quarta-feira, 29 de abril de 2020

Mediunidade

Mediunidade sem exercício no bem, é semelhante ao título profissional sem a função que lhe corresponde. Acima de tudo, mediunidade é caminho de árduo trabalho em que o espírito, chamado a servi-la, precisa consagrar o melhor das próprias forças para colaborar no desenvolvimento do bem.

O médium, por isso, será vigilante cultor do progresso, assistindo-lhe a obrigação de aprimorar-se incessantemente para refletir com mais segurança a palavra ou o alvitre, o pensamento ou a sugestão da Vida Maior.

Emmanuel
Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Livro: Mediunidade e Sintonia

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O Legado de Chico Xavier


Por Paulo Sérgio de Oliveira

Percebemos que Chico se encaixa em cada uma dessas qualidades – bondade, benevolência, simplicidade de coração, amor ao próximo e o desprendimento das coisas materiais – chegando ao máximo de sua manifestação, sempre preocupado em ajudar os mais necessitados, não só os pobres do corpo, como também aqueles “pobres do espírito”, na acepção usual do termo.

Há uma frase, muito citada, de autoria do Chico Xavier que é: “Conheço pessoas tão pobres que só têm dinheiro”, tal a pobreza espiritual de muitos que ainda buscam mais as coisas deste mundo, em detrimento daquelas que ficarão para sempre. Dessa forma, agindo como um esteio sustentando aos necessitados que lhe cruzavam o caminho, esse Espírito iluminado, que assumiu a identidade de Chico Xavier, trouxe-nos mais um legado: o do desapego. Não recebeu nenhuma compensação financeira pelos livros, pois afirmava que eles não lhe pertenciam. Eram de autoria dos Espíritos que os ditaram e que, portanto, não poderia receber por algo que não fora produzido por seu intelecto, doando todos os direitos autorais. Neste sentido, seu legado é o do verdadeiro cristão, exercitando a mais pura caridade do “Dai de graça o que de graça recebeste”. Nem compensação financeira, nem o reconhecimento público era o seu alvo, pois muitas vezes não cobramos em dinheiro o retorno de nossas ações, mas exigimos o reconhecimento público para que o nosso orgulho se sinta atendido, esquecidos de que Jesus asseverou para que não fizéssemos as obras para que os homens as vissem, pois assim a recompensa já teria sido alcançada, nada restando por receber.

Esse sempre foi o intuito de Chico Xavier: o desapego de tudo o que é material. Bastava-lhe apenas o mínimo necessário para sobreviver e trabalhar pela divulgação da doutrina dos Espíritos. Entendeu, desde que obteve os primeiros esclarecimentos sobre a doutrina dados pelo casal Perácio, de que a verdadeira mediunidade não é a fenomênica por mais singular e exuberante que ela seja. A verdadeira mediunidade é a praticada com Jesus e para Jesus, no sentido de que o médium deve buscar a sua própria evangelização, com o consequente aprimoramento moral. Sabia ele que recebemos a mediunidade por acréscimo de misericórdia para que possamos exercitar as qualidades do Espírito, ao longo de diversas encarnações. Chico sabia dessa condição e trabalhava cada vez mais para que fosse um intermediário seguro e digno da tarefa que assumira como missão antes de seu reencarne em Pedro Leopoldo.

Como médium deixa-nos também o exemplo do Bom Espírita, o que demonstrou ser em todas as suas atitudes. É um Espírito em evolução, cujo patamar evolutivo nos supera em muito e que diante dos Planos Divinos, não refutou atender ao chamamento para mais uma experiência na carne, contribuindo decisivamente para a consolidação do Espiritismo no Brasil e no mundo, especialmente para os países, e que são muitos, em que seus livros foram traduzidos e publicados. Seu legado é o modelo de médium seguro e consistente com o Evangelho e com a Doutrina Espírita.


Chico Xavier – o legado moral


Tratava de assuntos complexos e importantes de hoje com a simplicidade do raciocínio claro e objetivo, que expressava com palavras doces e sempre caridosas, sem ofender a ninguém. Enfrentou diversas perseguições desde os quadros espíritas que o não entendiam e exigiam dele o que não era importante e nem necessário, quando o buscavam para atender a curiosidades, ou demonstrar que tinham prestígio por serem “amigos” de Chico, bem como, opositores nas diversas correntes filosóficas e religiosas contrárias à ideia espírita. Sempre com muita paciência, agia com o respeito necessário, com integridade, mas sem se desviar de suas convicções mais profundas com relação à Doutrina e ao Evangelho. Mesmo diante dos obstáculos físicos, financeiros, políticos, perseguições através de calúnias ou invencionices de que ele teria dito ou feito algo que deslustrasse a sua missão, permaneceu firme. A mídia que o apoiava no final de sua existência terrena, no início o confrontou com artigos em órgãos de comunicação de penetração no país inteiro, nos quais fora ele atacado e acusado de charlatão, de aproveitador da fé pública, e que buscava simplesmente atender à própria vaidade, notadamente porque usava uma peruca. A vaidade, com certeza, não fazia parte dele. Sua beleza de alma superava a tudo e a todos, e podia ser sentida por todo aquele que se aproximava de sua pessoa. Sua palavra era de levantar os decaídos, de dar consolo aos que sofriam como as mães e pais que procuravam um lenitivo para diminuir a dor da saudade que os abatia. Seu olhar percuciente estava atento a tudo e a todos, e conseguia perceber, pela sua clarividência, as necessidades de cada indivíduo, dando-lhe o carinho e a palavra necessários.

