segunda-feira, 29 de abril de 2019

Amor à Vida


Por Divaldo Pereira Franco

O mais precioso dom que existe é a existência humana. Embora a gravidade da hora com as suas terríveis malhas de violência, agressividade e tormentos de vária ordem, vale viver-se, tendo por meta a plenitude.

Não poucas pessoas pensam exclusivamente em si próprias, dominadas por asfixiante egotismo, na enganosa construção psicológica de que assim serão felizes, isto por haverem perdido o rumo do equilíbrio, da sabedoria, da razão. Quando se acreditam triunfantes, porém, descobrem-se mergulhadas no vazio existencial e logo mais tombam em graves transtornos psicológicos.

O sentido da vida resume-se na autoedificação pelo amor, mediante o esforço para viver-se, sob o amparo de pensamentos corretos, de palavras certas e de conduta saudável. Somente assim, as suas serão as lutas que lhe darão significado comportamental e estímulo para avanços legítimos na conquista do Self. As metas materiais, embora o seu sentido edificante, são fáceis de serem alcançadas, o que faculta a necessidade de contínuas programações.

Além disso, apresentam enfrentamentos tormentosos, quais sejam: a competitividade nem sempre realizada de forma digna, a submissão ao contexto no qual se vive, ora caracterizado pelo suborno, pela injúria, pela desconfiança, o medo da perda dos valores adquiridos ou das posições conseguidas, a inevitável insatisfação íntima que deflui do anseio de sempre mais possuir e mais brilhar...

A criatura humana é a medida das suas aspirações morais e espirituais que a projetam no rumo da iluminação. Parece uma ingenuidade aspirar-se por iluminação interior, paz no coração, quando pairam sobre quase todas as cabeças as espadas de Dâmocles prestes a decepá-las.

São, no entanto, as propostas ingênuas do amor, conforme preconizadas por Jesus Cristo, que proporcionam bem-estar, alegria de viver, trabalho no bem, fraternidade no seu mais amplo sentido. Assim viveu o inesquecível Poeta galileu, amando numa época hostil como a nossa. Podemos tentar?

sábado, 27 de abril de 2019

Envelhecer é a Poesia de Viver



Por Jorge Hessen

Conforme envelhecemos, o cérebro se reorganiza e passa a agir e pensar de maneira diferente. Essa reestruturação nos torna mais inteligentes, calmos e felizes. “Para o ignorante, a velhice é o inverno; para o sábio, é a estação de colheita”, diz o Talmude.

Tornar-se velho é o processo natural que pode ser atraente ou desfavorável. Sentimos constrangimento ao perceber a capacidade física diminuindo, no entanto a capacidade intelectual pode aumentar, assim como a experiência de vida.

Na velhice pode ocorrer relativa perda de memória, mas o aprendizado e raciocínio social melhoram, ou seja, na velhice há mais capacidade de navegar através das complexidades da vida na sociedade. Quando a libido, por exemplo, vai se esvanecendo o encanto de viver vai se alargando, não obstante a saúde física possa gerar queixas naqueles que não souberam ou não se prepararam para envelhecer.

Especialistas estão percebendo que a atitude mental tem um papel importante na decrepitude. Por isso, há pessoas que dizem se sentirem mais jovens do que realmente são. A perspectiva juvenil as torna mais ativas e mais longevas. Entretanto, por que existem pessoas desanimadas aos vinte anos, quando outros se sentem ativos aos oitenta? Em que tempo se deve colocar o limite entre a mocidade e a velhice? Feliz do velho que viveu a vida bem vivida e vive agora o esplendor da velhice com o espírito jovem, cheio de vida.

Se vivermos na disciplina do trabalho, com a ginástica na academia do pensamento digno, manteremos sempre saudáveis os músculos da juventude e velhice, quando conseguimos dominar o corpo físico e conservá-lo viril através dos anos. Assim sendo, não envelhecemos. Pelo contrário, o tempo o aprimora e aguça, dando-nos a juventude que se repete, cada vez mais bela e segura, em cada nova encarnação.

É completamente incoerente considerar a velhice como algo horrível, mortificante, degradante. Ora, por que avaliamos o transcurso do tempo declínio e não mudança? Lembremos que Jesus só se entregou à sua missão na idade madura, e Kardec só iniciou a codificação do espiritismo aos cinquenta anos de idade. Chico Xavier não se entregou a decrepitude e mesmo quando transportado nos ombros amigos serviu a todos os necessitados que por ele buscaram consolo até o final de seus dias aqui na Terra.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Viver com Maturidade


Por Waldenir Aparecido Cuin

“Cada um colherá aquilo que tiver semeado: quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no espírito, do espírito colherá a vida eterna.” (Paulo - Gálatas, 6,7.)

Toda criatura humana dotada de lucidez de raciocínio e pleno domínio da razão deseja ser feliz e viver em paz, no entanto, são poucas aquelas que conseguem seguir por caminhos de equilíbrio, maturidade e com a devida consciência dos reais valores que possam assegurar-lhes tão almejadas conquistas.

