terça-feira, 31 de outubro de 2023

Preocupa-se o homem moderno com seu futuro espiritual?

 


As civilizações do passado foram pródigas em ressaltar a importância da vida espiritual, revelando com isso que o homem não é só constituído de nervos, músculos e ossos, mas, que é na realidade um Espírito a ocupar temporariamente um corpo de carne.

Era comum no Egito antigo a comunicação com os que já haviam desencarnado, e ensinavam haver do “lado de lá” uma espécie de tribunal onde eram julgados os que ali chegassem, entre Anúbis, o gênio com cabeça de chacal, e Hórus o gênio com cabeça de gavião, diante de Maât, a deusa da justiça. Nesse evento ficava decidido o destino das almas: ascensão ao esplendor solar ou retorno à Terra onde deveriam expiar seus erros e crimes.

Para os hindus o Juiz dos Mortos era o responsável pela subida das almas ao paraíso ou descida ao reino de Varuna, o gênio das águas, onde seriam insulados em câmaras de tortura, amarrados uns aos outros por serpentes infernais.

Hebreus, gregos, gauleses e romanos pensavam de forma semelhante.

Observamos aí o velho conceito de Céu/Inferno, imposto às almas que deixavam seus corpos físicos pelo desencarne. Aos bons, as delícias de um Céu de felicidade eterna; aos maus, os horrores de um tormento sem fim, ou a volta à Terra para pagar pelos pecados cometidos (reencarnação).

Essa forma de pensar contribuiu para que se desenvolvesse o medo da morte, sim, porque, qual a criatura vivente que detém um padrão comportamental de puras virtudes? Onde aquele que nunca houvesse cedido ao ataque da tentação? Justo temer o que o futuro lhe aguardava.

Crenças que tais tiveram seu momento na evolução humana, numa fase em que o Ser ainda não compreendia Deus, sua justiça e misericórdia. O fato que mais nos interessa, entretanto, é demonstrar que sempre se preocupou, a criatura, com o que aconteceria com ela após a morte.

O desenrolar dos séculos na esteira do tempo proporcionou o desenvolvimento do intelecto e da ciência que, juntamente com os questionamentos filosóficos e o progresso em geral, fez com que os indivíduos começassem a examinar aqueles conceitos por outros prismas, não raro levando-os do medo absoluto à descrença total. Então, o materialismo assentou lugar, determinando a inexistência do Espírito, isto é, morto o corpo, nada mais restaria.

Para muitos que assim pensam, o importante é viver o momento e procurar vivê-lo da melhor forma possível, ainda que tenham de passar por cima do interesse e da dignidade de seus comparsas no jogo da vida. Neste caso a moral não tem valia, ao contrário, atrapalha nas decisões egoístas.

O Cristo durante seu apostolado trouxe luz à questão da vida futura (espiritual) do homem. Em todos os seus ensinos ressaltou a importância dessa compreensão para que se tornasse objeto de preocupação constante do homem terreno. Todavia, ninguém se achava preparado para entender com precisão o alto significado dessa lição, razão pela qual o Mestre a apresentara como uma Lei da Natureza da qual ninguém escaparia.

Os cristãos creem na vida futura, mas a ideia que dela fazem ainda é imprecisa, cheia de dúvidas e incertezas.

A ideia de Inferno implantou-se mais para atender a convencionalismos religiosos do que para mudar padrões comportamentais errôneos, pois, incutindo o pavor no crente tornava-o mais submisso às regras e dogmas da religião ortodoxa. Os resquícios desse mal perduram até os dias de hoje.

A Doutrina Espírita, explicando racionalmente as palavras do Cristo, aclarou as mentes que se fizeram receptivas à compreensão. Em tempos atuais, quando a Humanidade se acha mais preparada para os avanços do conhecimento, crer na vida após a morte interfere na moralização do homem uma vez que o torna sabedor de que responderá por todos os seus atos enquanto encarnado, os quais repercutem em consequências vindouras, seja no Plano Espiritual após o decesso físico ou em encarnações futuras.

A Boa Nova surgiu despertando a mente e o coração para novas compreensões. Interesses outros impediram seu progresso mas o Espiritismo aí está para dirimir dúvidas.