Exemplo de integridade, agiu com a consciência de quem estava “a caminho”, realizando uma missão que era fundamental. Missão do jaez daquelas em que se exige um Espírito firme, amadurecido e seguro de seu propósito. Olhava os pobres e desprezados do mundo com maior carinho, pois compreendia o sofrimento que eles enfrentavam, e percebendo sua carência buscava contribuir material ou espiritualmente, com um pouco que fosse para amenizar os sofrimentos pelos quais passavam. Exemplo de como devemos agir quando estamos junto de irmãos de condição menos propícia, pois se hoje podemos dar, amanhã talvez sejamos nós a pedir.

Esse o legado moral de Chico Xavier: Amor, perdão, compreensão e respeito para com todos, pois, em sua humildade cristalina, demonstrava sentir-se o menor entre os menores, atitude digna de quem já convive na paz do Reino de Deus.


Chico Xavier – o legado doutrinário


Teve os primeiros contatos com a Doutrina Espírita, pelas mãos de Da. Carmem Pena Perácio que lhe apresentou O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo, duas obras das que compõem a codificação kardequiana. A leitura dessas obras o impressionou de tal forma, que decidiu tornar-se espírita de imediato. Iniciou o estudo sistemático juntamente com o desenvolvimento da psicografia, pois sua missão junto à elaboração de livros era o fundamental. Aliava o estudo ao trabalho: a mediunidade ia se desenvolvendo enquanto ele crescia em conhecimento sobre as bases doutrinárias que o ajudaram a compreender os fenômenos que aconteciam com ele desde a idade de cinco anos.

Sempre contando com a ajuda e apoio da Espiritualidade Superior, coordenada por Emmanuel, estudava sistematicamente os livros doutrinários, bem como outras publicações que lhe caiam nas mãos, com muita atenção às nuanças que percebia nos textos. Cuidava para não ferir suscetibilidades, porém não prescindia de apresentar sempre sua visão sobre questões polêmicas que lhe eram dirigidas por meio de cartas, ou mesmo nos programas de rádio e televisão, nas entrevistas para revistas etc. Nunca se omitiu diante de um questionamento, e sempre ofereceu a possibilidade do contraditório, entendendo que não se pode querer ter a propriedade da verdade, e que sempre se pode aprender e ampliar horizontes com ideias salutares de outras pessoas.

Entendemos que o principal legado de Chico nesse aspecto foi o de mostrar a todos nós que ser espírita não é só frequentar sessões espíritas e tomar passes. Isso também é importante, mas de não se fixar nas coisas periféricas, mas, sim, aprofundarmo-nos em nós mesmos, pelo estudo, buscando nossas questões pessoais a serem analisadas e resolvidas com base no discernimento e na vontade firme. Essa atitude está em linha com o que nos afirma Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações".³ Estimula-nos a buscar conhecimentos através da pesquisa de informações doutrinárias e evangélicas, bem como o trabalho espiritual em qualquer área e nível. Não há trabalho que se despreze se este é feito em nome de Jesus Cristo.

Hoje em dia, muitos olham para codificação e comentam que Kardec está desatualizado, pois a ciência no Sec. XIX era muito acanhada em relação às descobertas de que dispomos hoje em dia. No entanto, esquecem-se de observar que Kardec foi explícito ao afirmar que o Espiritismo não estava completo, e que as contribuições da ciência que comprovadamente trouxesse novas luzes sobre pontos dos ensinos dos Espíritos, deveriam incorporar-se à obra, pois a verdade é revelada aos poucos. Isso não quer dizer que devamos adulterar a base para justificar ideias pouco ou nada ajustadas à doutrina. A casa que perde as suas fundações, só poderá vir a ruir! Chico era muito preocupado com essa questão, demonstrando o tempo todo que Kardec vinha em primeiro lugar. Emmanuel chegou a afirmar que se caso ele dissesse algo que contrariasse os ensinos deixados por Kardec na codificação, deveríamos ficar com Kardec e esquecer o que ele, Emmanuel, havia dito. Percebe-se o respeito e a consideração pela Doutrina.

Não tinha nenhum arroubo pessoal no sentido de ser o “dono da verdade”. Em determinada ocasião, Chico decidiu fazer alguns ajustes de palavras nos textos para torná-los mais compreensíveis, o que foi duramente criticado por espíritas de renome da época como o Prof. José Herculano Pires, que não recomendava se mexesse na codificação. Chico acatou e desistiu da ideia.

