terça-feira, 31 de julho de 2018

Alberobello



Por Divaldo Pereira Franco

Na região da Puglia, na Itália, há uma província com essa denominação e se trata de uma encantadora região.

Geográfica e politicamente bem situada entre mares, tem sido, desde priscas eras, disputada por conquistadores de diversas procedências.

A sua é uma história rica de glórias e de sacrifícios, sendo, na atualidade, uma grande produtora de azeite de oliva e outros grãos. O seu solo calcário dá vida a doze milhões de oliveiras, algumas das quais são consideradas as mais antigas do mundo, controladas por satélite.

O que me chamou a atenção nesse lugar encantador foi que, em algum momento no passado, era fundo do mar, e com as naturais mudanças ocorridas no planeta, o seu era um solo coberto de pedra calcária.

No passado, quando foi a região devastada por conquistadores audaciosos, os seus agricultores, pessoas da terra, tiveram o trabalho de arrebentar a crosta de pedra até poderem encontrar solo para plantação e vida.

Esse trabalho hercúleo resultou em maravilhosa província de produção de azeite de oliva para quase todo o país e exportação.

Reflexionando em torno do poder transformador de que o ser humano é capaz, penso que vivemos a hora terrível dos sofrimentos coletivos no planeta terrestre, em que a dor a todos nos convoca a graves preocupações.

Inicia-se o movimento da inevitável transição de mundo de prova para o de regeneração, e as criaturas, adormecidas umas, outras indiferentes, mais outras agitadas pelos tormentos que as seviciam, somente pensam no prazer desgastante, no individualismo ególatra e sorriem-chorando, em tentativa absurda de fugir de si mesmo, buscando uma outra realidade que não existe.

Somos seres imortais a caminho da plenitude. A princípio mergulhados no oceano volumoso da ignorância, pouco a pouco começamos a sair em busca do conhecimento, para encontrarmos a crosta calcária dos desafios e com esforço contínuo encontramos o abençoado solo do amor para a plantação da ventura e da paz.

Tal empreendimento constitui-nos a razão de ser da existência terrestre, para tornar-se digna e alcançar o seu objetivo espiritual.

Enquanto não nos tornarmos conscientes dessa responsabilidade, seremos como a terra infeliz ainda coberta de pedras e de inutilidade.

domingo, 29 de julho de 2018

É Melhor Servir



Por W.A.Cuin

“Se há mais alegria em dar que receber, há mais felicidade em servir que em ser servido”. (Emmanuel, no Livro “Fonte Viva”, item 82 – Psicografia de Francisco C. Xavier).

Faz parte ainda da natureza inferior do homem, na Terra, entender que o mundo deva se curvar aos seus pés. Raramente nos propomos a servir àqueles que caminham conosco, mas com muita frequência exigimos que eles nos sirvam.

Cultivamos, com muito empenho, o desejo de que tudo nos seja facilitado, no entanto não temos a mesma vontade de facilitar o propósito dos outros.

O ensinamento do Cristo: “faze aos outros o que queres para ti mesmo”, ainda é uma informação que não se incorporou em nossas ações, pois que lutamos acirradamente para que façam por nós sem o cuidado de agir em favor do próximo.

E, assim vamos vivendo, fechados em nós mesmos, enclausurados em nosso mundo íntimo, dando vazão ao egoísmo, essa chaga terrível que acarreta tantos sofrimentos e nos amargura a vida, pois não permite que exteriorizemos nossos sentimentos em direção da coletividade, mas retém os nossos pensamentos na órbita apenas de nossos interesses imediatistas e particulares.

Emmanuel afirma que há mais alegria em dar que em receber, no entanto, dentro das condições que ainda ostentamos, se dá o contrário, preferimos receber. Isso nos alegra e temos dificuldades em dar, mesmo que seja algo material.

Ciente disso e de posse dessas informações, cabe a cada um exercitar o desejo de pautar a vida na direção dos outros, para que cada ação nossa seja um benefício ao próximo, pois quando conseguimos implantar o sorriso nos lábios do nosso irmão e encher-lhe o coração de felicidade, em realidade, estamos plantando a nossa própria paz.

E podemos fazer isso todos os dias, sem que para tanto tenhamos que desprender recursos financeiros ou bens materiais.

Um aperto de mão, com sinceridade, é uma mensagem de esperança e um gesto de caridade em qualquer momento.

Uma prece ao irmão em penúria é um recado de alerta ao coração da espiritualidade para o desenvolvimento de recursos em favor dos que sofrem.

Uma palavra de consolo é uma atitude de alento ao aflito do caminho, muitas vezes envergado pelo peso da dor e das decepções.

Um minuto de silêncio para ouvir a queixa de um desesperado pode ser um valioso recurso terapêutico, agindo em socorro da sua aflição.

Uma visita fraterna ao irmão em dificuldades sempre será uma atitude de carinho para aquele que enfrenta os transtornos da vida.

Uma mensagem consoladora endereçada ao companheiro em conflito pode ser o início de uma nova estrada de esperança para os dias do futuro.

Agindo assim, mesmo que por disciplina, estaremos exercitando o sentimento da doação e, por consequência, deixando exteriorizar os nossos sentimentos em direção aos outros, com isso pensando menos em nós, sofrendo menos por nós e vivendo mais para o próximo.

E, perseverando, haveremos de sentir muito mais alegria em dar que em receber, em servir ao irmão que em ser servido, em plantar a felicidade no coração alheio e por consequência enriquecendo o nosso íntimo de sentimentos nobres e sublimes.

É bem melhor servir.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Por quê?


Por Antônio Moris Cury

O artigo intitulado A importância das tarefas e do tempo, publicado no jornal Mundo Espírita, do mês de julho de 2013, terminou assim: Façamos uma experiência. Com singelo planejamento, reservemos parte das vinte e quatro horas de cada dia como tempo de oportunidade, magnífica oportunidade de ler e estudar as obras fundamentais que compõem a veneranda Doutrina Espírita. O resultado será imediato e, no mínimo, seremos melhores e mais felizes desde agora.

