segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O Espiritismo e o Ecumenismo


O termo ecumenismo tem origem no grego “oikoumene” que significa “o mundo civilizado”. Na Bíblia a palavra oikoumene é traduzida como “todo” e “universal”.

O Ecumenismo é um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões inclusive aquela não cristã.

A história da humanidade está repleta de acontecimentos que registram a intolerância religiosa.

De onde vem esta intolerância? Qual a origem deste desagradável comportamento humano? Será que Jesus aprovaria tal conduta? Não necessitamos responder que não.

As denominadas guerras santas foram responsáveis por inúmeras mortes através dos registros encontrados na história.

A Guerra santa é um recurso extremista que as grandes religiões monoteístas têm usado ao longo dos tempos para proteger o que consideram ameaça aos seus dogmas e a seus lugares sagrados.

A origem das primeiras “guerras santas” já travadas na história se encontra no Islamismo e no Cristianismo, lamentavelmente.

Temos vários registros de guerras religiosas e neste sentido podemos relembrar resumidamente as que seguem:

Como primeiro registro temos a guerra santa islâmica quando em 622, “Maomé”, após ser ameaçado de morte, pelos opositores do islamismo, migrou de “Meca” para “Medina”, uma cidade 300 km ao norte de Meca, juntamente com seus seguidores. Maomé expandiu o islamismo por vários territórios, baseado nos deveres religiosos do Jihad, que tem sido interpretado como o dever de realizar “guerras santas”.

Durante a Idade Média, a igreja católica realizou as cruzadas que foram expedições militares, com o objetivo de reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domínio muçulmano que assumiram a forma de verdadeira “guerra santa”. Apesar de suas várias tentativas a igreja católica só conseguiu conquistar Jerusalém, uma vez e no século XII, mas na verdade, foram os turcos que reconquistaram o domínio de Jerusalém.

Durante os séculos XVI e XVII, a Reforma Protestante espalhou-se pela Europa. Em países europeus, como Alemanha e França, o protestantismo floresceu, e este acontecimento despertou a intolerância católica ocasionando diversas guerras entre católicos e protestantes.

Mais recentemente nos defrontamos com os conflitos na Irlanda do Norte e com o fundamentalismo de grupos radicais islâmicos envolvendo o mundo, como se tem verificado com os conflitos entre a Palestina e Israel.

Todos estes acontecimentos nos trazem reflexões sobre o porquê da necessidade do homem matar em nome de Deus e de Jesus.

Muitos vultos da humanidade têm se preocupado com a paz e o entendimento entre os homens. Este princípio humano tem total respaldo nas páginas do Evangelho. Jesus representa o grande roteiro de paz presente no nosso planeta, há dois mil anos. Só os que não conhecem nem vivem os seus ensinamentos agem com preconceitos para com o seu semelhante.

A Doutrina Espírita surge no século XIX na França, com uma proposta de reforma interior e preparando o homem para a fraternidade universal.

Foi assim que em 1857, ela surgiu codificada por Alan Kardec sob a direção do Espírito da Verdade.

Esta Doutrina traz em suas raízes o princípio filosófico da reforma interior e da Ciência como suporte principal.

Em 1861, a inquisição sob a pretensão incoerente de ser representante de Jesus, moveu em Barcelona na Espanha, um ato de intolerância contra o Espiritismo atacando suas principais obras e no dia 9 de outubro daquele ano, foram queimados vários livros da recém lançada Doutrina. Entre as obras queimadas podemos citar:“ Revue Spirite“, dirigida por Allan Kardec; “A Revista Espiritualista“, dirigida por Piérard; “O Livro dos Espíritos“, por Allan Kardec; “O Livro dos Médiuns“, por Allan Kardec; “O que é o Espiritismo?“, por Allan Kardec; “Fragmento de sonata“, atribuído ao Espírito de Mozart; “Carta de um católico sobre o Espiritismo“, pelo doutor Grand; “A História de Jeanne d’Arc“, atribuído a Joana d’Arc pela médium Ermance Dufaux; “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta“, pelo barão de Guldenstubbé.

Felizmente este ato de intolerância e perseguição não atingiu o seu objetivo, pois em vez de destruir a doutrina espírita, constituiu-se na maior divulgação que o Espiritismo poderia ter recebido naquela época.

Alan Kardec não desistiu de sua tarefa de codificação da Doutrina Espírita e buscou em Jesus a solução para todo e qualquer tipo de preconceito e intolerância religiosa. Lançou em 12 de abril de 1864, a sua maior obra cristã trazendo luzes de entendimento para a humanidade. Foi no Evangelho de Jesus que ele encontrou o suporte indispensável para o seu objetivo de unir pessoas de todas as crenças produzindo na sequência a obra que se constituiu no maior livro de harmonia entre as religiões, que se chama “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Kardec apresentou este livro como sendo o ponto onde todas as crenças poderiam se encontrar. Buscou com o seu senso de ecumenismo, a união e a fraternidade como pontos indispensáveis para o entendimento entre as diversas correntes religiosas.

Sabemos que o fenômeno religioso é um dos quatro pilares da cultura humana, sendo os outros três, a Filosofia, a Arte e a Ciência. É nas instituições de ensino que se entra em contato com a ciência. O mesmo deveria ocorrer com as Religiões, patrimônio cultural de todos os povos e, como tal, matéria de estudo e pesquisa.

