quarta-feira, 30 de março de 2016

Prece da natureza


Você já imaginou, alguma vez, a natureza em prece?

E se a natureza orasse ao Criador, como se faria ouvir?

Pois uma poetisa conseguiu descrever, com razão e sensibilidade, a sua percepção da natureza em prece.

Se você quiser, também poderá ouvir essa oração silenciosa, aguçando os ouvidos da sua imaginação, e viajando nas palavras dessa alma sensível:

O sol que se projeta nas tonalidades da madrugada e tudo inunda de claridade, ora ao Criador.

A brisa que sussurra cantigas perfumadas por todos os recantos, ora ao Criador.

O verme que fertiliza o solo, tornando a cova fecunda para a sementeira, ora ao Criador.

A semente que irrompe do chão e se converte em benefício, em veste, em pão, ora ao Criador.

O pirilampo que luz no seio da noite quanto o lobo que uiva ante a lua fria, oram ao Criador.

O botão que se abre em risonha floração, que representa o jardim, ora ao Criador.

O mar bravio que investe contra o rochedo, espumando, saciado, ora ao Criador.

As estrelas longínquas que constelam os céus do mundo, brilhando suas cores, oram ao Criador.

Os cardumes que se orientam numa mesma direção e os bandos de aves que singram os espaços, em busca de novos ninhos, oram ao Criador.

Os ligeiros rabiscos de luz que relampagueiam distantes, esbatidos sobre o fundo escuro da tempestade, oram ao Criador.

A colmeia e o formigueiro, enquanto demonstram sua fascinante articulação social, oram ao Criador.

A pessoa que lavra a terra e a que ensina; aquela que alimenta outros seres e a que salva vidas; a que cuida com atenção de tudo o que não é racional; aquela que perdoa, que compreende, que repreende para o bem e que trabalha de todas as maneiras para que a vida se faça mais bela, mais vibrante, mais feliz, está em regime de oração, esteja ou não consciente disso.

* * *

Orar é mais que proferir palavras...

É ter atitude de reconhecimento, é colaborar com Deus fazendo a parte que lhe compete fazer em prol do bem, do útil e do belo.

Por isso, viva intensamente imprimindo nas suas atitudes uma prece ao Criador.

Sorria, brinque de modo saudável, cante, instrua, instrua-se, coopere nas atividades úteis, ampare e sirva. Atue na esfera do bem sem alegar qualquer cansaço e guarde a certeza de que isso representa a sua oração.

Agindo assim, você levará uma vida em estado de prece, uma vida de paz.


Redação do Momento Espírita

segunda-feira, 28 de março de 2016

O Evangelho segundo o Espiritismo e a Sustentabilidade



Há 150 anos, inestimável fonte de esclarecimento e consolação era disseminada na Terra, nas páginas vivas de O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE). À Paris de 1864 era apresentada a obra proveniente dos espíritos, que Kardec sintetizava como a explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas circunstâncias da vida 1.

Por ocasião do sesquicentenário dessa obra de amor, vemos se alastrar pelo globo as manifestações de apreço a esse tesouro divino. As homenagens vêm acompanhadas das necessárias reflexões para os ajustes de conduta individuais, bem como o roteiro para o progresso da humanidade. A importância desse livro não será olvidada. Antes mesmo de sua publicação, Kardec obtinha manifestações do mundo espiritual, que acentuavam o caráter revolucionário dos textos em questão: “Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explana questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes. (…)”2

E de fato temos nas letras de O Evangelho Segundo o Espiritismo o guia exato para a boa conduta, com instruções claras sobre como devemos agir com o próximo, perante a família e conosco mesmo, roteiro frente às adversidades e para os momentos de gratidão. E ainda mais, instrui a cada um de nós como proceder perante o planeta e todos os seres que o habitam.

Em singelo trabalho de estudo, esse breve ensaio procura apresentar os ensinamentos que o Evangelho Segundo o Espiritismo discorre sobre a sustentabilidade. Longe de ser um compêndio completo, o objetivo é apenas fornecer aos irmãos os insumos para a reflexão acerca do Evangelho e do meio ambiente, bem como evidenciar a atualidade da obra, “...roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura” 3 .

Alguns conceitos são importantes para a nossa reflexão. O meio ambiente, ou ambiente (por que não inteiro?), envolve todas as coisas vivas e não-vivas que existem na Terra, ou em alguma região dela, que afetam os ecossistemas e a vida dos seres humanos. É o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas 4 . Já a Sustentabilidade tem diversos aspectos e variados conceitos são registrados na literatura. O Relatório Brundtland (1987), no documento “Nosso Futuro Comum” da Organização das Nações Unidas (ONU), define desenvolvimento sustentável como aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações 5 . Esse conceito é ampliado por Leonardo Boff quando ele afirma que a “sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e com evolução” 6 .

Tais conceitos estão espalhados por toda essa obra divina, e trazemos alguns de seus apontamentos para a nossa reflexão. Logo no primeiro capítulo do ESE, em “Não vim destruir a Lei”, o Espírito de Verdade elucida que todo o universo, físico e imaterial, está sujeito ao conjunto de leis harmônicas criadas por Deus sob a forma da “lei do progresso, a que a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca de que Deus se utiliza para fazer que a Humanidade avance”. Do mesmo modo que a Natureza é veículo em que se percebe com perfeição dos mecanismos das leis de Deus, temos ainda nesse capítulo a orientação do papel de cada ser humano frente à criação. A revolução moral é feita por cada um, “porquanto sois o grão de areia; mas, sem grãos de areia, não existiriam as montanhas. Assim, pois, que estas palavras – “Somos pequenos” – careçam para vós de significação. A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. Não constrói a formiga o edifício de sua república e imperceptíveis animálculos não elevam continentes?”. É comum atribuirmos os problemas ambientais que nos cercam à má gestão, aos governantes, às indústrias, a determinados sistemas políticos ou econômicos. Entretanto Deus espera que sejamos nós os apóstolos da paz no nível em que nos encontramos, não importa quão pequeninos nos achamos ser.

