segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

FELIZ 2020!

Prezados visitantes,

Que os dias do ano novo que se inicia seja para vocês uma sequência de proveitosas realizações e repletos de paz, saúde e felicidades.

São os votos fraternos de,
Carlos Pereira – Manancial de Luz

sábado, 28 de dezembro de 2019

O Cinema com Divaldo Franco e a Mensagem de Paz


Por Marcela Oliveira

Dirigido por Clovis Mello, o longa-metragem Divaldo – O Mensageiro da Paz, uma das últimas produções espíritas que entrou em cartaz nesse ano, traz um discurso voltado para o amor ao próximo

“Eu peço a Deus todos os dias uma única oportunidade para tocar seu coração”. A frase dita pelo personagem interpretado pelo ator Bruno Garcia a um espírito pode resumir a trajetória do líder espírita baiano Divaldo Franco. Pautado pelo amor ao próximo, sua história é contada no filme Divaldo – O Mensageiro da Paz, que estreou nos cinemas de todo o Brasil em 12 de setembro de 2019.

Apesar de um enredo voltado para o trabalho do médium, o longa-metragem vai muito além do espiritismo. O diretor Clovis Mello, também responsável pelo roteiro, conseguiu fazer um filme sobre religiosidade sem cair no caricato. Não há uma tentativa de impor uma filosofia ao espectador. Mas, sim, fala de explicar a doutrina e, o mais importante, passar mensagens de amor ao próximo, de acolhimento das adversidades e de paz.

O fio condutor, claro, é o processo de amadurecimento espiritual de Divaldo, que vai do medo do desconhecido até entender seu papel na Terra. Começa na infância (interpretado por João Bravo) em Feira de Santana e mostra os primeiros sinais da mediunidade do baiano de família católica. Na juventude, coube ao ator Ghilherme Lobo viver Divaldo e mostrar seu aprofundamento nos estudos sobre o espiritismo. Na vida adulta, o ator Bruno Garcia dá vida ao médium.

Com a ajuda da preparadora de elenco Maria Sílvia, os três criaram uma unidade de interpretação, já que viveram o mesmo personagem. “Curiosamente, só conheci Divaldo pessoalmente quando já havia terminado as filmagens. Um dos maiores desafios que pode-se apresentar para um ator é interpretar alguém real, que não saiu da cabeça de um autor. Ainda mais se este ainda está vivo. A despeito desse aspecto especial, Divaldo teve registrado seus gestos e voz ao longo de muitos anos e esse material foi fundamental para meus estudos”, contou Bruno Garcia em entrevista ao GPS|Lifetime.

O elenco conta ainda com Marcos Veras, interpretando um espírito obsessor, e Laila Garin, como a mãe do médium – pode-se dizer um dos pontos altos do filme, em cenas e diálogos emocionantes. Joanna de Ângelis, a mentora de Divaldo, é interpretada de forma doce por Regiane Alves. Ela é responsável por muitas frases que provocam reflexões nos espectadores, uma vez que é sua guia espiritual durante toda a história.

Para produzir o roteiro, Divaldo sugeriu a Mello que fosse a Assis, na Itália, para buscar inspiração para o roteiro. Lá, ele conheceria o túmulo de Santa Clara, a última encarnação de Joanna de Ângelis e como Divaldo a vê – com hábito de freira. Colocar em palavras a trajetória do médium ficou mais fácil depois da viagem.

O tom da narrativa proposto por Mello foi o da leveza, mesmo tratando, por exemplo, de temas como suicídio e depressão. Os diálogos são didáticos e há uma constante preocupação em explicar os conceitos do espiritismo. No entanto, em certas cenas, ele conseguiu trazer até mesmo um pouco de humor.

Mas, sem dúvida, é um filme de emoções. Uma cena muito comovente é o seu rápido encontro com Chico Xavier. “Nós somos como dois postes de luz, temos que estar separados para levar mais luz ao mundo”, disse o mineiro a Divaldo.

Apesar de girar em torno da vida de Divaldo, não é um filme biográfico. Não endeusa o médium nem o coloca como centro da história. A filantropia e a mensagem que ele passa se destacam.

Se toca quem assiste, imagina quem participou dele. “Esse filme foi um encontro de almas. Todas as pessoas que fizeram parte desse projeto foram afetadas por uma atmosfera que parecia emanar do próprio Divaldo e de sua obra. Uma sensação de comunhão, no sentido espiritual da palavra, muito forte. Agora chegou a vez do público fazer parte disso”, disse o ator Bruno Garcia.

Divaldo hoje tem 92 anos, sendo 72 dedicados à caridade. Vive em Salvador, onde funciona a Mansão do Caminho, instituição criada por ele e que atende mais de três mil pessoas por dia com diversos serviços voltados para saúde e educação. Adotou mais de 600 crianças. Escreveu 270 livros. O filme tem apoio da FEB (Federação Espírita Brasileira) e distribuição da Fox Film do Brasil e produção da Cine e da Estação Luz Filmes.

Esqueça rótulos ou preconceitos com filmes que tenham a temática da religiosidade. Divaldo – O Mensageiro da Paz não defende uma doutrina única. Acima de tudo, é um filme que fala sobre respeito e amor. E esse, talvez, seja o grande ponto em comum entre todas as religiões. “Deus é um só”, diz uma das frases do filme. A mensagem final, sem dúvida, é a de comunhão.

Confira a entrevista com o diretor Clovis Mello:


Como foi falar de um tema que poderia render algum preconceito, pelo Brasil ser um país tradicionalmente católico?

Acho que não tive problema porque não tenho esse tipo de preocupação. Eu fiz o filme de um humanista, não de um espírita. Por acaso ele é espírita. O que me interessa no Divaldo é o caráter dele. Ele podia ser de qualquer religião. Ele é um cara acima do bem e do mal. Quando você vai na Mansão do Caminho, por exemplo, ele tem uma casa de parto. E quando uma mulher vai ter um filho ali, ninguém pergunta qual é a religião dela. Ele pratica o que Jesus pediu a todos há mais de dois mil anos, que é que nos amássemos. Nós que criamos as religiões para nos dividirmos.

Como foi a relação com Divaldo Franco no processo de criação do filme?

Ele me deu liberdade para fazer o roteiro, ele foi isento e muito generoso. Conversamos muito. De um modo geral, ele é tímido e teve um certo receio em ficar muito exposto. Mas eu deixei claro que queria falar da mensagem e não do mensageiro, então ele me deixou muito à vontade para fazer o roteiro. Em momento algum ele quis o protagonismo. Não era fazer um filme santificando ninguém, mas que tocasse cada vez mais corações. Ele colaborou muito, mas interferiu pouco. Foi uma peça importante. Um exemplo foi na escolha da atriz Regiane Alves para o papel da sua guia espiritual, Joanna de Ângelis. Já tinha selecionado todo o elenco e faltava apenas esta. Apresentei cinco atrizes e ele apontou para a Regiane. Como é um espírito que somente Divaldo vê, acatamos na hora. Regiane nem pensou e já aceitou o convite.

Você achou diferente trabalhar um filme sobre religião?

Aconteceram muitas coisas de origens desconhecidas, que deixaram claro que havia algo de outro plano. Antes de começarmos, chamei todos e fizemos uma roda de oração, falei que trataríamos de um tema delicado e que precisávamos estar unidos mentalmente. Criamos uma espécie de irmandade, independente da crença de cada um. E nos mantemos unidos mesmo dois anos depois das filmagens terem acabado. Foi algo realmente diferente.

Qual o feedback que tem recebido de quem já conferiu o resultado do trabalho?

Muitas pessoas de outras religiões já assistiram e as reações são as melhores possíveis. Cristãos reconhecem que é um filme de amor. E também tenho me emocionado com a reação da juventude, eu não esperava que um filme sobre um homem de 92 anos pudesse tocar corações tão jovens. São almas que têm que se reconectar com a divindade. Eles estão em busca de uma coisa que a matéria não está entregando para eles. Estão precisando de um empurrão para se dedicar ao que não é palpável.