Por certo não basta apenas querer, é imprescindível saber como utilizar os recursos, mecanismos e dispositivos que a Providência Divina coloca à nossa disposição para que obtenhamos os resultados satisfatórios que esperamos.

Seguir pela vida ignorando ou não dando atenção às imprescindíveis e sábias lições de Jesus, por certo, será andar na contramão dos nossos anseios e buscas.

A felicidade e a paz têm como base a tranquilidade da nossa consciência, quando cumprimos fielmente os nossos deveres e obrigações como filhos de Deus, colocados dentro de um amplo contexto humanitário. Em suma, não conseguiremos ser felizes e nem vivermos pacificamente sozinhos.

Crianças, adolescentes e jovens existem em grande quantidade esperando por exemplos de dignidade e altivez dos adultos, para que possam traçar seus roteiros de vida, espelhados em comportamentos seguros e nobres, para que se tornem homens de bem. Dando a nossa contribuição estaremos plantando a paz.

Mães sofridas e pais desesperados deambulam, muitas vezes, sem rumo, ante as incertezas da vida e as dificuldades que enfrentam, para manterem seus lares estruturados no equilíbrio e na ordem. Socorrendo-os dentro das possibilidades que temos, por certo estaremos construindo a felicidade.

Com frequência encontramos idosos sem lar experimentando as agruras da velhice sem o afeto e a presença de familiares. Estendendo a mão na direção deles, buscando aliviar-lhes os padecimentos no crepúsculo da existência, estaremos edificando a paz.

Criaturas com doenças pertinazes são recolhidas, frequentemente, em leitos de dor, agonizando padecimentos de toda ordem. Utilizando as nossas possibilidades para ministrar-lhes algum tipo de alívio, estaremos semeando as bases da felicidade.

Desempregados seguem pela vida procurando por uma ocupação útil que lhes possibilitem ganhar o sustento com o suor de seus esforços. Ombreando-os com sensibilidade visando ajudá-los na obtenção de empregos, estaremos plantando a lavoura da paz.

O campo de trabalho é imenso e as oportunidades para prestarmos a nossa colaboração surgem, diariamente, em grande quantidade, incontestável que saibamos aproveitá-las, pois, nos assevera Paulo de Tarso que “cada um colherá aquilo que tiver semeado”. (Paulo-Gálatas, 6,7.)

As leis de Deus são de compensação: “pois é dando que se recebe” (Francisco de Assis). Assim, meditando sobre aquilo que estamos fazendo, sobre a forma como estamos aproveitando as oportunidades que a vida tem nos oferecido, poderemos saber, diante da lógica e da evidência da razão, se realmente seguimos na direção da paz e da felicidade que tanto almejamos.

Será preciso que nos conscientizemos de que tais conquistas não serão benesses que nos chegarão às mãos como dádivas caídas do “céu”, mas sim como conquistas obtidas a partir do nosso esforço em fazer os outros felizes e pacíficos.

A escolha é totalmente nossa; a mão que oferta uma flor fica perfumada, já a que remexe lixo se impregna de podridão. A flor do bem praticado em favor do próximo nos rende a paz e a felicidade; o lixo da indiferença e do descaso para com os irmãos do caminho nos afasta delas.

Reflitamos...

terça-feira, 23 de abril de 2019

Somos todos Peregrinos sobre a Terra


“Nós, os espíritas, temos que nos questionar muito como estão os nossos sentimentos de solidariedade, compreensão e tolerância; que pensamentos lançamos ao espaço quando o assunto nos alcança à alma? São de preconceito, esse filho direto do egoísmo e do orgulho?” (Humberto Werdine, autor do artigo Refugiados: a força e a esperança por um fio.)

Necessitamos de indulgência para o acolhimento daqueles que buscam, desesperadamente, o conforto, o amparo, o socorro e a compreensão. Apesar das diferenças culturais, incluindo-se as religiosas, devemos, antes de tudo, respeitar os direitos do homem e dar tratamento humanitário aos refugiados.

Nunca, como hoje, se perseguiram tanto os muçulmanos, mesmo os que já detêm direitos de cidadania. Esses e, em especial, os clandestinos, pela própria tez e origem, têm sido classificados como possíveis terroristas e alvo de lamentáveis demonstrações de xenofobia.

“Nesta encruzilhada, devemos lembrar as palavras de Jesus que abrem este artigo: ‘porque tive fome e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; eu era estrangeiro e me acolhestes’. E, mesmo no Antigo Testamento, a Torah, o livro sagrado dos judeus que Jesus ensinou e pregou, há várias passagens sobre o tratamento aos estrangeiros. Em Gênesis 25.9 é dito ‘não oprimirás ao estrangeiro, pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito’. Outra passagem importante é em Jó 31.32: ‘O estrangeiro não passava a noite fora; minhas portas eu abria para o viajante’.” (Humberto Werdine, no artigo citado.)

As palavras de Jesus são de uma simplicidade profunda. Não há nelas teoria, mas indicações objetivas pertinentes à prática do bem. Acolher o refugiado, mesmo que seja um inimigo, é atitude eminentemente cristã. É claro que se deve agir com prudência, para que o joio e o trigo sejam devidamente identificados e não se cometam injustiças.