Quando não observamos esse legado de fidedignidade em relação à Codificação, caímos na possibilidade de transformamos as Doutrina dos Espíritos, em “doutrina dos espíritas”, o que provocaria sérios transtornos, uma vez que estaríamos trazendo para dentro do espiritismo conhecimentos, opiniões não comprovadas, processos e discussões que nada têm a ver com seu bojo doutrinário, disfarçando-os em apetrechos espíritas, quando na verdade não o são.

Esse legado é o mais importante, em nosso ponto de vista, porque representa a estrutura de toda a obra do Chico. Ele amou, serviu, amparou, alegrou, secou lágrimas, acolheu sofredores encarnados e desencarnados, sempre com disciplina, conforme lhe havia sugerido seu mentor Emmanuel.

Quando, finalmente, aos 92 anos de idade, em junho de 2002, parte de retorno para a pátria espiritual, deixou-nos a saudade, a lembrança querida que devem ficar em cada coração que, de alguma forma, direta ou indiretamente, esteve em contato com essa alma de amor e luz.

Bibliografia:

1- ALVES, Elifas - Chico, As Origens - Editora Aliança
2 – Eurípedes Higino & Ariston Teles – Chico Xavier, o Apóstolo do Brasil – Eurípedes Higino & Ariston Teles – Editora Espírita Ano Luz.
3 - KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 17 – Sede Perfeitos, item 4.

sábado, 25 de abril de 2020

Amor, Alimento das Almas


O maior sustentáculo da criatura é justamente o Amor.

A alma, em si, apenas se nutre de amor!

O amor divino é o cibo do universo!

Tudo se equilibra no amor divino de Deus.

Toda a estabilidade da alegria é problema de alimentação puramente espiritual.

Nas diversas esferas da vida, todo sistema de alimentação tem no amor a base profunda.

Todos nos movemos no amor e sem ele não teríamos existência.

Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da Criação, mais extensamente conheceremos esta grande verdade: o Amor!

O sexo é manifestação sagrada desse amor universal e divino, mas é apenas uma expressão isolada do potencial divino.

O amor é o pão divino das almas, o pábulo sublime dos corações.

André Luiz

Psicografia de Francisco Cândido Xavier

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Eu conheci Chico Xavier


Por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

Em 1975, quando me casei com a Izabel, fomos viajar para Serra Negra-SP e Uberaba-MG e visitamos o Grupo Espírita Chico Xavier, oportunidade de conhecer pessoalmente o médium Chico Xavier, já faz mais de 40 anos.

Em 1977, quando nasceu o meu primeiro filho, Matheus – tenho seis –, viajamos para Uberaba e novamente visitamos o Chico. Fizemos fotografias do médium, da distribuição de alimentos e também do seu centro – tudo ali era feito na maior simplicidade; quanta dedicação e bondade daquele espírita generoso!

Fui a Uberaba pela terceira vez com um grupo de espíritas de Capivari e Rafard – Dionino A. Colaneri, Tedeschi, Gerez e Rubens Rodrigues de Jesus. Quando nos apresentamos como confrades da cidade de Capivari, ele disse: "Da nossa querida Tarsila do Amaral".

Nesta viagem, além dos abraços e fotografias, trouxemos livros com autógrafos do Chico e a expectativa de que ele revisse com o poeta Rodrigues de Abreu alguns poemas e mensagens psicografados por ele e que ainda não tinham sido publicados em livro. Eram escritos do poeta capivariano na fase de iniciação de sua mediunidade. Infelizmente não mais retornamos para Uberaba-MG, e não tivemos mais contato com o Chico pessoalmente.

Mas o principal, para a minha vida, não foi conhecer o Chico, e sim ler mais de 250 obras das mais de 400 que ele psicografou, de mais de 600 Espíritos, dentre elas, do padre Manoel da Nóbrega/Emmanuel, que eu adoro, além de muitas outras mensagens recebidas por Chico Xavier, inclusive de capivarianos como Amadeu Amaral, e especialmente uma que me comove muito, do poeta da Casa destelhada, Rodrigues de Abreu*:

Vi-te, Senhor!

Eu não pude ver-Te, meu Senhor,

Nos bem-aventurados do mundo,

Como aquele homem humilde e crente do conto de Tolstói.

Nunca pude enxergar

As Tuas mãos suaves e misericordiosas,

Onde gemiam as dores e as misérias da Terra;

E a verdade, Senhor,

É que Te achavas, como ainda Te encontras,

Nos caminhos mais rudes e espinhosos,

Consolando os aflitos e os desesperados...

Estás no templo de todas as religiões,

Onde busquem Teus carinhos

As almas sofredoras,

Confundindo os que lançam o veneno do ódio em Teu nome,

Trazendo a visão doce do Céu

Para o olhar angustioso de todas as esperanças.