Especialmente pelo fato da temática abordada fazer do longa-metragem um trabalho não apenas de entretenimento, né? Quem você espera tocar com o filme?

Desde o início, a minha ideia não era falar sobre o mensageiro, mas sobre a mensagem de amor, de Jesus. E eu queria fazer um filme para as pessoas que hoje estão tomando calmante para dormir e energético para acordar, quem está sem rumo na vida, deprimido, pensando em se matar. E isso inclui a juventude de hoje.

Você se sente diferente após se envolver com essa história?

Eu já acreditava no espiritismo. Mas o filme me modificou a medida em que entendi o que vim fazer nesse plano. A minha responsabilidade como cineasta, artista e formador de opinião é grande. Me conscientizei disso. Entendi que estou nesse mundo para usar a minha arte, meu ofício e minha saúde como ferramenta para levar luz a mais lugares. Como cineasta, já passaram muitos filmes pela minha mão. E tem muita gente fazendo comédia, drama. A partir de agora vou procurar usar o meu talento e meu tempo para fazer filmes que tragam algum alento, uma luz no fim do túnel. A principal mensagem que o filme passa é a da tolerância e do perdão. Quero continuar falando disso.

Publicado em GPS Lifetime em 12 de setembro de 2019.

Assista entrevistas com o diretor Clovis Mello sobre o filme:


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O Cinema Espírita e o Teatro Transcendental no Brasil

A partir de uma experiência pessoal o produtor audiovisual e fundador da Associação Estação da Luz, Luís Eduardo Girão relata nessa palestra como se deu a sua conversão ao espiritismo, ao mesmo tempo em que fala de suas produções cinematográficas e a relação dos filmes espíritas com o movimento em defesa da vida.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

FELIZ NATAL!

Presépio


Um novo tempo só começa quando renovamos os nossos corações e envolvemos as nossas almas sob a luz do amor de Jesus.

Um natal de paz, alegrias e esperanças para todos!

São os votos de
Carlos Pereira - Manancial de Luz

domingo, 22 de dezembro de 2019

Chico Xavier, o Filme




O que a onda Chico Xavier tem provocado



Por Marcelo Borela de Oliveira

Uma grande procura de livros espíritas e mais pessoas nos Centros Espíritas, eis dois resultados da enorme repercussão que está tendo no Brasil o filme sobre Chico Xavier

(*)Segundo o diretor Glauber Filho, a onda de filmes com temas espíritas que marcará 2010 é uma consequência direta do sucesso de Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito, filme que leva sua assinatura. "Começamos – diz ele – com um documentário, depois nasceu a ficção. Foi uma grande surpresa, conquistamos 503 mil espectadores em 27 semanas. Isso com um orçamento de R$ 2,7 milhões."

O filme sobre Chico Xavier, recordista absoluto de público nos cinemas do Brasil, agradou aos críticos e tem comovido o público. De fato, são poucas as pessoas que conseguem assistir ao filme sem se emocionar e muitas vão literalmente às lágrimas.

A vida do saudoso médium foi dividida, no filme, em três fases. A primeira se passa na década de 1910, durante a infância de Chico, tendo por cenário a pacata cidade mineira de Pedro Leopoldo. Atormentado pela madrinha (Giulia Gam), o garoto atenua a vida difícil conversando com o Espírito da mãe (Letícia Sabatella). O padre da cidade (Pedro Paulo Rangel) diz que essa história de ver os mortos e falar com eles é coisa do demônio e dá conselhos ao menino, como rezar insistentemente ou fazer uma procissão com uma pedra na cabeça.

A segunda fase inicia-se em 1931, quando Chico, então adulto, vivido pelo ator Ângelo Antônio, começa a psicografar e vê pela primeira vez Emmanuel (André Dias), seu guia espiritual, que o acompanhará até o fim da vida. A maior parte do filme se passa nesse período em que a fama do médium se espalha e ele enfrenta dificuldades para lidar com a família e com a incompreensão da Igreja.

As histórias são entrecortadas pela célebre entrevista que Chico Xavier deu ao programa “Pinga Fogo”, que teve em 1971 audiência histórica na extinta TV Tupi.


Dois dos mais importantes jornais de nosso País dedicaram ao filme um espaço generoso

Já uma celebridade, Chico Xavier (representado na tela por Nelson Xavier) acendeu na época a discussão da vida após a morte, uma polêmica representada com especial força nos personagens de Christiane Torloni e Tony Ramos, inspirados em fatos reais, pais de um rapaz morto num acidente. Aliás, o desfecho do caso que envolveu esse casal constitui um dos pontos altos do filme.

A repercussão da obra pode ser aquilatada não apenas pelos números das bilheterias dos cinemas, mas igualmente pelo destaque que a grande imprensa tem dado ao assunto.

Dois dos mais importantes jornais do País – Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo – dedicaram ao filme e à onda que ele tem produzido um espaço generoso, jamais concedido anteriormente ao Espiritismo.

Em sua edição de 26 de abril, a Folha refere-se a essa onda e diz que o fato, além de estimular uma maior procura dos livros espíritas, tem levado mais pessoas aos Centros Espíritas.


Eis alguns depoimentos registrados pelo importante periódico paulista:

"O discurso de reconhecimento da doutrina e de figuras centrais do Espiritismo vai ajudar muita gente a assumir que é espírita", avalia Célia Arribas, socióloga e pesquisadora da USP, autora do livro "Afinal, Espiritismo É Religião?" (Alameda Editorial), com lançamento previsto para maio. "Usando uma linguagem figurativa, é possível dizer que eles vão sair do armário."


A Folha relata o fato que levou o ator Carlos Vereza, da TV Globo, a se converter ao Espiritismo

Para Geraldo Campetti, diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB), a difusão da doutrina realizada pelo filme, já visto por mais de 2 milhões de brasileiros, é um marco. "O Espiritismo era um, antes de 2010, e será outro, após o final deste ano", analisa. "Esse impacto fica visível na crescente demanda por informações que, desde a estreia do filme, tem ocorrido nos centros espíritas de todo o país."


A Folha alude também ao fato de que, além dos seus adeptos declarados, o Espiritismo tem simpatizantes em diversos segmentos religiosos e o exemplifica com este depoimento: "Vou a um centro, mas também sou judia", disse Sandra Becher, 30, na saída de uma sessão do filme de Daniel Filho.

O jornal paulista relata, ainda, na mesma edição, o fato que levou o ator Carlos Vereza (foto), da TV Globo, a se converter ao Espiritismo. O ator, que interpretou Bezerra de Menezes no filme "Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito", disse à Folha: "Eu não tinha nenhuma religião. Sempre acreditei em Deus, mas esse mundo era distante. Você chega ao Espiritismo pelo amor, pela dor ou razão. Eu sofri um acidente de trabalho na Globo, um tiro, um efeito especial mal feito. Colocam pólvora no local e acionaram por um controle remoto. Era um seriado medíocre chamado Delegacia de Mulheres", lembrou. Vereza conta que seu ouvido interno foi atingido. "Fiquei com labirintite e tive que parar de trabalhar, o que me levou à depressão. Os médicos diziam que não tinha como resolver. Fui internado em várias clínicas. Procurei o centro Frei Luiz, indicado por uma tia católica que me disse que um primo havia sido curado lá de leucemia. Em sete meses, eles me curaram", disse Vereza.


O jornal O Estado de S. Paulo fala dos reflexos dessa onda no mercado de obras espíritas

Depois disso, Vereza se tornou médium e é voluntário no centro até hoje. Ele acredita que o sucesso do filme "Bezerra de Menezes", visto por mais de meio milhão de pessoas, abriu uma "corrente de obras espiritualistas". "Se está tendo sucesso, e isso é lei de mercado, é porque as pessoas estão precisando. Os produtores fazem pesquisas e começam a perceber que o público precisa de um pouco de paz, de uma respiração."