Nós devemos primar sempre pela busca do conhecimento que abre a mente. A verdade e o conhecimento, sempre nos libertarão do fundamentalismo religioso que é extremamente nocivo e prejudicial para o indivíduo e para a sociedade. Ele promove a intolerância, a dificuldade de relacionamento entre grupos, destrói a integração e o respeito mútuo, não admite opiniões divergentes e considera sua perspectiva isenta de erros.

Partindo do pressuposto que a ignorância é a mãe da intolerância, a maneira mais correta de superar a ignorância, ou seja, o desconhecimento, e assim forjar a tolerância religiosa, é fomentar o conhecimento.

Particularmente temos conseguido algumas ações e experiências positivas em torno do entendimento entre as diversas correntes religiosas. Com a fundação do curso de Ciências das Religiões na UFPB, temos vivido muitos testemunhos de compreensão entre as diferenças religiosas. Particularmente, tenho levantado a tese de que não concebemos que alguém afirme seguir Jesus e, no entanto, não respeite nem ame o seu irmão, apenas pelo simples fato dele pertencer a outra corrente religiosa, ainda mesmo que seja cristã.

Cada um de nós deve se empenhar no esforço de contribuir para a construção de uma sociedade harmoniosa e respeitosa para com os diferentes, fundamentada na ética e no amor pelo semelhante.

A Doutrina Espírita nos traz este suporte para o respeito e a fraternidade na convivência com o diferente. No Evangelho Segundo o Espiritismo Kardec levanta o ponto universal do entendimento entre os homens quando afirma: “Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda a parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais a parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra”.

Reflitamos sobre tão sábias e fraternas palavras de Kardec e nos interroguemos a respeito do que, como espírita, temos realizado em prol do entendimento e da fraternidade entre os diferentes. Pensar diferente de nós nunca deve significar ser contra nós. Jesus, será sempre o nosso maior exemplo. Coloquemos ele em nossos corações, imitemos suas atitudes e plantemos junto aqueles que nos cercam a semente plena da PAZ.

RW

sábado, 28 de setembro de 2019

Espiritismo e Intolerância Religiosa

Respeitar é Divino, Discriminar é Insensatez


Deus é o único Ser eterno, porque não foi criado. É Criador com poderes absolutos para criar tudo que é amorável, bom, justo e verdadeiro.

Criou o Espírito, que pela criatividade popular foi considerado criado à Sua imagem e semelhança, naturalmente embasado no princípio da inteligência, por ser "Deus a Inteligência Suprema do Universo, causa primeira de todas as cousas” e o Espírito, uma inteligência relativa à do Criador.

Para essa criatura foram doados dois dons. O dom da vida e o da liberdade. Para administrá-los recebeu dois atributos, a inteligência e o livre-arbítrio. E, para gerenciá-los, recebeu todos os meios possíveis e inimagináveis para sua evolução a partir da ignorância, simplicidade, inocência e ingenuidade, como foi criada originalmente, até alcançar a evolução máxima relativa à do Arquiteto do Universo.

Para idealizar as atividades nessa longa trajetória, muniu-a de apenas um poderoso instrumento chamado pensamento.

Allan Kardec respalda, em O Evangelho segundo o Espiritismo, o que afirmam grandes pensadores e estudiosos do comportamento humano, que todo pensamento gera uma realidade intrínseca a quem pensou, portanto, somente ele tem capacidade para anular, minimizar ou majorar seus efeitos.

Esse efeito, em última instância, é sentimento gerado na criança desde a infância, quando começa a pensar, e vai sendo armazenado no seu subconsciente pelo resto da vida.

Pelas clarividências dos fatos, não é ilusório pensar que o primeiro pensamento experimentado pelo ser humano, após o egocentrismo natural, seja o medo, que, aliás, é um dos seus grandes aliados, quando enfrentado com conhecimento de causa e tratado com parcimônia e sabedoria, daí ele troca de nome para coragem.

Para contrapô-lo surgiu a fé, e com esta a religiosidade fundamentada em uma filosofia exteriorizada em forma de religião para religar as criaturas que, por transgredirem as leis do Código Divino, afastam-se da Lei Natural que rege o Universo.

Diante dessa propositura, é crível e de bom alvitre almejar que as pessoas no seio de suas famílias, na sociedade, e a humanidade, de um modo geral, respeitem os sentimentos religiosos produtivos dos outros, não se esquecendo de que cada religião séria tem como base fundamental o amor ao próximo explicitado pela prática de caridade, sedimentado pelo pensamento filosófico coletivo iluminado pelas luzes da razão sob a égide da fé inabalável na Inteligência Geradora, sob quaisquer denominações.

Sob essa óptica (visão), o respeito incondicional às religiões é imperativo, democrático, salutar e cristão. Até prova em contrário, respeitar é divino. Discriminar é insensatez.

Pedro de Almeida

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Porque nos dias de hoje ainda existe a intolerância religiosa? Falta respeito, educação ou conhecimento para que cada um possa professar sua fé com tranquilidade? Só existe uma religião salvadora? Deus está presente em todas as crenças? Se você acha que religião é um assunto que se discute, confira aqui o que dizem Carlos Signei e Suraia Aissami no programa “A Caminho da Luz”, da TV Mundo Maior.




quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Deus e Espiritismo


Deus - Sua Existência


Desde quando o ser humano cultiva a sua crença em Deus? Essa fé apresentou evolução com o passar do tempo? Deus existe? Além da Religião, a Ciência também tem contribuído para o desenvolvimento dessa convicção? Qual a contribuição dos cientistas nesse sentido?

