domingo, 15 de agosto de 2021

Nossa vida religiosa

 


É comum confundirmos a nossa vida religiosa com outros sentimentos conhecidos no mundo.

Poucos nos damos conta de que religião, do latim religare significa religar.

Ou seja, religar a alma humana ao Criador.

Criados pelo amor de Deus, nascemos ligados a Ele por um cordão umbilical simbólico.

Colocados na estrada da evolução, servindo-nos do nosso livre-arbítrio, temos necessidade de desenvolver nosso progresso.

Cometendo erros aqui e acolá, vamos nos distanciando do Pai Criador.

Nossa destinação é retornar a Ele conscientes, amadurecidos, como um filho que sai de sua casa para estudar numa universidade e volta formado, para colaborar no lar com a família.

Dessa forma, vamos percebendo a importância de nossa vida religiosa. Não é religião o que dizemos, é religião o que fazemos.

Nossa vida religiosa é uma realidade interna do ser. É uma verdade que se passa portas adentro de nossa alma.

E a exteriorizamos de diversas formas.

Quando, como pais dedicados, transpiramos no trabalho de reeducação dos nossos filhos; quando, com firmeza, investimos amorosos recursos para bem conduzi-los, estamos realizando atos religiosos.

Quando, como médicos, nos devotamos ao paciente, nos interessamos por ele, verdadeiramente, e não por quanto ele nos paga;

Quando estamos desejosos de fazer valer o juramento de Hipócrates, de salvar vidas, recebendo ou não, por isso, estamos realizando um ato religioso.

Cada vez que, no momento da cólera, do alvoroço, tenhamos uma palavra apaziguadora, uma palavra de harmonia, é um gesto religioso.

Igualmente, quando emitimos um bom pensamento para alguém, desejando que seja feliz, que seja bem sucedido, que consiga o emprego.

Se trabalhamos honestamente, desejosos de que a comunidade em que vivemos se beneficie do que sabemos fazer; se nos entregamos a uma tarefa voluntária, com vontade de colaborar, de servir; se optamos pelo trabalho da orientação das pessoas, norteando as sociedades, ajudando-as, como administradores, como políticos de boa índole; se colocamos nossa vida à disposição da Divindade, esses são gestos religiosos.

A verdadeira religião é importante exatamente porque nos faz mudar.

Esta é a melhor religião, a que transforma os seres em homens de bem, amantes da paz, do serviço ao próximo.

Jesus assinalou que a boca fala daquilo que está cheio o coração, daquilo que a alma se preenche.

Isso nos diz, sem sombra de dúvidas, que é muito importante que a religião seja um gesto, um ato, uma ação, muito mais do que palavras.

Religarmo-nos a Deus é, pois, realizar, nos caminhos que trilhamos aqui na Terra, tudo que seja importante para que tenhamos uma vida mais bela, mais clara; e conduzamos conosco aqueles que nos são queridos, os nossos dependentes afetivos.

Com a vida religiosa bem nutrida, bem arejada, conseguiremos, gradativamente, seguir através do caminho que nos leva à verdade em prol da vida porque foi Jesus quem disse que ninguém chegaria ao Pai senão por Ele, apresentando-se como o Caminho, a Verdade e a Vida.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16, do livro Vida e Valores, organizado e redacionado por Maria Helena Marcon, a partir do programa televisivo de mesmo nome, de Raul Teixeira, ed. FEP.

Em 7.10.2016.

 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Boas Palavras


 

O educador Rubem Alves escreveu, certa feita, que as palavras têm o poder de enfeitiçar.

Ele se referia ao processo de educação do ser humano.

Se agasalhamos conceitos, frases ouvidas ou lidas, podemos nos transformar.

É assim que, lendo e relendo o Sermão da Montanha conseguiremos nos pacificar e passarmos a agir de forma mais equilibrada, mais serena.

Mas, se as palavras têm o poder de modificar a mente, de nos permitir a melhoria das próprias atitudes, igualmente guardam a capacidade de modificar a alma, de energizá-la.

Em si mesmas, as palavras são neutras. Assim, pretensas maldições simplesmente grafadas no papel não guardam sentido algum.

De igual forma, preces e bênçãos, estruturadas em fórmulas mortas, impressas, nenhum efeito surtirão.

No entanto, ganham sentido no momento em que as impregnamos com nossos sentimentos. Elas, então, passam a ter a vida e a energia que lhes atribuímos.

A partir disso, poderão fazer morada em alheios corações, que, por sintonia, lhe deem guarida, conferindo-lhes importância.

Portanto, as palavras que nos saem da boca ou as que resultam de nossas ações, não têm apenas o peso do seu significado.

Em verdade, muito mais do que o significado, o seu peso está em relação direta com o sentimento que carregam.