No jornal O Estado de S. Paulo, além do destaque dado ao filme, visto por mais de 2,7 milhões de brasileiros em apenas 30 dias de exibição, foi mencionado também o reflexo dessa onda no mercado editorial.

Segundo o Estadão, a biografia "As Vidas de Chico Xavier", do jornalista Marcel Souto Maior, na qual o filme é inspirado, está sendo reimpressa com uma tiragem de 30 mil exemplares, tamanha a procura nas lojas. O livro está em quinto lugar nas listas dos mais vendidos, na categoria ''não-ficção'', e será relançado pela Leya em junho. Em segundo lugar, aparece outro de Souto Maior, "Chico Xavier - A História do Filme de Daniel Filho", com fotos e lances interessantes do set. Há, segundo o jornal, quem vá do cinema direto para a livraria.

As publicações atribuídas a Espíritos e psicografadas pelo médium também estão, informa ainda o Estadão, saindo como nunca. "Não só as vendas dos livros estão crescendo por causa do filme, mas também o número de pessoas que procuram as casas espíritas", disse ao jornal o confrade Geraldo Campetti, diretor executivo da Federação Espírita Brasileira.

O fato é que essa onda só tende a crescer, porque mais filmes virão e, dentre eles, o esperado Nosso Lar, baseado no livro de André Luiz, psicografado por Chico Xavier, o qual deverá ter um impacto jamais visto nos cinemas do Brasil. Afinal, será, salvo engano, a primeira vez em que se mostrará no cinema como é realmente a vida no além-túmulo e como vivem aqueles que muitos consideram mortos e perdidos para sempre.

(*) Texto publicado em maio de 2010

Assista aqui ao filme completo:

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Filmes com Temática Espírita

Assim como a espiritualidade, o cinema tem o poder de mexer com as nossas percepções mais íntimas, sensíveis e inconscientes. Mas de que forma a sétima arte se relaciona com a doutrina espírita? Quais os filmes famosos que tratam da espiritualidade? Acompanhe agora com a participação do produtor audiovisual, Rafael Vargas, o programa Juventude Maior em um debate interativo sobre uma série de filmes não espíritas que contém em seu teor fortes relações com a doutrina.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A Hora e a vez do Espiritismo no Cinema


Com o lançamento do filme Bezerra de Menezes, o diário de um espírito, em 2008, os produtores e distribuidores ficaram atônitos diante de um verdadeiro fenômeno: o filme atingiu a incrível marca de quase quinhentos mil espectadores, sem contar com um aparato publicitário grandioso, e restrito a apenas algumas dezenas de salas de exibição. Estava descoberto mais um nicho de mercado: o público espírita e simpatizantes da doutrina espírita.

Filmes com temática espírita que já foram para o cinema:

Chico Xavier, o filme
Nosso Lar
O Filme dos Espíritos
As Mães de Chico Xavier
E a Vida Continua

Os dois primeiros levaram os distribuidores a uma loucura saudável: milhões de espectadores lotando as salas de cinema, delas saindo maravilhados diante de produções bem cuidadas e revelando a realidade do espírito imortal, da mediunidade, do amor ao próximo e da vida após a morte.

Então começaram as notícias sobre possíveis produções cinematográficas dos romances do Espírito Emmanuel, de outras obras do Espírito André Luiz e assim por diante. Agora estamos assistindo o anúncio de um provável filme sobre Allan Kardec, o codificador do espiritismo. Não sabemos exatamente o que virá daqui para frente, mas de uma coisa temos certeza: as produções de cinema com temática espírita tendem a se suceder, não apenas por serem provável sucesso de bilheteria, mas por trazerem ao público aquilo que ele está ávido por encontrar: a verdade sobre a vida imortal, as esperanças e consolações que sua alma procura, o esclarecimento que sua consciência reclama.

O século 21 é também o século da arte espírita, espiritualizando as produções de cinema, teatro e televisão. Naturalmente estamos diante de um processo, portanto temos que saber dar tempo ao tempo, mas é um processo que nenhuma barreira haverá de impedir. Teremos os retardamentos, as barreiras, mas tudo será transposto, inclusive o medo de produtores e distribuidores com o rótulo religioso, pois muitos ainda temem se associar ao espiritismo. É questão de tempo.

A penetração da mensagem espírita através do cinema nos leva a uma preocupação: o preparo dos centros espíritas para absorver o público que irá procurar o Espiritismo. Se os centros espíritas estiverem parados no tempo, com poucas atividades, mantendo uma dinâmica lenta, incompatível com a atualidade, falhando na divulgação da literatura espírita, teremos prejuízos profundos, deixando escapar ótima oportunidade de promover a conscientização das pessoas. É preciso que os dirigentes espíritas estejam conscientes de suas responsabilidades, preparando o centro espírita para essa nova demanda.

Voltando à questão da arte espírita, os espíritas devem dar todo apoio aos produtores espíritas envolvidos com o cinema, o teatro e a televisão e, estendendo mais, igualmente a música, pois uma andorinha só não faz verão, como diz o ditado popular. As barreiras ainda são inúmeras. Não é fácil arrumar patrocínio para produzir com qualidade. Existem preconceitos. Nem sempre as portas dos distribuidores se abrem com facilidade. A comunicação, no próprio movimento espírita, muitas vezes é falha. Por tudo isso, precisamos apoiar.

Encerremos com as belas palavras de Allan Kardec, conforme texto publicado no livro Obras póstumas com o título "Sobre as artes em geral – A regeneração delas por meio do espiritismo":

"Assim como a arte cristã sucedeu à arte pagã, transformando-a, a arte espírita será o complemento e a transformação da arte cristã. O espiritismo, efetivamente, nos mostra o porvir sob uma luz nova e mais ao nosso alcance. Por ele, a felicidade está mais perto de nós, está ao nosso lado, nos Espíritos que nos cercam e que jamais deixaram de estar em relação conosco. A morada dos eleitos, a dos condenados já não se acham insuladas; há incessante solidariedade entre o céu e a Terra, entre todos os mundos de todos os Universos; a ventura consiste no amor mútuo de todas as criaturas que chegam à perfeição e numa constante atividade, com o objetivo de instruir e conduzir àquela mesma perfeição os que se tornaram retardatários. O inferno está no próprio coração do culpado, que tem nos remorsos o seu castigo, não mais, todavia, eterno, e ao mau, que toma o caminho do arrependimento, se depara de novo a esperança, sublime consolação dos desgraçados. Que inesgotáveis fontes de inspiração para a arte! Que obras-primas de todos os gêneros as novas ideias suscitarão, pela reprodução das cenas tão multiplicadas e várias da vida espírita!".

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Bezerra Menezes, O Diário de um Espírito

Filme lançado em 2008, dirigido por Glauber Filho, pode ser considerado o marco inicial de uma nova categoria de gênero cinematográfico: o filme espírita. A produção foi encomendada pela Associação Espírita Estação da Luz, no Ceará para ser um documentário distribuído em DVD e terminou se transformando em um longa, com um custo total de R$2,4 milhões. Tornou-se um estrondoso sucesso de bilheteria numa época em que o cinema nacional andava em plena crise. Sobre isso, o próprio diretor comenta, “Foi uma grande e grata surpresa. Tínhamos um público-alvo, que eram os espíritas, e conseguimos atingir outros também. É um filme simples, de baixo orçamento, mas muito focado no que se pretende.”