É também ordinário encontrarmos o atrasado discurso que coloca os homens como o topo da criação, como uma elite orgânica mais capaz e que tem por direito receber do planeta e dos seres inferiores da criação tudo aquilo de que necessita para satisfazer as suas necessidades mais imediatas. Reflitamos juntos meus irmãos. A própria ciência nos adverte que todos os seres vivos existentes hoje no nosso planeta são igualmente bem sucedidos no processo de evolução das formas 7 , descrito por Darwin em A Origem da Espécies, e complementada pelos modernos estudos da genética na teoria sintética da evolução.

O segundo capítulo do ESE, “Meu Reino não é deste mundo”, reforça essa noção quando afirma que a “Humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perdem-se na imensidade. Percebe então que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra”. Ainda mais interessante é quando reitera que está no espiritismo a cura para esse viés de pensamento, uma vez que “o Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha (...) mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que conjuga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Faculta assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal (...) Esse conjunto, ao tempo do Cristo, os homens não o teriam podido compreender, motivo por que ele reservou para outros tempos o fazê-lo conhecido.

“ Não há como negar os fatos. Se quando da vinda da Boa Nova o Cristo nos falava por parábolas, apelando para as imagens à compreensão na nossa infância espiritual, a humanidade possui hoje a relativa madureza para perceber as coisas sob novo prisma. A fraternidade universal, que inclui sim todos os seres da criação, já não pode ser olvidada. Não há dúvida que um entendimento completo da Lei de Amor perpassa o respeito ao planeta e aos seres que nela habitam. Esse entendimento é também dilatado no terceiro capítulo, “Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai”, quando em seu item 19, da progressão dos mundos, os espíritos esclarecem que “Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa é essa ideia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do seu poder a que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!”.

E assim, como as criaturas progridem os planetas também avançam na sucessiva evolução dos muitos mundos. Fato curioso também se apresenta quando analisamos o futuro de nosso planeta. Não é raro escutarmos de compadres as corretas indicações sobre a transição planetária que o orbe atravessa, fazendo-se conhecer as boas novas de que o mundo de regeneração se aproxima. Valiosa reflexão se dá quando observamos que a transição se dará do ponto de vista moral. Assim como anunciou Jesus no sermão da montanha, “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra.”8 , trecho explorado no ESE no Cap. IX – Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos. Os espíritos que estiverem aptos a vivenciar o mundo de regeneração herdarão a Terra com todas as mazelas que plantaram quando mundo de provas e expiações. Consequência do livre-arbítrio, conviveremos em uma sociedade mais justa, onde o mal não sobrepuja o bem, ao mesmo tempo em que lidamos com a escassez hídrica, a perda de biodiversidade, as alterações climáticas, o colapso do sistema elétrico e o acúmulo desenfreado de resíduos.

O esforço em nos tornarmos uma humanidade melhor deve obrigatoriamente se refletir no modo como tratamos e cuidamos da nossa casa planetária. Tal ilação deriva também de análise do Cap. XVI – Não se pode Servir a Deus e a Mamon, quando no item 7 os benfeitores espirituais explanam que “o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta”.

Essencialmente, os débitos que acumulamos com a Natureza tem por princípios os desvios do orgulho e do egoísmo. O Cap. XXV – Buscai e Achareis torna esse ensinamento inteligível de modo inequívoco quando declara que “Deus conhece as nossas necessidades e a elas provê, como for necessário. O homem, porém, insaciável nos seus desejos, nem sempre sabe contentar-se com o que tem: o necessário não lhe basta; reclama o supérfluo. A Providência, então, o deixa entregue a si mesmo. Frequentemente, ele se torna infeliz por culpa sua e por haver desatendido à voz que por intermédio da consciência o advertia”. E complementa com a bela mensagem de que “ a Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o momentâneo supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência do outro; e cada um terá o necessário. (...) A caridade e a fraternidade não se decretam em leis. Se uma e outra não estiverem no coração, o egoísmo aí sempre imperará. Cabe ao Espiritismo fazê-las penetrar nele.

” O Evangelho Segundo o Espiritismo é obra que dilata a mensagem exemplificada pelo Cristo, trazendo novos elementos que apelam à nossa razão. Logo em suas primeiras páginas podemos notar o caráter transformador dessa obra, que nos apela a expandir a mente e o coração ao ambiente físico e espiritual ao nosso redor. Fornece os insumos para entendermos o nosso planeta com olhos de homem novo. Quando Cristo conclama para que sigamos o maior mandamento “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”9 , temos no ESE a base para enxergamos o próximo não somente como os nossos irmãos em humanidade, mas como todos os seres da criação.

O espiritismo, em seu tríplice aspecto, elimina por terra a barreira entre a ciência e a religião. Ainda no Cap. I, o Espírito de Verdade afirma que “é toda uma revolução moral que se realiza neste momento, sob a ação dos Espíritos. Depois de elaborada durante mais de dezoito séculos, ela chega ao momento de eclosão, e marcará uma nova era da humanidade. São fáceis de prever as suas consequências: ela deve produzir inevitáveis modificações nas relações sociais, contra o que ninguém poderá opor-se, porque elas estão nos desígnios de Deus e são o resultado da lei do progresso, que é uma lei de Deus.”

É chegado o tempo de unificarmos os discursos espíritas aos discursos em favor do ambiente e da sustentabilidade. O ESE provê as orientações necessárias para que reflitamos sobre esse mister. Não há equilíbrio sem a fraternidade entre os reinos. Não há felicidade para a humanidade sem o equilíbrio do planeta. A Humanidade é sim portadora de especial responsabilidade, frente a evolução moral dos seres que habitam a Terra. É dever de cada um zelar por esta casa planetária que nos abriga e ampara. É imperioso esforçarmo-nos por erradicar o egoísmo para que os recursos planetários sejam utilizados com critério e equidade. Tudo isso, meus irmãos, passa por inadiável análise de nossas ações e de nossa responsabilidade perante o planeta, usando a solidariedade entre os homens e entre os reinos, como medida para o futuro.