Entretanto, quantos se preocupam verdadeiramente com isso?

Examinemos de relance a situação vigente no Planeta, em todas as Nações. Nunca se viu tanta desarmonia, violência, fome, miséria, doenças, desprezo total pela vida humana numa corrida insana em busca dos prazeres fáceis. Ao lado desses comportamentos mórbidos e destruidores, grupos batalham pela expansão do amor, da fé, da fraternidade, solidariedade, na busca da elevação do Ser humano.

Por que em uns a descrença e pouco caso à vida, e em outros a exaltação da paz e harmonia? Depende do ponto de vista que cada um tenha sobre a vida futura. A literatura espírita é pródiga em informações advindas de Espíritos respeitáveis, dentre eles André Luiz que em suas obras tece comentários e experiências que conduzem a maior entendimento.

Aos que ainda se acham vagando pelos becos escuros da descrença, busquem as praças iluminadas da sabedoria para que, em tempo, exerçam a transformação íntima, na esperança de dias melhores que certamente virão aos que a eles fizerem jus.

É da Lei que atinjamos a perfeição, e a vida na matéria enseja oportunidades para isso; mas, se colocamos barreiras e desviamos os passos em sentido contrário aos seus propósitos, estaremos dando origem a aflições e sofrimentos que fatalmente haveremos de resgatar.

Aqueles, pois, que imaginam ser a morte o ponto final dos sofrimentos ou que se acreditam privilegiados por seguirem fielmente rituais de superfície nos templos religiosos, se surpreenderão na viagem de volta à Pátria Espiritual ao perceberem que continuam indissoluvelmente ligados às suas próprias obras. Nossos pensamentos, palavras, ações criam asas de libertação ou algemas que escravizam, conduzindo-nos aos “Céus” (entenda-se locais de progresso e ascensão do Espírito) ou aos “Infernos” (entenda-se locais onde se reúnem por sintonia, Espíritos necessitados de reparação da conduta errônea). Isto nos leva à conclusão de que Céu e Inferno são os estados d’alma que nós mesmos criamos, e os vivemos tanto aqui, na matéria, como lá, na vida espiritual.

Por que não nos preocuparmos já, com o nosso destino fora da matéria?

Yvone

 

Fontes de consulta:

Ação e Reação – André Luiz, cap.1

O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec, cap. 2

domingo, 29 de outubro de 2023

A vida futura e a realeza de Jesus

Um estudo sistematizado do livro “O Evangelho segundo o Espiritismo” sobre o item “A Vida futura e a realeza de Jesus”, contido no capítulo II da obra.


 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Crescimento espiritual

 


Por Bruno Abreu

Nos dias que decorrem, ouvimos falar com facilidade em Espiritualidade.

Espalhou-se pelos quatro cantos do nosso redondo planeta a ideia de sermos melhores, como tal recorremos ao que de mais importante nos parece existir no ser, o crescimento espiritual. Este parece ser o tesouro do Reino de Deus.

Difundiu-se a meditação das mais diversas vertentes doutrinárias e religiosas, o yoga, utilizando o corpo físico como instrumento, as rezas e as orações das mais diversas religiões. O sentido é o mesmo, crescer espiritualmente ou descobrir a verdade, como o quiserem chamar.

Aonde queremos chegar com o crescimento espiritual?

Parece-me que é de comum desejo atingirmos a paz e a felicidade, o Reino de Deus, que, segundo o Mestre, está dentro de nós.

Se já sabemos para onde queremos ir, temos de mapear a viagem. Neste caso é mais difícil, porque não é um lugar físico, mas um “espaço” dentro de nós, que desconhecemos.

Se está em nós, por que o desconhecemos? Por que não chego lá? Por que me sinto tão perdido em sua direção?

Parecem-me perguntas lógicas e importantes. Nós temos vivido em busca deste “canto”.

Para caminharmos em direção ao Reino de Deus, temos de retornar para dentro, pois é lá que este está. Aqui apresenta-se outra dificuldade, pois existe um grande número de pessoas que desconhecem o que é o lado de dentro.

Vamos dividir em três, o lado de fora, o ser e o seu funcionamento consciente e o lado de dentro.