Estrelado pelo ator Carlos Vereza, no papel principal, o longa conta a história de Adolfo Bezerra de Menezes conhecido como o médico dos pobres. A narrativa tem início na infância do personagem, no sertão nordestino. Aos 18 anos, o protagonista inicia no Rio de Janeiro seus estudos de Medicina. Lá, elegeu-se vereador e deputado em várias legislaturas e defendeu as ideias abolicionistas. Mas o que lhe trouxe o maior reconhecimento foi o trabalho anônimo realizado em prol dos desfavorecidos.

Assista aqui ao filme completo:


sábado, 14 de dezembro de 2019

A Espiritualidade no Cinema Brasileiro

O cinema nacional vem ganhando cada vez mais espaço nos cinemas. Assim como a temática espiritualista vem atingindo uma grande parcela do público. Ambos, tem ganhado interesse cada vez maior pela qualidade de suas produções. O Cineasta, Jornalista, Estudioso do Espiritismo e da Psicanálise e fundador da TV Mundo Maior, André Marouço é o entrevistado do programa Repensar abordando o tema, A Espiritualidade no Cinema Brasileiro. Gravado no ano de 2012, ele fala das produções do cinema mundial com temáticas espiritualistas e espíritas destacando os lançamentos nacionais espíritas que foram sucesso de público, além do premiado “O Filme dos Espíritos”, dirigido por ele mesmo.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

O Espiritismo Conquista o Cinema

O surgimento de várias produções abordando a Doutrina Espírita tem surpreendido pelo interesse despertado no público brasileiro. Mas o fenômeno se alastra também por Hollywood e cineastas como Clint Eastwood e Gus Van Sant já ingressaram na temática.

A abordagem da Doutrina Espírita tem mobilizado um contingente de milhões de brasileiros a lotar os cinemas. Mas, ao mesmo tempo, essa situação começa a se alastrar pelo planeta. Notícias de produções de filmes, peças e telefilmes pipocam na internet e nos sites de cinema.

Algo parecido, mas em escala muito menor, ocorria com os lançamentos dos filmes bíblicos produzidos por Cecil B. De Mille, lá nos anos 50 do século passado. Agora, a temática espiritual (não confundir com transcendência, bem mais ampla) desperta não apenas o interesse dos espiritistas (que no Brasil, segundo pesquisas, eram 2,3 milhões no início da presente década e hoje somam mais de quatro milhões de pessoas, o que estabelece a maior população espírita do mundo), mas igualmente os adeptos de outras religiões.

E esse contato tem provocado uma migração lenta, porém consistente para a doutrina revelada ao mundo por Allan Kardec através de seus livros, agora disputadas em adaptações para o cinema. E pelo número de produções em andamento, o movimento está apenas começando.

Para uns se trata apenas de uma onda passageira. Para outros, a oportunidade para o conhecimento de uma doutrina que trata da vida após a morte – uma das grandes interrogações humanas.

Uma Discussão


Há quem diga, por sua vez, tratar-se de obras doutrinárias e, ainda, segundo outros, desprovidas de qualidades cinematográficas, cuja intenção é faturar fácil nas bilheterias. A discussão não para aí.

Na imprensa, sejam nos veículos impressos, colunas, sites ou blogs, nota-se um grande desconhecimento sobre a doutrina kardecista. Alguns tratam os filmes demonstrando um absurdo desconhecimento e, pior ainda, tentam esconder o despreparo apontando falhas estruturais ou técnicas nos filmes.

Isso, sem descartar os que palmilham o desrespeito utilizando o mau humor e colocações insensatas frente à exposição de que a vida continua após o descarte do corpo físico. Para muita gente essa é uma doutrina de loucos. Precisam ler, começando por Platão.

Há, ainda, por parte de pesquisadores e analistas de cinema, uma busca para a explicação do sucesso o qual esses vêm filmes alcançam junto ao grande público. Seria apenas um fenômeno?

Pode haver outras razões: a busca pelo sentido da espiritualidade? A procura do entendimento dos desconcertos da vida que o espiritismo explica com o processo de reencarnação? Ou apenas a simples curiosidade em conhecer os filmes? Ou simplesmente conhecer a doutrina através dos filmes?

Sabe-se que o cinema nasceu com a espiritualidade da criação humana. Nenhuma novidade que, a partir desse sentido de origem, o cinema tenha efetivado na religião um de seus temas preferidos. Mas, até então, prevalecia o Livro Sagrado: a Bíblia e os seus personagens.

De lá para cá, nesses mais de um século de existência do cinema, milhares de filmes foram feitos abordando as mais diversas religiões, e, quase sempre, com resultado expressivo quanto ao despertar da atenção do público em escala global. A espiritualidade nunca se desgarrou do cinema.

É curioso ler, por exemplo, artigos de críticos estadunidenses analisando se Avatar, de James Cameron, é ou não uma criação de cunho panteísta. Quanto a isso, recomenda-se a leitura do artigo do crítico Ross Douthart, do The New York Times.

Nessa discussão que já dura quase um ano há quem garanta que Avatar seja um filme sobre a espiritualidade que reina no universo, de um todo unido por partes. E, alguns, o analisam como um filme moldado no interior da doutrina espírita. Pode parecer irrelevante, mas não é. A provocação é um dos cernes do cinema.

E pelo andar da carruagem essa discussão está apenas em sua imberbe etapa. Pelo número de produções em estágio de planejamento, em filmagem e ainda outras com datas já estabelecidas para chegar aos cinemas parece que a onda – assim seja -, veio para ficar.

O que se pode buscar nesse momento é: o fenômeno trata-se apenas de uma grande coincidência, uma tendência de momento ou uma coisa orquestrada? Para os adeptos do espiritismo, simplesmente uma convergência. Nada de acaso. Numa posição de discussão, a possibilidade oportuna para o contato inicial para o conhecimento da doutrina que exige apenas práticas como a da prece, relevância moral e a caridade.

Um conjunto de acontecimentos, digamos, mapeia esse fenômeno. A violência cada vez mais contundente, a corrupção que se alastra por todos os setores da sociedade, a busca desenfreada pelos bens materiais, a devastação do meio ambiente e a fúria da natureza marcam o mundo com um cenário de incertezas.

Nesse momento, compreender o espiritismo, que está agarrada à Filosofia e a Ciência, pode representar a compreensão dos anseios humanos e o entendimento do mundo neste momento de crise.

Vivências Espirituais


Há uma busca pessoal pelo entendimento das pessoas por si mesmo, de como e porque o planeta é como é, pelo sentido da existência da morte, e, também, da busca pelo seu papel pessoal no mundo. Daí os tabus e preconceitos para com a doutrina estão se dobrando.

Os constantes relatos de pessoas que vivenciaram os estados de “quase morte” e suas luzes; os cada vez mais insistentes casos de gente que tem “flashes” ou sonhos de existência em vidas passadas, a comprovação de casos de reencarnação, o crescimento do número de pessoas que se descobrem com sensibilidade mediúnica e o fato da existência de vida após a morte não ser o fim da existência. Não mais estão sendo vistas como fantasia, mas como fatores relativos à vida.

Nada a estranhar, portanto, o aumento avassalador da busca das pessoas pelos centros espíritas. O sofrimento imposto ao mundo na atualidade e o aumento cada vez maior da dor da perda de entes queridos estejam despertado as pessoas para uma busca espiritual que lhe dê respostas – mesmo que apenas para simples conforto passageiro.

De certa forma, muitos estão encontrando um sentido para a existência ao assistem a Nosso Lar, quando se depararem com uma exposição emocionante de como é o mundo no “outro lado da vida”. O blog de cinema do Diário do Nordeste evidencia isso através das postagens efetuadas por dezenas de opiniões de pessoas encantadas com o filme – e com o desapontamento de não ter sido indicado para representar o cinema brasileiro no Oscar.

Mas, a produção de filmes com a abordagem espiritista iniciada por Bezerra de Meneses – o diário de um espírito (2008) – sem se esquecer do pioneiro Joelma – 23º Andar (1980), de Clery Cunha, adaptado de Somos Seis, de Chico Xavier –, não se restringe ao Brasil, como muitos são levados a pensar.