(*) Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita do GEABL


Bibliografia

[1] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131e. Trad. Guillon Ribeiro. FEB: Rio de Janeiro.Folha de Rosto do ESE.
[2] KARDEC, Allan. Imitação do Evangelho. Ségur, 9 de agosto de 1863. In.:___. Obras póstumas . 39. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2006.
[3] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131e. Trad. Guillon Ribeiro. FEB: Rio de Janeiro. Introdução. Item I.
[4]LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
[5] BRUNDTLAN, Comissão. “Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: o nosso futuro comum. Universidade de Oxford. Nova Iorque, 1987.
[6] BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é e o que não é. Editora Vozes, 2012.
[7] Darwin, Charles. A Origem das Espécies e a Seleção Natural. São Paulo: Hemus, 2003. 471 p. [8] Bíblia - Mateus 5:5. [9] Bíblia - Mateus 22:37-40.

sábado, 26 de março de 2016

Espiritismo e Ecologia (Entrevista com André Trigueiro)



Somos reencarnacionistas, portanto precisamos vez por outra nos perguntarmos como gostaríamos de encontrar a Terra em uma outra vida.

Em seu livro Espiritismo e Ecologia o jornalista e professor André Trigueiro, trabalhador da seara espírita, identifica os muitos pontos em comum que existem entre a Doutrina Espírita e a Ecologia.

Segundo Trigueiro, as afinidades são tantas que algumas obras espíritas poderiam perfeitamente embasar alguns postulados ecológicos.

O livro, que está em sua 2ª edição, é o primeiro da FEB (Federação Espírita Brasileira) editado inteiramente em papel reciclado, com o selo verde de certificação ambiental.

Nessa entrevista que o jornalista concedeu a O Trevo, fica ainda mais evidente a nossa responsabilidade como aprendizes, servidores e discípulos do Cristo, de trabalharmos cada vez mais pela preservação do nosso planeta. E, neste sentido, as reflexões que o livro nos traz e as respostas de Trigueiro às nossas perguntas, nos lembram que não basta deixarmos de praticar alguns hábitos nocivos ao meio ambiente: é preciso também nos perguntarmos o que mais podemos fazer para cuidar melhor do planeta que tem nos servido de berço evolutivo ao longo de tantas encarnações e, na sequencia, transformar essas reflexões em ações concretas.

O Trevo- Pela precipitação e intensidade dos acontecimentos fica sempre a sensação de que não há nada a fazer e de que o processo de destruição do planeta é irreversível. Ainda há tempo de mudarmos os rumos ou estamos falando “apenas” em retardar a inexorável devastação da Terra?

André Trigueiro - A Terra é um sistema em constante transformação desde seu aparecimento há mais de 4,5 bilhões de anos. O planeta já atravessou diversas glaciações, períodos de maior concentração de C02 na atmosfera e abalos sísmicos violentíssimos.

Entretanto, o aparecimento da espécie humana determinou novos gêneros de destruição que abalam a resiliência do planeta e o equilíbrio dos sistemas naturais. É importante esclarecer que não é o planeta que está em risco, mas a humanidade. Nós dependemos de água limpa, ar puro e solo fértil para prosseguirmos aqui. Se não formos sábios e cuidadosos no uso inteligente e sustentável desses recursos, pereceremos. Mas a Terra seguirá em frente, e basta que uma pequena colônia de bactérias resista para que a complexa “teia da vida” se reconfigure e restabeleça novamente um meio ambiente saudável em outros bilhões de anos.

A Doutrina Espírita informa que o planeta está em evolução e precisamos aprender que somos coresponsáveis pela vida no planeta. Há tempo para mudarmos de atitude, mas esse tempo está se esgotando.

O Trevo- Muitos alegam que as mudanças substanciais necessárias para reverter esse processo dependem de ações conjuntas dos governos das principais economias do planeta e não de mudanças individuais, que são irissórias quando comparadas com os danos causados pelos interesses econômicos das grandes corporações. Qual é a sua avaliação sobre este ponto de vista?

Trigueiro - A responsabilidade é de todos. Governos são constituídos por pessoas. Governos são eleitos por pessoas. Governos são pressionados por pessoas. Portanto, mesmo as grandes decisões políticas guardam relação direta com as ações individuais. Precisamos também considerar a “força do um”. Não é desprezível a contribuição de cada um de nós em favor do meio ambiente ou contra a natureza. Veja o exemplo do lixo. Estima-se que cada cidadão no Brasil produza em média 1,5 kg de lixo por dia nas grandes cidades. Como o brasileiro vive em média 74 anos, isso significa a fantástica geração de aproximadamente 40 toneladas de resíduos ao longo de uma única existência. A simples decisão de separar o material reciclável do lixo doméstico reduzirá em pelo menos 40% a geração desses resíduos, o que já seria algo bastante expressivo. O mesmo vale para o consumo racional de água, energia, combustíveis, etc. Somos reencarnacionistas, portanto precisamos vez por outra nos perguntarmos como gostaríamos de encontrar a Terra em uma outra vida. Quem ama, cuida.

O Trevo- É possível almejar a evolução espiritual sem mudarmos as nossas eventuais atitudes de desrespeito à natureza?

Trigueiro - Não. Desrespeitar a natureza é sinal de imaturidade espiritual. Todas as religiões preconizam a defesa da vida, portanto, por coerência, deveriam defender a sustentabilidade como princípio ético. Todas as religiões também se manifestam duramente contra o suicídio por entender o autoextermínio como um crime contra as leis de Deus. Quando atentamos contra o meio ambiente promovemos o ecocídio, ou seja, a destruição do sistema no qual estamos inseridos e do qual somos dependentes para viver. Quanto mais evoluída espiritualmente a criatura, maior a compreensão de como tudo no universo está interligado. O meio ambiente começa no meio da gente. Somos feitos dos mesmos elementos que constituem o planeta. Se depredamos o que está do lado de fora, sofremos os efeitos disso dentro de nós.

O Trevo- Como podem os servidores da causa do Evangelho e do Espiritismo transformarem o seu ideal em atitudes concretas de auxílio ao planeta?