“Nós os espíritas, que somos sabedores destas verdades, devemos orar para que nossos políticos e governantes possam, enquanto dormem, ser inspirados em seus sonhos pela Espiritualidade Superior para estarem cientes da grande responsabilidade que está nas suas mãos, para que possam agir rapidamente com caridade e compaixão para acabar com esta crise humanitária de forma definitiva.” (Humberto Werdine, no artigo citado.)

A xenofobia não está somente no círculo daqueles que estão no poder. Ela está na base da população e, em alguns casos, chega a um nível próximo da histeria. Ignoram essas pessoas que muitos dos ex-refugiados que conseguiram direitos de cidadania e aqueles que tentam obtê-la são aqueles que, em passado não muito remoto, foram explorados pelos países aos quais hoje suplicam uma oportunidade para viver.

A migração sempre causa temores por parte daqueles que recebem os refugiados. O estado de São Paulo, como os brasileiros sabem, recebeu ao longo de sua história e continua a receber migrantes (por que não dizer refugiados?) de regiões pobres do Nordeste do Brasil, incapazes de oferecer as condições necessárias para que seus filhos permaneçam nas localidades onde nasceram, especialmente nas ocasiões em que a seca torna inviável a vida em tais locais. Mas tal como acontece em inúmeros países europeus, se pudessem, os cidadãos que discriminam expulsariam também esses migrantes.

“Em conclusão, enquanto os políticos trabalham para combater as causas destas guerras que causam estas crises de refugiados, devemos armar-nos com fé, amor, caridade, tolerância e compreensão, e ajudar como pudermos estes irmãos infelizes, que foram forçados a fugir de seus países em guerra para salvar e dar uma vida melhor e mais digna a seus filhos”. (Humberto Werdine, no artigo citado.)

O espírita vai às comunidades carentes para levar instrução. Mas vai também para levar-lhes consolo e facilitar a inclusão social.

Falamos das comunidades carentes porque é a experiência mais próxima da realidade brasileira, embora já tenhamos por aqui os refugiados haitianos e outros imigrantes expulsos por causa da violência ou da miséria que reina em seu país de origem.

Ninguém ignora que sofrem eles preconceito e discriminação, especialmente nos estados do Sul. Em sua maioria, os haitianos recebem os salários mais baixos e as colocações mais humildes, enquanto o desejo das pessoas que discriminam é, em verdade, repatriá-los, esquecendo-se de que todos nós somos peregrinos sobre a Terra e nela nos encontramos igualmente de passagem.(1)


Editorial O Consolador, Ano 10 - N° 504 - 19 de Fevereiro de 2017

(1) Aos que duvidam de que somos peregrinos sobre a Terra, sugerimos que leiam ou releiam a mensagem constante do cap. III, item 14, d´O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.

domingo, 21 de abril de 2019

Prevenção contra o Suicídio


Por Inês Rivera Sernaglia

Cerca de onze mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. Na agenda Global, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo, uma a cada 40 segundos. Diante de um caso de suicídio, a primeira pergunta que fazemos é por quê? O que leva uma pessoa a tirar a própria vida?

Sem dúvida é por uma dor muito profunda, porque lidar com o sofrimento é uma das coisas mais difíceis da vida. Mas, o que existe na verdade, é a crença equivocada de que o sofrimento, a dor, a vida acabam com a morte do corpo físico, ou que com a morte podemos ir ao encontro dos entes queridos desencarnados.

Na realidade, isso não passa de um completo desconhecimento da vida espiritual. É a falta de consciência de que um problema, qualquer que seja ele, pode ser visto como um degrau no caminho da evolução. Por isso, diante dos grandes desafios da vida, é fundamental entender a necessidade que se tem em manter a calma e refletir na infinita bondade de Deus que ampara e conforta aliviando-nos a carga das aflições; acreditar que o desespero e os reveses têm fim, pois assim a suportabilidade e a compreensão são naturalmente aumentadas.

Allan Kardec comenta em O Livro dos Espíritos, na pergunta 943, que o desgosto pela vida que se apodera de alguns, na maioria das vezes, é efeito da ociosidade e da falta de fé, daí o suicídio voluntário. Ele é uma transgressão às Leis Divinas, porque não apaga o desgosto e o sofrimento, pelo contrário, eles se agravam.

As tribulações da vida são provas ou expiações e mesmo em casos em que a morte é inevitável, tendemos a querer abreviar o sofrimento. Que grande equívoco o de não esperar o tempo fixado por Deus...

Há também o suicídio indireto, quando dispensamos energias com excessos e vícios provocando um desencarne antecipado, desperdiçando oportunidades. Fazemos isso muito mais do que percebemos, e se avaliarmos nossa própria existência, poderemos notar quantas vezes desperdiçamos oportunidades de crescimento. No mínimo, seríamos reprovados no colégio de análise evolutiva. O nosso corpo é uma ferramenta bendita de relacionamento que possibilita ao Espírito oportunidades para o aprendizado. Portanto, fundamental é que cuidemos e respeitemos esse corpo.