Estás na direção dos homens,

Em todos os caminhos de suas atividades terrestres,

Sem que eles se apercebam

De Tua palavra silenciosa, e renovadora,

De Tua assistência invisível e poderosa,

Cheia de piedade para com as suas fraquezas.

Entretanto,

Eu era também cego no meio dos vermes vibráteis que são os homens,

E não Te encontrava pelos caminhos ásperos...

Mocidade, alegria, sonho e amor,

Inquietação ambiciosa de vencer,

E minha vida rolava no declive de todas as ânsias...

Chamaste-me, porém,

Com a mansidão de Tua misericórdia infinita.

Não disseste o meu nome para não me ofender;

Chamaste-me sem exclamações lamentosas,

Com o verbo silencioso do Teu amor,

E antes que a morte coroasse a Tua magnanimidade para comigo,

Vi que chegavas devagarinho,

Iluminando o santuário do meu pensamento

Com a Tua luz de todos os séculos!

Falaste-me com a Tua linguagem do Sermão da Montanha,

Multiplicaste o pão das minhas alegrias

E abriste-me o Céu, que a Terra fechara dentro de minh'alma...

E entendi-Te, Senhor,

Nas Tuas maravilhas de beleza,

Quando Te vi na paz da Natureza,

Curando-me com a Dor.

(*) POETA nascido em Capivari, São Paulo, a 27 de setembro de 1897, e desencarnado, tuberculoso, em Bauru-SP, aos 24 de novembro de 1927. Publicou Noturnos, Sala dos passos perdidos e Casa destelhada, além de inúmeros trabalhos espar­sos na imprensa do nosso Estado. Foi cognominado “o poeta triste das rimas róseas”.

terça-feira, 21 de abril de 2020

O Livro


O livro com Jesus é sempre:

Na vida - o mestre silencioso.

Na fé - o templo da alma.

Na luta - o observador sereno.

Na dificuldade - o amigo vigilante.

No caminho - o companheiro sábio.

Na dor - a fonte do reconforto.

Na dúvida - a luz do conhecimento.

Na jornada - a árvore benfeitora.

Na construção espiritual - o tijolo incorruptível.

Na enfermidade - o remédio oportuno.

No lar - o bom conselheiro.

No trabalho - a coragem constante.

Na terra do espírito - a semente da santidade.

Na imaginação - o incentivo fertilizante.

Na aflição - o bálsamo salutar.

Na alegria - o impulso de auxiliar a todos.

Na fartura - o controle benéfico.

Na escassez - a graça Celestial.

O livro cristão é alimento da vida eterna.

Espalhá-lo é servir com Jesus.

André Luiz

Do livro A Verdade Responde, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 19 de abril de 2020

A Ciência na Obra de Chico Xavier


Apresentados em expressões muitas vezes simples, conceitos complexos da ciência se espalham por livros do mais famoso médium espírita do Brasil, que hoje completaria 110 anos

Por ocasião do 110º aniversário de nascimento de Francisco Cândido Xavier (2 de abril de 1910), PLANETA relembra um texto do parapsicólogo Hernani Guimarães Andrade publicado em suas edições especiais sobre o médium mineiro e seu trabalho, a primeira das quais, 127-A, saiu em 1983.

Várias obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier possuem três níveis de compreensão: o popular, o científico e o filosófico. Assim, os que leem a coleção iniciada pelo livro Nosso Lar, ditada pelo espírito de André Luiz, podem observar com muita facilidade esta mencionada estratificação. É conveniente assinalar que os livros Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade, psicografados em parceria com Waldo Vieira, dão ênfase quase exclusiva ao nível científico.

A interpretação dos livros pertencentes à série mencionada vai depender muito do grau de cultura daqueles que os leem, e também da atenção voltada ao texto lido. Por isso, não é de admirar que muitas pessoas, pouco informadas a respeito do espiritismo, da parapsicologia, da biologia ou da física, classifiquem esses livros na categoria de coletâneas de historietas ou dramalhões ao estilo “água com açúcar” e de péssimo gosto literário. O uso excessivo de adjetivos qualificativos e a forma literária muito rebuscada, do tipo “romance antigo”, concorrem ainda mais para conduzir o leitor ingênuo a semelhante julgamento errôneo acerca do valor dessas obras.

Entretanto, aqueles leitores que procuram reler os citados livros duas ou mais vezes acabam por se surpreender com a paulatina descoberta de notáveis e inéditas informações a propósito de espiritismo, biologia, física, parapsicologia e demais disciplinas científicas.