É possível que alguém, especialmente alguém que esteja recebendo as primeiras informações sobre o Espiritismo, tenha se perguntado: Por quê? Por que, lendo e estudando as obras fundamentais que compõem a Doutrina Espírita, o resultado será imediato e eu serei melhor e mais feliz desde agora?

É que com a leitura, o estudo e a compreensão do conteúdo das cinco obras basilares [dentre elas, sobretudo, O Livro dos Espíritos, a obra fundamental por todos os títulos], seguramente seremos pessoas melhores, mais confiantes, mais otimistas, mais tolerantes, mais afetuosas, com melhor e maior discernimento e ampliada lucidez, mais agradáveis, com mais amor na mente e no coração e, portanto, mais felizes desde logo, desde agora, aqui mesmo neste planeta. Por quê?

Simplesmente porque passaremos a entender, com clareza solar, qual o nosso papel neste contexto: de onde viemos, o que estamos fazendo aqui na Terra e para onde iremos. Estas perguntas podem parecer sem grande significado, diante de sua constante repetição no meio espírita. Entretanto, quando refletidas, detalhadamente decompostas e submetidas à cuidadosa análise, seu resultado conduzirá a raciocínios da maior importância para o nosso dia a dia, para nossas vidas.

Passaremos a compreender, por exemplo, que a nossa existência teve início antes do berço; que a presente reencarnação, como sempre acontece, foi precedida de planejamento, com a preservação do livre-arbítrio, cujo uso pode mantê-lo ou alterá-lo, tornando-nos assim responsáveis pelas decisões que tomemos e, naturalmente, responsáveis por suas consequências. Conforme o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, livre-arbítrio é a liberdade para tomar decisões de acordo com seu próprio discernimento (Companhia Editora Nacional, 2ª edição, 2008, página 792).

Passaremos a compreender que a reencarnação é a chave que explica, de modo convincente, as diferenças existentes entre as pessoas, em qualquer nível ou grau e, sob variados pontos de vista (científico, filosófico, religioso), além de extirpar qualquer resquício de dúvida sobre a aparente injustiça reinante na Terra.

A reencarnação, quando bem estudada e compreendida, em verdade revela que impera a justeza, que não há favorecimentos, que não há parcialidade, que não há erro de qualquer natureza, que não há vítimas no contexto em que vivemos. Trata-se de magnífica bênção, de excelente oportunidade para corrigir, e preferencialmente reparar, nossos erros, males e equívocos do passado recente ou remoto. É uma nova e extraordinária oportunidade de avançar rumo a Deus, que a nenhum de Seus filhos desampara.

Por igual, passaremos a compreender que estamos aqui para aprender, muito aprender, a começar pelo aprendizado da fraternidade, uma vez que, do ponto de vista da vida verdadeira e permanente, que é a Vida Espiritual, todos somos irmãos por sermos filhos de Deus, nosso Pai Celestial, que nos criou simples e ignorantes (no sentido de desconhecimento), com as mesmíssimas oportunidades de crescimento, de progresso, intelectual e moral, por partirmos todos do mesmo ponto inicial, sem exceção.

Neste ponto, é muito importante mencionar que o conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual (questão 919 de O Livro dos Espíritos, a obra fundamental da veneranda e abençoada Doutrina Espírita). Também vale lembrar o que afirmou o filósofo e poeta árabe Kalil Gibran: É no desejo de um homem que reside o poder de transformar névoa interior em sol.

Por fim, em brevíssimo resumo, passaremos a compreender também que, nada obstante seja nosso planeta de categoria inferior no Universo por superar, apenas, os chamados mundos primitivos, nos cabe, exatamente por isso, contribuir para a melhoria da Terra, para o seu avanço entre os demais mundos habitados [Deus não nos entregou o orbe terrestre pronto e acabado], o que se pode dar através do nosso comportamento digno e ético, com a nossa postura e compostura, com a nossa vontade firme e decidida [a propósito: A vontade é sagrado atributo do Espírito, dádiva de Deus a nós outros, para que decidamos, por nós, quanto à direção do próprio destino – O Espírito de Verdade, 8ª ed. FEB, 1992, página 139, mensagem ditada pelo Espírito André Luiz a Francisco Cândido Xavier], com disciplina e determinação, com a busca permanente de nosso aperfeiçoamento pessoal, com a nossa opção pelo Bem, sempre, em qualquer circunstância e em qualquer situação.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Transição Planetária e Decadência



Por Morel Felipe Wilkon

Muito se fala e se questiona sobre a Transição Planetária e o período de decadência que estamos vivendo. A Terra vai deixar de ser um planeta de provas e expiações para ser um planeta de regeneração. Quando? Agora, já. Já começou. É transição, não revolução. É um período de rápida mudança nos costumes, nos conceitos, no modo de pensar.

O que vai mudar? O planeta? Acho que não. Nunca acreditei em grandes mudanças climáticas provocadas pelo homem. O planeta sempre sofreu alterações, de tempos em tempos. A transição não se refere ao planeta, mas aos habitantes do planeta. Nós. Nós é que estamos nos transformando. Nós é que vivemos esse período de transição.

Somos seres individuais. Formamos uma coletividade, somos bilhões de espíritos na Terra, encarnados e desencarnados. Mas somos individuais, cada um de nós é um universo. A transição se dá em cada um. A transição não atinge a todos ao mesmo tempo. Isso seria uma revolução. Dormiríamos em provas e expiações e acordaríamos em regeneração.

Muitos de nós estamos em plena regeneração. A Terra não deixará de ser um planeta propício para provas. Continuaremos sendo submetidos a provas. Mas para quem está se regenerando não faz mais sentido pensar que está expiando alguma falta. Estamos nos formando novamente, nos gerando novamente, nascendo de novo. As faltas cometidas no passado são nosso material de trabalho, construiremos nova vida sobre elas.

Eu me considero em regeneração. Acho que você também pode se considerar. Todos que estabeleceram para si o firme propósito de reformar-se, de melhorar internamente, estão em pleno processo de regeneração. Se você esperava por algo diferente disso, conforme-se. Abra os olhos. Veja o mundo à sua volta. Perceba o que está ocorrendo. O mundo se transforma.