Conforme ensinamento constante da Doutrina Espírita, o ser humano sempre carregou em si o sentimento intuitivo da existência de Deus. Porém, analisando o histórico de sua evolução, podemos constatar que tal percepção foi se modificando com o passar do tempo.

Os primatas e os selvagens admiravam-nO na natureza. Mas, através de uma evolução na maneira de senti-LO, surgiu o politeísmo. E os três principais foram o egípcio, o grego e o romano. Por volta de 1300 a.C., Moisés trouxe a ideia de um Deus único e instituiu, como leis divinas, os Dez Mandamentos, o que fez surgir os alicerces do monoteísmo.

Muito embora não possa ser considerado um livro histórico em sua totalidade, o Velho Testamento nos traz a saga do povo hebreu para que o monoteísmo predominasse em sua cultura e na dos povos vizinhos. Porém, nessa primeira parte da Bíblia, encontramos um Deus punitivo, que se ira e se vinga, que alimenta os mesmos desejos humanos, bem como sente a necessidade de repousar, visto ter criado o mundo em seis dias e descansado no sétimo.

Mesmo possuindo uma concepção ainda mitológica da Divindade, a crença desse povo representou um importante preparo para a vinda de Jesus. E foi em meio a essa gente, cuja fé em seu Senhor e Criador apresentava-se um pouco mais estruturada, se comparada com a de outros povos, foi que o Cristo encontrou o melhor ambiente para difundir a ideia de que Deus é pai e é amor.

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No entanto, a humanidade ainda continua dividida sobre Sua existência. Muitos se questionam: Deus realmente existe ou Ele é apenas um ser ou de algo que está para ser mais bem definido?

Em razão do entendimento obtido através do estudo dos postulados espíritas, pode-se afirmar que o homem somente se conscientizará de Sua existência, quando alcançar um desenvolvimento mais equânime e equilibrado, um engrandecimento e elevação de quatro aspectos de sua individualidade: intelectual, emocional, moral e espiritual.

Na questão 11, de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta à Espiritualidade Superior:

“Um dia será dado ao homem compreender o mistério da Divindade?” [1]

Resposta:

“Quando seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, estiver próximo Dele, então, ele O verá e O compreenderá.”

E, em complemento a essas palavras, Kardec explica:

A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem O confunde, frequentemente, com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições. Mas, à medida que o seu senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas, e Dele faz uma ideia mais justa e mais conforme a sã razão, embora essa ideia seja incompleta.

Dessas considerações, temos que a criatura terrestre dificilmente terá acesso à realidade absoluta de Deus. Sendo assim, até que a humanidade consiga desenvolver uma compreensão mais aprofundada, muito embora sempre incompleta, do que Ele verdadeiramente é e representa, é natural que ainda alimente algumas dúvidas quanto à Sua existência.

Conta-se que existiu a seguinte passagem na vida de Sidarta Gautama, o Buda, considerado o fundador do budismo, no séc. VI a.C.:

Buda estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou.

– Existe Deus? – perguntou.

– Existe – respondeu Buda.

Depois do almoço, aproximou-se outro homem.

– Existe Deus? – quis saber.

– Não, não existe – disse Buda.

No final da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta:

– Existe Deus?

– Você terá de decidir – respondeu Buda.

– Mestre, que absurdo! – disse um dos seus discípulos. – Como o senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta?

– Porque são pessoas diferentes – respondeu o Iluminado. – E cada uma se aproximará de Deus à sua maneira: através da certeza, da negação e da dúvida. [2]

Essas três maneiras de se elaborar a crença na existência de Deus, a certeza, a negação e a dúvida, nada mais são do que tentativas de se transferir para o consciente a convicção, a crença, o sentimento intuitivo que o indivíduo inconscientemente já carrega sobre essa realidade.

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Como a evolução da humanidade não para, além das religiões, uma outra alternativa está paulatinamente contribuindo para o fortalecimento da crença em Deus: a própria Ciência!

Na Revista SUPERINTERESSANTE (Jan/2001), o jornalista José Augusto Lemos publicou a matéria intitulada “Deus existe?”. E assim inicia suas considerações:

Existe uma luz no fim do túnel? Eu sinceramente espero que sim. Afinal, faz várias semanas – meses talvez – que estou perdido nesse labirinto escuro.

Eu não sei o que fiz para merecer tamanho castigo. De todos os trabalhos que poderiam me dar nesta vida de jornalista, não deve ter abacaxi mais cascudo que esse: uma reportagem sobre Deus ... e justo numa revista cientifica!

Mecânica quântica e matemática do caos a gente até entende – com a ajuda de um bom professor, claro. Deus é outra história. É o infinito imponderável: aquilo que não dá para pensar e nem imaginar. É o infinito inefável: aquilo que não se dá para falar. Ou pelo menos essa é a maneira mais segura de abordar – e encerrar – o assunto sem cair no ridículo nem ofender ninguém. [3]

O que podemos detectar nessas palavras? A dificuldade que muitos enfrentam, quando o assunto é Deus. Ele ainda causa assombro! E o jornalista, para não ferir suscetibilidades e, talvez, não ser acusado de elaborar uma matéria inadequada, sentiu-se mais apavorado ainda com sua tarefa.