Também é importante lembrar que a mente necessita estar alinhada aos cuidados com esse corpo, pois, se não estiver em condições favoráveis, acaba envenenando-o ao invés de preservá-lo: “Mente sã em corpo são”. Mas quando vem o desespero, o medo e a falta de perspectiva, o que fazer? Onde buscar auxílio diante de pensamentos destrutivos? Sabemos que existem interferências severas e graves da parte espiritual, mas também sabemos que existe ajuda no campo do auxílio e da proteção. Então, a oração é o começo do socorro. Abrir o coração para que o plano espiritual possa chegar com o amparo. Acreditar no amor e na misericórdia de nosso Pai que nunca nos abandona; deixar esse egoísmo de lado e pensar nas pessoas que nos amam e precisam de nós. E se chegarmos ao ponto de não ver o quanto somos amados e úteis, atendamos ao pedido que o benfeitor espiritual Emmanuel nos faz: visitemos hospitais, presídios, orfanatos; passemos pelas ruas olhando quantas pessoas não têm onde dormir e nem o que comer, e nem água para beber ou simplesmente para tomar um banho.

Quantos passam a vida solitária em hospitais psiquiátricos, ou ainda idosos largados em asilos, como se não tivessem tido sequer uma família... Quando olhamos para a dor do próximo e, principalmente, quando trabalhamos a seu serviço, nos esquecemos das nossas dores e frustrações. Aliás, elas se tornam pequenas frente a tanto sofrimento alheio. Nunca desconsideremos que muitos estão aturdidos por ideias sombrias, procurando auxiliar, dentro das nossas limitações, com palavras acolhedoras, calmantes, com a prece e principalmente com muito amor.

O suicídio não é um ato de covardia, e sim, um ato de desespero. Tenhamos, assim, compaixão de todos e de nós mesmos também. Abracemos o trabalho e a prece como bússola no nosso caminho, porque a prece ilumina, guia, reanima e consola, e o trabalho liberta, restaura e sustenta.

Nosso Mestre passou pela Terra atravessando suor e lágrimas. Sua peregrinação foi laboriosa entre os homens e sua fé nunca se abalou. A prece e o trabalho deram a marca de sua trajetória exemplar. Portanto, lembremo-nos sempre dos seus passos e, nos momentos difíceis, recordemo-nos de suas palavras: “Tende bom ânimo! Eu estou aqui”.


Bibliografia:

XAVIER, F. C. Encontro Marcado – ditado pelo Espírito Emmanuel – 16ª edição, FEB Editora, lição 30.
_________ O Consolador – ditado pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição, FEB Editora, perguntas 154 e 252.
_________ Religião dos Espíritos – ditado pelo Espírito Emmanuel – 8ªedição, FEB Editora, “O Suicídio”- pág. 119.
KARDEC, Allan – O Céu e O Inferno – Segunda Parte, cap. V.
______________ O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. V, itens 19 e 29 – cap. XXVIII, item 71.
______________ O Livro dos Espíritos – questões 257, 376, 758, 943.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Não Violência, Perdão e Comunicação Compassiva




Por Vinicius Lima Lousada

[Jesus] “Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém possa usar para com seus semelhantes.” – Allan Kardec

JESUS ENSINAVA A NÃO VIOLÊNCIA

Considero Jesus um pacificador por excelência, talvez ainda incompreendido por muitos cristãos no mundo em que vivemos. Sua postura de acolhimento dos excluídos e estigmatizados, de radical crítica à hipocrisia e à exploração religiosa era uma afronta pacífica à visão de mundo exclusivista e sectária presente no seio da sociedade onde escolhera reencarnar.

Em seus ensinos condenara qualquer forma de violência ao próximo, da verbal à física, e estabelecera como fundamentos de sua doutrina o amor ao Pai Celeste e ao próximo. Para ele o comportamento reto deveria se orientar na justa medida e o caminho de elevação espiritual deveria ser trilhado pelo interessado, mediante o trabalho de aquisição do conhecimento a respeito das coisas do Reino, objetivo maior da existência.

No conjunto de propostas de Jesus de Nazaré estava o revolucionário perdão. Revolucionário porque a justiça dos homens de sua época ainda se estruturava no “olho por olho, dente por dente” levando-se o ofensor ou agressor a sofrer pelas mãos dos homens aquilo que imputara às suas vítimas. Isso era legal e moral no tempo de Jesus, vejamos o nosso atraso espiritual naqueles tempos.

O PERDÃO COMO PRÁTICA RESTAURATIVA

O perdão viria como alternativa a ser aplicada no cotidiano, nas questões mais simples, até os conflitos entre os grupamentos humanos, os mais distintos. Surgia, então, uma proposta de ruptura com o vicioso ciclo da violência, para a construção de um circuito virtuoso de justiça e restauração das relações sociais em termos pacíficos.

Sabedor do princípio da pluralidade das existências, o Mestre de Nazaré vinha propor a interrupção dos resultados funestos da violência que se estenderiam nas vidas sucessivas de Espíritos até então beligerantes, por isso postulava a reconciliação com o adversário como compromisso superior à adoração a Deus, enquanto transitássemos pelos caminhos terrenos com aquele.

