sábado, 30 de março de 2024

O que o Chico diria

 


Adailton Moura*

Diante do mal do mundo, o Chico diria: “Perdoa agora, hoje e amanhã, incondicionalmente. Recorda que todas as criaturas trazem consigo as imperfeições e fraquezas que lhe são peculiares, tanto quanto, ainda desajustados, trazemos também as nossas.”

Diante de alguém ainda avesso ao bem O Chico diria:

“Nem Jesus Cristo, quando veio à Terra, se propôs resolver o problema particular de alguém. Ele se limitou a nos ensinar o caminho, que necessitamos palmilhar por nós mesmos.”

Diante da maledicência do homem, o Chico diria:

“Fuja à maledicência. O lodo agitado atinge a quem o revolve.”

Diante do ódio eminente, o Chico diria:

“Precisamos desalojar o ódio, a inveja, o ciúme, a discórdia de nós mesmos, para que possamos chegar a uma solução em matéria de paz, de modo a sentirmos que os tempos são chegados para a felicidade humana.”

Diante da violência que campeia por todos os cantos, o Chico diria:

“Esperemos que o amor se propague no mundo com mais força que a violência e a violência desaparecerá, à maneira da treva quando a luz se lhe sobrepõe. Consideremos, porém, que essa obra, naturalmente, não prescindirá da autoridade humana, mas na essência e na prática exige a cooperação de nós todos.”

Diante da vontade de ser igual a todos, o Chico diria:

“Que eu não perca o equilíbrio, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.”

Diante do erro que cometemos a séculos e séculos em nossas vidas, o Chico diria:

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”

Diante da possibilidade de ofender a alguém com palavras, atos e pensamentos, o Chico diria:

“Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor.”

Diante da necessidade de julgarmos o comportamento alheio, o Chico diria:

“Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem.”

Diante da nossa dificuldade em amar ao próximo, o Chico diria:

“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.”

Diante da nossa dificuldade em aprender as lições da vida, o Chico diria:

“Três verbos existem que, bem conjugados, serão lâmpadas luminosas em nosso caminho: aprender, servir e cooperar.”

Diante da suprema necessidade de colocar os nossos interesses acima do dos ouros, o Chico diria:

“Que o Senhor nos ajude, pois, em nossas necessidades, a seguir sempre três abençoadas regras de salvação: corrigir em nós o que nos desagrada em outras pessoas, Amparar-nos mutuamente, amar-nos uns aos outros.”

Tudo isso, o Chico diria. O que passa além disso, são quimeras.

No mais, como o Chico, sigamos o Cristo.

*Palestrante espírita, presidente do CENOL – Centro Espírita Nosso Lar – Gama/DF.


quinta-feira, 28 de março de 2024

Atenção à palavra

 


Por Jane Martins Vilela

Parodiando Casimiro de Abreu: “Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais!”, pensamos, ao recordar o passado: “Oh! que saudades que eu tenho da época em que Jerônimo Mendonça, o Gigante Deitado*, estava encarnado!”

Líamos para ele diariamente, das 13 às 18 horas, de segunda a sexta-feira, em Ituiutaba, Minas Gerais, nas nossas férias. Ele costumava dizer que nossas férias eram as dele, e ler para ele era um grande prazer de nossa parte. No momento em que fomos apresentada a ele, cego, paralisado no leito, admiramos sua postura mental, de fortaleza e bom ânimo. Ele pediu-nos que lêssemos para ele, ao que aquiescemos com gentileza. Seria uma oportunidade de servir. Mal sabíamos que estávamos tendo uma divina oportunidade de aprendizado. Durante 5 horas líamos e conversávamos. A leitura era interrompida inúmeras vezes por pessoas necessitadas que viam nele uma possibilidade de socorro, um alento, uma palavra amiga. Ora filas na porta de sua casa, ora telefonemas, quando segurávamos para ele o telefone. Ele, paralítico, cego, com dores atrozes, era o bálsamo e a consolação para os aflitos. Admirávamos sua inteligência, sua memória, seu conhecimento espírita. Nenhuma palavra destrutiva em momento algum, nenhum conselho fora de Jesus e Kardec. Horas depois, saindo dali, parecia que nosso corpo estava leve, dado o alto teor das conversações que presenciávamos, assuntos que engrandeciam o conhecimento, nenhum momento fútil, nenhum tempo perdido.