De um lado, há cada vez mais pessoas dispostas a ajudar o próximo, comprometidas com a sua reforma íntima, desenvolvendo atitudes éticas e exemplificando com o amor.

De outro lado, a quebra de paradigmas, o fim dos papéis delimitados na família, a crise na sociedade, o desrespeito nas escolas, na televisão, nos lares. Violência, falta de cultura, ausência de valores, sexo precoce, decadência.

Esse é o mundo em que vivemos, neste início de milênio. As condições do planeta e as pessoas que dividem o planeta conosco são exatamente o que precisamos para aprender, são as condições ideais, em nosso estágio evolutivo, para a construção do nosso progresso.

Para muitos o quadro que se apresenta é assustador. Os valores tradicionais são cada vez mais questionados. Há uma franca decadência nos costumes. Não há mais limites a serem transpostos. Tudo pode, tudo é experimentado. Vejo adolescentes enfastiados, com olhar cansado, entediados da vida. Já experimentaram mais do que seus avós durante toda a sua vida.

Acredito que esse cansaço precoce, esse desgosto pela vida, é mais um sintoma da transição. Vive-se hoje, em alguns anos, experiências que se levava muitas reencarnações para se experimentar. Sendo assim, dá tempo para o desgosto, o tédio, a depressão, a busca pela cura, a regeneração e a grande correção de rumo, tudo numa só reencarnação.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ética ou Religião: qual você prefere?



Por Ricardo Orestes Forni

“Através da religião, o homem aprofunda reflexões e mergulha no seu inconsciente, fazendo que ressumem angústias e incertezas, animosidades e tormentos que podem ser enfrentados à luz da proposta da fé, e que são lentamente diluídos, portanto, eliminados, a serviço do bem-estar pessoal, que se instala lentamente, tornando-o cada vez mais livre e, portanto, mais feliz.” – Joanna de Ângelis.

A edição de julho de 2015 da revista Seleções READER´S DIGEST, páginas 72 a 79, traz uma reportagem com dalai-lama Tenzin Gyatso, de 80 anos de idade, sendo o 14º dalai-lama. Nascido no dia 6 de julho de 1935 no Tibete, foi reconhecido aos dois anos de idade como sendo a reencarnação do 13º dalai-lama. Entre as suas declarações, vamos destacar a seguinte: É claro que o conhecimento e a prática da religião são úteis, mas hoje já não bastam, como mostram, com clareza cada vez maior, exemplos no mundo inteiro. Isso é verdade em todas as religiões, inclusive no cristianismo e no budismo. Guerras foram travadas em nome da religião, “guerras santas”. Muitas vezes as religiões foram e ainda são intolerantes.

Por isso digo que, no século 21, precisamos de uma nova ética que transcenda todas as religiões. Muito mais importante do que a religião é nossa espiritualidade humana elementar. Ela é uma predisposição para o amor, a bondade e o afeto que todos temos dentro de nós, seja qual for a nossa religião. Pode-se viver sem religião, mas não se pode viver sem valores íntimos, sem ética.

Uma pergunta que o cristão raramente se faz é sobre qual a religião que Jesus professava quando encarnou entre nós para a execução da maior tarefa de amor de que se tem notícia sobre a face da Terra. Ele se colocava dizendo que estava a serviço de Deus sem mencionar religião alguma. “Eu e o Pai somos um”, o que levou a imaginação e interesses humanos a confundi-Lo com o próprio Deus, tendo sido decretado por homens falíveis a divindade Dele.

Em seguida, uma outra pergunta que deve se seguir a essa: qual a religião que Ele nos deixou? Deu alguma denominação, ou “cristianismo” foi uma criação do homem? Podemos afirmar com toda a certeza, porém, que nos legou um código de ética jamais visto com tal clareza até então, principalmente se tomarmos como referência o Sermão da Montanha.

Portanto, o dalai-lama está correto. Com ética no sentido de valores morais, o Espírito, dependendo da sua evolução, já reencarna. A religião, via de regra, é uma opção que vem a posteriori. Influência dos pais; livre escolha da própria pessoa; conveniências da situação em que o indivíduo está vivendo; influência de amigos; de paixões etc.

Através da religião a ética se manifesta. Ou será que não, mas sim através da religiosidade que são coisas absolutamente diferentes? Fico com essa última colocação devido ao ensinamento de Joanna de Ângelis quando ela nos diz: A religiosidade é uma conquista que ultrapassa a adoção de uma religião; uma realização interior lúcida, que independe do formalismo, mas que apenas se consegue através da coragem de o homem emergir da rotina e encontrar a própria felicidade. E encontra essa felicidade porque a consciência pacificada pelo dever cumprido pode ser alcançada sem religião nenhuma, apenas pelos valores éticos que cada um traz dentro de si, incorporados que foram por conquistas milenares ao longo do caminho evolutivo.

Quantos não ostentam uma religião e são a razão do sofrimento dos seus semelhantes? Que “batem no peito” e torturam animais e destroem a natureza através da poluição da atmosfera, de rios, de oceanos, de florestas que são dizimadas em busca da corrida tresloucada pelo dinheiro do mundo que permanecerá no mundo, sem que um único mísero centavo adentre o caixão onde o corpo sem vida repousa em direção ao aniquilamento total! Quantos não se apresentam como participantes de alguma religião e se transformam em instrumentos da corrupção ou se sujeitam a ela desesperados pelo lucro imediato com que os homens lhes acenam, amordaçando a própria consciência como se pudessem sufocá-la para sempre? Como se a morte nunca fosse convocá-los para o local da Justiça perfeita e incorrupta, onde mergulharão no inferno interior pela ausência dos valores éticos que resolveram ignorar ou nunca tenham tido interesse em adquiri-los, na tentativa vã de subornar a própria consciência?

Acertadamente afirma o dalai-lama que pode-se viver sem religião, mas não se pode viver sem valores íntimos, sem ética.