No Estrangeiro


Há uma extensa lista de produções inéditas comercialmente no circuito brasileiro e que podem ser facilmente “pescados” na Internet. E um filme chamado Além da Vida pode deflagrar, de vez, a chegada do espiritismo no cinema.

Além da Vida (Hereafter), a nova criação do estadunidense Clint Eastwood, estreou em 22 de outubro de 2010, nos EUA. Exibido no Festival de Toronto, surpreendeu por tratar da vida após a morte. Uma guinada na carreira de um cineasta tido como materialista.

Escrito por Peter Morgan, de A Rainha e Frost/Nixon, Além da Vida relata o drama de três pessoas de países diferentes – Inglaterra, França e EUA – que têm que lidar com a morte de pessoas queridas quando são alvos de um Tsunami.

No enredo, um operário estadunidense (Matt Damon, da série Jason Bourne) que se conexa com o mundo espiritual através da mediunidade, tem uma explicação para o desastre que se abate sobre várias famílias.

O enredo centra-se entre francesa (Cécile de France), a qual muda radicalmente seus conceitos de vida após passar por uma experiência de quase-morte; e um garotinho londrino que perde os pais e irmãos começa uma desesperada busca por respostas. Os destinos desses três personagens se cruzam e terão suas vidas transformadas por uma grande revelação.

Outra produção estadunidense a explorar a temática da vida após a morte, A Vida e a Morte de Charlie, de Burr Steers (de 17 Outra Vez). Zac Efron interpreta um rapaz que não se conforma com a morte do irmão pré-adolescente. Abalado, procura emprego no cemitério onde ele está enterrado. Em sua tentativa, acaba tendo contato com o espírito do irmão – que assim passa a ficar preso à Terra.

Quem também envereda pela abordagem da doutrina espírita é o respeitado Gus Van Sant. Seu recente trabalho, Restless, traz Mya Wasikowska, a Alice do filme de Tim Burton, no papel de uma adolescente apaixonada por um rapaz (Henry Hopper) que gosta de assistir a funerais. Presa a uma cama de hospital, em estado terminal, ela conversa diariamente com o espírito de um piloto kamikaze (Ryo Kaze) falecido na Segunda Guerra Mundial.

Outra produção que chama a atenção é o drama intitulado The Rite (O Rito), dirigido por Mikael Hafstrom, no qual um padre estadunidense vai à Itália estudar em uma escola de exorcismo – obviamente católica -, e se depara com o mundo dos espíritos. Alice Braga, os veteranos Anthony Hopkins, Rutger Hauer e Franco Nero, além de Ciaran Hinds e Chris Marquette formam o elenco central.

Duas outras produções chegaram aos cinemas em janeiro de 2011. Dirigido por Predrag Antonijevic, Little Murder, produção de Hollywood, se desenvolve após a tragédia do furacão Katrina que devastou a cidade de Nova Orleans. Josh Lucas interpreta um detetive que se depara com o espírito de uma mulher assassinada e, com a ajuda dela, empreende uma caçada ao criminoso.

A Espanha comparece com Exorcismus, dirigido por Manuel Carballo, que acompanha o caso de uma família que, ao ver a filha possuída por um demônio, apela para um padre para fazer um exorcismo. O padre aceita, desde que possa filmar o evento, sem imaginar que isso terá consequências desagradáveis.

Há, ainda, Reincarnate, produção de M. Nigh Shyamalan a ser dirigida por Daniel Stamm (de O Último Exorcismo, em estréia nesta sexta), enfocando o julgamento de um serial killer e a ação, sobre os jurados, dos espíritos vingativos cujas existências terrenas foram tiradas por ele.

Produções Nacionais


A começar por As Mães de Chico Xavier, de Glauber Filho e Halder Gomes, adaptação do livro Por Trás do Véu de Ísis, do jornalista e escritor Marcel Souto Maior.

O enredo acompanha o drama de três mulheres tocadas pela dor da perda de filhos queridos. Ruth (Via Negromonte), cujo filho se envolvia com drogas; Elisa (Vanessa Gerbelli), que se devotava ao filho pequeno; e Lara (Tainá Muller), professora em conflito com uma gravidez não planejada. Suas perdas ganham sentido ao terem contato com o médium Chico Xavier, novamente interpretado por Nelson Xavier.

Produzido pela Estação da Luz Filmes, As Mães de Chico Xavier será distribuído no País pela Paris Filmes e estreou em primeiro de abril de 2011, logo após ser a atração de abertura do I Festival de Cinema Transcendental que aconteceu em março em Brasília e Fortaleza.

A lista de produções rodadas neste ano prossegue com O Contestado – restos mortais, do catarinense Sylvio Back, documentário que reconstitui o episódio histórico da Guerra do Contestado, envolvendo Paraná e Santa Catarina entre 1912 e 1916. Back refaz a estranha história dessa guerra através de 30 médiuns em transe, articulando ainda os fatos aos depoimentos dos sobreviventes e historiadores.

O filme, exibido em diversos festivais, incluindo É Tudo Verdade e Gramado, provocou muita polêmica. Há quem defenda que tudo apresentado ali se trata de “arrumação” em “encenação teatral”, o que é rechaçado pelo diretor.

“A inserção de relato dos médiuns é que perturba e conturba a narrativa, serve para borrar as fronteiras draconianas entre documentário e ficção”, explica Back. “O transe, como uma insondável camada de do inconsciente coletivo e da história do homem, matéria-prima das altas indagações no campo da física quântica, é a mais pura e límpida poesia”, finaliza.

Também exibido em Gramado, O Último Romance de Balzac, de Geraldo Sarno, retoma a polêmica, que já dura 45 anos, em torno do livro Cristo Espera por Ti, psicografado por Waldo Viera e cuja autoria seria de Honoré de Balzac (1799-1850). O filme explora os bastidores da criação do livro, incluindo o psicólogo Osmar Ramos Filho, que estuda o escritor francês há mais uma década e tenta mostrar a identificação entre as obras do autor e francês e o livro psicografado.

Outro filme exibido em Gramado e também envolto em polêmica, o documentário As Cartas Psicografadas por Chico Xavier, realizado por Cristiana Grumbach, encerrou os lançamentos espíritas do ano e entrou em cartaz no dia 2 de novembro de 2011. É o enfoque de cinco famílias que perderam entes queridos e recebem o conforto espiritual através de cartas enviadas pelo médium, nas quais os desencarnados as tranquilizam. O cerne do filme é o processo de identificação, por parte de cada uma das mães, de elementos pessoais dos mortos contidos nas cartas.

“Em minhas pesquisas, apurei que o Chico dava uma atenção especial às mães. Ele considerava que um filho morrer antes dos pais era algo fora do natural. Meu documentário tenta descrever o impacto das cartas na trajetória dessas famílias”, revela Cristiana.

Outra produção já finalizada, O Filme dos Espíritos, produzido pela Mundo Maior Filmes, adaptação livre do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Desesperado com a perda da esposa e do trabalho, um homem à beira do suicídio encontra o livro de Kardec e através dele inicia uma jornada interior transformadora, descobrindo o sentido das coisas na pluralidade do mundo espiritual.

Dirigido por José Marouço e Michel Dubret, traz no elenco Luciana Gimenez (que substitui Regina Duarte e envelheceu 30 anos para se apresentar como uma senhora setuagenária), Sandra Corveloni, Enio Rodrigues, Ana Rosa, Ettty Fraser e Nelson Xavier.

Outro filme praticamente concluído e aguardado com interesse, E a Vida de Continua, tem a direção de Paulo Figueiredo e Amanda Costa e Lima Barreto nos papéis centrais. A história acompanha o drama de um casal desconsolado que recebe o amparo de amigos espirituais, os quais o direciona para uma atitude de renovação da vida através do estudo e do trabalho.