Mas, o mais interessante é que, no desenvolver da matéria, Lemos observa que é a própria Ciência que não para de falar em Deus, pois, nos últimos dez anos (Obs.: atualmente, quase vinte anos, se considerarmos a data da reportagem, que foi em 2001), surgiu uma nova linha literária, na qual vários cientistas estão escrevendo sobre o Criador do universo, alicerçados em conceitos de física e matemática, química e biologia. E todos esses livros se tornaram best-sellers.

Sendo assim, a que conclusões podemos chegar? A várias. Mas, uma delas é que, por força da própria evolução, a humanidade está sentindo a necessidade de se aprofundar num assunto que sempre a intrigou e que ainda é motivo de tantas controvérsias...

Uma Breve História do Tempo é o primeiro livro dessa nova linha literária, lançado em 1998 e escrito pelo físico inglês Stephen Hawking – um dos principais teóricos sobre o buraco negro, e que não se considera religioso. Nessa obra, o cientista deixa em aberto a possibilidade de, futuramente, conhecermos os verdadeiros propósitos de Deus:

Se chegarmos a uma teoria completa, com o tempo ela deveria ser compreensível para todos e não só para um pequeno grupo de cientistas. Então, toda a gente poderia tomar parte na discussão sobre por que nós e o Universo existimos... Nesse momento, conheceríamos a mente de Deus. [3]

Seguindo os passos de Hawking, em 1992, outro consagrado cientista inglês, o físico e matemático Paul Davies, lança o livro A Mente de Deus, concluindo, com convicção, que tudo no cosmo revela intenção e consciência, uma inteligência superior.

No entanto, Lemos questiona: “Há uma intenção na criação do Universo? Muitos cientistas acham que sim”. [3] Quanto mais as pesquisas avançam, mais os cientistas estão se convencendo de que o universo foi criado intencionalmente!

Albert Einstein (1879-1955) – o mais célebre cientista do século XX, foi o físico que propôs a teoria da relatividade –, ao se referir sobre o princípio inteligente que existe no universo, afirmou: “Deus não joga dados”.

Em razão da não prevalência do acaso no universo, essa intenção inteligente que está no controle de tudo revela a existência de um propósito superior. E muitos o denominam de “Deus”! Em outra ocasião, Einstein ainda declarou: “Posso afirmar que fora do universo existe um poder pensante e atuante que independe dele (do próprio universo)”.

Porém, em 1857, quando Allan Kardec trouxe à luz O Livro dos Espíritos, a concepção da existência de uma intenção superior e inteligente – descartando totalmente a hipótese do acaso na formação do universo – já constava de sua obra. Logo na primeira questão desse livro, os Espíritos Superiores afirmam: “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”. [1]

Na questão 08, da mesma obra, Kardec pergunta:

“Que pensar da opinião que atribui a formação primeira (do Universo) a uma combinação fortuita da matéria, isto é, ao acaso?”

Resposta:

“Outro absurdo! Que homem de bom senso pode olhar o acaso como um ser inteligente? Aliás, o que é o acaso? Nada.

A harmonia que regula as atividades do Universo revela combinações e fins determinados e, por isso mesmo, revela a força inteligente. Atribuir a formação primeira ao acaso seria um contra senso, porque o acaso é cego e não pode produzir os efeitos da inteligência. Um acaso inteligente não seria mais o acaso.”

Sendo assim, tudo o que existe no universo revela uma finalidade lógica e uma força inteligente, pois Deus, que está no controle de tudo, “não joga dados”.

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Ainda na matéria da Revista SUPERINTERESSANTE, Lemos deduz que alguma transformação muito grande deve ter ocorrido para que a crença em Deus, assunto que havia se tornado tabu em laboratórios e universidades, renascesse com tanta força.

Na realidade, a Ciência, para obter as respostas que almeja, necessitou ampliar o seu campo de observação. Assim, voltou-se totalmente para o estudo da energia e suas implicações, bem como para a investigação do princípio inteligente que organiza e sustenta o universo. Através do desafio que essa busca representa – ou da dúvida, terceira maneira de se aproximar de Deus, conforme ensinamento de Buda –, ela está contribuindo para que o homem amplie seus conhecimentos e desenvolva sua consciência, de modo a torná-LO mais apto para constatar, por meio da razão, a existência de seu Supremo Criador, através dos fenômenos inteligentes da Criação.

O número de astros “infindáveis” que transita pelo cosmo sem colisões desarmônicas, já está quase que sendo suficiente para comprovar, cientificamente falando, a manifestação intencional e cósmica de Deus.

Entretanto, a ciência e a religião ainda não conseguiram conciliar-se sobre essa questão, porque cada uma a entende de seu exclusivo ponto de vista. E podemos perceber isso na declaração do falecido Carl Sagan (1934-1996), astrônomo americano e que se dizia completamente ateu. Assim, chegou a afirmar:

A ideia de que Deus é um gigante barbudo de pele branca, sentado no Céu, é ridícula. Mas se, com esse conceito, você se referir ao conjunto de leis físicas que rege o Universo, então claramente existe um Deus. Só que é emocionalmente frustrante: afinal, não faz muito sentido rezar para a lei da gravidade! [3]

Está aí um exemplo da dificuldade que muitos enfrentam ao conciliar a razão e o coração, quando o assunto é a crença na existência de Deus. Mas, felizmente, alguns cientistas já estão conseguindo essa proeza. É o caso do inglês John Polkinghorne, que abandonou a física, depois de 25 anos de uma carreira brilhante, para se tornar pastor anglicano. Em entrevista à SUPERINTERESSANTE, declarou: “Acredito que precisamos de ambas as perspectivas, a científica e a religiosa, para compreender esse mundo admirável em que vivemos.” [3]