Antes de se tornar o Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec era possuidor da ética suficiente que o fez escolhido para a missão de trazer aos homens uma filosofia de implicação moral que nos permite adquirir os valores éticos necessários a todos aqueles que se pronunciam como espíritas cristãos. Resta apenas a cada um indagar da própria consciência se temos aproveitado tal oportunidade.

sábado, 21 de julho de 2018

Do Átomo ao Arcanjo – Uma Visão Quântico Espírita


Por Oduvaldo Mansani de Mello

Na metade do século XIX, através da codificação da Doutrina Espírita por Allan Kardec (1804-1869), os Espíritos adicionaram ao conhecimento humano a existência do mundo espiritual e as suas relações com o mundo material, ou seja, do mundo invisível com o mundo visível, do mundo não local(1) com o mundo local, do microcosmo com o macrocosmo.

Nesse mesmo momento, passaram também a informação de que do átomo primitivo até o arcanjo (Espírito Puro), que também começou por ser átomo, tudo se encaixa na natureza(2), mas, mesmo depois de passados mais de cento e cinquenta anos, isso ainda se mostra como um grande desafio hermenêutico(3).

No que se refere ao Espírito, no início do século XX, Léon Denis (1846-1927), escreveu em seu livro O problema do Ser, do Destino e da Dor (pt. 1, cap. IX):

Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente.

Nesse mesmo sentido, Emmanuel, pelo médium Francisco Cândido Xavier, no livro O Consolador (q. 79), assim se expressou:

A escala do progresso é sublime e infinita… O mineral é atração. O vegetal é sensação. O animal é instinto. O homem é razão.

Dessa forma, numa sequência lógica e harmônica, percebe-se a evolução do Princípio Inteligente(4) em uma série de existências anteriores ao período que chamamos de Humanidade(5), que vai desde as plantas até os animais para, num passo seguinte, chegar à condição de Espírito, o Ser Inteligente do Universo(6), portador das condições básicas para encarnar como homem ou mulher, agora dotado de livre-arbítrio, o que o diferencia dos animais, construindo, sob sua responsabilidade direta, a sua evolução intelectual e moral, fato que inexoravelmente o levará à condição de Espírito Puro.(7)

A Doutrina Espírita nos ensina que no Universo existe Deus, Espírito, Matéria e o Fluido Cósmico Universal que, mesmo sendo o princípio elementar de todas as coisas, não é a fonte da vida ou da inteligência. Ele apenas anima o que chamamos de matéria, como um dos seus estágios transitórios.

Tendo-se presente que cada Espírito começou por ser átomo, isso nos leva à necessidade de procurarmos compreender com mais precisão o que é o átomo, cuja primazia conceitual deve-se a Leucipo (séc. V a. C.), Demócrito (460-370 a. C.) e Epicuro (341-270 a. C.)

Assim, pode-se dizer que cada átomo, que também não possui inteligência, é um sistema geralmente estável energeticamente, formado por um núcleo positivo que contém nêutrons, sem carga elétrica definida; prótons, com carga elétrica positiva; e elétrons, com carga elétrica negativa, com estes últimos orbitando o núcleo atômico em uma velocidade de 960 km/s(8).

Cientificamente sabe-se hoje que o hidrogênio é o átomo base do Universo, o qual, seguido dos átomos de hélio e lítio, são os três primeiros na sua moldagem química, ou seja, o Universo também começou por um átomo.

Sequencialmente, há que se considerar, também, que depois de Einstein e da Física Quântica(9) (ou Física Multidimensional) tudo é energia, deduzindo-se assim a inexistência da matéria(10), que nada mais é do que energia de baixa frequência, pois, segundo aquele grande cientista, estivemos completamente equivocados ao que chamamos de matéria; é energia, cuja vibração foi reduzida até se tornar perceptível para os nossos sentidos.

Como cada criatura humana é composta pelo conjunto Espírito, Perispírito e o Corpo Físico, cada um deles em uma frequência energética diferenciada, sendo este último composto por ao redor de 70 trilhões de células, que correspondem a aproximadamente sete octilhões de átomos(11), isso o torna um ser multidimensional, pois, conforme afirma Joanna de Ângelis, todas as criaturas são seres multidimensionais(12), com um poder de ação energética que se estende além dos limites da sua esfera corporal, diríamos fora do espaço-tempo, conforme também percebido por Allan Kardec.

Nesse contexto, quando cada um de nós nos aceitarmos como um Espírito, o ser inteligente do Universo, coadjuvante dos Espíritos Puros em manter o Universo em ordem, Universo esse cuja origem foi um átomo primordial, uma fonte atômica comum à nossa: o Fluido Cósmico Universal, o hálito divino, o qual, num futuro não muito distante terá a sua própria lei(13), quando compreenderemos que a face visível desse Fluido é o átomo, a confirmação da presença de Deus em todas as coisas.

Finalmente, à medida que aprofundarmos as nossas pesquisas científicas, com o auxílio da Física Quântica (Multidimensional), em direção ao núcleo atômico e à distância de Planck (10-33)14, provavelmente confirmaremos a presença de Deus em todos os lugares do macrocosmo, embora somente O iremos compreender, e a nós mesmos como Espíritos, no microcosmo, magistralmente representado pelo núcleo atômico, onde fomos todos criados simples e ignorantes para nos encaixarmos na natureza como Espíritos Imortais que somos.

1 Acima da velocidade da luz: 300.000 km/s
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. questão 540.
3 Hermenêutica: ciência, técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos. D. Houaiss.
4 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. questão 23.
5 Op. cit. questões 606, 607 e 607-a.
6 Op. cit. questão 76.
7 Op. cit. questões 112, 113 e 170.
8 CAPRA, Fritjof. O tao da física. Tradução de José Fernandes Dias. São Paulo: Cultrix, 1983. p. 59.
9 Física Quântica: teoria desenvolvida para descrever o domínio dos átomos e das partículas subatômicas ou elementares.
10 Segundo Einstein, O materialismo vai acabar por falta de matéria.
11 O veículo carnal agora não é mais que um turbilhão eletrônico, regido pela consciência. Cada corpo tangível é um feixe de energia concentrada. Emmanuel, Nos Domínios da Mediunidade, Raios, ondas, médiuns, mentes.
12 FRANCO, Divaldo Pereira. Vida: desafios e soluções. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 6. ed. Salvador: LEAL, 2001. cap. 7.
13 A Lei do Fluido Cósmico Universal, relatada em palestra de Divaldo Pereira Franco, em 4.5.2008, na cidade de Salvador (BA).
14 Tamanho abaixo do qual as equações de Teoria da Relatividade Geral e as da Mecânica Quântica deixam de ter conflito e a noção convencional de espaço se dissolve.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Infertilidade e Fertilização Assistida (Uma Visão Espírita)


Por Edson G. Tristão

Em 25 de julho de 1978, nascia em Bristol, na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo. O método, idealizado pelo pesquisador britânico Robert Geoffrey Edwards, consiste em fertilizar o óvulo pelo espermatozoide em laboratório, e depois introduzi-lo no útero, para que o embrião se desenvolva. A técnica passou a se chamar FIV (Fertilização In Vitro).

