domingo, 19 de abril de 2020

A Ciência na Obra de Chico Xavier


Apresentados em expressões muitas vezes simples, conceitos complexos da ciência se espalham por livros do mais famoso médium espírita do Brasil, que hoje completaria 110 anos

Por ocasião do 110º aniversário de nascimento de Francisco Cândido Xavier (2 de abril de 1910), PLANETA relembra um texto do parapsicólogo Hernani Guimarães Andrade publicado em suas edições especiais sobre o médium mineiro e seu trabalho, a primeira das quais, 127-A, saiu em 1983.

Várias obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier possuem três níveis de compreensão: o popular, o científico e o filosófico. Assim, os que leem a coleção iniciada pelo livro Nosso Lar, ditada pelo espírito de André Luiz, podem observar com muita facilidade esta mencionada estratificação. É conveniente assinalar que os livros Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade, psicografados em parceria com Waldo Vieira, dão ênfase quase exclusiva ao nível científico.

A interpretação dos livros pertencentes à série mencionada vai depender muito do grau de cultura daqueles que os leem, e também da atenção voltada ao texto lido. Por isso, não é de admirar que muitas pessoas, pouco informadas a respeito do espiritismo, da parapsicologia, da biologia ou da física, classifiquem esses livros na categoria de coletâneas de historietas ou dramalhões ao estilo “água com açúcar” e de péssimo gosto literário. O uso excessivo de adjetivos qualificativos e a forma literária muito rebuscada, do tipo “romance antigo”, concorrem ainda mais para conduzir o leitor ingênuo a semelhante julgamento errôneo acerca do valor dessas obras.

Entretanto, aqueles leitores que procuram reler os citados livros duas ou mais vezes acabam por se surpreender com a paulatina descoberta de notáveis e inéditas informações a propósito de espiritismo, biologia, física, parapsicologia e demais disciplinas científicas.


Garimpo


Há nisso certa semelhança com a operação de garimpar: à medida que se repetem as bateadas, vão surgindo os diamantes ou as pepitas do mais puro ouro. Entre a riqueza de informações, é comum encontrarem-se interessantes previsões científicas, algumas delas concernentes a avançadas cogitações, somente acessíveis a cientistas ultraespecializados! Não se trata de meras coincidências, do tipo de profecias de cartomantes, adivinhos ou astrólogos de almanaque e televisão. São realmente citações concisas e expressam-se com propriedade e precisão impecáveis, como a seguinte:

“Irmã Evelina, quem lhe disse que não moramos lá, na arena terrestre, detidos igualmente num certo grau da escola de impressão do nosso Espírito eterno? Qualquer aprendiz de ciência elementar, no planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é senão a energia radiante condensada. Em última análise, chegaremos a saber que a matéria é luz coagulada, substância divina, que nos sugere a onipresença de Deus.”

Este trecho encontra-se no capítulo 9 de E a Vida Continua…, psicografado por Chico Xavier. Escrito em 1968, ele revela que “chegaremos a saber que a matéria é luz coagulada”. Isso significa que o autor preconiza para a ciência o reconhecimento de que as últimas partículas constituintes da matéria seriam os fótons. Por outras palavras, a matéria seria formada por ondas eletromagnéticas (luz) de alta energia, estruturadas de maneira particular.

O mesmo autor espiritual, André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, cap. III, no subcapítulo intitulado “Primórdios da Vida”, apresenta ao pé da página a nota 4, que diz: “Na Esfera Espiritual, em que estagiamos, o eletrão é também partícula atômica dissociável”. Embora o capítulo III tenha sido psicografado por Waldo Vieira em 22 de janeiro de 1958, achamos que dificilmente o psicógrafo teria tido conhecimento dos trabalhos de física teórica desenvolvidos por Murray Gell-Mann e outros.

Gell-Mann obteve em 1969 o Prêmio Nobel por seus trabalhos teóricos acerca dos modelos matemáticos de hipotéticas subpartículas, os quarks, que seriam os componentes das partículas subatômicas atualmente ainda conhecidas como elementares.


Conclusões semelhantes


Mas a antecipação apresentada no livro E a Vida Continua… é muito mais impressionante, pois somente os físicos bem avançados estão agora chegando a semelhantes conclusões. Apesar da exatidão rigorosa do soberbo equipamento matemático de que se servem os físicos teóricos, ainda não se tem uma noção clara e segura de o que são realmente a matéria, o espaço e o tempo.

O aprofundamento desses temas leva-nos invariavelmente a reflexões metafísicas, embora os físicos não empreguem o mesmo método dos meditadores orientais. A física constrói-se através da observação dos fatos, seguida de teorizações que levam a etapas posteriores de experimentação e consequentes novas observações. É um edifício solido baseado na realidade verificável. Apesar disso, a física está se aproximando de conceitos cada vez mais abstratos. Desse modo, aquilo que outrora se tinha como realidade concreta está se diluindo em entidades às quais faltam as qualidades que normalmente se atribuiriam à própria matéria.