A reconciliação só é possível com o perdão. O perdão liberta o ofensor da dívida contraída e o ofendido do desejo de vingança ou justiça com base em seus parâmetros pessoais, estabelecendo para ambos um novo rumo, pautado na ética da compreensão que, por sua vez, conduz ao exercício da indulgência com os limites alheios e à reparação da falta perpetrada pela prática do bem.

Claramente, o perdão consiste numa atitude não violenta porque preconiza o desapego da ânsia por uma resposta ao ofensor na mesma medida e provoca a liberação do hábito infeliz de julgar o próximo, que consiste, conforme os estudos de Comunicação Não Violenta (CNV) do psicólogo Marshall Rosenberg, numa forma de violência e de atitude sem empatia e compaixão, fechada ao encontro com o próximo.

Nem sempre é possível concretizar uma reconciliação efetiva, transformando os vínculos que enfermaram em algo saudável, mas, superar o impulso agressivo, o desejo de vingança ou de manutenção de uma querela interminável, que só nos atrasa espiritualmente, já é um bom sinal de progresso moral em nosso roteiro. Destaquemos que perdoar, na perspectiva kardequiana, é responder o mal que nos fizeram com o bem, esquecendo a falta, quer dizer, desconsiderando-a.

Treinar o perdão exige atenção quanto às nossas atitudes e uma escuta compassiva, na vida de relação, para que compreendamos as necessidades do outro. Para o criador da CNV, toda a atitude violenta revela uma necessidade não atendida, diríamos nós, um sofrimento camuflado que aturde o ofensor enredado na ausência de lucidez ante a sua dor.

Aliás, muito do nosso modo de nos comunicarmos é alienante, sem empatia ou compaixão pelo sofrimento alheio. Culturalmente e através da má-educação aprendemos a desenvolver um jeito de falar e manifestar nossos anseios de forma entrecortada por arroubos de cólera, expressões grosseiras ou impaciência, que evidenciam o nosso estágio de Espíritos inferiores.

Recordemos que no contexto do diálogo com os Espíritos, Kardec dissera que a linguagem revela o lugar dos mesmos na escala espírita. Trazido para a questão do nosso modo de nos comunicarmos, no mínimo, é um belo alerta para ser considerado, especialmente, nesses dias de transição planetária em que somos chamados a contribuir em prol de nossa própria ventura, levando em conta a afirmação de Jesus: “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”.

UM PASSO PARA A PAZ

Um passo importante para a edificação da paz em nosso cotidiano, lugar onde ainda cultivamos a violência, está na possibilidade de superarmos a forma de comunicação alienante que aprendemos pelo exercício da CNV, ou de algum método que nos ensine um modo mais amoroso de nos expressarmos. A comunicação alienante é aquela destituída de empatia, quero dizer, sem a “compreensão respeitosa sobre o que os outros estão passando”.

Mas, quando falamos sem compaixão? Numa síntese do que ensina Marshall, podemos dizer: exatamente quando nossas conversas se traduzem em julgamentos a respeito dos outros; analisamos a vida alheia sob o nosso prisma pessoal, a partir de nossas necessidades e valores; no instante em que classificamos os sujeitos e estabelecemos comparações; se negamos a nossa parcela de responsabilidade quanto ao que fazemos e seu efeito para o próximo; ou, ainda, quando a nossa fala apresenta exigências para com as pessoas com que nos relacionamos.

A superação de uma fala nada compassiva está em nos apropriarmos de outra perspectiva, de uma fala generosa e não violenta que possa traduzir com serenidade nossos sentimentos ou necessidades. Pode parecer uma leitura romântica dos conflitos humanos, mas se aprendermos a nos comunicar em paz – a CNV é uma bela ferramenta nesse sentido – seremos capazes de multiplicar um modo de ser e estar no mundo que rompa paulatinamente com o paradigma incrustado em nosso psiquismo de dominação, competição e negação da diferença, por isso, fomentador da violência em suas diversas faces.

Na Filosofia Espírita, aprendemos com os Imortais que o conhecimento de si mesmo é a chave do progresso moral do Espírito. Conheçamo-nos e verifiquemos quanto de energia de violência carregamos em nós e se estamos, de fato, desejosos de fazer que a Terra seja um dia uma morada de paz.

*O autor é educador, escreve no blog “Saberes do Espírito” e reside em Bento Gonçalves (RS).

Referências:

O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XI, item 4.
Mateus 22: 34 a 40
Lucas 6: 31.
Mateus 6: 19.
Mateus 6: 14 e 15.
O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XII, item 8.
Mateus 5: 23 e 24
ROSENBERG, Marshall. Comunicação não violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
Mateus 5:9.
ROSENBERG, Idem, p. 150.
Idem, p. 48.
O Livro dos Espíritos, questão 919-a.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Em Harmonia com o Planeta



Por Erika Silveira

A sustentabilidade e os cuidados com o meio ambiente tem sido um tema bastante recorrente na atualidade. Questões que muitas vezes podem parecer uma preocupação de ordem governamental e mais distante de nós, quando na realidade se trata de uma responsabilidade comum, que deve envolver governantes e governados em um mesmo interesse: Viver em harmonia com o planeta.