Garimpo


Há nisso certa semelhança com a operação de garimpar: à medida que se repetem as bateadas, vão surgindo os diamantes ou as pepitas do mais puro ouro. Entre a riqueza de informações, é comum encontrarem-se interessantes previsões científicas, algumas delas concernentes a avançadas cogitações, somente acessíveis a cientistas ultraespecializados! Não se trata de meras coincidências, do tipo de profecias de cartomantes, adivinhos ou astrólogos de almanaque e televisão. São realmente citações concisas e expressam-se com propriedade e precisão impecáveis, como a seguinte:

“Irmã Evelina, quem lhe disse que não moramos lá, na arena terrestre, detidos igualmente num certo grau da escola de impressão do nosso Espírito eterno? Qualquer aprendiz de ciência elementar, no planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é senão a energia radiante condensada. Em última análise, chegaremos a saber que a matéria é luz coagulada, substância divina, que nos sugere a onipresença de Deus.”

Este trecho encontra-se no capítulo 9 de E a Vida Continua…, psicografado por Chico Xavier. Escrito em 1968, ele revela que “chegaremos a saber que a matéria é luz coagulada”. Isso significa que o autor preconiza para a ciência o reconhecimento de que as últimas partículas constituintes da matéria seriam os fótons. Por outras palavras, a matéria seria formada por ondas eletromagnéticas (luz) de alta energia, estruturadas de maneira particular.

O mesmo autor espiritual, André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, cap. III, no subcapítulo intitulado “Primórdios da Vida”, apresenta ao pé da página a nota 4, que diz: “Na Esfera Espiritual, em que estagiamos, o eletrão é também partícula atômica dissociável”. Embora o capítulo III tenha sido psicografado por Waldo Vieira em 22 de janeiro de 1958, achamos que dificilmente o psicógrafo teria tido conhecimento dos trabalhos de física teórica desenvolvidos por Murray Gell-Mann e outros.

Gell-Mann obteve em 1969 o Prêmio Nobel por seus trabalhos teóricos acerca dos modelos matemáticos de hipotéticas subpartículas, os quarks, que seriam os componentes das partículas subatômicas atualmente ainda conhecidas como elementares.


Conclusões semelhantes


Mas a antecipação apresentada no livro E a Vida Continua… é muito mais impressionante, pois somente os físicos bem avançados estão agora chegando a semelhantes conclusões. Apesar da exatidão rigorosa do soberbo equipamento matemático de que se servem os físicos teóricos, ainda não se tem uma noção clara e segura de o que são realmente a matéria, o espaço e o tempo.

O aprofundamento desses temas leva-nos invariavelmente a reflexões metafísicas, embora os físicos não empreguem o mesmo método dos meditadores orientais. A física constrói-se através da observação dos fatos, seguida de teorizações que levam a etapas posteriores de experimentação e consequentes novas observações. É um edifício solido baseado na realidade verificável. Apesar disso, a física está se aproximando de conceitos cada vez mais abstratos. Desse modo, aquilo que outrora se tinha como realidade concreta está se diluindo em entidades às quais faltam as qualidades que normalmente se atribuiriam à própria matéria.

De uma interessante “conversa” com os físicos Jack Sarfatti e Fred Wolf, o escritor científico Bob Toben extraiu informações que resultaram num empolgante livro intitulado Space-Time and Beyond (no Brasil, “Espaço-Tempo e Além”).
Vejamos quem são os referidos físicos*. Jack Sarfatti é graduado em física pela Cornell University, M.S., 1967, e PhD, 1969, em física teórica pela Universidade da Califórnia. Trabalhou três anos no Departamento de Física da San Diego State University; atuou na Universidade de Londres, em colaboração com o professor David Bohm; foi cientista visitante, durante o ano acadêmico 1973-74, do Centro Internacional de Física Teórica, em Trieste, Itália; e é autor de dezenas de artigos sobre pesquisas originais nos fundamentos da física.

Fred Wolf é graduado em física pela University of Illinois, Urbana, em 1957, e PhD, em 1962, em física teórica pela Universidade da Califórnia em Los Angeles; atualmente é professor de física na San Diego University; durante o período de 1973-74, chefiou o grupo designado para o Birkbeck College da Universidade de Londres e para o Laboratório de Colisões da Universidade de Paris; especialista em colisões moleculares, consultor particular das maiores instituições científicas e técnico em análise e operações de computadores, participou de inúmeros congressos sobre física atômica, onde apresentou considerável número de teses.

Como se observa, os físicos entrevistados por Bob Toben, cujo currículo é comparável ao dos mencionados cientistas, são especialistas respeitáveis. Aquilo que dizem deve ser bem meditado, antes de se contestar. Além disso, Toben apoiou-se em uma rica bibliografia constituída por obras de alto nível (ao todo, 89 livros e/ou artigos).

Nas páginas 46 e 47 de Space-Time and Beyond, leem-se as seguintes legendas: “A matéria não é senão luz (energia) capturada gravitacionalmente” e “A matéria é luz capturada gravitacionalmente”. Os textos encabeçados por esses títulos são claríssimos e trazem desenhos muito elucidativos para explicar ao leitor mediano o seu significado.


