terça-feira, 12 de março de 2024

Imprensa Espírita deve refletir a relação da Doutrina com o Mundo

 


Por Paulo de Tarso Lyra*

“Espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento! Instruí-vos, eis o segundo”.

Essa frase, clássica, ditada pelo Espírito de Verdade em Paris, no idos de 1860, e que se encontra no Capítulo VI, item 5 de o Evangelho Segundo o Espiritismo, mostra com clareza a importância do conhecimento e da transmissão de informações em nossa bendita doutrina.

O Espiritismo é um exercício de fé, mas do que chamamos de fé raciocinada. E, para ser raciocinada, precisa ser discutida, debatida, analisada. Cada uma das partes de seu tripé – Ciência, Religião e Filosofia – embute, em si, um rol de conceitos belíssimos e profundos, que mudam vidas e consciências e impulsionam o espírito no caminho da perfeição e do desenvolvimento moral.

Por isso, desnecessário dizer o quanto um fluxo de informações que gere debate, estimule  o senso crítico, leve a maior quantidade de insumos espíritas para a maior amplitude de corações e mentes é fundamental. Basta lembramos do papel, mais do que relevante, realizado pela Revista Espírita, sobretudo nos primórdios do Espiritismo, como um farol a espargir os conhecimentos, revelações e descobertas que se multiplicavam nos salões parisienses nos finais do século XIX.

Nos dias atuais, o poder de comunicação atingiu níveis jamais vistos. Todos são, potencialmente, produtores de conteúdo.

A tecnologia trouxe essa vantagem e esse perigo. Influencers, streamers, youtubers, administradores de grupos de WhatsApp, todos são personagens que impactam no dia a dia das pessoas, transmitindo conhecimento, influenciando decisões, ditando modas e tendências de maneira direta na sociedade atual.

Isso é bom? Sem dúvida, pois democratiza a informação. Isso é ruim? De certa forma, se não tivermos, em paralelo, o aumento da responsabilidade e do cuidado dos produtores desse conteúdo para serem cada vez mais fidedignos com a qualidade do que transmitem.

A imprensa espírita não está alheia a essa situação, obviamente. Cada Casa Espírita pode ser uma unidade geradora de conteúdo. Cada departamento dessa Casa Espírita pode ter um blog, um site, um canal nas redes sociais. A atenção precisa ser redobrada com a qualidade e a veracidade do que vai ser veiculado.

A Doutrina Espírita tem qualidades incontestáveis. Tem um purismo doutrinário com princípios básicos claros. Mas também dialoga com todas as situações da sociedade. Não é uma fé colocada em um pedestal dogmático, inalcançável, inaudível e incompreensível. Não. Ela é prática, é cotidiana, é fraterna, explica o que acontece com as pessoas e aponta caminhos para a mudança de cenário, a partir da reforma íntima de cada um.

Por isso, torna-se muito simples e muito ágil a produção de materiais de comunicação para divulgação da Doutrina Espírita. Com diversos recortes. Material para jovens, para crianças, para adultos.

Doutrinários, mediúnicos, sociais. Vídeos, matérias, podcasts, jornais e newsletter.

Tanta facilidade embute responsabilidade. De quem produz, de quem dirige as Casas Espíritas, de quem dirige os setores. Não podemos reproduzir o que se vê em diversos setores da sociedade – a falta de cuidado, zelo e a análise sobre a veracidade do que está sendo veiculado.

Tampouco devemos transformar os espaços de comunicação, a nossa imprensa espírita, tão importante e tão disseminada, em palco para debates estéreis e que não têm relação direta com o conteúdo doutrinário.

Devemos separar espiritismo, movimento espírita e a visão pessoal do que algumas pessoas têm dos postulados doutrinários. A imprensa espírita pode e deve ser um espaço para explicar como a Doutrina entende o mundo que nos cerca e como, com o apoio dela, podemos nos transformar internamente e, consequentemente, modificar a realidade que nos cerca.

O ensino dos espíritos é universal e não pessoal. O próprio codificador, quando decidiu abraçar a missão que lhe foi confiada pelo plano mais alto, adotou o pseudônimo de Alan Kardec ao invés de usar o próprio nome de batismo. Para que as convicções próprias não nublassem o trabalho a ser realizado.

Aqueles que, como nós, nos propusemos a militar na chamada imprensa espírita, temos de ter isso com clareza em nossas mentes e corações. Temos uma ferramenta de comunicação imensa, potencializada por diversos formatos ao nosso dispor e um conteúdo riquíssimo a ser explorado. Não deixemos que opiniões pessoais nos desviem da rota. Sigamos como dizia o apóstolo Paulo: “Viver no mundo sem ser do mundo”.

*Jornalista, consultor de comunicação e coordenador da Juventude Irmã Zélia do Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima

 

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