Trigueiro - Consumindo menos, como recomenda expressamente o capítulo do Livro dos Espíritos que versa sobre a Lei de Conservação. O consumismo é uma das chagas abertas da humanidade. Precisamos também promover o uso inteligente de água e energia, reciclar o lixo, priorizar o transporte coletivo em detrimento do transporte individual (ou andar mais a pé, de bicicleta). Ler, estudar e buscar mais informações sobre a crise ambiental sem precedentes na História da humanidade são medidas igualmente importantes.

O Trevo- O Brasil está tendo seu papel valorizado no contexto mundial. O que podemos fazer para ajudar a humanidade neste momento de transição?

Trigueiro - Promover o uso sustentável dos recursos é tarefa inadiável, especialmente num país que é o detentor do maior estoque de água doce superficial (Bacia do rio Amazonas) ou subterrânea (aquífero Guarani), do maior estoque de biodiversidade e da maior área de solo fértil disponível. Somos uma potência ambiental, mas ainda não sabemos o que fazer com tanta riqueza. Além disso, enquanto país miscigenado, nos destacamos pela facilidade de harmonizar diferentes etnias e culturas, pela hospitalidade do povo, pela fraternidade dos brasileiros e pela espiritualidade que emerge com força em todas as regiões. O Brasil possui todas as condições de sinalizar rumo e perspectiva para os demais países do mundo. Mas é preciso trabalhar muito para que isso aconteça de fato.


André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ onde hoje leciona a disciplina “Geopolítica Ambiental”, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor dos livros “Mundo Sustentável – Novos Rumos para um Planeta em Crise" (Ed.Globo, 2012); "Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação" (Ed.Globo, 2005), “Espiritismo e Ecologia” (Ed.FEB, 2009) e "Viver é a Melhor Opção - A prevenção do suicídio no Brasil e no Mundo" (Ed. Correio Fraterno, 2015); Coordenador editorial e um dos autores do livro "Meio Ambiente no século XXI" (Ed.Sextante, 2003). Durante 16 anos foi âncora e repórter do Jornal das Dez da Globo News. Desde abril de 2012, vem atuando como repórter da TV Globo. Durante 3 anos foi colunista do Jornal da Globo onde apresentou o quadro “Sustentável”, com séries especiais gravadas na China, na Alemanha, e várias partes do país. É editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Consciência Ecológica


Uma cascata fluindo branca, como uma cortina rendada; um céu repleto de estrelas, o cheiro da terra molhada após a primeira chuva, gotas que brilham em pétalas.

A natureza é um espetáculo para se contemplar em silêncio respeitoso, com o coração em prece.

Deus se mostra, majestoso, nas suas obras monumentais.

A arte, o belo, o refinamento, a exatidão. Tudo é visível na natureza.

Por isso, um dos maiores filósofos da Terra, grafou palavras que resumem, de forma completa, o que representa a natureza para o homem habituado a pensar em Deus.

É de Immanuel Kant esta bela frase: Duas coisas enchem minha alma de admiração e respeito: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim.

E diante desse espetáculo de formas, cores e perfumes, o que fazemos nós, os seres humanos?

Poluímos, matamos, utilizamos sem cuidado. Somente há poucos anos a Humanidade passou a observar que o nosso mundo está maltratado.

A palavra ecologia então entrou na moda, ganhou o mundo, tornou-se sinônimo de consciência ética. Mas muitos de nós ainda estão distantes do sentimento de reverência que a obra Divina deveria merecer de todos.

Florestas devastadas, rios transformados em canais pútridos, animais torturados e vendidos como mercadoria barata.

Isso nos mostra o quanto ainda estamos distanciados do ideal de amor e respeito que a obra de Deus merece.

A casa planetária – saqueada, poluída, agredida – geme sob o domínio humano. E os resultados começam a surgir, preocupantes: aquecimento global, doenças, morte de espécies.

Eis que o produto de nosso descaso se volta contra nós. Furacões, tsunamis, tufões.

Quando ocorrem as grandes tragédias, decorrentes de fenômenos naturais, o homem é a primeira vítima.

E mesmo assim, resiste em continuar cego para os sinais de que algo está profundamente errado na forma como nos relacionamos com a natureza.

Como reverter esse quadro? Como restaurar o equilíbrio?

A resposta está na palavra educação.

Essa arte de educar os caracteres é a chave para que as futuras gerações tenham uma visão mais larga sobre o papel do ser humano, como agente causador da destruição do planeta em que vivemos.

Aos homens do futuro – que hoje são crianças e adolescentes – nos cabe oferecer uma consciência mais apurada e uma noção mais plena sobre preservação do meio ambiente.

Mas... Como fazer isso?

Educando-os desde hoje. Uma educação que vai além da escola formal. A educação do Espírito, que consiste em implantar novos conceitos ético-morais no indivíduo.

A educação do Espírito é completa. Não apenas o informa sobre as regras de gramática e as normas da geometria.

Fala ao homem sobre seu papel no mundo. Educa-o para a convivência fraternal com todos os seres – humanos, animais e vegetais; e prepara-o para cuidar do lugar em que vive.

No dia a dia, essa educação se mostra no combate aos desperdícios de toda espécie, na economia dos recursos naturais, no respeito integral a toda forma de vida.

Um exemplo dessa consciência superior pode ser encontrado em Francisco de Assis, que amava a obra Divina a tal ponto que chamava de irmãos ao sol, à lua, ao vento, à água e às estrelas.

Quem de nós poderia traduzir melhor o amor do que abraçando a natureza com palavras de amor?


Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 22 de março de 2016

Crise de Água e Energia

Um debate espírita sobre o tema ambiental da crise hídrica e elétrica e suas influencias no campo espiritual.

domingo, 20 de março de 2016

Os Espíritos e a Ecologia



Por Luiz Vaz

Neste artigo irei tratar de um assunto que se mostra cada vez mais urgente, mas que parece ser de difícil assimilação pelos espiritualistas em geral: as relações entre as demandas espirituais e as nossas responsabilidades com a preservação do planeta. A primeira vista estes parecem dois assuntos díspares, mas será que são mesmo? Nos parágrafos seguintes buscarei mirar os holofotes nessa questão para que ela seja apreciada mais atentamente.