O filme, produzido pelo jornalista paulista Oceano Vieira de Mello, ex-dono do “Jornal do Vídeo” e proprietário da DVD Versátil, distribuidora de filmes de arte e documentários, foi um dos mais aguardados.

Espírita há 20 anos, Oceano tem sido o responsável pelo aparecimento no Brasil de diversos filmes e documentários sobre a doutrina, através do selo Vídeo Spirite, criado especialmente para abrigar a produção do gênero, tanto nacional quanto estrangeira. Ele mesmo tem dirigido documentários sobre algumas das personalidades espiritistas do País, produções essas em exibição no Canal Brasil.

Igualmente em fase de finalização, Área Q, produzido por Halder Gomes e a Estação da Luz e com direção de Gerson Sanguinitto, enfoca o aparecimento de objetos voadores não identificados nos sertões cearenses, mais especificamente nos municípios de Quixadá e Quixeramobim – daí a área Q do título.

Halder diz que seu filme trata de “ufologia e espiritualidade e trata do processo de reencarnação”. No enredo, repórter de um jornal dos EUA inconformado com a morte do filho, a contragosto aceita cobrir, no interior do Ceará, os eventos que marcam o aparecimento de discos voadores e que mobiliza os moradores de duas cidades.

Outra produção que avança pelo espiritismo é Não se Pode Viver sem Amor, de Jorge Duran, que explora os problemas vividos por um menino com poderes para normais.

E, rolando desde o início de 2007, está o roteiro de Ninguém é de Ninguém, baseado no livro homônimo psicografado por Zíbia Gasparetto do espírito Lucius, que até agora não foi filmado. As últimas notícias dão conta de que o produtor Tomislav Blazic planejava iniciar as filmagens no segundo semestre de 2011, em São Paulo. O filme, segundo consta, seriarodado com uma versão falada em inglês.

Esse cinema, polêmico para uns, necessário para outros, nada tem de maior ou de insignificante. É um cinema comum, como os tantos outros gêneros. Todo e qualquer gênero aborda as diferenças. E a diferença abordada nos filmes de cunho espiritualistas reside na busca do entendimento da vida após a morte, direcionando, assim, a um sentido à condição humana.

Não por menos esses filmes estão levando milhares de pessoas a um pensar mais filosófico sobre as coisas da vida e, também, das possibilidades além dela. E se faz pensar, clama por olhares de razão e tolerância. Afinal, o tempo do obscurantismo ficou no passado. Ou não?

Texto publicado no Diário do Nordeste, em 25 de outubro de 2010 e atualizado em 11/12/2019.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Pioneiro do Cinema Espírita Nacional

Por Carlos Pereira

Baseado em Somos Seis, obra psicografada pelo médium Chico Xavier, Joelma 23º Andar foi o primeiro filme brasileiro com temática espírita e o único que retratou o trágico incêndio do edifício Joelma que deixou 179 mortos e mais de 300 feridos. O fato aconteceu no centro da cidade de São Paulo, no dia 1º de fevereiro de 1974. O prédio, que hoje reformado se chama Edifício Praça da Bandeira era na época um moderno centro empresarial composto por escritórios e ficou internacionalmente conhecido pela fatalidade.

No elenco, a atriz Beth Goulart interpreta a jovem Lucimar, que trabalha em um dos escritórios do edifício, junto com o seu irmão Alfredo. No incêndio do Joelma, Lucimar morre e Alfredo escapa com vida. Dona Lucinda, a mãe de Lucimar, entra em depressão com o desencarne da jovem. Aconselhada por amigos, ela procura o médium Chico Xavier em busca de um contato com a filha, onde encontra consolo através de uma psicografia.

A produção é do ano de 1980 e tem na direção o cineasta Clery Cunha e no elenco, além da participação de Beth Goulart, estão também os atores Liana Duval, Marly de Fátima, Jesse James, Carlos Marques e Ed Carlos. O médium Chico Xavier participa como ele próprio, na cena do encontro com Dona Lucinda, mãe da jovem Lucimar.

Assista no vídeo abaixo a um depoimento da atriz Beth Goulart com cenas do filme, onde ela fala como foi a sua experiência de fazer a protagonista da história e relata sobre a sua convivência com o espiritismo desde a infância.



Assista aqui ao filme completo:

domingo, 8 de dezembro de 2019

Espiritismo: Cinema, Novelas e a Cultura Nacional


Por: André Andrade Pereira

Veriam espíritos, manifestações mediúnicas, sentiriam o impacto da carta vinda do além, assistiriam em retrospectiva o preconceito e a perseguição contra aquele homem bom, cujo pecado era não ter sido curado pelo padre e passar a crer de um jeito não oficial...

Ali, na saída do cinema, vendo aquela multidão, as perguntas nos surgiram imediatamente: qual será o impacto desse filme para a cultura do nosso país? Que mudança nas crenças vai gerar? Como as pessoas verão a questão da morte? E, acima de tudo, o que vai acontecer no interior das religiões?

Nossa intenção nesse breve artigo é fazer algumas reflexões sobre os possíveis impactos dessa ampla divulgação espírita sobre a cultura e o campo religioso no Brasil. Mais do que um artigo de cunho jornalístico, queremos fazer uma reflexão a partir da Ciência da Religião.

A divulgação do Espiritismo através da mídia, especialmente filmes e novelas, não é um fato recente. No entanto, há que se fazer uma distinção entre a divulgação tradicional das religiões e essa que vemos através de filmes e novelas. Na divulgação tradicional fala-se sobre as doutrinas, realizam-se cultos, pregações.... É o uso da mídia como extensão do local de culto. É uma divulgação oficial. Por exemplo, os espíritas tem um programa na televisão que vai ao ar pela CNT aos domingos, às 15hs, além de uma série de programas nas rádios dos diversos estados do país. É uma divulgação para iniciados ou para predispostos a se iniciar. Já no que diz respeito a filmes e novelas, ainda que tenham alguns personagens espíritas (o que nem sempre é o caso), trata-se da divulgação de fenômenos espirituais. O público é geral, mas o foco não é a doutrina, mas a própria vida. Ali os fenômenos espirituais são parte da vida. O que isso quer dizer? Se de um lado o poder de penetração é maior, embalado num diapasão universal (a emoção e os fatos da vida), por outro perde em profundidade e contexto: dificilmente alguém se dará conta, por exemplo, que o Espiritismo tem uma visão de transformação social crítica ao Capitalismo e que busca uma organização social próxima ao Socialismo, proclamando verdades duras para um país desigual como o nosso: "Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome.” (Livro dos Espíritos, questão 930).

Os amigos dos folclores partem de uma assertiva muito interessante: “tem nome, existe!” Clarisse Lispector em “A hora da Estrela” diz: “Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.” E, como cientistas da religião, temos que partir das crenças dos crentes. Não nos cabe decretar veracidade ou falsidade das crenças. Portanto, para nós esses filmes e novelas tratam da vida. Da vida como ela é, incluindo fatos que ao longo dos milênios esteve na imaginação das gentes. Essa divulgação é anterior ao espiritismo, basta ver o livro “A Divina Comédia” de Dante, para acompanhar a descrição de uma viagem pelo mundo invisível. Com o advento do Espiritismo, no entanto, o campo semântico ganha um novo locus central e toda a manifestação de poderes espirituais, visões, incorporações, que estão nos relatos de santos de diferentes tradições espirituais, passam a se referir ao Espiritismo. Mas antes não era assim. Os fenômenos espirituais não são exclusividade dos espíritas. Porém, Allan Kardec, o professor e cientista francês, se destacou por levar a sério as pesquisas sobre os fenômenos, enfrentar sérias perseguições nas academias, e fundar um campo semântico novo e dar o pontapé inicial da divulgação de uma nova ciência, a qual chamou Espiritismo. Mas o que hoje chamamos mediunidade, os fenômenos que hoje são chamados fenômenos espíritas, estão em toda parte e em todos os tempos. Uma boa coletânea disso é o livro de Clóvis Tavares, “Mediunidade dos Santos”, para os santos ligados ao Cristianismo; e o livro de Yogananda “Autobiografia de um Iogue”, com relatos de santos que conheceu na Índia, além dos seus casos pessoais.

