“Etimologicamente a palavra significa: ater-se à verdade –donde força de verdade. Chamei-a igualmente Força de Alma ou Força do Amor” (Gandhi). Verdade, amor, alma, palavras saturadas de sentido e sempre insuficientes. Mas como traduzir essa noção que é incomensurável, tão indefinível como Deus ?
No satyagraha está toda a esperança da Índia. E o que é o satyagraha? Ele foi descrito muitas vezes, mas, assim como o sol não pode sê-lo completamente nem mesmo pela serpente Sheshaga das mil línguas, o sol do satyagraha não saberia ser descrito de forma satisfatória. Não cessamos de ver o sol, no entanto não sabemos muita coisa dele... (Gandhi)
Força de Alma cuja idéia brotou como única reação aceitável à experiência de humilhação que lhe foi imposta, em Piermartritzburg, pelo racismo da África do Sul. Como os indianos que suportavam os insultos, impotentes e resignados, Gandhi poderia ter-se inclinado diante da lei do mais forte, colocar-se em seu lugar, submeter-se. Não quis. A humilhação foi tão profunda que só podia ser anulada pela afirmação contrária: a da dignidade humana, fundada numa força invisível, onipotente, invencível desde que se tenha o seu domínio, e sobre a qual nenhuma forma de coerção poderia prevalecer – uma força que o tornava, de certo modo, invulnerável, como tornaria invulneráveis todos os que sofriam junto dele e no mundo, expostos à injustiça e à discriminação. “A dignidade do homem exige obediência a uma lei mais alta – à força do espírito.” Pela simples virtude de seu sofrimento e de sua superioridade moral, essas vitimas adquiriam o poder de inverter as posições e de transformar o adversário: operar nele o que Gandhi chamava uma “mudança de coração”. Para isso, não se devia oferecer ao tirano a resistência física que ele esperava, mas, frustrando essa expectativa, “uma resistência da alma que escapará a suas mãos. Essa resistência primeiro o cegará e, a seguir, o obrigará a curvar-se. E o fato de curvar-se não humilhará o agressor, mas o elevará...” (Young Índia, 8 de outubro de 1925).
Tocar o coração, convencer o inimigo, comovê-lo, abrir nele um outro olhar: “É o único meio para ver abrir-se no homem uma outra espécie de compreensão, compreensão essa completamente interior. É o sofrimento, não a espada, que é o brasão do homem”. Recusa ou desdém de rebaixar-se ao nível da brutalidade – aquele onde impera o uso da força, seja a força física ou a das armas -, desejo de elevar o homem, de incitá-lo à superação de si, na realização de suas faculdades mais elevadas, fora das armadilhas do ódio e da vingança, fora da engrenagem sem fim da violência.
“O homem só se torna divino quando, em sua pessoa, encarna a inocência; é somente então que ele se torna verdadeiramente homem.” (Gandhi)
Christine Jordis
Gandhi, Biografia de Christine Jordis.
No satyagraha está toda a esperança da Índia. E o que é o satyagraha? Ele foi descrito muitas vezes, mas, assim como o sol não pode sê-lo completamente nem mesmo pela serpente Sheshaga das mil línguas, o sol do satyagraha não saberia ser descrito de forma satisfatória. Não cessamos de ver o sol, no entanto não sabemos muita coisa dele... (Gandhi)
Força de Alma cuja idéia brotou como única reação aceitável à experiência de humilhação que lhe foi imposta, em Piermartritzburg, pelo racismo da África do Sul. Como os indianos que suportavam os insultos, impotentes e resignados, Gandhi poderia ter-se inclinado diante da lei do mais forte, colocar-se em seu lugar, submeter-se. Não quis. A humilhação foi tão profunda que só podia ser anulada pela afirmação contrária: a da dignidade humana, fundada numa força invisível, onipotente, invencível desde que se tenha o seu domínio, e sobre a qual nenhuma forma de coerção poderia prevalecer – uma força que o tornava, de certo modo, invulnerável, como tornaria invulneráveis todos os que sofriam junto dele e no mundo, expostos à injustiça e à discriminação. “A dignidade do homem exige obediência a uma lei mais alta – à força do espírito.” Pela simples virtude de seu sofrimento e de sua superioridade moral, essas vitimas adquiriam o poder de inverter as posições e de transformar o adversário: operar nele o que Gandhi chamava uma “mudança de coração”. Para isso, não se devia oferecer ao tirano a resistência física que ele esperava, mas, frustrando essa expectativa, “uma resistência da alma que escapará a suas mãos. Essa resistência primeiro o cegará e, a seguir, o obrigará a curvar-se. E o fato de curvar-se não humilhará o agressor, mas o elevará...” (Young Índia, 8 de outubro de 1925).
Tocar o coração, convencer o inimigo, comovê-lo, abrir nele um outro olhar: “É o único meio para ver abrir-se no homem uma outra espécie de compreensão, compreensão essa completamente interior. É o sofrimento, não a espada, que é o brasão do homem”. Recusa ou desdém de rebaixar-se ao nível da brutalidade – aquele onde impera o uso da força, seja a força física ou a das armas -, desejo de elevar o homem, de incitá-lo à superação de si, na realização de suas faculdades mais elevadas, fora das armadilhas do ódio e da vingança, fora da engrenagem sem fim da violência.
“O homem só se torna divino quando, em sua pessoa, encarna a inocência; é somente então que ele se torna verdadeiramente homem.” (Gandhi)
Christine Jordis
Gandhi, Biografia de Christine Jordis.
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