Não se devemos esperar grandes surpresas, nessa apreciação, de espiritualistas religiosos que se pautam por dogmas dos quais emanam um Deus mágico, com o poder de mudar o universo num estalar de dedos. Estes, em geral, acabam minimizando as nossas responsabilidades para com o futuro, deixando-o a cargo do divino; o que não deixa de ser um raciocínio justo, diante das características de Deus embutidas em suas crenças. A melhor apreciação que poderíamos esperar deste tipo de espiritualista teria relação com a noção de respeito à obra divina, seria esperar que eles se dessem conta que esse planeta é um ecossistema incubador de novos Espíritos, de seres que irão povoar o mundo espiritual após a morte, seja no Céu, seja no Inferno, ou onde quer que seja, e que o mínimo que podem fazer, em respeito a Deus, é tentar preservá-la. E esse tipo de reflexão já seria um grande avanço, diante da inércia e da falta de um discurso franco e reto, por parte dos líderes religiosos, que coloque essa questão na mesa de uma forma clara para os seus fiéis.

Mas e o que poderíamos esperar de espiritualistas que colocam Deus apenas como a causa primeira? Os que não o consideram um eterno supervisor e controlador das mazelas humanas? Opa! Espera aí! Uma outra pergunta acaba se impondo neste momento: existem realmente espiritualistas assim? É melhor não entrarmos nessa polêmica sob o risco de perdermos o foco do artigo, então, para facilitar as coisas, vamos apenas supor que existe uma classe de espiritualistas que considera que também somos responsáveis pelo nosso futuro; que fazemos parte de uma sociedade de espíritos, encarnados e desencarnados, que ajudou a construir o passado e que ajudará a construir o futuro, com a permissão de Deus, é claro! Será que essa suposta classe de espiritualistas poderia de alguma forma ajudar a conscientizar o restante da humanidade quanto a uma possível importância transcendente da preservação do planeta? Algo que ela jamais desconfiaria existir.

É bom lembrar que este planeta não se tornou um ecossistema incubador e acolhedor de espíritos humanos de uma hora para outra, foram necessárias eras e eras para torná-lo apto de construir um organismo biológico capaz de gerar e acolher espíritos com o poder de raciocínio e de emotividade que os humanos possuem, e que, portanto, precisamos refletir sobre o quão precioso ele é. Todos os equipamentos de exploração do universo que construímos nos dão conta do quanto é rara a conjunção de fatores que levam um planeta a abrigar a vida material, e mais rara ainda é a necessária para abrigar vida material inteligente, e com isso não estou pregando que a Terra seja a única no universo a fazer isso, é óbvio que ela não é, pois por mais rara que seja uma raridade, o que é ela diante da quase infinitude? Em resumo: que planetas capazes de abrigar a vida não são comuns, não são mesmo, estão mais para raros do que para comuns. E dentro da história desta raridade chamada Terra, participamos de um momento igualmente raro: aquele no qual uma espécie adquiriu, pelo raciocínio, o poder de mudar a história do planeta como um todo, seja para o bem, seja para o mal.

E junto com o conhecimento e o raciocínio sempre vem a responsabilidade...

Hoje, no meio espiritualista, muitos trabalham diretamente com os espíritos, e isso ocorre, mais corriqueiramente, no caso do Espiritismo e suas várias vertentes. Ainda não tive conhecimento de espíritos que tratassem esse tema com a gravidade que estou propondo, não sei se por falta de oportunidade, por falta de visão ou conhecimento, por terem crenças próximas às dos espiritualistas religiosos ou ainda, quem sabe, por enxergarem que este tema não possui uma real relevância para o mundo espiritual. Sim, conheço alusões deste tipo dentro na literatura espírita, sendo que uma delas diz que o mundo material poderia até não existir que isso não afetaria o mundo espiritual, mas ainda assim fico pensando: como podemos confiar em uma informação dessas se esses mesmos espíritos admitem desconhecer a origem dos espíritos humanos? Além do mais esse tema é sério demais para que possamos depositar toda a nossa confiança na opinião de um ou outro espírito. É preciso pesquisar mais junto a eles para dirimir essas dúvidas, e não poderia ser de outra forma; ficarmos reféns de informações de uma época onde a destruição do nosso habitat não dava pistas da dimensão que poderia chegar não é uma atitude prudente. Hoje adquirimos o poder de destruí-lo rapidamente, via hecatombe nuclear, ou mais lentamente, pela destruição contínua dos habitats, e essa dimensão destrutiva era algo inimaginável na época de Kardec. Nesse momento torna-se imperioso que algumas questões sejam reavaliadas junto aos espíritos, por exemplo: até que ponto precisamos deste planeta para reencarnar? Se os espíritos humanos só puderem reencarnar em corpos humanos e destruirmos a humanidade terrestre, como ficaríamos? Migraríamos para outro lugar? E haveria compatibilidade com corpos que tiveram outra história de formação? Afinal de contas, por que precisamos reencarnar? Precisamos reencarnar só por questões morais e evolutivas ou existem questões energéticas envolvidas nesse processo? Em ambos os casos: o que aconteceria se deixássemos de reencarnar por falta de corpos aptos para isso? Bem, se você acredita que essas questões já estão pacificadas em suas crenças, então essas minhas palavras talvez não lhe tenham muita serventia, pois elas são dirigidas aos que não fecharam questão sobre essas e muitas outras coisas, e que permanecem com as mentes abertas a novas informações.

Esse artigo nunca pretendeu fornecer um diagnóstico. O seu objetivo é, em primeiro lugar, o de incentivar novas pesquisas junto aos espíritos, porque sem o depoimento deles certamente ficaremos andando em círculos.