Hoje estamos presenciando muitas notícias desagradáveis derramadas em nossos lares pela mídia. As pessoas se encontram e, em poucos momentos, já se estabelecem comentários sobre aquilo que chocou, seja na política, seja na sociedade, de modo que o mal parece banalizar-se.

Vemos o desânimo atingindo a muitos.

Precisamos lembrar-nos da necessidade da vigilância de nossos pensamentos, de nossas palavras. Necessitamos, sim, estar bem informados, mas não inconformados e também não conformistas. Trabalhadores do bem e da paz, sejamos arautos da esperança nos gestos e nas palavras, sabedores do que se passa no mundo, mas não propagadores do mal.

André Luiz pela psicografia de Chico Xavier relata que toda vez que alguém comenta o mal, inconscientemente está arrasando o bem.

No livro “Obreiros da Vida Eterna”, também psicografado por Chico Xavier, André Luiz nos envia as orientações do instrutor Cornélio, no Santuário das Bênçãos:

- É lamentável se dê tão escassa atenção, na crosta da Terra, ao poder do verbo, atualmente tão desmoralizado entre os homens... Não se precatam nossos irmãos de humanidade de que o verbo está criando imagens vivas que se desenvolvem no terreno mental a que são projetadas, produzindo consequências boas ou más, segundo a sua origem. Essas formas naturalmente vivem e proliferam e, considerando-se a inferioridade dos desejos e aspirações das criaturas humanas, semelhantes criações temporárias não se destinam senão a serviços destruidores, através de atritos formidáveis, se bem que invisíveis.

Toda conversação prepara acontecimentos de conformidade com a sua natureza. Dentro das leis vibratórias que nos circundam por todos os lados, é uma força indireta de estranho e vigoroso poder, induzindo sempre aos objetivos velados de quem lhe assume a direção intencional...

Jesus nos alertou muito sobre a palavra. Referia que não era aquilo que entrava pela boca do homem que o matava, mas sim o que saía dela, pois a palavra revelava o que estava em seu coração.

Façamos o esforço de eliminar o hábito infeliz de “falar mal”, de “fazer fofoca”, de comentar o mal. Que esse esforço seja dobrado no que se refere à política. Evitemos bombardear nossos governantes com dardos energéticos negativos. A desesperança está grande. Sejamos aquele que ora, que age no bem, fazendo a nossa parte para a edificação de um mundo melhor.

Lembramos como era agradável a presença de Jerônimo Mendonça, com seu verbo edificante.

Nessa hora difícil que vemos, vamos manter a esperança, e que seja a nossa palavra revestida pelo conhecimento espírita, enaltecendo a fé num futuro melhor, a certeza de que os males irão passar.

Mantenhamo-nos firmes no bem. Não esmoreçamos. Tenhamos fortaleza e ânimo elevado. Sejamos os trabalhadores anônimos, mas constantes do Cristo, que tanto nos ama e continua aguardando o despertar do nosso amor.

*Jerônimo Mendonça Ribeiro (Ituiutaba - MG, 1 de novembro de 1939 – 26 de novembro de 1989) foi um grande trabalhador, palestrante e escritor espírita, que juntamente com Chico Xavier, seu amigo, trabalhou pelas causas sociais e pela divulgação da doutrina espírita. Jerônimo Mendonça, mesmo paralisado em uma cama ortopédica e cego trabalhava arduamente pelo ideal espírita e, por isso, ficou conhecido como O Gigante Deitado.

terça-feira, 26 de março de 2024

A mediunidade e a música

 


Por Carla Maria Melleiro Gimenez *

A boa música é uma manifestação artística sublime, envolvente, de elevada expressividade e de considerável importância. Para avaliarmos seu valor, basta imaginarmos o mundo sem melodias, os filmes sem efeitos sonoros, os momentos especiais sem o colorido das emoções remetidas pelas canções, a infância sem cantigas, o silêncio...

Curiosa é a questão da inspiração, da construção da harmonia, da seleção de notas que, combinadas, descortinam possibilidades infinitas de sentimentos e sensações, capazes de trazer à tona lembranças ou construir novos horizontes no panorama mental.