O lado de fora é tudo o que acontece fora de nós, o trabalho, a casa, a família etc.

O ser é onde acontece toda a interação do lado de dentro com o lado de fora. As emoções, os sentimentos, os pensamentos, toda a ação que acontece no ser.

O lado de dentro para nós é invisível, mas este é enorme, cabe lá o Reino de Deus.

Tudo o que aparece no ser nasce em algum lado, é como a nascente de água, embora seja o início visível, a água não aparece por magia, vem de longos lençóis internos que nos passam despercebidos.

Nós só vemos o movimento do ser ou movimento consciente, é quando aparecem os impulsos, os desejos, os pensamentos etc.

Este funcionamento consciente é impressionante, não descansa nem abranda um pouco. Ele está em constante movimento.

Imaginem que este funcionamento do ser são nuvens, existem camadas em cima de camadas, constantemente. Fazem uma parede enorme, por isso não conseguimos ter qualquer deslumbre para o outro lado, tudo o que existe para nós, são estes movimentos. Podemos falar na teoria que somos muito mais dos que este movimento, mas não passam de teorias, por isso somos escravizados pelos movimentos que formamos mentalmente. Nossa mente não para e nós tornamo-nos fantoches. O maior exemplo disto são os impulsos de raiva, o ódio, o pânico, o medo, as doenças psíquicas que estão todas neste nível, e facilmente percebemos ser comandados por estes sem força para os contrariar.

Como podemos ter um deslumbre do outro lado? Sentirmos paz e amor?

Quando as nuvens estão na Terra, forma-se o nevoeiro em que pouco vemos. Com a dispersão deste, vamos vendo um pouco mais, até que desaparece.

É igual para nós. As terríveis nuvens que nos têm escondido a “verdade” e mantido na ilusão, tem de dispersar. Temos de abdicar do que aparece em nós, os desejos viciantes físicos, como álcool em excesso, os desejos morais, como a maledicência, o orgulho, o egoísmo, abdicar do enorme desejo humano da razão, que nos leva a discutir, dos impulsos de raiva e agressividade. Temos que trocar estas coisas pelo silêncio e estou certo que concordam comigo, quando afirmo que são uma perda de tempo, sem qualquer utilidade para nós.

Nós continuamos sob este funcionamento, porque é como um enorme vicio, aparece em nós e nós seguimo-lo como um burro segue a cenoura, sem força para modificarmos esta forma de estar.

Se concorda comigo, já deu o primeiro passo, que foi o de descobrir esta forma de funcionamento viciante, o segundo é fazer frente.

As pessoas, para combaterem as más tendências que descobrem em si, entram em uma luta terrível, tentando ser pessoas melhores, que normalmente a perdem e desistem. Não lute consigo, seja seu próprio companheiro.

As más tendências nascem em nós, correto? Estas são uma das maiores provas de que o nosso funcionamento é automatizado, pois não as queremos, mas não conseguimos deixar de as ter. Faz parte do treino terreno.

Se conseguíssemos deixar de as ter? Seria fantástico.

Esta forma de funcionamento impulsiva e viciosa tem sucesso em nós, por estarmos a maioria do tempo inconscientes do funcionamento desta. Os pensamentos decorrem a uma velocidade de 50.000 por dia, segundo a psicologia, o que dá quase um por segundo.

Tente estar consciente dos pensamentos, o que aconteceu? Em pouco tempo o pensamento o levou e só deu conta já dentro deste, quando voltou a tentar estar atento aos pensamentos. Mas também aconteceu algo muito interessante, a atenção ou consciência fez com que a velocidade destes diminuísse.

O Mestre aconselhou-nos a vigiar, pois através do pensamento nascem todas as nossas más tendências, no nosso interior tudo é formado, a atenção é indispensável se não queremos ser “escravizados” ao ponto das doenças psíquicas ou os problemas.

A Vigia, ou atenção, ou desenvolvimento da consciência, é indispensável a dissipação das nuvens do ser para podermos começar a ter um deslumbre do outro lado.

Não esqueça, se da Vigia perceber uma má tendência, ore para que não se torne em ação.

 

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