quinta-feira, 23 de abril de 2020

Eu conheci Chico Xavier


Por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

Em 1975, quando me casei com a Izabel, fomos viajar para Serra Negra-SP e Uberaba-MG e visitamos o Grupo Espírita Chico Xavier, oportunidade de conhecer pessoalmente o médium Chico Xavier, já faz mais de 40 anos.

Em 1977, quando nasceu o meu primeiro filho, Matheus – tenho seis –, viajamos para Uberaba e novamente visitamos o Chico. Fizemos fotografias do médium, da distribuição de alimentos e também do seu centro – tudo ali era feito na maior simplicidade; quanta dedicação e bondade daquele espírita generoso!

Fui a Uberaba pela terceira vez com um grupo de espíritas de Capivari e Rafard – Dionino A. Colaneri, Tedeschi, Gerez e Rubens Rodrigues de Jesus. Quando nos apresentamos como confrades da cidade de Capivari, ele disse: "Da nossa querida Tarsila do Amaral".

Nesta viagem, além dos abraços e fotografias, trouxemos livros com autógrafos do Chico e a expectativa de que ele revisse com o poeta Rodrigues de Abreu alguns poemas e mensagens psicografados por ele e que ainda não tinham sido publicados em livro. Eram escritos do poeta capivariano na fase de iniciação de sua mediunidade. Infelizmente não mais retornamos para Uberaba-MG, e não tivemos mais contato com o Chico pessoalmente.

Mas o principal, para a minha vida, não foi conhecer o Chico, e sim ler mais de 250 obras das mais de 400 que ele psicografou, de mais de 600 Espíritos, dentre elas, do padre Manoel da Nóbrega/Emmanuel, que eu adoro, além de muitas outras mensagens recebidas por Chico Xavier, inclusive de capivarianos como Amadeu Amaral, e especialmente uma que me comove muito, do poeta da Casa destelhada, Rodrigues de Abreu*:

Vi-te, Senhor!

Eu não pude ver-Te, meu Senhor,

Nos bem-aventurados do mundo,

Como aquele homem humilde e crente do conto de Tolstói.

Nunca pude enxergar

As Tuas mãos suaves e misericordiosas,

Onde gemiam as dores e as misérias da Terra;

E a verdade, Senhor,

É que Te achavas, como ainda Te encontras,

Nos caminhos mais rudes e espinhosos,

Consolando os aflitos e os desesperados...

Estás no templo de todas as religiões,

Onde busquem Teus carinhos

As almas sofredoras,

Confundindo os que lançam o veneno do ódio em Teu nome,

Trazendo a visão doce do Céu

Para o olhar angustioso de todas as esperanças.

Estás na direção dos homens,

Em todos os caminhos de suas atividades terrestres,

Sem que eles se apercebam

De Tua palavra silenciosa, e renovadora,

De Tua assistência invisível e poderosa,

Cheia de piedade para com as suas fraquezas.

Entretanto,

Eu era também cego no meio dos vermes vibráteis que são os homens,

E não Te encontrava pelos caminhos ásperos...

Mocidade, alegria, sonho e amor,

Inquietação ambiciosa de vencer,

E minha vida rolava no declive de todas as ânsias...

Chamaste-me, porém,

Com a mansidão de Tua misericórdia infinita.

Não disseste o meu nome para não me ofender;

Chamaste-me sem exclamações lamentosas,

Com o verbo silencioso do Teu amor,

E antes que a morte coroasse a Tua magnanimidade para comigo,

Vi que chegavas devagarinho,

Iluminando o santuário do meu pensamento

Com a Tua luz de todos os séculos!

Falaste-me com a Tua linguagem do Sermão da Montanha,

Multiplicaste o pão das minhas alegrias

E abriste-me o Céu, que a Terra fechara dentro de minh'alma...

E entendi-Te, Senhor,

Nas Tuas maravilhas de beleza,

Quando Te vi na paz da Natureza,

Curando-me com a Dor.

(*) POETA nascido em Capivari, São Paulo, a 27 de setembro de 1897, e desencarnado, tuberculoso, em Bauru-SP, aos 24 de novembro de 1927. Publicou Noturnos, Sala dos passos perdidos e Casa destelhada, além de inúmeros trabalhos espar­sos na imprensa do nosso Estado. Foi cognominado “o poeta triste das rimas róseas”.

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