Revelações mediúnicas autênticas


Na página 47, Toben oferece uma sequência de figuras muito interessantes. Começa com um desenho que mostra uma espécie de nuvem, na qual se lê: “A incompreensível e desconhecida unidade além do espaço-tempo”. Segue-se outro desenho constituído de duas carreiras paralelas de flechas, indicando dois sentidos opostos. Entre as paralelas lê-se: “Torna-se conhecida de si mesma”. Em seguida vê-se um pequeno círculo rodeado de raios, como se fosse um foco luminoso, e a legenda: “Criando a Luz”.

Após esse desenho, veem-se três círculos concêntricos formados por linhas pontilhadas, tendo sobre si a figura de um foco luminoso como se estivesse girando em um turbilhão circular. Uma inscrição indica, por meio de uma flecha, que os círculos de linhas pontilhadas representam “um anel de luz em vibração”; ao lado lê-se: “A luz captura-se a si própria em um colapso gravitacional”.

Continuam as legendas: “formando um quantum (mini) black hole [buraco negro]”. O diâmetro avaliado para o referido “mini-black hole” é de 10-33 centímetros. E termina com a legenda: “A unidade fundamental da matéria”, esclarecendo que, “na singularidade dentro do black hole, não há nem espaço, nem tempo”!

A descrição que acabamos de fazer indica as etapas do processo de transformação da luz em partículas de matéria. Essa partícula é aquilo que os físicos entrevistados chamam de “mini-black hole”, um “buraco” no vácuo.

Antecipação


De acordo com essas fantásticas teorias, os “mini-black holes” formar-se-iam na sequência temporal normal, isto é, vindo do futuro, transitando pelo presente e fugindo para o passado. Quanto aos “mini-white holes” – unidade fundamental da antimatéria –, a sequência temporal seria inversa, isto é, eles viriam do passado, transitariam pelo presente e seguiriam para o futuro!

O livro que aqui comentamos é extraordinariamente fascinante. As ideias nele expostas vão ainda muito mais além. Demos apenas uma pequeníssima amostra do seu incrível conteúdo. Entretanto, inúmeras de suas passagens poderiam figurar nas obras ditadas por André Luiz e vice-versa. A diferença estaria na linguagem e na época em que foram escritos. Os livros psicografados por Chico Xavier antecipam em vários anos o que encontramos nesse livro.

Achamos oportuno abordar essas questões concernentes ao aspecto seriamente científico de certas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier porque temos ouvido críticas negativas a respeito da legitimidade e da autenticidade de certas antecipações encontradas em obras mediúnicas. Em particular, observamos que algumas pessoas fazem a crítica ou por falta de preparo ou por excesso de rigor científico, devido a uma formação dentro de estreita ortodoxia.

Admitimos que muitas obras tidas como mediúnicas e contendo “revelações científicas” não passam de um amontoado de ingenuidades. Tais obras não resistem a um exame sério da parte de um especialista. Em outras circunstâncias, como vem acontecendo com os livros de Chico Xavier, é aconselhável que se suspenda o julgamento muito apressado, pois é possível que a ingenuidade seja do julgador.

Assim é no caso de luz coagulada. Quando essa expressão foi publicada, há cerca de 15 anos, poucos físicos tê-la-iam levado a sério. Muitos poderiam mesmo apoiar-se na própria física para contestar a validade da informação transmitida por via mediúnica. Ainda hoje deve haver físicos prontos para assumir essa posição. Estarão, contudo, falando por si, e não pela física, pois muitos outros bons físicos aceitaram como válida a perturbadora expressão: “A matéria é luz coagulada”!

* Esta matéria foi publicada originariamente na Folha Espírita em Revista, 1977, págs. 66-68, com o título “Luz coagulada”.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Gratidão a Jesus

Ele vinha ao meu lado em noite escura
Quando minh’alma orava à angústia presa,
Através do Evangelho da beleza,
Libertar-me das trevas da amargura.

Sublime de humildade e realeza
Revelava-me a luz formosa e pura,
Que colhemos na carne que depura,
Torturada de dor e de tristeza…

Agora, meu Jesus, que a prova é finda,
Deixa, Senhor, que eu te agradeça ainda
O sofrimento, a chaga e a solidão!

Recebe no esplendor do eterno dia
O pranto que derramo de alegria
Nas preces pobres do meu coração.

Jésus Gonçalves

Do livro Cartas do Coração, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Explicando a Mediunidade



Por Regina Stella Spagnuolo

Chico Xavier, quando esteve em Goiânia, concedeu entrevistas a vários jornalistas em emissora televisiva local, sempre com paciência e amor, como era de costume.

Perguntaram ao médium:

– V. Sª não acha que a Doutrina Espírita e muitos de seus fenômenos parapsicológicos, como ocorre nos casos da necromancia, telecinesia e telepatia, podem ter sua explicação à luz das causas e efeitos da Psicanálise ou da própria Psicologia?