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O Espiritismo surgiu para ser o traço de união entre a ciência e a religião. Ao provar cientificamente aquilo que professa, trabalha a religiosidade e os sentimentos humanos de modo a elevá-los. Para enfatizar a premissa de que só devemos acreditar naquilo que possa ser comprovado ou racionalmente explicado, temos: “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”. [4]

Com o advento da Doutrina Espírita, o rompimento com a cultura religiosa prevalecente foi uma de suas principais consequências. Muitos conceitos tidos como indiscutíveis– os dogmas – foram questionados e desmitificados. E a primeira e principal ruptura foi com relação ao conceito de Deus, visto que as religiões vigentes difundiam a ideia de um Deus de emoções contraditórias e antropomórfico. Por exemplo, um gigante barbudo e de pele branca. E esse Ser, mesmo que salvasse e perdoasse os indivíduos, por outro lado, também condenava, estabelecia penas eternas, exigia o reconhecimento de Seu poder, bem como acompanhava passo a passo a vida das criaturas humanas.

Com os postulados espíritas, Deus, por possuir todos os atributos superiores em grau máximo, se manifesta aos homens através de leis absolutas e imutáveis, que tanto regem o cosmo, como a vida das pessoas e a relação do mundo espiritual com o mundo material.

Assim, podemos afirmar que, com o Espiritismo, Deus se ocupa de coisas muito mais importantes do que ficar simplesmente controlando a vida de cada um de nós, deixando por conta de Suas leis a incumbência de conduzir o ser humano ao aperfeiçoamento, dando a todos iguais deveres e direitos, oportunidades e condições.

Com tais concepções, a crença em Deus sai, portanto, do território das religiões dogmáticas e ritualísticas, para o domínio racional, de onde podemos pensar Nele sem a necessidade de intermediários, e falar com Ele sem a exigência de tê-LO pessoalmente ao nosso lado. A fé, que até então era imposta pela obrigação, passou a ser raciocinada, para que os sentimentos humanos melhor se alicerçassem na consciência e na confiança.

Mas essa nova percepção de Deus não surgiu para que os indivíduos simplesmente trocassem um conceito por outro, mas para que fizessem uma total reformulação em suas convicções mais íntimas.

O Espírito Emmanuel afirma: “A mais elevada concepção de Deus que podemos abrigar no santuário do espírito é aquela que Jesus nos apresentou, em no-LO revelando Pai amoroso e justo.” [5]

A concepção de Deus que o Espiritismo nos apresenta é a Daquele a quem podemos recorrer a qualquer hora, diante de qualquer situação, pois Seus atributos superiores – que se manifestam através de leis imutáveis – agem para que cada filho Seu encontre o caminho da felicidade, harmonia e perfeição que o aguarda, numa sintonia direta e indestrutível com Seu poder infinito.

A Doutrina nos ensina que Ele não espera por nossos apelos para nos amar. Nos ama incondicionalmente, independente do que somos e fazemos. Entretanto, torna-se imprescindível nos comportarmos de maneira mais receptiva a Ele, para melhor compreendermos Sua maneira lógica e superior de nos guiar.

O escritor espírita Richard Simonetti aconselha:

Em todas as situações, onde estiver, converse com Deus. Como o filho que procura a ajuda de um pai, fale de seus anseios e esperanças. Comente angústias e problemas. Abra seu coração e Ele o sustentará nas lutas do Mundo, ajudando-o a fazer o melhor.

Tudo será mais fácil se aprendermos a conversar com Deus. [6]

E nessa maneira tão íntima e confiante de se dirigir a Deus, abrindo o próprio coração a Ele, torna-se imprescindível citar o exemplo de nosso Mestre Jesus. Quando estava para ser preso, o Cristo assim ora a Deus (Mc 14:36): “Aba Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, e sim o que tu queres.” [7]

A palavra aramaica aba era utilizada pelos filhos ao se dirigirem aos seus pais, equivalendo ao nosso atual “papai”. Nem no Antigo Testamento, nem no Judaísmo, este termo tão familiar e íntimo era usado para se invocar a Deus. No entanto, na boca de Jesus, essa palavra expressa uma intimidade toda especial com o Deus pai.


COMPREENDAMOS

“Sacrifícios, e ofertas, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram” — Paulo. (HEBREUS, 10:8)

O mundo antigo não compreendia as relações com o Altíssimo, senão através de suntuosas oferendas e pesados holocaustos.

Certos povos primitivos atingiram requintada extravagância religiosa, conduzindo sangue humano aos altares.

Tais manifestações infelizes vão-se atenuando no cadinho dos séculos; no entanto, ainda hoje se verificam lastimáveis pruridos de excentricidade, nos votos dessa natureza.

O Cristianismo operou completa renovação no entendimento das verdades divinas; contudo, ainda em suas fileiras costumam surgir absurdas promessas, que apenas favorecem a intromissão da ignorância e do vício.

A mais elevada concepção de Deus que podemos abrigar no santuário do espírito é aquela que Jesus nos apresentou, em no-LO revelando Pai amoroso e justo, à espera dos nossos testemunhos de compreensão e de amor.