Esse fato assombrou a Humanidade e, ao mesmo tempo, trouxe esperança para milhares de casais que não podiam procriar, e não são poucos. A Organização Mundial da Saúde relata que de cada cem casais, vinte têm dificuldades para ter filhos.

A Sociedade Europeia de Reprodução Humana e de Embriologia (ESHRE) calcula que já existam, nos dias de hoje, mais de cinco milhões de pessoas que nasceram por essa técnica. Informa também que devem nascer, anualmente, mais de trezentas e cinquenta mil crianças, concebidas pelas diversas técnicas de fertilização assistida.

Enquanto os casais inférteis regozijavam com a possibilidade da procriação, elevaram-se vozes no mundo inteiro chamando atenção quanto às consequências que esses métodos poderiam trazer. A fabricação de embriões não iria favorecer o comércio ilegal desse novo produto? Essa era apenas a primeira de muitas dúvidas que viriam, à medida em que as técnicas fossem se multiplicando. Os questionamentos éticos, culturais, biológicos, psicológicos e religiosos apareceram de todos os lados, chegando inclusive na área jurídica. A multiplicação das técnicas de fertilização assistida teve vários desdobramentos e hoje, em muitos países, é utilizada a doação de material genético, criopreservação de embriões, diagnóstico genético antes da implantação, doação temporária de útero, além das pesquisas em embriões. A norma ética para ser cumprida em todas essas atividades é respeitar a autonomia e o direito reprodutivo dos casais (beneficência), não desrespeitar o embrião, e preocupar-se com os interesses da criança (não-maleficência).

Todos esses mecanismos reprodutivos passam por um questionamento básico: em que momento começa a vida? Karl Ernst Van Baer, biólogo, geólogo, médico e o fundador da embriologia, que viveu na Estônia (Império Russo) entre 1792-1876, afirmava: A vida começa com a fecundação.

O Dr. Keith L. Moore(1), autor de renomados compêndios de embriologia, usados na maioria das universidades ensina: O ovo ou zigoto é uma célula resultante da fertilização de um ovócito por um espermatozoide, e é o início de um ser humano.

A Dra. Magdalena Zernicka-Goetz(2), do departamento de neurociências da universidade de Cambridge, publicou na revista Biology, uma das mais conceituadas do mundo, uma Revisão Molecular Celular, concluindo que A vida é um continuum!!! A primeira divisão do zigoto não se dá por acaso mas já define o nosso destino e todas as características que vamos desenvolver. Esta afirmação é importante para a comunidade espírita, pois já nos faz entender a presença do períspirito coordenando esta divisão e multiplicação celular. A matéria não poderia se diferenciar em células especializadas, partindo de uma única célula primitiva, para constituir os vários tecidos e órgãos do corpo físico caso não tivesse uma matriz. Ela é que exerce essa função e foi chamada por Kardec de períspirito. Esse termo tem registrado seu primeiro uso em O Livro dos Espíritos(3):

O laço ou perispírito que une o corpo e o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, mas que pode se tornar acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede nas aparições.

Qual seria o entendimento do Espiritismo para definir em que momento começa a vida?

Na questão 344, de O Livro dos Espíritos, a resposta é bastante clara: A união começa na concepção (…) Desde o momento da concepção, o Espírito designado para habitar tal corpo a ele se liga por um laço fluídico que vai se apertando cada vez mais, até que a criança nasça.(…)

Estão aí, doutrina espírita e ciência, lado a lado, com a mesma concepção do início da vida humana. Qualquer afirmação, fora desse contexto, deve ser entendida como especulação ou opinião pessoal.

Nesse caso, o embrião passa a ter os mesmos direitos que uma pessoa. É merecedor de todo respeito e deve ser protegido contra qualquer agressão à sua saúde. Uma das maiores dúvidas a respeito da Fertilização In Vitro é a questão do embrião ser produzido em laboratório, podendo ser transferidos para outra pessoa que não a mãe, os cuidados com ele. Ficaria vulnerável, podendo ser descartado, congelado ou utilizado em pesquisas.

Outro dilema é referente ao congelamento dos embriões. Aproximadamente um terço das pacientes produz excesso deles, que acabarão congelados. Isso é feito para possibilitar seleções e transferências no caso de novas gestações. Este ato vai de encontro à dignidade do embrião, pois muitos acabam não sobrevivendo ao processo de congelamento e descongelamento. Eles podem ficar congelados por muitos anos. Há relatos de nascimentos após dez anos de congelamento. A dúvida que muitos têm: Existem espíritos nos embriões congelados?

O períspirito funciona como um modelo organizador biológico e ele deverá estar presente no embrião, para coordenar a diferenciação celular. Caso contrário, a matéria se tornaria um amontoado, sem forma. A situação de cada um, no entanto, pode variar, de acordo com a necessidade ou a evolução.

Para Eurípedes Kuhl(4), poderia haver várias possibilidades: a) Espírito voluntário que se ofereceu para o progresso da ciência; b) Semimorto. Padecem de sono pesado, como descrito no livro Nosso Lar(5); c) Ovoide. Espírito que passou pela segunda morte como relatado no livro Libertação(6); d) em alguns casos, pelo maior desenvolvimento espiritual, o Espírito que está renascendo pode ter graus maiores de liberdade. Dessa forma, ele pode realizar atividades no plano espiritual, enquanto seu corpo estiver congelado. Existe ainda a possibilidade de crianças natimortas, às quais não foram destinadas a encarnação de um Espírito (questão 356 de O livro dos Espíritos). Conclui-se, portanto, que os embriões congelados estão ligados a um Espírito, que pode estar sofrendo pelo uso indevido do seu corpo.