Preservar os recursos naturais que o planeta oferece é um dever, porque diz respeito à vida na Terra e às gerações atuais e futuras. E este futuro a partir de uma percepção espiritual, ganha um conceito mais abrangente. Explica a Doutrina Espírita que podemos retornar para o mesmo planeta diversas vezes de acordo com as necessidades evolutivas de cada um, como esclarece a questão 172 de O Livro dos Espíritos: “Nossas diferentes existências corpóreas se passam todas na Terra? — Não, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição”. E complementa na questão seguinte: “Pode reviver muitas vezes num mesmo globo, se não estiver bastante adiantada para passar a um mundo superior.”

A partir do princípio da imortalidade, a visão sobre a relação com o planeta se amplia, sendo a Terra a grande morada evolutiva dos espíritos por diversas encarnações e como cidadãos desta Casa que acolhe e oferece oportunidades de crescimento, se estabelece uma relação de gratidão com o Planeta e consequentemente de colaboração.

Os simples gestos podem fazer a diferença, beneficiando diretamente a natureza. Neste caminho, a conscientização é o primeiro passo. Atitudes como procurar consumir menos materiais descartáveis, não imprimir arquivos sem necessidade, economizar água e luz no dia a dia, ensinar as crianças sobre a importância desses cuidados, procurar separar o lixo orgânico do reciclado, repensar as necessidades de compra, entre tantos outros hábitos, podem ajudar a preservar os recursos naturais, garantindo a nossa sobrevivência no planeta.

O mundo cada vez mais materialista movido pelo consumo excessivo nos convida o tempo todo a fazer parte deste ciclo, mas se desejamos um planeta melhor hoje e amanhã sem nos sentirmos escravizados ou oprimidos pelo sistema é tempo de repensar necessidades, procurando mudar atitudes de consumo, embora não seja tão simples, significa um caminho necessário para uma relação de equilíbrio com o planeta.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Um pouco de Solidariedade



Por Waldenir A. Cuin

“O homem possuído pelo sentimento da caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre o seu interesse à justiça.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item III – Allan Kardec.)

O mundo em que vivemos é de expiações e provas, onde o mal ainda é maior que o bem. Basta um olhar ao redor dos nossos passos e não teremos dificuldades em constatar esta triste realidade; os atos, atitudes e comportamentos humanos, em grande parte, refletem dor e sofrimento no seio da coletividade em que vivemos.

Constatada tal situação, caracteriza-se como dever de cada cidadão desenvolver atividades e labor no sentido de modificar tal panorama que tem causado grandes sofrimentos e infindáveis torturas às criaturas humanas.

Importa, então, descobrir, observando a nossa potencialidade, o que podemos fazer, como contribuição, para que as coisas tomem novo rumo, pois que a tarefa de erigir uma sociedade mais justa, fraterna e humana, é de todos nós. Atribuir tal responsabilidade às autoridades constituídas seria esquivar-se de prestar nossa cota de participação, pois que o progresso social interessa diretamente a todos.

O homem politizado, que já conseguiu vislumbrar além dos seus próprios interesses, não pode deixar de servir ao irmão que ainda está atolado na ignorância, ministrando-lhe lições de convivência fraterna e solidária.

Aquele que aprendeu a servir em silêncio precisa estar atento na descoberta de situações emergenciais, onde seu desprendimento possa contribuir, de alguma forma, para minorar quadros de angústia e dor.

Se conseguimos exemplificar, com amor e dedicação, um posicionamento de paz e serenidade, é imperioso que nos aproximemos dos mais violentos e agressivos para que aprendam que o caminho para a felicidade começa na domesticação dos próprios sentimentos.

Observando a fome rondando lares pobres e desorientados, não podemos perder tempo, temos obrigação de agir rápido amenizando os problemas, uma vez que a inanição, em poucos dias, poderá levar os famintos às raias do desespero e do desequilíbrio.

Percebendo a tendência viciosa de homens vulneráveis, surge diante de nós a grande e inadiável oportunidade de falar sobre os malefícios do cigarro, do álcool e de outras substâncias tóxicas ainda mais nocivas e deletérias.

Conhecendo irmãos que se prestam à infidelidade conjugal, com graves consequências para a estabilidade e a harmonia dos lares, é dever que informemos, dentro do possível, sobre a responsabilidade que pesa aos nossos ombros no tocante à condução correta e ajustada dos valores morais dentro do contexto familiar.

Notando que criaturas seguem pela vida cultivando um padrão de indignidade, desatenção para com a honradez e distante dos comportamentos sublimes, façamos esforços para que consigam conhecer o lado justo e honesto da vida, para que não se aprofundem ainda mais nos desfiladeiros das mazelas que alimentam.