Em nossos contatos diários, se nossas palavras são sinceras e nascem do afeto, do bem querer, da vontade de ajudar, se constituirão em bênçãos, em vibrações de bem-estar para todos que com elas sintonizem.

A mãe, ao beijar a fronte do filho, desejando-lhe um bom dia, uma boa jornada, a companhia divina, o está impregnando com seus verdadeiros sentimentos de amor.

Alguém que deseje ao outro paz, felicidades, alegrias o está envolvendo nessas vibrações.

Como nossa boca fala do que se encontra repleto o coração, como nos explica Jesus, as palavras haverão de refletir sempre os nossos sentimentos, embora possamos disfarçar, com belas palavras, o que nos vai no íntimo.

Por isso, a importância de atentarmos para a nossa intimidade, de pensarmos no que falamos, no que escrevemos, enviando a terceiros.

É lei da natureza a troca das energias que nos são próprias e que nutrimos, por nossa própria escolha.

É nosso dever, portanto, vigiar os sentimentos, o falar, aquilo que escrevemos.

Pensemos antes de remeter, a quem quer seja, o que tenhamos escrito, em momentos de intempestividade ou desconforto.

Busquemos a harmonia de nossas vibrações, resguardando o próximo, não lhe endereçando energias que poderão lhe provocar mal-estar.

De uma maneira ou outra, as vibrações com que impregnarmos nossas palavras faladas ou escritas, nos chegarão de retorno.

Aqueles que cruzam nosso caminho levarão a nossa mensagem para onde forem, igualmente compartilhando-a, com outros tantos.

Evitemos, dessa forma, os destemperos, as alterações bruscas de humor, os rompantes de raiva, capazes de nos intoxicar, criando enfermidades para nós mesmos e mal-estar aos que convivem conosco.

Seja a nossa a disposição para abençoar, bendizer, agradecer. Sejamos promotores de alegrias, de entusiasmo, de bem-estar onde quer que transitemos.

Sejam nossas as palavras que traduzam os melhores sentimentos, amparando o caminho alheio.

Redação do Momento Espírita.

Em 13.10.2017.

 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

As linhas de uma flor

 


Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direção, outras noutras. Umas mais carregadas, outras mais leves. Umas mais fáceis, outras mais custosas.

A criança colocou tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.

Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor! As pessoas não acham parecidas essas linhas com as de uma flor!

Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor. E a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas.

Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

*   *   *

O belo texto de Almada Negreiros, poeta e artista plástico português, pode nos levar a várias reflexões.

A primeira nos leva pelos caminhos de Antoine de Saint-Exupéry e seu principezinho encantador, quando nos mostra a dificuldade que a alma adulta tem para compreender o mundo infantil (como se nunca tivesse transitado pela infância).

O aviador de Saint-Exupéry, quando criança, não conseguia ser compreendido em seus desenhos mirabolantes. Eram complexos demais para os adultos...

Outra nuance do poeminha nos leva a pensar sobre as potências de nossa alma e de como temos, dentro de nós, todas as linhas para desenhar o que bem desejarmos.

Os gérmens da perfeição, das virtudes da alma, estão todos conosco desde que fomos criados, buscando o tempo de serem desenvolvidos.

Assim como as linhas desenhadas pela criança, nos primeiros momentos nos parecem ininteligíveis, são os primeiros movimentos do ser humano rumo à felicidade.

Os traços vão se organizando com o tempo, com as encarnações, com os aprendizados, e nossa flor no papel vai ficando cada vez mais bela e mais próxima à figura original criada por Deus.

A perfeição da flor desenhada nunca chegará a ser a da florescência divina, pois o Espírito alcança apenas uma perfeição relativa.

Porém, será igualmente bela a flor desenhada pelo homem após as sucessivas experiências na carne.

*   *   *

Vivemos para organizar os traços de nossa intimidade, buscando dar-lhes aspectos harmônicos, inspirados e guiados pelas Leis Divinas.

A educação nunca foi um ato de colocar algo para dentro de nós, e sim de colocar para fora, desenvolvendo potencialidades.

A etimologia da palavra educação nos mostra os termos: ex, que significa para fora, seguido da expressão ducere, que se entende por guiar, conduzir, liderar.

Assim, educar é conduzir, guiar, retirar de dentro de nós algo que está lá, embrionário.

Olhemos para dentro, cuidemos de nós, invistamos nosso tempo na evolução espiritual e veremos esses traços bailando pelas telas do mundo produzindo grandes belezas.

Temos conosco os gérmens de todas as virtudes, de todas as flores de nossa alma.

 

Redação do Momento Espírita, com citação do texto A flor, do livro A invenção do dia claro, de José Sobral de Almada Negreiros, ed. Assirio & Alvim.

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