Chico respondeu:

– Nosso profundo apreço ao nobre jornalista que formula a interrogação. Mas, vendo espíritos, habitantes de um outro mundo, desde os 5 anos de idade – tempo em que pude ver de perto minha mãe desencarnada que me prometera voltar do além, para velar novamente por nós, filhos dela, que deixava na primeira infância – e continuando esses fenômenos da mediunidade em minha vida, durante tantos anos, de minha parte não posso transferir a minha certeza da vida espiritual a companheiro algum. Cumpro apenas o dever de registrar as mensagens, as notícias dos nossos amigos espirituais nos livros que nunca me pertenceram, que sempre foram entregues à comunidade espírita cristã em seus trabalhos editoriais, sem nenhuma vantagem pecuniária em nosso favor, no que apenas estamos cumprindo o dever.

Desde a infância, há precisamente quase 60 anos, e desses quase 60 anos, 47 estou eu na mediunidade organizada ou treinada com os ensinamentos de Allan Kardec, apesar das imperfeições que carrego. Compreendo e aceito a mediunidade em minha vida – perdoem a minha expressão – como se eu fora um cego animalizado ou mesmo um animal em serviço, obedecendo àqueles que me trazem tanta luz ao caminho, que me amparam sempre com tanta bondade e aos quais seria ingratidão de minha parte sonegar o concurso e a boa vontade que devo a todos eles.

Creio na mediunidade e creio na vida espiritual. Procurando na Parapsicologia como é que os senhores parapsicólogos definiriam a psicografia em meu caso pessoal, verifiquei que eles me denominavam o processo de trabalho medianímico (perdoem-me esse possessivo meu, entretanto é necessário que eu fale assim) como sendo um fenômeno de prosopopese. Não cheguei a compreender todo o sentido da palavra pelo meu desconhecimento das raízes que a formaram; a psicografia em meu caso, então, seria um caso de prosopopese ou mudança psicológica da personalidade, dando ensejo a que personalidades supostas se manifestem por meu intermédio, sem que eu tenha qualquer conotação em quadros patológicos.

Confesso, porém, que para mim, que me sinto espírita cristão, o assunto não ecoou com a significação que eu esperava, porque não sinto necessidade de palavras assim tão difíceis para determinar uma questão simples que apenas envolve a comunicação entre dois mundos. Para mim, a psicografia é o intercâmbio espiritual entre os espíritos que estão encarnados neste mundo e espíritos que estão desencarnados, vivendo em outras condições vibratórias, na Terra e fora da Terra; mas naturalmente que a ciência tem o direito de cunhar as expressões que deseje para melhorar-nos os conhecimentos e evitar os abusos de criaturas capazes de criar problemas para a comunidade com o abuso provável desses mesmos conhecimentos. Respeitando a ciência parapsicológica, estamos satisfeitos com o termo mediunidade psicográfica, porque eu sei que a página por mim psicografada não me pertence e sim ao espírito que a escreveu.

Do livro Chico Xavier em Goiânia, de Francisco Cândido Xavier e Emmanuel.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Notas da Vida


A chuva fecunda o solo.
A semente faz-se pão.
A caridade no mundo
É simples obrigação.

Há momentos de aspereza
Que magoam sem querer.
Ninguém demonstra fraqueza
Por perdoar e esquecer.

Quem se torna amor constante,
Em perene doação,
Guarda no peito uma estrela
Em lugar do coração.

Irthes Terezinha
Psicografia de Chico Xavier

sábado, 11 de abril de 2020

Figura de Comunicação de Francisco Cândido Xavier


Por Arthur da Távola

Independentemente de qualquer posição pessoal, crença ou convicção, a figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier percorre décadas da vida brasileira operando um fenômeno (refiro-me à comunicação terrena mesmo) de validade única, peculiar, originalíssima. Não vou, portanto, por falta de autoridade para tal, analisa-lo do ângulo religioso e, sim, as relações de sua figura de comunicação com o público.

Com todos os significantes necessários a já ter desaparecido ou ter-se isolado como um fenômeno passageiro, a figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier, no entanto, ganha um significado profundo, duradouro, acima e além de paixões religiosas, doutrinas cientificas ou interpretações metafísicas.

A inexistência de um tipo físico favorecedor, funciona como outro curioso paradoxo a emergir da figura de comunicação de Chico Xavier.

Aquele homem de fala mansa, peruca, acentuado estrabismo, pessoa de humildade e tolerância, não configura o tipo físico idealizado do líder religioso, do chefe de seita, do místico impressionante.

A clássica barba dos místicos, ou a cabeleira descuidada, ou o olhar penetrante e agudo dos líderes, inexistem no visual de Chico Xavier.

Acrescente-se a inexistência, em seu modo de vestir, de qualquer originalidade ou definição de estilo próprio, ainda que contestador dos estilos formais e burgueses.