Na própria Crosta da Terra, qualquer chefe de família, consciencioso e reto, não deseja os filhos em constante movimentação de ofertas inúteis, no propósito de arrefecer-lhe a vigilância afetuosa. Se tais iniciativas não agradam aos progenitores humanos, caprichosos e falíveis, como atribuir semelhante falha ao Todo Misericordioso, no pressuposto de conquistar a benemerência celeste?

É indispensável trabalhar contra o criminoso engano.

A felicidade real somente é possível no lar cristão do mundo, quando os seus componentes cumprem as obrigações que lhes competem, ainda mesmo ao preço de heroicas decisões. Com o Nosso Pai Celestial, o programa não é diferente, porque o Senhor Supremo não nos pede sacrifícios e lágrimas e, sim, ânimo sereno para aceitar-lhe a vontade sublime, colocando-a em prática. [5]

Não adianta pedir explicações sobre Deus; você pode escutar palavras muito bonitas, mas, no fundo, são palavras vazias. Da mesma maneira que você pode ler toda uma enciclopédia sobre o amor e não saber o que é amar.

Diz o mestre:

Ninguém vai conseguir provar que Deus existe, ou que não existe. Certas coisas na vida foram feitas para serem experimentadas – nunca explicadas. O amor é uma dessas coisas. Deus – que é amor – também é. A fé é uma experiência infantil, naquele sentido que Jesus nos ensinou: ‘É das crianças o Reino dos Céus’.

Deus nunca vai entrar por sua cabeça – a porta que Ele usa é o seu coração. [8]

Silvia Helena Visnadi Pessenda

REFERÊNCIAS

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.
[2] COELHO, Paulo. Maktub. Rio de Janeiro: Rocco. 1994. p. 48. (literatura não-espírita)
[3] SUPERINTERESSANTE. São Paulo : Editora Abril, jan. 2001.
http://super.abril.com.br/superarquivo/2001/conteudo_162508.shtml
[4] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. XIX. Item 7.
[5] EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Pão nosso. 17. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. Cap. 48.
[6] SIMONETTI, Richard. Atravessando a Rua. 15. ed. Araras: Ide Editora, 1998. Cap. 21.
[7] BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
[8] COELHO, Paulo. Maktub. Rio de Janeiro: Rocco. 1994. p. 69. (literatura não-espírita)

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Ateísmo, Espiritismo e a Evolução do Pensamento Religioso

Uma visão espírita do ateísmo com o pesquisador e escritor Ademar Faria Júnior e o seu estudo, “Ateísmo, Espiritismo e a Evolução do Pensamento Religioso”, apresentado na Sociedade Colatinense de Estudos Espíritas.

domingo, 22 de setembro de 2019

Religião, Jesus e Espiritismo


Segundo o Espírito Emmanuel, a base da fé está nos primórdios da vida na Terra. Pode-se dizer, esclarece-nos ele, que “[…] o primeiro impulso da planta e do verme, à procura da luz, não é senão anseio religioso da vida, em busca do Criador que lhes instila o ser.” (XAVIER, 2016c, cap. 12 – O serviço religioso). Para Emmanuel, a mais perfeita expressão do Cristo está no primeiro capítulo do Evangelho de João: “No princípio era o Verbo…” (XAVIER, 2016b, cap. 2 – A ascendência do Evangelho), por representar Jesus, o amor e a sabedoria que presidiu a formação da Terra e inspirou divinamente todos os Espíritos elevados que com Ele colaboraram na gênese planetária, e “[…] na disseminação da vida em todos os laboratórios da Natureza, desde que o homem conquistou a racionalidade […]” (XAVIER, 2016b, cap. 2 – A ascendência do Evangelho).

A razão desenvolveu-se gradativamente no ser humano, assim como a ideia de Deus e a ligação com este daquele ser que pouco se diferenciava dos antropoides. Assim,

[…] suas manifestações de religiosidade eram as mais bizarras, até que, transcorridos os anos, no labirinto dos séculos, vieram entre as populações do orbe os primeiros organizadores do pensamento religioso que, de acordo com a mentalidade geral, não conseguiram escapar das concepções de ferocidade que caracterizavam aqueles seres egressos do egoísmo animalesco da irracionalidade. […] (XAVIER, 2016b, cap. 2 – A ascendência do Evangelho).

Os seres humanos primitivos, na Terra, eram orientados por Espíritos Superiores, aos quais consideravam deuses, a quem cultuavam com oferendas e para quem construíam altares e templos. Como não compreendiam “[…] Deus como a fonte da bondade […]” (KARDEC , 2017, q. 669), e por imaginarem que havia várias divindades, julgavam agradá-las com o sacrifício de animais e mesmo de seres humanos, pois ainda não tinham desenvolvido o senso moral.

Comentando as mais antigas organizações da religião, na Terra, Emmanuel cita a China, a “Índia védica” e bramânica, a qual deu origem ao Budismo, e ainda o culto aos mortos, criado pelos egípcios, a mitologia grega e o surgimento dos “grandes mestres”, com sua doutrina exotérica destinada ao povo, em geral, e os ensinamentos esotéricos, reservados apenas aos iniciados (XAVIER, 2016a, cap. 3 – As raças adâmicas).