O homem de bem, em circunstância alguma, poderá negligenciar, esquivando-se de servir, indistintamente, sem esperar pelo reconhecimento e gratidão de qualquer criatura. A alegria daquele que cumpre com os seus deveres sociais deve nascer da tarefa realizada e da tranquilidade de sua consciência reta.

Em momento algum olvidemos que enquanto um só homem estiver desorientado, desesperado, vivendo fora dos padrões do equilíbrio e da retidão de caráter, a sociedade em geral estará ameaçada e insegura.

Não esperemos por ninguém, façamos a nossa parte, contribuamos com os recursos que temos e podemos, quer sejam financeiros, morais, culturais, não importa, pois que sempre aprendemos algo com os que estão à nossa frente e muito podemos ensinar aos que seguem à nossa retaguarda.

Um pouco de solidariedade, em favor de quem necessita, será para todos nós uma imensa e inadiável contribuição para que possamos mudar a história dos nossos dias, substituindo a dor que maltrata tanta gente pela alegria de uma vida mais condizente com os ditames do Evangelho de Jesus.

Reflitamos.

sábado, 13 de abril de 2019

Pensamento e Evolução Espiritual




Por Michele Ribeiro de Melo

A mediunidade é um fenômeno natural, próprio do ser humano, é a faculdade que permite aos encarnados entrar em contato com o Plano Espiritual.

O codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, ensinou-nos que todos somos médiuns, independentemente de crença, moral, ou grau de sensibilidade. Todos sentimos a influência dos espíritos em nossa vida, todos temos um canal que permite-nos a comunhão com a Divina Providência, que nos inspira pensamentos de Amor e Luz para que sigamos no caminho do aperfeiçoamento.

A todo momento utilizamo-nos dessa faculdade maravilhosa, sintonizando com outras mentes que vibram na mesma sintonia mental, tanto de encarnados quanto de desencarnados, são ondas e raios que navegam por todo o espaço, isto todos já sabemos.

O que precisamos refletir é de que forma estamos nos utilizando dessa faculdade tão preciosa? O que temos sintonizado em nosso cotidiano? Quais pensamentos emitimos diariamente? Quais sentimentos carregamos em nós?

Os pensamentos são a base de nossa evolução espiritual, é um atributo inato a todo espírito imortal, portanto, pensar é ação criadora.

Afirma Leon Denis em O Problema do ser, do destino e da dor que “O pensamento, dizíamos, é criador. Não atua somente ao redor de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o mal; atua principalmente em nós; gera nossas palavras, nossas ações e, com ele, construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura.”

Desse modo, verificamos que por meio de nossos pensamentos cultivamos sentimentos nobres ou doentios, impregnando nosso períspirito de luz ou sombras. Os sentimentos que carregamos demonstram nossa vibração perispiritual, densidade ou luminosidade. Tomamos as rédeas de nosso progresso espiritual quando nos propomos a educar os pensamentos. Essa ação resultará na transformação de nossos sentimentos. Entretanto, esse esforço deve ser constante, diário, pois é por meio desse esforço para transformar-me moralmente que alcançaremos degraus mais altos na escala evolutiva.

Mas como conquistar mencionada renovação? Por meio do Evangelho de Jesus, iluminando os pensamentos com o roteiro iluminativo dos ensinamentos do Mestre Divino. Assim, passaremos a elaborar novas construções mentais que resultarão na vivência evangélica, modificando sentimentos, atitudes e vibrações.

Deus nos envolve com o Seu Pensamento Divino, Jesus nos abraça e nos alimenta espiritualmente a todo momento, depende de nós vibrarmos em faixa mais elevada, captando as bênçãos do amor que nos fortalecerão para a grande jornada.

Não basta ser médium, é preciso ser médium com Jesus, compreendendo e vivenciando a reencarnação como oportunidade bendita que Deus nos concede para aprendermos a amar.

Não basta ser espírita, é preciso vivenciar o profundo conhecimento que a Doutrina nos proporciona.

Em nossos esforços diários de educação dos pensamentos com base nos ensinos de Jesus está a chave para nossa transformação moral e como nos ensinou Kardec "Reconhece-se o verdadeiro Espírita por sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações."

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Adoração a Deus conforme o Espiritismo


Por Aylton Paiva

Qual seria a melhor forma de adorar a Deus, com vistas às informações religiosas, filosóficas e científicas que temos nos dias atuais?

Iluminando esse ato com os conhecimentos oferecidos, na atualidade, a fim de que se possa entender, cada vez mais, a grandiosa obra da criação Divina: a Vida e o Universo, o Espiritismo amplia nossa compreensão e nosso sentimento de adoração ao Criador Supremo.

Não temos condições para entender a essência Divina, no entanto, os Mentores Espirituais ofereceram uma conceituação ampla e profunda na primeira resposta a Allan Kardec.

Ao ser perguntado por ele: “Que é Deus?”, responderam, em preciosa e profunda síntese:

“- Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. (1)

Mais adiante, Allan Kardec interpela os Espíritos sobre a melhor forma de adorar a Deus, colocando de forma bem direta e incisiva:

“Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?”

Ao que eles responderam:

“- Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes”. (Questão nº 654 de O Livro dos Espíritos.)