Não creio ser atitude prudente sentarmos no sofá, confiando que forças de cima sempre irão dar um jeito nas coisas, pois, a tirar pela história da Terra, mesmo para essas forças as coisas parecem demandar tempo, muito mais tempo do que necessita a nossa capacidade de destruição. Lavar as mãos e dizer que nada acontece por acaso, que tudo já está escrito ou que nada acontece sem a permissão divina também não deveria ser a atitude de um espiritualista prudente. As dúvidas são muitas, mas uma coisa parece certa: fingir que esse problema não existe não é a melhor forma de se lidar com ele.

Na filosofia materialista o momento é o que importa; consumir e viver ao máximo faz parte do raciocínio lógico dessa filosofia, e não haveria, por suas premissas, motivos para nos privarmos de algo por um futuro distante que, por não ser certo, não possui a relevância comparável a do presente. Então, não podemos esperar dos materialistas que eles enxerguem muito além dos seus narizes, pois lhes faltam as ferramentas para isso. Mesmo os materialistas mais éticos e conscientes possuem dificuldades em sentir a importância de um altruísmo ambiental, e são os sentimentos que nos movem, no final das contas, muito mais do que a racionalidade. Mas não podemos nos enganar achando que essas dificuldades se restringem a eles, os espiritualistas em geral também são assim, mesmo os que possuem uma apurada visão holística, isso porque normalmente os pensamentos que envolvem a vida espiritual possuem dificuldades para se misturar com os pensamentos destinados à vida material, como se tivessem propriedades diferentes, assim como a água e o óleo. Até a simples e óbvia conclusão de que nós mesmos poderemos sofrer, nas futuras encarnações, com a destruição que efetuamos hoje no meio ambiente, pode ser de difícil assimilação pelo pensamento da vida atual.

Caso exista mesmo, para o mundo espiritual, essa premência em relação a preservação do mundo material, cabe a nós, espiritualistas racionais, trazê-la a tona para mostrar aos encarnados a dimensão dos desafios que podem estar a nossa espreita, fincando-os de vez na pauta do nosso dia-a-dia. Somos os únicos a reunir condições para um dia, quem sabe, elevar a humanidade a um patamar mais holístico de pensamento.

sexta-feira, 18 de março de 2016

A Ecologia à Luz do Espiritismo



Por Izabel Gurgel

Encontramos no livro “O Consolador”, pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, as questões de número 27, 28 e 121, em que se lê:

“Como devemos compreender a Natureza?” e a resposta de Emmanuel foi a seguinte: “A Natureza é sempre o livro divino, onde a mão de Deus escreveu a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem evoluindo constantemente com o esforço e a dedicação de seus discípulos”.

Em seguida, foi perguntado a Emmanuel: As manifestações de vida dos vários reinos da Natureza, abrangendo o Homem, significam a expressão do Verbo Divino, em escala gradativa nos processos de aperfeiçoamento da Terra? Ao que foi por ele respondido: “Sim, em todos os reinos da Natureza palpita a vibração de Deus, como o Verbo Divino da Criação Infinita; e, no quadro sem-fim do trabalho de experiência, todos os princípios, como todos os indivíduos, catalogam os seus valores e aquisições sagradas para a vida imortal.

A pergunta 121 é a seguinte: “O meio Ambiente influi no Espírito?” e Emmanuel responde: “O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influência”.

Pelo exposto, podemos ver que a Ecologia à luz do Espiritismo, certamente diz respeito a uma ecologia mais profunda, da consciência ecológica que deve vir do respeito a qualquer forma de preservação da vida, do respeito pela vida, que vem do religare espiritual.

É intenção de Deus de que todos os Seus filhos sejam felizes e, mesmo que nossa humanidade atual esteja neste planeta em fase de provas e expiações, com tudo isso nosso Deus, nos deu por empréstimo um mundo muito belo, como um verdadeiro caleidoscópio de ambientes, com relevo, rios, montanhas, grutas, vales, florestas, cachoeiras, desertos, regiões cobertas de gelo, sendo as temperaturas muito baixas, fatores limitantes para qualquer forma de vida, onde apenas aquelas que possuam as pré-condicionantes e que foram sofrendo adaptações lentas e progressivas ao longo do tempo geológico, aperfeiçoaram-se de forma a viver em locais muito inóspitos e assim, para todas as demais formas de vida distribuídas pelas diferentes regiões biogeográficas de nosso planeta.

Se a intenção de Deus tivesse sido apreendida ao longo do tempo, sobretudo, no último século, pelos habitantes da Terra, não estaríamos diante dos descalabros que constatamos hoje em dia.

Naturalmente a Terra foi passando por transformações (algumas quase imperceptíveis, enquanto outras, com características catastróficas) e os agentes naturais da Natureza, foram fazendo o seu trabalho, todos eles regidos pela batuta invisível dos Engenheiros Siderais.

As paisagens foram se sucedendo e com isso, muitas delas foram desaparecendo num lugar e aparecendo outras, em outros locais, e com elas todo o conjunto de formas vivas igualmente passou pelo mesmo processo, que é sempre de cunho evolutivo, provendo assim, um saneamento de algumas regiões.

Entretanto, o que se apresenta no mundo atual, resguardadas algumas paisagens naturais que o homem ainda não conseguiu modificar de forma muito indecorosa, o Continente Antártico sendo um desses exemplos, denota a total incúria e desrespeito, sobretudo do homem contemporâneo, à Natureza que o cerca, sobretudo vindo a desestabilizar os ciclos biogeoquímicos do planeta, destruindo a camada de Ozônio que a protege da incidência muito acentuada dos raios ultravioleta, o efeito estufa, acrescido do lançamento cada vez maior de CO2 e outros gases que aceleram o efeito estufa, da utilização de defensivos agrícolas que, em nome de um melhor rendimento de safras e com consequências danosas para todos os seres vivos, estão poluindo as terras e os rios, e que, por sua vez irão poluir os mares; e o efeito do “El Ninõ e La Niña”, aí também estão como exemplos muito nefastos.