As crianças nascidas por fertilização assistida teriam o mesmo comportamento psicológico daquelas que não nascessem por essa técnica? Existem alguns trabalhos na literatura, dentre eles um realizado na França(7) com 422 crianças nascidas por FIV e a idade variando entre 6 a 13 anos. Observou-se rendimento escolar acima da média; 2,2% eram superdotados. Outro foi realizado na China(8). Foram avaliados 250 jovens nascidos de embriões congelados, e eles apresentaram mais sociabilidade, maior independência e melhores condições de comunicação. A provável explicação para esses fatos seria o maior grau de atenção e carinho que essas crianças receberam dos pais, além do bom nível socioeconômico desses genitores.

A fertilização assistida também veio contribuir para que os casais homossexuais, através da gestação de substituição (barrigas de aluguel) possam ter seus próprios filhos. Muitas vezes as discussões sobre esses novos modelos familiares geram dúvidas. Não é possível encontrarmos respostas para todas elas. Nesses casos, deve-se lembrar que o amor supera qualquer tipo de reação ou incompreensão.

Em todas essas situações de gravidez, pela via natural ou fertilização assistida, está envolvido ainda o fator psicológico. Ele se transforma em tensão e evolui para depressão quando as coisas não caminham como era esperado. O casal pode enfrentar esse tipo de situação, prestando, por exemplo, trabalhos voluntários em hospitais infantis, creches, orfanatos, evangelização, apadrinhamento de crianças carentes. Atividades como essas favorecem o desbloqueio de centros genésicos, muitas vezes alterados por condutas anteriores desequilibradas, contribuindo para a gravidez.

E quando os filhos não vêm? A convivência sem eles vai testar mais profundamente a maturidade espiritual e psicológica do casal. A decisão também de enfrentar as várias possibilidades da fertilização assistida pode ir de encontro às crenças de cada um, à cultura familiar e meio social.

A família não é somente aqueles que têm laços de sangue. Algumas vezes, o reencontro entre os que estão na Terra e os familiares do plano espiritual pode ocorrer por vias indiretas. O orgulho e egoísmo, ainda presentes em nossos corações, dificultam identificar a situação que pode estar à nossa frente. A adoção sempre poderá ser uma possibilidade, desde que o casal esteja preparado para esse desafio.

É necessário que cada um possa fazer a si próprio uma pergunta: Qual a função dos filhos? Qual o significado da família?

Os filhos são Espíritos, sintonizados conosco nesta ou em outra existência e que agora se aproximam para convivência, de várias formas, a fim de aprimorar seus conhecimentos, emoções e sentimentos. Com toda certeza essa responsabilidade nos será cobrada um dia.

Como ficará o futuro? É possível que se possa nascer através do útero artificial. Ranieri relata uma afirmação do saudoso Chico Xavier: A ciência vai desenvolver o ser humano no laboratório. Os cientistas vão fabricar um enorme útero e dentro dele vão gerar o ser. Pode demorar 200 a 400 anos, mas isso vai acontecer. Libertarão finalmente a mulher do parto.

A doutrina espírita é a favor das novas descobertas. Cobra, no entanto, a ética com os embriões, defende suas vidas e condena o aborto. Esclarece os cientistas sobre a imortalidade, renascimento e o início da vida humana. É a religião e a ciência caminhando juntos.

Referências:

1. MOORE, Keith L. Embriologia Clínica. Elsevier Brasil, 8ª. ed., 2008.
2. ZERNICKA-GOETZ, M. Nature, Review Molecular Cell. Biology, v. 6 (12), 919-928, 2005.
3. Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2012. Introdução, item VI.
4. Khul, Eurípedes. Genética além da Biologia. Belo Horizonte: Fonte Viva, 2003.
5. Xavier, Francisco Cândido. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. Brasília: FEB, 2009. cap. 27.
6. ______Libertação. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 1971. cap. 6.
7. Folha de São Paulo, 10/02/1996.
8. Lan Feng Xing. Universidade de Ahejiang, 2014.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Transformação Diária


Por Rodrigo Fontana França

A vida na Terra é permeada por uma série de situações de grandes desafios para todos nós – tanto individualmente quanto coletivamente – sendo certo que o aprendizado que fazemos em cada um desses momentos é o que nos permite seguir uma jornada mais amena e harmoniosa. Em virtude da grande complexidade das relações sociais, no mais das vezes não conseguimos planejar com precisão o exato resultado de uma determinada situação, posto que existe um sem número de fatores envolvidos que extrapolam o nosso controle. Ainda assim, se formos capazes de realizar uma boa leitura de mundo e nos empenharmos em relação àquilo que está ao nosso alcance, certamente obteremos resultados bastante satisfatórios.

A Doutrina dos Espíritos nos fornece as ferramentas necessárias – os instrumentos e as instruções – para que possamos realizar essa análise crítica e ampliada de nosso dia-a-dia, buscando compreender as causas e, quiçá, as consequências de cada parcela dessa caminhada. Na medida em que vamos fazendo esse alcance, deixamos para trás a angústia e a revolta, que andam juntos com a ignorância, e nos assumimos como os sumos artífices de nossa existência, não havendo mais motivos para terceirização de culpa ou sentimento de injustiça.

Quando passamos a nos aprofundar nas dinâmicas da reencarnação, gradativamente vamos alcançando a magnânima sublimidade e a inefável justiça existente nos mecanismos Divinos, que nos permitem um ascender permanente e absolutamente meritório, ao mesmo passo que possibilitará sempre uma segunda chance para as necessárias correções de rota.

Aos poucos vamos percebendo que a reencarnação não serve – como alguns pensam – para justificar o presente com fantasias e ilações lineares sobre o passado, mas sim como parte desse complexo mecanismo de construção diuturna do nosso próprio ser.