Então, comecemos com essa distinção. Porque o efeito que as novelas e filmes com fenômenos espirituais causarão nas pessoas não há de ser novidade. Eles estão aí. E alguns o tomam como fatos e outros como obra de ficção e frutos da imaginação de pessoas crédulas.

Mas afinal, em que creem os espíritas? De uma forma resumida podemos dizer que os espíritas creem na existência de Deus, na imortalidade da alma, na pluralidade das existências, ou seja, na reencarnação, na possibilidade de se comunicar com os que morreram através da mediunidade e na evolução de todos os seres através do progressivo desenvolvimento da capacidade de amar. Sabendo isso, não são poucos os filmes que abordam as crenças espíritas e que retratam fenômenos que os Espíritas afirmam ser verdadeiros. Uma pequena lista poderia incluir, além do atual filme sobre a vida do Chico, o famoso “Ghost – do outro lado da vida”, o surpreendente “Os outros”, “O Sexto sentido”, “Minha vida na outra vida”, o brilhante e inteligente filme com Depardieu e Polanski, “Uma mera formalidade”. No Brasil, um filme recente é “Herbert de Perto”, que conta a história do vocalista dos Paralamas do Sucesso e conta com os depoimentos do próprio Herbert que descrevem, com naturalidade, o seu contato mediúnico com a esposa. Outros dois filmes brasileiros são “Cafundó”, que narra a história do ex-escravo João de Camargo, que recebe um chamado a fundar uma igreja e realizar curas; e “Besouro”, sobre o capoeirista que virou lenda. Outro é “Joelma, 23º Andar”, de Clay Cunha, baseado numa história de psicografia de Chico.

A atual novela da Globo, “Escrito nas estrelas”, tem como protagonista um jovem que após a morte acompanha como Espírito seus amigos e familiares e vai influenciando a trama. Assim como a novela “A viagem”, esta tem a direção e os atores estudando as obras espíritas, em especial os romances de Chico Xavier, em busca de inspiração.

Um dos pioneiros no Brasil da temática espírita em novelas foi Benedito Ruy Barbosa. Em 1966 a novela “Somos todos irmãos” foi ao ar pela TV Tupi e foi inspirada no livro psicografado por Chico Xavier, “A vingança do Judeu”. Em entrevista ao programa Roda Viva, o autor diz:

“Eu acho que é reconfortante você acreditar em uma outra vida. Eu acho terrível, de repente, você ser puramente pó, matéria e acabou, acabou! Porque eu acho que o centro da cabeça do homem, a inteligência mesmo, eu acho que ela não cabe na matéria em si. Eu acho que ela vai além disso. Então, por ser uma crença pessoal... E eu estou tão cansado de ver pais, amigos meus que perdem um ente querido, que nunca acreditou e, de repente, ele busca um conforto exatamente nisso. Apaga tudo o que ele não acreditava e busca uma forma de se encontrar novamente com um ente querido, ou receber alguma mensagem. Eu conheço muito o Chico Xavier já conversei muito com ele. Já fiz novelas espíritas. A primeira novela que eu fiz foi na TV Tupi e chamava-se Somos todos irmãos. Um título ecumênico. Mas a novela foi inspirada num livro, chamado A vingança do Judeu, livro psicografado pelo Xavier e escrito em 1817, 1870 e pouco, pelo Conde de Rochester [John Wilmot (1647-1680), poeta britânico]. Foi um sucesso nacional. E lidava com esse tema, numa época que isso aí era execrado. Os padres falavam no púlpito isso, não é? Eram contra, absolutamente contra. E nós encontramos uma maneira de colocar isso no ar.”

Esse é o primeiro fruto desses filmes e novelas: dar conforto espiritual, trabalhar com a ideia de que nossos entes queridos podem estar vivos e podemos ter contato com eles. Isso reduz em muito a dor da perda. É a função maior da mediunidade de Chico: consolo. O que temos visto historicamente é que muitas pessoas não necessariamente deixam suas religiões, não se tornam espíritas, mas adquirem uma convicção acerca da imortalidade e da comunicabilidade em sua forma de ver a vida. Para os espíritas isso independe de religião, e tão logo a ciência se aposse destas descobertas, as religiões se adaptarão a elas. Aliás, isso não é novidade para a nossa religiosidade popular, esse contato com os santos, com os mortos que viram intercessores do lado de lá. Nesse sentido o mapa das religiões pode permanecer o mesmo. O que muda um pouco é a forma como as pessoas encaram a vida. Pesquisas mostram que um em cada dois católicos acreditam na reencarnação, por exemplo. Quando conversamos com pessoas, de todas as religiões, sobre suas experiências com Espíritos, o resultado é surpreendente: o que nunca contaram para ninguém com medo de serem chamados de loucos está lá, já viram, sentiram, sonharam, ou ouviram histórias de pessoas próximas que viveram alguma situação assim. Mas isso não significa que se tornaram espíritas. Pode ser que católicos, evangélicos, muçulmanos, budistas, falem com Espíritos e continuem sendo católicos, evangélicos, muçulmanos, budistas. Um avanço a mais na era da comunicação: já que falamos com o mundo todo pela internet, falta-nos falar com o outro mundo. Isso seria viável. Os espíritas afirmam que no futuro falaremos com os mortos como quem fala ao telefone. O absurdo de ontem, é o trivial de hoje.

Aliás, essa era a proposta do codificador do Espiritismo. Allan Kardec não pensava o Espiritismo como uma religião a rivalizar com as demais e travar uma batalha pelos fiéis. Herdeiro do Iluminismo, discípulo de Pestalozzi, de Rousseau e de Comenius, Kardec tinha uma visão pluralista das religiões e acreditava que, com a descoberta da vida após a morte, sua missão seria ajudar as religiões a provarem seus pontos de vista diante dos excessos materialistas da Ciência do seu tempo.

O objetivo de Kardec era afirmar a realidade das religiões e, ao mesmo tempo, corrigi-las das deturpações humanas que justificavam a dominação eclesiástica. Para ele, o espiritismo traria elementos de racionalidade às religiões, fortalecendo-as no diálogo com as ciências e as tornariam mais abertas ao diálogo com as outras tradições espirituais.

O espiritismo é inter-religioso por definição. Em sua ênfase na reforma social da humanidade, através da prática da caridade e da educação dos homens, pressupõe uma abertura a todas as formas de espiritualidade do planeta. Contavam-se nas reuniões espíritas do tempo de Kardec, judeus, muçulmanos, católicos, e em seus escritos, o codificador da Doutrina Espírita, enfatizava a necessidade de união entre os religiosos.

O Espiritismo é um verdadeiro campo aberto ao diálogo inter-religioso. De um lado pela ênfase na ética, o que independe de formalismos e doutrinas, por outro por abrir-se a formas tão variadas de religiosidade quanto são os que buscam a Deus. Para o espírita, toda manifestação sincera de fé é legítima.

O clima filosófico em meados do século XIX era herdeiro do otimismo Iluminista que afirmava a modernidade, as conquistas da civilização, o evolucionismo, o progresso do espírito humano. Foi também o século das contradições, tendo em vista a pauperização das grandes cidades, os problemas sociais, os conflitos trabalhistas, as lutas pela redução da jornada de trabalho, as primeiras organizações sindicais.