Hoje, sabemos que estamos na iminência de catástrofes ecológicas de consequências imprevisíveis, caso o homem não desperte rápido do seu sonho destrutivo, em nome do progresso e do desenvolvimento, de um condomínio que esta sob nossa responsabilidade e guarda, mas que pertence a nosso Deus Criador apenas para quadro de nossa evolução e para ver se despertamos e nos religamos as realidades da Criação.

Perspectivas

Mahatma Gandhi disse certa vez: “Nós precisamos ser a mudança que nós queremos ver no mundo”.

De certa forma é a constatação do que foi dito acima com relação à pergunta de número 29 feita ao Espírito Emmanuel, mas, sobretudo em sua resposta, no que tange a própria transformação do homem para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos aqueles que vivem em sua esfera de interferência.

A essência do que Gandhi quis dizer foi que, antes que o homem deseje modificar o mundo, ele deve, antes de mais nada, começar por modificar-se a si próprio.

Essa modificação se realiza em dois sentidos: de dentro para fora, isto é, em seus próprios pensamentos, em suas palavras e em suas ações, em relação a ele mesmo e projetando isso para o seu mundo exterior, e, por sua vez, recebendo dele todas as informações necessárias para se engrandecer em conhecimentos, em experiências, sobretudo se modificar para melhor e, por conseguinte, SER aquilo que queremos para o nosso mundo, para o meio, com todo o seu conjunto de funções e de estruturas, mas admitindo que não é a sua vontade pessoal que deve imperar, mas sim o bem estar da humanidade, dotada da mesma paz, equilíbrio e autoconhecimento que ele próprio.

Através da Educação, que é uma espécie de jornada para dentro do próprio “eu”, certamente o desejado equilíbrio, necessário para que haja uma ação mais efetiva do homem em busca da sua própria evolução, se dará através da busca do equilíbrio saudável dos elementos no ambiente global e que também se aplicam ao equilíbrio saudável das forças que constituem os sistemas políticos. Em outras palavras, é através do autoconhecimento consciente e disciplinado que poderá o homem chegar ao cerne deste processo, que é eminentemente educativo.

Al Gore disse em seu livro “O Equilíbrio da Terra”, de 1992, “que não surpreende que tenhamos nos tornado tão desconectados com o mundo natural - e é incrível que ainda sintamos alguma conexão com nós mesmos. Acostumamo-nos com a ideia de um mundo sem futuro. As engenhocas de distração estão gradualmente destruindo a ecologia interior da experiência humana. O essencial para esta ecologia é o equilíbrio entre o respeito pelo passado e a fé no futuro, entre a crença no indivíduo e um compromisso com a comunidade, entre o nosso amor pelo mundo e o nosso medo de perdê-lo. Um equilíbrio, em outras palavras, do qual o ambientalismo espiritual depende”.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Se há tanta Paz...


Se há tanta paz no azul que o céu abriga,
E há tanto azul que tanto bem nos faz,
Se há tanto azul e há tanto céu, me diga
Por que é que o homem não encontra a paz?

Se há tanta paz no verde-mar da onda
Que faz-se verde e em branco se desfaz,
Se há tanta onda pelo mar, responda:
Por que é que o homem não encontra a paz?

Se há tanta paz no olor das multicores
Flores: orquídeas, rosas, manacás...
Se há tanta paz em cada flor e há tantas flores
Por que é que o homem não encontra a paz?

Se há tanta paz nos cânticos suaves
Que entoam na alvorada os sabiás,
Se há paz num canto de ave e há tantas aves,
Por que é que o homem não encontra a paz?

Se há tanta paz na brisa que desliza
Sobre as folhagens, tímida e fugaz;
Se há tanta paz na brisa e há tanta brisa,
Por que é que o homem não encontra a paz?

Se há tanta paz nas expressões tão mansas
Que ao vir ao mundo uma criança traz,
E cada dia existem mais crianças,
Por que é que o homem não encontra a paz?

Se há tanta paz nos corações com fé
Que atrai o bem e afasta as coisas más,
Então oremos juntos, todos de pé,
Para que o homem encontre um dia a paz

Luna Fernandes

sábado, 12 de março de 2016

Abra-se à Sustentabilidade!



Por Eugênia Pickina

Visite a terra e as árvores pesadas. Siga a bússola da ação sustentada e retifique o que lá encontrar aprisionado pelo desperdício. Honre as sementes e, na condição de súdito, abençoe o futuro.

Em geral não é muito difícil identificar as qualidades negativas que formam nossos hábitos de sustento, que confundem uma ética frugal com a pulsão de gasto. Esta última tem a tendência de servir a uma vontade mal educada, que alimenta os sentidos e nada faz pelos aspectos superiores do nosso ser, que se torna escravo de desejos inculcados, ou intensificados, pela sedução do consumo-desperdício, exigentes de gratificação insaciável, imediatista e que articula a degradação da Natureza.

Caso se considere a racionalidade instrumental que entabulou o saber moderno, agonizado pela separação entre Espírito e matéria, no nível pessoal e no nível coletivo, o modelo da sustentabilidade convida a adoção de outro modo de viver, que restabeleça a nitidez da interconexão que nos liga ao ambiente ao qual pertencemos – o nosso planeta espoliado.

Desse modo, a sustentabilidade (1) se torna, ao mesmo tempo, o remédio que alivia a ferida da Terra e o recurso possível, a ser desenvolvido, para reintegrar um saber fracionado que pôs de um lado o homem, dominador, e de outro a Natureza, dominada, quando, em realidade, ambos estão tecidos juntos e são interdependentes.

A ferida da Terra é nutrida pelos venenos das ações humanas inadequadas e que precisam ser modificadas. De forma simultânea, pela lei de atração, essas mesmas ações insustentáveis lesam o ser humano, que se degrada pela cobiça do não-essencial.

O comportamento insustentável, ancorado no personalismo, leva o sujeito a focalizar-se exclusivamente em si mesmo, deixando de perceber-se como indivíduo, companheiro ou habitante do planeta para satisfazer apenas o que avizinha aos seus sentidos: seus apetites e necessidades, de acordo com o padrão do infantilismo moral.