Com Moisés, surgiu a ideia do Deus único. Ao politeísmo, sucedeu-se, portanto, o monoteísmo, que trouxe para o mundo o conhecimento definitivo de um só Deus, Criador Supremo de todas as coisas e, segundo Jesus, nosso Pai, que, como nos ensinaria, mais tarde, o Espiritismo, entre outras coisas, é “[…] eterno, infinito, imutável, material, único, onipotente, soberanamente justo e bom […]” (KARDEC, 2017, q. 13). Porém, a ideia da sobrevivência da alma, após o decesso do corpo, era incerta para as massas. Sobre essa questão e a crença nas penas e recompensas, após a morte física, Allan Kardec esclarece-nos o seguinte:

Todas as religiões admitiram igualmente o princípio da felicidade ou da infelicidade da alma após a morte, ou, por outra, as penas e gozos futuros, que se resumem na doutrina do céu e do inferno encontrada em toda parte. Porém, no que elas diferem essencialmente, é quanto à natureza dessas penas e gozos, principalmente sobre as condições determinantes de umas e de outras. Daí os pontos de fé contraditórios dando origem a cultos diferentes, e os deveres particulares impostos por estes para honrar a Deus e, por esse meio, ganhar o céu e evitar o inferno. (KARDEC, 2016b, Pt. 1, cap. 1, it. 11).

As religiões, de início, tiveram suas bases criadas por seres humanos. Estes, embora se destacassem dos demais por sua inteligência e moral mais desenvolvidas, ainda eram muito influenciados pelas paixões grosseiras. Desse modo, suas teorias filosóficas e morais, mesmo sendo fundamentadas em revelações mediúnicas, não possuíam perfeita correspondência na prática. É o que ocorreu com a revelação a Moisés da ideia do Deus único e sua Lei de Amor expressa nos Dez Mandamentos, em oposição a diversas leis civis ou disciplinares daquele profeta, cuja finalidade era conter os atos brutais do povo de sua época.

Seres predominantemente materiais, os homens, em geral, ainda possuíam, como ainda possuem, limitações na compreensão real da necessidade de sobrepor as coisas espirituais à influência da matéria. Desse modo, a maior parte dos deveres religiosos, mesmo na atualidade, baseia-se no cumprimento de fórmulas exteriores e numa fé sem questionamentos.

Em sua sabedoria, Deus já designara Jesus Cristo para presidir a formação e governar a Terra. Esse é o Espírito Perfeito, Messias Divino, cuja presença entre nós fora anunciada por diversos profetas. O primeiro a anunciá-lo foi Jeová a Moisés, como está em Deuteronômio, 18:18: “Vou suscitar para eles [os hebreus] um profeta como tu, do meio dos seus irmãos. Colocarei as minhas palavras em sua boca e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe ordenar”.

Temos também as predições de Isaías, 7:14, continuando em Jeremias, 23:5, Oseias, 6:3, Miqueias, 5:1, Malaquias, 3:1 e, por fim, João Batista (Mateus,3: 1 a 3). O último profeta do Antigo Testamento, Malaquias, 3:1, cita as seguintes palavras de Jeová sobre Jesus: “Eis que enviarei o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim. Então, de repente, entrará em seu Templo o Senhor que vós procurais; o Anjo da Aliança, que vós desejais, eis que Ele vem […]”.

Malaquias também se refere a João Batista, reencarnação de Elias, em (4:5 e 6): “Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia do Senhor; Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais […]”.

Esclarece-nos o Espírito Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier:

A manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes. Começava a era definitiva da maioridade espiritual da humanidade terrestre, uma vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e do amor a todos os corações. (XAVIER, 2016a, cap. 12 – A vinda de Jesus, it. A manjedoura).

Também o profeta, poeta e rei Davi, de quem se dizia que dele descenderia Jesus, anuncia a vinda do Cristo, chamado “unigênito” por não ter pecados, como nós, em dois dos seus salmos. O primeiro é o Salmos, 2:7: “Publicarei o decreto de Deus, que me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. O segundo é o Salmos, 110:1: “Disse Deus ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo dos teus pés”.

E Jesus, ensinando no templo, repete a frase de Davi, discordando dos que o consideravam descendente deste: “Como podem os escribas dizer que o Messias é filho de Davi? […] O próprio Davi o chama Senhor, como pode, então, este ser filho daquele?” (Marcos, 12: 35 e 37).

A linhagem crística não se deu na Terra. Ele faz parte da “[…] comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor supremo do Universo […]”, como está no primeiro capítulo de A caminho da luz, obra psicografada por Chico Xavier (XAVIER, 2016a, cap. 1 – A gênese planetária, it. A comunidade dos Espíritos puros). O Senhor foi “[…] o Verbo da criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade sem fim. […]” (XAVIER, 2016a, cap. 1 – A gênese planetária, it. O Verbo na criação terrestre).

Emmanuel aduz que: “Sob a orientação misericordiosa e sábia do Cristo, laboravam na Terra numerosas assembleias de operários espirituais.” (XAVIER, 2016a, cap. 2 – A vida organizada, it. As construções celulares). Ninguém, a não ser Deus, realiza nada de grandioso sem o auxílio do próximo. Por isso, o Messias, em sua humildade exemplar, chama-nos de irmãos e escolheu doze apóstolos para o auxiliarem em sua missão na Terra.

Jesus é, portanto, o Filho de Deus, “[…] o verbo de luz e de amor do princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis que rolam no infinito.” (XAVIER, 2016a, cap. 3 – As raças adâmicas, it. As promessas do Cristo). Tendo sido designado por Deus para a formação e governo da Terra, e, como afirmou, existindo muito antes de Davi, não poderia, pois, ser descendente deste.