Para que possamos tirar bom proveito dessa oportunidade que a vida nos dá de recomeçarmos e nos modificarmos a cada novo dia, é da mais extrema relevância que nos habituemos a realizar constantes e reiteradas avaliações de nós mesmos, de nossas atitudes, objetivos e do caminho que estamos trilhando. É importante atentarmos a cada detalhe e analisarmos cada reação nossa, posto que do contrário poderemos desencadear situações cada vez mais difíceis de serem solucionadas.

O profundo ensinamento moral trazido por Jesus – se bem compreendido e contextualizado – deverá servir sempre para nortear nossas decisões e atitudes. Passados mais de dois milênios de sua breve e intensa passagem pela Terra, sua mensagem já foi muito deturpada e, infelizmente, muito pouco aplicada, e sua vivência deve continuar seguindo como um objetivo cada vez menos distante a ser alcançado.

É preciso nos convencermos de que a mudança é uma constante em nossas vidas – e que ela se dá ritmo cada vez mais acelerado – só permanecendo aquilo que é perene, aquilo que somos, o conjunto de valores morais que fomos capazes de internalizar. Todo o resto – especialmente aquilo que é matéria – é efêmero e em um átimo se esvai.

Ao nos darmos conta dessa permanência da mudança e de que há uma parcela de nossas vidas que é perene posto que trata justamente desses valores de ordem espiritual, é natural que procuremos nos fortalecer e melhor compreender essa seara. Com isso, certamente conseguiremos alcançar uma maior satisfação em todos os outros campos da vida, posto que pensaremos e agiremos imbuídos por um propósito maior.

domingo, 15 de julho de 2018

Solidão ou “Quietude Íntima”


Por Francisco do Espírito Santo Neto

Segundo Pascal, o grande pensador científico-filosófico do século XVII, “a verdadeira natureza do homem, seu verdadeiro bem, sua verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo conhecimento é inseparável.”

Nem sempre a solidão pode ser encarada como dor ou insânia. É, em muitas ocasiões, períodos de preparação, tempos de crescimento, convites da vida ao amadurecimento.

De acordo com o pensamento de Pascal, o âmago do ser está intimamente ligado ao bem, à virtude e à religião. É justamente nas “épocas de solidão” que conseguimos a motivação necessária para estabelecer a verdade sobre esse fato.

Na solidão é que encontramos sanidade para nosso mundo interior, respostas seguras para nossos caminhos incertos e nutrição vitalizante para os labores que enfrentamos em nossa viagem terrena.

Nestes nossos apontamentos sobre a solidão, não estamos nos referindo à “tristeza de estar só”, mas sim, necessariamente, à “quietude íntima”, tão importante e saudável para que façamos um trabalho de autoconsciência, valorizando as nuances de nossa vida interior.

Muitos indivíduos vivem dentro de um ciclo diário estafante. Realizam suas atividades num ambiente de competitividade, agitação, pressa e rivalidade, vivendo em constante tensão psicológica e, por consequência, alterando suas funções fisiológicas. Por viverem num estado de cansaço e desgaste contínuos, não conseguem fazer uma real interação entre o meio ambiente e seu mundo interno, o que ocasiona sérios problemas de convivência e inúmeros conflitos pessoais.

Nem sempre é possível abandonarmos a vida alvoroçada, os ruídos e as músicas estridentes, talvez seja até mesmo inviável; mas é perfeitamente realizável dedicarmos algum tempo à solidão, retirando-nos para momentos de reflexão.

Nos instantes de silêncio, exercitamos o aprendizado que nos levará a abrir um canal receptivo à Consciência Divina. É nesse momento que ficamos cientes de que realmente não estamos sozinhos e que podemos entrar em contato com a voz da consciência. A voz de Deus, por assim dizer, começará a “falar em nós”.

Inúmeras criaturas criam uma mente agitada por temerem que estão vazias, pensam não haver nada dentro delas que lhes dê proteção, apoio e segurança. Acreditam que são uma casca, que precisa exclusivamente de sustentação exterior; por isso, continuam ocupando a casa mental ansiosamente, obstruindo seu acesso à luz espiritual.

A mente pode ser uma ajuda efetiva, ou mesmo um obstáculo ferrenho na escolha da melhor direção para atingirmos o amadurecimento íntimo. A crença em nossa limitação é que faz com que restrinjamos nossa mente. Isso se agrava quando envolvemo-la no burburinho de vozes, no tumulto e na agitação do cotidiano, passando assim a não avaliarmos corretamente seu verdadeiro potencial.

São muitos os caminhos de Deus, e a solidão pode ser um deles. “E saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram”. (Lucas, 22:39)

Jesus Cristo, constantemente, se retirava para a intimidade que o silêncio proporciona, pois entendia que a elevação de alma somente é possível na “privacidade da solidão”.

O Cristo Amoroso sabia que, quando houvesse silêncio no coração e no intelecto, se estabeleceriam as bases seguras da relação entre a criatura e o Criador, proporcionando a percepção de que somos unos com a Vida e unos com todos os seres.

“… buscam no retiro a tranquilidade que certos trabalhos reclamam. (…) Isso não é retraimento absoluto de egoísta. Esses não se insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham”. (Questão 771 de “O Livro dos Espíritos”)

A Espiritualidade Maior entende que, nos retiros de tranquilidade, criamos uma sustentação interior, que nos permite sintonizar com as leis divinas e com os valores reais da consciência cristã.

Ouçamos com os ouvidos internos, pois ninguém pode assimilar bem uma experiência que não provenha de sua própria orientação interior.

Ninguém é capaz de seguir sua verdadeira estrada existencial, se não refletir sobre sua essência. Não encontraremos o caminho de que verdadeiramente necessitamos, se nós mesmos não o buscarmos, usando nossos inerentes recursos da alma para perceber as inarticuladas orientações divinas em nós. Somente cada um pode interpretar as razões da Vida em si mesmo.

Adotemos o aprendizado com o Senhor Jesus, exemplificado no Horto das Oliveiras: retiremo-nos para um lugar à parte e cultivemos os interesses de nossa alma.