Refletindo sobre essa resposta e demais conceitos expressos em a Lei de adoração, inserta na Terceira Parte de O Livro dos Espíritos, pudemos grafar algumas reflexões. (2)

De conformidade com o conceito espírita de adoração, Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que não os tornam melhores para com os seus semelhantes.

Para fazer o bem e evitar o mal é necessário que o homem seja participante da sociedade em que vive, através de ações que preservem os próprios direitos naturais, como, também, dentro de suas possibilidades, defenda os direitos naturais do seu semelhante.

Obviamente, de nada vale a adoração exterior manifesta em rituais e posturas falsas, se o comportamento da pessoa se motiva pelo egoísmo, orgulho, vaidade e prepotência.

A adoração a Deus, no conceito espírita, tem uma ação dentro da sociedade, ou de forma mais ampla no planeta em que se vive: fazer o bem e evitar o mal.

Para fazer o bem e evitar o mal é necessário procurar extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a prepotência, não só de si mesmo, como também das instituições e grupos sociais.

Tal conceito de adoração a Deus leva não só à reforma íntima, ou seja, à autoeducação, como à reforma da sociedade em seus infelizes padrões de egoísmo e orgulho, em nome dos quais se justificam as desigualdades, as injustiças e a própria destruição da vida.

O Espiritismo não apresenta um conceito de adoração fundamentado na submissão passiva e medrosa ao Criador; ajuda na compreensão das limitações humanas e na proteção divina, nunca apelando a uma submissão castradora, de inibição às potencialidades humanas. Pelo contrário, demonstra que a adoração, ao aproximar a criatura do Criador, constitui-se numa possibilidade de estudo de si mesma. As boas ações são as melhores preces, por isso valem os atos mais que a palavra de pessoas cujos atos as desdizem.

Ser religioso significa principalmente entender a si e ao seu semelhante, amando-o e amando-se. (“Ama o teu próximo como a ti mesmo” - Jesus.)

Conforme o Espiritismo, o valor de uma religião, filosofia, ou seita, está em promover o crescimento, a força, a liberdade àqueles que a seguem ou professam.

Se uma religião, através de seus conceitos, inibe a razão e o amor em suas diferentes formas e expressões, revelando, apenas, aspectos tristes da vida, conduzindo ao desprezo de si mesmo, impondo uma contemplação improdutiva, não tem valor. (Questão nº 657 de O Livro dos Espíritos.)

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec insiste quanto à melhor forma de agradar a Deus e os Mentores Espirituais indicam sempre que isso se faz através da ação no bem, pela produtividade no amor ao semelhante. Mesmo no ato exterior da adoração, revelam a atitude psicológica que o determina, demonstrando a diferença entre a adoração autêntica e a hipócrita; o agir de forma egoística e ação motivada pelo amor.

Por isso, o conceito espírita de adoração infunde um profundo respeito pela Vida, uma permanente indagação sobre o universo e o homem, um intrínseco amor pelo semelhante. Estimula sempre o aperfeiçoamento e o progresso da pessoa e da sociedade, através da solidariedade.

Vale lembrar, também, que em seu admirável e esclarecedor estudo sobre o Espiritismo e a Ecologia, o jornalista, escritor e professor universitário, Trigueiro, assinala referindo-se à perspectiva do relacionamento dos seres humanos com Deus relativamente à responsabilidade de ações na preservação da vida planetária: “E Deus nessa história? Bem, o Deus que protege e ampara é o mesmo que delega funções e atribuições. Em uma linguagem típica dos mercados, Deus “terceiriza” e confiou o planeta à tutela dos homens. (3) TRIGUEIRO, André, pág. 46, Espiritismo e Ecologia.

Como visto, ele exemplifica de forma concreta a assertiva dos Mentores Espirituais: “... fazendo o bem e evitando o mal...”

Também alertando sobre o profundo significado no entendimento da nossa ligação com Deus, em seu magnífico estudo sobre a sustentabilidade da vida, Villarga considera: “... a) As leis morais apresentadas no livro Terceiro de O Livro dos Espíritos. Essas leis regem o nosso relacionamento com Deus, com os outros seres humanos, com a Natureza e com os seres desencarnados”. (4) - Pág. 95 – Espiritismo & Desenvolvimento Sustentável – caminhos para a sustentabilidade. FEB.

Consequentemente, no conceito de adoração a Deus, expresso pelo Espiritismo, há todo um comprometimento de participação amorosa na sociedade, reiteradamente manifestado pelos Espíritos a Allan Kardec.

Referência:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. XX ed. FEB.

2. PAIVA, Aylton G. C. Espiritismo e Política: contribuições para evolução do ser e da sociedade. 1ª ed. 1ª imp. Brasília – DF. - 2014, págs. 25 a 27.

3. TRIGUEIRO, André. Espiritismo e Ecologia. 1ª ed. FEB. 1 imp. Brasília. 2009. pág. 46.

4. Espiritismo & Desenvolvimento Sustentável – caminhos para a sustentabilidade. 1ª ed. 1ª imp. Brasília-DF. 2013. página 95.
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