Um mundo cultural em fissura: de um lado a heresia científica, de outro a heresia religiosa. Kardec se insere nesse contexto buscando mostrar o equívoco das partes. Nem os materialistas estavam corretos em negar Deus, junto com a crítica ao abuso do clero, nem a religião poderia ser levada a sério em sua clausura às ideias modernas, especialmente ao livre pensar.

O Espiritismo emerge no ambiente religioso e intelectual empreendendo uma dupla crítica: à ciência materialista que trata o homem como corpo e descuida do seu destino como alma, e às religiões que se recusam a atualizar suas perspectivas, não incorporando a contribuição dos pesquisadores e os avanços da filosofia, não sendo atraentes ao homem moderno. Na mente de Allan Kardec tratava-se de cumprir uma missão de espiritualizar a ciência e modernizar a religião, promovendo o progresso de um homem que conhece seu destino e tem as ferramentas para progredir intelectual e moralmente. Um campo de diálogo aberto entre a ciência e a religião. Seu pano de fundo é a convicção da possibilidade de se encontrar a ciência total que desvende, a um só tempo, os mistérios da natureza, os segredos do homem e a face de Deus.

O que Kardec acreditava estar fazendo com a elaboração da Doutrina Espírita não era fundar uma religião à parte, mas oferecer um substrato sólido que servisse de apoio a todas as religiões. Inclusive, nos primeiros anos de atividade como codificador, Kardec insistia que o espiritismo seria uma ciência com consequências morais. E negava que fosse uma religião.

"Nascido sob a religião católica, mas educado num país protestante, os atos de intolerância que por isso teve de suportar, no tocante a essa circunstância, cedo o levaram a conceber a ideia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio durante longos anos com o intuito de alcançar a unificação das crenças" (KARDEC, Obras Póstumas, p.13).

Um exemplo do espírito de tolerância de Kardec pode ser encontrado em sua avaliação da vida e obra de Maomé, publicado em dois artigos na Revista Espírita. Encontramos nessa pesquisa de Kardec sobre os anos iniciais do islamismo um verdadeiro roteiro para destacarmos uma metodologia de pesquisa espírita sobre as religiões, que pode ser sintetizada nas seguintes considerações:

1- Normalmente as religiões possuem uma origem espiritual autêntica, tem por base a existência de algo mais que o fenômeno material, ou seja, a religião não é inteiramente fruto da imaginação;
2- toda religião, assim como toda revelação, depende de um contexto histórico específico, e cada povo tem a sua revelação de acordo com seu caráter próprio naquele determinado momento de seu desenvolvimento.
3- Os fundadores das religiões são Espíritos missionários, enviados por Deus para fazer progredirem os diferentes povos.
4- É tarefa do pesquisador das religiões, manter o espírito crítico para separar o que é divino e o que é humano no conteúdo das revelações, percebendo que parte da tarefa do missionário é adequar a verdade à capacidade de compreensão do seu povo. Portanto, essas adequações são verdades históricas, circunstanciais; mas por trás delas há uma verdade eterna, capaz de resistir ao tempo e ao crivo da razão.
5- É imprescindível diferenciar o “espírito da revelação” das diferentes interpretações que se fazem à “letra dos textos”, bem como a intenção dos fundadores, da prática contraditória dos seus seguidores ao longo da história.
Esse espírito pluralista foi muito bem captado pelo filme, porque constitui o fundamento da vida de Chico Xavier. Acusado por alguns espíritas de catolicizar o Espiritismo, Chico amava a Igreja Católica. E, certamente, na sua simplicidade e inocência, por não ter recebido acolhida nela enquanto médium, amargou uma imensa dor.

O filme confere um status novo ao espiritismo diante de quem o rejeitava por preconceito. E o preconceito é sempre filho da ignorância. Ao se perceber que o espiritismo pode dar bons frutos, as pessoas de outras religiões passarão a ampliar o leque do ecumenismo, conferindo maior respeito aos praticantes do espiritismo. No livro “Teologia cristã e pluralismo religioso: o arco-íris das religiões” o teólogo John Hick alerta para o fato de que as religiões não podem ser comparadas como mais ou menos verdadeiras em suas doutrinas. Mas podem ser comparadas com base em seus frutos. O objetivo de toda religião é tornar melhores as pessoas. E olhando para os frutos das religiões podemos ver que todas elas são capazes de dar bons frutos. Ao conhecer a bondade, o espírito de serviço, o bom humor, a humildade de Chico Xavier, o bem que ele conseguiu espalhar com a mediunidade, os não espíritas são capazes de perceber os bons frutos que o espiritismo é capaz de dar. Isso dá uma respeitabilidade aos espíritas, que até então não tinham.

Aliás, Chico que amava a Igreja Católica, precisava de uma outra orientação, em outro local. Não é que a Igreja seja pior que o Centro Espírita, mas assim como cada doença tem um remédio, para o Chico dar vazão a seus potenciais e tornar-se um melhor servidor de Deus era preciso que conhecesse o Espiritismo. Em outro lugar ele não seria um servidor tão bom. Essa sensibilidade é a sensibilidade do diálogo inter-religioso. Sempre que conhecemos um santo numa religião diferente da nossa entendemos como Deus se revela em toda parte através de diferentes linguagens. E isso é bom.

Um outro conjunto de consequências desses filmes e novelas se darão dentro do próprio movimento espírita. Os espíritas se sentem representados e orgulhosos com essas obras. O espiritismo ganha cidadania no campo religioso brasileiro. Isso tem dois efeitos: em primeiro lugar, uma maior autoestima, o que elevará a identidade espírita. Hoje o Censo capta um número de espíritas, certamente, muito inferior ao número daqueles que praticam o espiritismo de alguma forma. Além disso, com a nova projeção cidadã que os filmes e as novelas lhes dão, muitos que não sentiam interiormente a convicção de ser espírita, passarão a se afirmar como tal.

Em segundo lugar, essa aquisição de cidadania irá romper com um histórico sentimento de perseguição que tem levado a um contra-ataque. Desde a sua chegada ao Brasil os espíritas foram herdando histórias de preconceitos e perseguições, o que os levou a uma triste, e incoerente, atitude de autoafirmação com base na crítica ao outro (em especial ao Catolicismo). Não são poucos os centros que em suas palestras divulgam uma visão de superioridade do Espiritismo, esquecendo do caráter ecumênico do seu próprio lema: “Fora da caridade não há salvação”. Então, essa nova cidadania evita os ataques e contra-ataques, estimulando o espírito ecumênico.

Caminhamos para um mundo pacífico e com maior respeito às diferenças. Caminhamos para uma situação de maior reverência pelo outro: esse é o destino amoroso da humanidade. Quem ama dialoga e só quem dialoga é capaz de amar. Essas novelas e esses filmes, sendo espíritas ou não, falam da vida e da morte, tocam na sensibilidade do ser humano e nos faz perguntar pelo sentido da vida. Nós que amamos o Brasil e convivemos diariamente com o ultraje à dignidade humana, na esquina das grandes cidades e nas periferias esquecidas, não podemos entender de outra forma essa temática como a contribuição para o fim da ilusão: a ilusão do poder, da riqueza, da fama, do saber. Aqui, tudo é transitório. Mas há um lugar, ou um tempo, onde as máscaras caem e pode-se usufruir da paz que foi plantada. Vivemos um tempo de testemunhos. E as mensagens de todos os profetas e poetas, de todas as religiões, foi um revelar dessa verdade escondida aos sábios e doutos: o amor vale a pena; apesar de todos os pesares, a experiência do amor é a mais revolucionária das revoluções. Crendo na vida após a morte ou não, é bom ver que as pessoas voltam a crer no amor. E que a nossa comunhão se dá mesmo é no plano do coração, não nas argutas teologias, mas na simplicidade de aceitar o outro como ele é.

Muita Paz!

André Andrade Pereira - Cientista da Religião, professor da Universidade Federal Fluminense –UFF (RJ)
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