Se não encontrarmos um recanto externo que facilite a meditação, nem alguma paisagem mais afastada junto à Natureza, onde possamos repousar da inquietação da multidão, mesmo assim poderemos penetrar o nosso santuário íntimo.

Sigamos o Mestre, recolhendo-nos na solidão e no silêncio do templo da alma, onde exclusivamente encontraremos as reais concepções do amor e da justiça, da felicidade e da paz, de que todos temos direito por Paternidade Divina.

Hammed (Espírito), do livro “As Dores da Alma”

sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Divulgação Espírita e a Tecnologia


Por André Luiz Rodrigues dos Santos

Falar de tecnologias nos tempos atuais é algo tão comum que já nem desperta mais a atenção do público, salvo entre aqueles que estão inseridos no segmento ou pelos que apreciam os apetrechos modernos para desfrutar da alta velocidade de processamento de dados ou de conexão e/ou maior qualidade de áudio e vídeo. Porém, antes de analisar o interesse dos usuários por estes aspectos, devemos avaliar a forma com que se tem aproveitado estes recursos pelos prestadores de serviços mundo afora.

Muitos são os artigos e estudos publicados tratando dos efeitos nocivos que o acesso fácil ao mundo virtual tem provocado nos usuários – de todas as idades – e sua interferência nas relações e nos valores morais que regram o comportamento interpessoal.

O que desejamos abordar, partindo desta introdução, a título de reflexão, é o uso da tecnologia na divulgação espírita, em especial através da Internet.

Em recente contato com o Espírito Cairbar Schutel – o Bandeirante do Espiritismo (1868–1938), patrono da Equipe Espiritismo.net –, em reunião mediúnica direcionada aos trabalhadores da equipe durante o encontro realizado no Rio de Janeiro, no mês de junho, através da psicofonia do médium Joaquim Couto, no Centro Espírita Léon Denis, abordamos o uso dos novos recursos de comunicação para disseminar os ideais espíritas, não apenas na quantidade de informações ou o alcance a que chegam, mas na eficiência com que são aproveitados. Disse-nos o emérito orientador que os tempos em que as reuniões públicas realizavam-se restritas às paredes das instituições espíritas já se foram, pois é possível atingir uma área muito maior, como ele mesmo já o fazia através das ondas radiofônicas irradiadas do interior paulista, isso com ações bastantes simples, equipando e capacitando trabalhadores para viabilizar conexões com o ambiente virtual.

Fazendo um pequeno desvio do tema central, existe um (pré) conceito a respeito da rede mundial de computadores que estabelece as seguintes funções para ela: relacionamento, entretenimento, pesquisa e comércio. A princípio, são necessidades básicas de qualquer indivíduo, que poderiam ser supridas pela simples lei da oferta e procura. Entretanto, antes de ser um usuário, com um endereço de e-mail, um apelido e senha, há uma pessoa que busca um sentido para sua existência ou respostas para seus conflitos. Pode parecer meio óbvio, ou até um tanto piegas mencionar “sentido” e “conflitos existenciais” para relacionar o homem e suas dores, mas o que seria encontrado se sondarmos os corações humanos?

O Espiritismo nos chega como um consolador, o Consolador Prometido, para atender às aflições do mundo. A grande questão que surge, então, são os métodos com que esse Consolador chega às pessoas. Dentro dos padrões tradicionais, se alguém desejar ajuda ou aprendizado, ele deve comparecer, preferencialmente, à instituição mais próxima de sua residência. Mas é importante levantar três questões essenciais:

1 – Como ajudar se não houver uma instituição próxima?

2 – Como receber ajuda se não houver possibilidade de se deslocar até a instituição?

3 – Como ser assistido se estiver mal informado ou tiver medo/receios sobre o Espiritismo?

Estas situações são reais e recorrentes nos tempos atuais, observadas constantemente em nossas atividades (estudos e atendimentos) junto ao público “internauta”, que se aproxima para um contato, a princípio despretensioso ou descomprometido, estimulado normalmente por dores e conflitos. Esse público aprende sobre a DOUTRINA ESPÍRITA e se interessa pelas ações oferecidas pelas instituições esforçando-se para buscá-las, quando possível, ou se aprofundar nesse contato a distância para seu fortalecimento espiritual.

Retomando o raciocínio inicial, sobre a divulgação espírita e a tecnologia, mesmo diante dos argumentos acima, não foram, não são e ainda não serão poucas as respostas frustradas recebidas das Casas Espíritas, mesmo as instaladas nas grandes cidades onde os recursos tecnológicos são fartos, ante a proposta de expandir seu campo de ação para levar auxílio aos aflitos do mundo virtual, seja com a criação de um simples website para divulgar informações sobre o Espiritismo, na resposta de um e-mail endereçado à Casa solicitando auxílio ou mesmo na transmissão de uma palestra doutrinária.

Para essas tarefas, são necessários alguns investimentos, humanos e materiais, preparar o grupo para uma nova linguagem de comunicação, capacitação dos trabalhadores para atuar no novo ambiente e reestruturação dos setores para assentar essas novas bases. Aparentemente complexas, tais medidas são simples e de fácil implementação, e que apresenta um resultado significativo em prol da divulgação e auxílio espíritas.

O contexto atual do Brasil, que podemos abordar com mais propriedade por ser do nosso território pátrio, com a expansão da rede de comunicações e o barateamento do acesso a famílias de baixa renda, promoverá a inclusão tecnológica de um volume considerável de novos usuários, ou melhor, de pessoas, curiosas com o novo mundo que se abre, mas também aflitas e sedentas de esclarecimento. Há a necessidade de uma reavaliação, conforme orienta Cairbar, dos métodos e das tarefas para que as instituições contribuam efetivamente acompanhando e auxiliando nas transformações que o planeta irremediavelmente passa e passará.

“O momento agora é de divulgação. Hão de se criar meios de se propagar a Doutrina Espírita para aqueles que querem ouvir. Não o proselitismo, mas a divulgação direcionada para aquelas almas a que Jesus prometeu o Consolador.” – Trecho de psicografia de Cairbar Schutel para o 6º Seminário sobre Espiritismo e a Tecnologia (14/06/2009, CELD – RJ).
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