A música é uma linguagem universal, que toca o íntimo dos seres, independentemente de credo, etnia, raça, condição social, idioma, idade, nível cultural.

De onde viria esta inspiração? Quando se inicia o processo de criação?

Os grandes mestres da música clássica e erudita atuais e os consagrados através dos tempos relataram em inúmeras ocasiões que o processo de criação fluía naturalmente, de forma espontânea, muitas vezes quase que involuntariamente, ou como se já soubessem das melodias, como se já as houvessem conhecido e estivessem apenas transcrevendo algo que pulsava em suas mentes, no compasso incompreensível do borbulhar de ideias fixas e incessantes.

Mozart afirmara por várias vezes que sua vida era profana, mas que sua música era celestial. Em tenra idade já possuía o dom de compor obras de vultosa profundidade, inexplicável à compreensão comum.

Beethoven mesmo surdo compunha obras memoráveis, de impecável maestria e regia de forma absolutamente perfeita. Comentava sobre a indescritível experiência de sonhar com as composições ou ouvi-las em seu íntimo antes de traduzi-las em notas musicais e partituras.

Bach vivia tão absorto neste universo musical que suas composições fluíam rotineiramente e muitas delas foram perdidas, porque, na dificuldade das crises financeiras, as vendia e muitas vezes até usavam as partituras como papel de embrulho... O que representa um grande pesar.

Schubert, Schumman, Puccini, Verdi, Wagner e tantos outros tiveram o amor, em suas mais diversas expressões, como tema central de suas obras, mas o que os impulsionava era algo misteriosamente irresistível, certeiro e obsessivo.

Liszt e Chopin podem ser rememorados pelas obras que remetem à melancolia, à tristeza, que brotavam orvalhadas de seus sentimentos comuns a esta sintonia...

Pensemos em O Livro dos Espíritos, quando temos as iluminadas explicações acerca da mediunidade, lembrando que todos somos médiuns e a mediunidade pode se expressar de maneiras várias e muitíssimo particulares, podemos então compreender todos os episódios citados como relacionados de forma estreita e clara com a mediunidade.

André Luiz, em suas obras, dentre os muitos ensinamentos nos mostra que a maioria do que temos aqui em nosso orbe é inspirado no que se tem nas colônias espirituais, e que os bons Espíritos permitem ao tempo oportuno que a humanidade possa desfrutar de inovações e facilidades que são comuns na vida espiritual.

A questão da sintonia é de extrema importância, relembrando a necessidade da batalha íntima que travamos diariamente rumo à reforma íntima. Assim, a música elevada é capaz de inspirar vibrações positivas e o contrário também é verdadeiro. Esta questão é e foi sempre bem compreendida, mesmo que nem sempre necessariamente desta maneira, mas lembremo-nos da música sacra, dos rituais de diferentes credos que são ou foram acompanhados por música, a importância de determinados tipos de músicas para a meditação e concentração, ou para que seja possível alegrar e estimular as pessoas.

Os mantras, as orações repetidas, músicas e sons típicos de ritos que levam o indivíduo a um estado de transe ou até mesmo de desdobramento, em diversas e diferentes religiões, podem ser evidências de que a música é realmente capaz de mexer com o íntimo dos indivíduos.

Atualmente a musicoterapia é uma modalidade de tratamento terapêutico a favor do bem-estar dos indivíduos, que reabilita através da música e auxilia em diversas situações cotidianas, sendo respeitada nos meios médicos e acadêmicos.

Portanto, vamos desfrutar da boa música, utilizá-la para nos trazer paz e equilíbrio, ouvindo as pérolas deixadas à humanidade ao longo dos séculos como obra-prima que a espiritualidade maior nos presenteia com tanta generosidade.

Sejamos gratos pelas possibilidades múltiplas de termos um elo que nos une ao alto e ao que entendemos como superior, uma linguagem universal que não necessita de traduções, mas que se conjuga tão bem à poesia.

*Articulista espírita, Araraquara (SP).

Fonte:

GIMENEZ, Carla. A mediunidade e a música. O Consolador, 2011. Disponível em: <https://www.oconsolador.com.br/ano5/207/carla_maria.html>. Acesso em: 20/10/2023.

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