavra. “Minha cabeça girava e eu tinha a impressão de que toda a sala era uma só vertigem." O espírito bloqueado, risos imaginados. “Eu estava morto de vergonha e decidi não mais me ocupar de nenhuma causa...”
Mas, como sempre, a partir da ferida e do fracasso – expostos com a humilhação que infligem -, Gandhi explica que trabalhou sobre si mesmo e tirou uma vantagem disso. Esse mecanismo evidencia-se ainda mais posteriormente. A moral a tirar da história sendo a seguinte: a timidez, de início “um grande aborrecimento”, acaba por ensinar-lhe a economia das palavras. “Adquiri naturalmente o hábito de abreviar o meu pensamento.”
Mesmo assim é plausível pensar que seus três anos de formação de jurista na Inglaterra contribuíram também para ordenar esse pensamento e “abreviar” sua formulação. A arte de Gandhi de exprimir-se em frases lapidares, fórmulas claras máximas destinadas a atingir o alvo e a ser memorizadas, bem como sua habilidade de penetrar os arcanos da justiça, devem-se em parte a seus estudos de advocacia, mesmo se a autobiografia, à maneira dos manuais instrutivos, insiste noutros pontos, utilizando a desvantagem que é a timidez para dar um pequeno curso sobre a importância da reflexão e mesmo do silêncio.
Tão essencial quanto a necessidade de refletir antes de falar – e que outra coisa fazer quando as palavras não vêm ? – é a necessidade de calar. Saber guardar o silêncio – uma aptidão que se apoiou primeiro numa impossibilidade – é em última instância uma força maior, diz ele, do que saber falar. “A experiência me ensinou que o silêncio tem sua parte na disciplina espiritual de todo aquele que se devota à verdade.” Ou seja, a verdade é inseparável do silêncio.
A última frase do capítulo diz: “Minha timidez foi para mim uma égide, um escudo. Ela permitiu que eu me desenvolvesse. Ela me ajudou a discernir a verdade.” Também aí portanto, havia uma vitória.
Christine Jordis
Do livro Gandhi, a biografia, de Christine Jordis.
O caso não é isolado, uma vez que, após seu retorno à Índia, quando se lançava na carreira de advogado – “era a minha estréia no tribunal correcional” -, a coragem novamente lhe faltou no momento de tomar a palavra. “Minha cabeça girava e eu tinha a impressão de que toda a sala era uma só vertigem." O espírito bloqueado, risos imaginados. “Eu estava morto de vergonha e decidi não mais me ocupar de nenhuma causa...”
Mas, como sempre, a partir da ferida e do fracasso – expostos com a humilhação que infligem -, Gandhi explica que trabalhou sobre si mesmo e tirou uma vantagem disso. Esse mecanismo evidencia-se ainda mais posteriormente. A moral a tirar da história sendo a seguinte: a timidez, de início “um grande aborrecimento”, acaba por ensinar-lhe a economia das palavras. “Adquiri naturalmente o hábito de abreviar o meu pensamento.”
Mesmo assim é plausível pensar que seus três anos de formação de jurista na Inglaterra contribuíram também para ordenar esse pensamento e “abreviar” sua formulação. A arte de Gandhi de exprimir-se em frases lapidares, fórmulas claras máximas destinadas a atingir o alvo e a ser memorizadas, bem como sua habilidade de penetrar os arcanos da justiça, devem-se em parte a seus estudos de advocacia, mesmo se a autobiografia, à maneira dos manuais instrutivos, insiste noutros pontos, utilizando a desvantagem que é a timidez para dar um pequeno curso sobre a importância da reflexão e mesmo do silêncio.
Tão essencial quanto a necessidade de refletir antes de falar – e que outra coisa fazer quando as palavras não vêm ? – é a necessidade de calar. Saber guardar o silêncio – uma aptidão que se apoiou primeiro numa impossibilidade – é em última instância uma força maior, diz ele, do que saber falar. “A experiência me ensinou que o silêncio tem sua parte na disciplina espiritual de todo aquele que se devota à verdade.” Ou seja, a verdade é inseparável do silêncio.
A última frase do capítulo diz: “Minha timidez foi para mim uma égide, um escudo. Ela permitiu que eu me desenvolvesse. Ela me ajudou a discernir a verdade.” Também aí portanto, havia uma vitória.
Christine Jordis
Do livro Gandhi, a biografia, de Christine Jordis.
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