Não tem, portanto, Chico Xavier, nos aspectos externos e formais de sua figura de comunicação, nenhum dos elementos habitualmente consagrados como funcionais, ou impressionantes dos aspectos externos do grande público, elementos de comunicação incorporados consciente ou inconscientemente por figuras importantes nas religiões.

Até a figura do Papa, líder de uma comunidade religiosa, é envolta em pompa e festa, estratégia visual destinada à maior prenuncia de sua mensagem e à definição de sua posição como símbolo.

Nem mesmo a mais decidida modéstia e humildade pessoal de vários papas são suficientes para que a figura papal se desvista da pompa e simbologia relativas ao reinado que representa.

Até nas religiões orientais, menos pomposas, as figuras líderes são cercadas da visão carismática do líder.

Francisco Cândido Xavier, porém, representa uma espécie de antítese vitoriosa da figura carismática.

Não tem, do ponto de vista externo ou visual, nenhum elemento característico.

Até ao contrário.

Pessoalmente, é anticarisma.

Funciona como símbolo de negação de qualquer pompa ou formalidade, um retorno talvez à pureza primitiva dos movimentos religiosos.

E, no entanto, emerge da figura dele uma das mais poderosas forças de identificação da vida brasileira.

Ele é uma espécie de líder desvalido dos desvalidos, dos carentes, dos sofredores, dos não onipotentes, dos despretensiosos, dos modestos, dos dispostos a perder para ganhar.

Curiosamente, tal posição é conquistada naturalmente e sem qualquer traço político direto de tomada de posição ao lado dos fracos, num século em que a revolução social aparece como a tônica e como a grande aglutinadora dos movimentos humanos, inclusive os religiosos.

Sem qualquer formulação política, sem qualquer mensagem diretamente relacionada com a exploração do homem, sem qualquer revolta direta e institucionalizada contra a miséria ou a injustiça, Francisco Cândido Xavier emerge com a força do perdão, da tolerância, da fraternidade real, da fraqueza forte da fé, da humildade e do despojamento erigidos como regra de vida, como trabalho efetivo da caridade; da não violência em qualquer de suas manifestações, mesmo as disfarçadas em poder, glória, sincretismo, hermetismo, iniciação, poder temporal ou promessa de Vida Eterna.

A figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier emerge, portanto, de uma relação profunda e misteriosa com um certo modo de sentir do homem brasileiro, relação esta ainda insuficientemente estudada ou conhecida até mesmo pelos que a vivem, comandam ou exercem.

Até mesmo para ele, Francisco, deve haver muita coisa envolta em mistério, um mistério que os seguidores dele tenta definir e enche-se de explicações científicas, religiosas, ou religiosizantes, psicólogas, parapsicológicas ou parapsicologizantes.

Para tal contribui, além do aspecto misterioso da psicografia e da relação com os que morreram, a igualmente misteriosa aura de paz e pacificação que domina os que com ele se relacionam pessoalmente ou via meios de comunicação, na relação cuidada e cautelosa, equilibrada e pouco frequente por ele mantida com a Televisão, na qual aparece muito pouco, uma vez por ano no máximo e sempre para grandes públicos.

Além da aura de paz e pacificação que parte dele, há outro elemento poderoso a explicar o fascínio e a durabilidade da impressionante figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier: a grande seriedade pessoal do médium, a dedicação integral de sua vida aos que sofrem e o desinteresse material absoluto.

A canalização de todo o dinheiro levantado em direitos autorais para as variadíssimas atividades assistenciais espíritas dá ao Chico Xavier uma autoridade moral – tanto maior porque não reivindicada por ele – que o coloca entre os grandes líderes religiosos do nosso tempo.

Quem se aproximar da atividade real de assistência material e espiritual da comunidade espiritualista brasileira, verificará que ela é íntegra e heroica, tal e qual o que há e sempre houve de melhor em assistência de religiões como a Católica e Protestante (entre nós), prodígios de dedicação, silêncio e humildade que justificam as vidas dos que dela participam.

SÍNTESE FINAL:

A integridade pessoal;
A íntima relação de seus seguidores;
A ausência completa de significantes externos;
O contato com o mistério;
A ausência de qualquer forma de violência em sua figura e pregação;
A nenhuma subordinação a hierarquias aprisionantes;
A discrição pessoal;
A nenhuma procura de poder político, temporal ou econômico para o desempenho da própria missão;

As forças originais da organização interna do seu movimento, sem personalismos ou autoritarismos – tudo isso gera uma figura de comunicação de alta força, mistério, empatia e grandeza moral, principalmente se considerarmos que enfrentou e ultrapassou tempos diferentes do atual (no qual o ecumenismo felizmente impôs-se).

Antes, manifestações como as dele eram removidas como bruxaria ou perigosas, ou bárbaras ou alucinantes quaisquer manifestações místico-religiosas diferentes ou discrepantes da religião da classe dominante.

(O Globo, 26.05.1980 – Transcrito do Jornal “Lavoura e Comércio” de Uberaba, Minas, do dia 04 de junho de 1980).
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