De uma interessante “conversa” com os físicos Jack Sarfatti e Fred Wolf, o escritor científico Bob Toben extraiu informações que resultaram num empolgante livro intitulado Space-Time and Beyond (no Brasil, “Espaço-Tempo e Além”).
Vejamos quem são os referidos físicos*. Jack Sarfatti é graduado em física pela Cornell University, M.S., 1967, e PhD, 1969, em física teórica pela Universidade da Califórnia. Trabalhou três anos no Departamento de Física da San Diego State University; atuou na Universidade de Londres, em colaboração com o professor David Bohm; foi cientista visitante, durante o ano acadêmico 1973-74, do Centro Internacional de Física Teórica, em Trieste, Itália; e é autor de dezenas de artigos sobre pesquisas originais nos fundamentos da física.

Fred Wolf é graduado em física pela University of Illinois, Urbana, em 1957, e PhD, em 1962, em física teórica pela Universidade da Califórnia em Los Angeles; atualmente é professor de física na San Diego University; durante o período de 1973-74, chefiou o grupo designado para o Birkbeck College da Universidade de Londres e para o Laboratório de Colisões da Universidade de Paris; especialista em colisões moleculares, consultor particular das maiores instituições científicas e técnico em análise e operações de computadores, participou de inúmeros congressos sobre física atômica, onde apresentou considerável número de teses.

Como se observa, os físicos entrevistados por Bob Toben, cujo currículo é comparável ao dos mencionados cientistas, são especialistas respeitáveis. Aquilo que dizem deve ser bem meditado, antes de se contestar. Além disso, Toben apoiou-se em uma rica bibliografia constituída por obras de alto nível (ao todo, 89 livros e/ou artigos).

Nas páginas 46 e 47 de Space-Time and Beyond, leem-se as seguintes legendas: “A matéria não é senão luz (energia) capturada gravitacionalmente” e “A matéria é luz capturada gravitacionalmente”. Os textos encabeçados por esses títulos são claríssimos e trazem desenhos muito elucidativos para explicar ao leitor mediano o seu significado.


Revelações mediúnicas autênticas


Na página 47, Toben oferece uma sequência de figuras muito interessantes. Começa com um desenho que mostra uma espécie de nuvem, na qual se lê: “A incompreensível e desconhecida unidade além do espaço-tempo”. Segue-se outro desenho constituído de duas carreiras paralelas de flechas, indicando dois sentidos opostos. Entre as paralelas lê-se: “Torna-se conhecida de si mesma”. Em seguida vê-se um pequeno círculo rodeado de raios, como se fosse um foco luminoso, e a legenda: “Criando a Luz”.

Após esse desenho, veem-se três círculos concêntricos formados por linhas pontilhadas, tendo sobre si a figura de um foco luminoso como se estivesse girando em um turbilhão circular. Uma inscrição indica, por meio de uma flecha, que os círculos de linhas pontilhadas representam “um anel de luz em vibração”; ao lado lê-se: “A luz captura-se a si própria em um colapso gravitacional”.

Continuam as legendas: “formando um quantum (mini) black hole [buraco negro]”. O diâmetro avaliado para o referido “mini-black hole” é de 10-33 centímetros. E termina com a legenda: “A unidade fundamental da matéria”, esclarecendo que, “na singularidade dentro do black hole, não há nem espaço, nem tempo”!

A descrição que acabamos de fazer indica as etapas do processo de transformação da luz em partículas de matéria. Essa partícula é aquilo que os físicos entrevistados chamam de “mini-black hole”, um “buraco” no vácuo.

Antecipação


De acordo com essas fantásticas teorias, os “mini-black holes” formar-se-iam na sequência temporal normal, isto é, vindo do futuro, transitando pelo presente e fugindo para o passado. Quanto aos “mini-white holes” – unidade fundamental da antimatéria –, a sequência temporal seria inversa, isto é, eles viriam do passado, transitariam pelo presente e seguiriam para o futuro!

O livro que aqui comentamos é extraordinariamente fascinante. As ideias nele expostas vão ainda muito mais além. Demos apenas uma pequeníssima amostra do seu incrível conteúdo. Entretanto, inúmeras de suas passagens poderiam figurar nas obras ditadas por André Luiz e vice-versa. A diferença estaria na linguagem e na época em que foram escritos. Os livros psicografados por Chico Xavier antecipam em vários anos o que encontramos nesse livro.

Achamos oportuno abordar essas questões concernentes ao aspecto seriamente científico de certas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier porque temos ouvido críticas negativas a respeito da legitimidade e da autenticidade de certas antecipações encontradas em obras mediúnicas. Em particular, observamos que algumas pessoas fazem a crítica ou por falta de preparo ou por excesso de rigor científico, devido a uma formação dentro de estreita ortodoxia.

Admitimos que muitas obras tidas como mediúnicas e contendo “revelações científicas” não passam de um amontoado de ingenuidades. Tais obras não resistem a um exame sério da parte de um especialista. Em outras circunstâncias, como vem acontecendo com os livros de Chico Xavier, é aconselhável que se suspenda o julgamento muito apressado, pois é possível que a ingenuidade seja do julgador.

Assim é no caso de luz coagulada. Quando essa expressão foi publicada, há cerca de 15 anos, poucos físicos tê-la-iam levado a sério. Muitos poderiam mesmo apoiar-se na própria física para contestar a validade da informação transmitida por via mediúnica. Ainda hoje deve haver físicos prontos para assumir essa posição. Estarão, contudo, falando por si, e não pela física, pois muitos outros bons físicos aceitaram como válida a perturbadora expressão: “A matéria é luz coagulada”!

* Esta matéria foi publicada originariamente na Folha Espírita em Revista, 1977, págs. 66-68, com o título “Luz coagulada”.

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