A base das religiões assenta-se no trabalho do Cristo, de acordo, ainda, com Emmanuel:

Em todos os grandes períodos da evolução religiosa, antes do Cristo, vemos as demonstrações incompletas da espiritualidade. Não há padrões absolutos de perfeição moral, indicando aos homens o caminho regenerador e santificante. Aparecem linhas divisórias entre raças e castas, com vários tipos de louvor e humilhação para ricos e pobres, senhores e escravos, vencedores e vencidos. Com Jesus, no entanto, surge no mundo o vitorioso coroamento da fé. No Cristianismo, recebemos as gloriosas sementes de fraternidade que dominarão os séculos. O divino Fundador da Boa-Nova entra em contato com a multidão e o santuário do amor universal se abre, iluminado e sublime, para a santificação da Humanidade inteira (XAVIER, 2016c, cap. 12 – O serviço religioso).

Em sua presciência, o Messias Divino sabia que a Humanidade precisaria de uma terceira e definitiva revelação, já não mais de uma individualidade encarnada, mas dos próprios Espíritos, seus emissários. Tais entidades incluíam até mesmo seus apóstolos, aos quais se uniriam grandes missionários então desencarnados, como São Luís, Santo Agostinho, Sócrates, Platão, Paulo entre outros. Sob a direção espiritual suprema de Jesus, representado pelo Espírito de Verdade, recebemos desses Espíritos as mais consistentes provas de nossa imortalidade, tendo por meta a perfeição.

O Espiritismo, Consolador Prometido por Jesus Cristo, confirma seu anúncio de que voltaria para ficar eternamente conosco, como lemos em João, 14:16 a 18, quando somos informados de que Deus nos enviaria o Consolador definitivo. As palavras de Jesus são-nos retransmitidas, mediunicamente, em quatro belas e profundas mensagens do Espírito de Verdade, no capítulo 6 – O Cristo Consolador de O evangelho segundo o espiritismo.

Na primeira, somos informados de que o Espiritismo, como outrora suas palavras, vem lembrar-nos sobre a grandeza e a bondade de Deus. Este não quer o aniquilamento da raça humana e, sim, a comunicação dos Espíritos conosco, para que a certeza da sobrevivência da alma, após a morte do corpo físico, nos auxilie a desenvolver a virtude e, pelo amor e instrução, possamos exercitar a compaixão e o auxílio ao próximo.

A segunda mensagem se destina a “consolar os pobres deserdados”, pedir-lhes resignação e esperança ante suas provas. O Cristo afirma que são seus “bem-amados” todos aqueles que “carregam seus fardos e assistem os seus irmãos”. Por fim, informa que a perfeição é fruto do esforço pessoal de quem bebe “na fonte viva do amor”.

Na terceira mensagem, o Espírito de Verdade diz que Jesus é “o grande médico das almas” e seu medicamento é o “supremo apelo” divino aos nossos corações por meio do Espiritismo. Faz-nos, então, esta sublime exortação:

[…] Que a impiedade, a mentira, o erro e a incredulidade sejam extirpados de vossas almas doloridas. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua Lei Divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: “Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes” (KARDEC, 2016a, cap. 6, it. 7).

Por fim, Jesus, pelo Espírito de Verdade, apela-nos para o devotamento e a abnegação, que resumem a “sabedoria humana”. E conclui com estas palavras extraordinárias, às quais devemos dedicar toda a atenção e esforçar-nos para fazer delas um hino de amor e prática permanentes, a fim de nos libertarmos do mal e nos tornarmos verdadeiramente cristãos:

[…] Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação.O coração bate melhor, a alma se asserena e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente o espírito é golpeado. (XAVIER, 2016a, cap. 6, it. 8).

O Espiritismo, como tem sido dito, não é e não pretende ser a religião do futuro, e, sim, o futuro das religiões. É o que se deduz de diversas afirmações de Kardec, em especial desta:

Instintivamente, o homem acredita no futuro, mas não possuindo até agora uma base certa para o definir, a sua imaginação há concebido sistemas que originaram a diversidade de crenças. A Doutrina Espírita sobre o futuro, não sendo uma obra de imaginação mais ou menos arquitetada engenhosamente, porém o resultado da observação de fatos materiais que se desdobram hoje à nossa vista, congregará, como já está acontecendo, as opiniões divergentes ou vacilantes e trará gradualmente, pela força das coisas, a unidade de crenças sobre esse ponto, crença que já não se baseará em simples hipótese, mas na certeza. A unificação feita relativamente à sorte futura das almas será o primeiro ponto de contato entre os diversos cultos, um passo imenso para a tolerância religiosa em primeiro lugar e, mais tarde, para a completa fusão. (KARDEC, 2016b, Pt. 1, cap. 1, it. 14).

Para concluir, comentamos a seguinte exortação de Emmanuel:

[…] estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, ou no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação. (XAVIER; VIEIRA, 2015, cap. 40 – Socorro oportuno).

E nada promove melhor o Espiritismo do que nosso devotamento e abnegação, propostos pelo Espírito de Verdade, na realização do nosso trabalho de fé autêntica, como novos discípulos do Cristo, instaurando a Era ecumênica de paz, amor ao próximo e justiça social no mundo.

Revista Reformador - Federação Espírita Brasileira 2014

REFERÊNCIAS:

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016a.
______. O céu e o inferno. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2016b.
______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2017.
XAVIER, Francisco C. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2016a.
______. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. imp. Brasília: FEB,2016b.
______. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016c.
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 14. ed. 3. imp. Brasília: FEB, 2015.
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