Abrir-se à sustentabilidade não significa renunciar à vontade, mas aplicá-la com reflexão e moderação, regulada por uma ética da conservação, que evitará o ressentimento da insatisfação que sempre retorna mais faminta e ansiosa.

A adoção de práticas sustentáveis “não conduz à negação da natureza entrópica do universo e do humano, mas sim ao seu reconhecimento e a um saber viver dentro do limite, em suas margens e em face dos horizontes do possível e do porvir”, pondera Enrique Leff. (2)

Uma vez que não podemos recuar a uma simplicidade anterior, somos obrigados a tentar uma leitura (e uma ação) sustentável do nosso mundo. Nossa responsabilidade, no que se refere à degradação da Natureza, é nos tornar conscientes do que está realmente em jogo para o futuro da Terra e dos povos.

Nesse propósito, a sustentabilidade, como reação à crise da ilusão da quantidade de vida, no lugar da qualidade de vida (3), cura o ego da estéril trivialidade que o angustia e o narcotiza para a denúncia de esgotamento dos recursos naturais, indicativos do seguinte fato: o futuro depende da defesa da Terra para a manutenção das condições de sobrevivência dos seus filhos e filhas.

A atitude sustentável assegura o cuidar da morada, que gerencia o projeto de harmonizar a humanidade com o planeta. Isso leva a pessoa a concentrar-se na realização da sua integração, que, como primeira regra de conduta, repele o modelo consumista, no encalço da conciliação com a Mãe Terra, que reclama uma convivência solidária com a vida em todas as suas manifestações.

Sem dúvida, quando nutrimos essa convivência solidária, que se guia pelo respeito, estamos em boa saúde. O respeito pelo outro e o respeito por si mesmo não estão separados e é uma maneira autêntica de averiguar a qualidade dos sentimentos que permeia o nosso relacionamento com a diversidade, responsável pelo significado afirmativo em relação à nossa morada comum, que reclama o abrigo saudável às novas gerações.

A crise ambiental global é, de fato, a expressão de um modo de viver equivocado que gera consumismo e desperdício, por um lado, e exclusão social e pobreza, por outro. Orienta-se pelo aumento crescente da produção e, consequentemente, do consumo. Com isso, a degradação ambiental avança em todas as suas formas, causando a perda da qualidade de vida, a erosão do ambiente saudável, pondo em risco o futuro do planeta e de suas criaturas.

A agressão ao ambiente funda-se na internalização de conceitos errôneos, sintoma de uma crise espiritual nascida da ignorância (4), reforçada pelo modelo da insustentabilidade, fundado na racionalidade instrumental (5), que condicionou uma ação exploratória sobre os recursos naturais, que são finitos.

Infelizmente, dentre os inúmeros problemas socioambientais gerados por esse modelo, que deve ser superado, despontam, a título de exemplo, o aquecimento global, o desflorestamento, a desertificação, a pobreza e a exclusão social, a perda da biodiversidade, a violência, a indiferença e outros em curso.

Contudo, se uma pessoa refletir seriamente sobre o drama que afeta o seu lar, a Terra, compreenderá, sem dúvida, que a solução para os graves problemas socioambientais depende de cada um de nós. Claramente, isso implica, de maneira ordinária, o redirecionamento das escolhas e o abandono da satisfação de interesses egoístas, passando o indivíduo a se guiar por uma outra racionalidade: a que respeita a capacidade de sustentação dos ecossistemas.

Para isso, em primeiro lugar, será necessária a adoção de um novo modo de vida ligado a uma ética global, que seja avesso à pulsão do gasto e que promova a internalização da urgência dessa mudança em prol dos conceitos da sustentabilidade. Esse modo de vida sustentável reconhece que a cura planetária começa, certamente, pela ação individual.

Práticas sustentáveis transcendem ao padrão do fundamentalismo mercadológico, da violência, da exclusão, porque reconhecem a importância da inter-relação das pessoas para o cuidado com a Terra – nós dependemos dela! Através de ações individuais, mas que se combinam, os grandes desafios podem ser enfrentados.

Desse modo, dar preferência a produtos que não agridem o ambiente, usar papel reciclado, armazenar água da chuva para uso em jardins, fazer uso regular do transporte público, exigir a criação de centrais de reutilização e a promoção da cultura dos resíduos sólidos por parte do poder público, agir como um cidadão ativo, contribuir com a educação ambiental e a espiritual (6), são exemplos que podem somar o conjunto de atitudes privadas que prezam o respeito pelo planeta.

Essas atitudes são condizentes com uma ordem social solidária, que participa do benefício da mudança conceitual em nossas relações com o ambiente e com nós mesmos, na trilha da sustentabilidade, que inspira os versos de Pablo Neruda:

“Minha fé em todas as colheitas do futuro se afirma no presente”. (7)

Notas explicativas e bibliográficas:

(1) ASCSELRAD, Henri (Org.) (2001). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, p. 30.

(2) LEFF, E. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. RJ: Civilização Brasileira, 2006, p. 444.

(3) LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 35 ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 325.

(4) “Na Declaração da Reunião dos Líderes Espirituais da Terra, produzida e divulgada por ocasião da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), cita-se que a crise ecológica é um sintoma da crise espiritual do ser humano, que vem da ignorância.” (apud DIAS, Genebaldo F. Ecopercepção: um resultado didático dos desafios socioambientais. SP: Gaia, 2004, p. 12).

(5) A racionalidade instrumental está norteada no “cálculo econômico, na formalização, controle e uniformização dos comportamentos sociais e na eficiência de seus meios tecnológicos, que induziram um processo global de degradação socioambiental, socavando as bases da sustentabilidade do processo econômico e minando os princípios da equidade social e dignidade humana”. (LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 35 ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 125).

(6) É preciso impregnar a educação, em todos os seus graus e níveis, com o matiz do afeto, que baliza uma relação dialógica com os próprios sentimentos, vitais para uma convivência estruturada na paz e não na guerra.

(7) NERUDA, P. Presente de um poeta. Cotia-SP: Vergara e Riba, 2001, p. 73.
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