Por Oduvaldo Mansani de Mello
Na metade do século XIX, através da codificação da Doutrina Espírita por Allan Kardec (1804-1869), os Espíritos adicionaram ao conhecimento humano a existência do mundo espiritual e as suas relações com o mundo material, ou seja, do mundo invisível com o mundo visível, do mundo não local(1) com o mundo local, do microcosmo com o macrocosmo.
Nesse mesmo momento, passaram também a informação de que do átomo primitivo até o arcanjo (Espírito Puro), que também começou por ser átomo, tudo se encaixa na natureza(2), mas, mesmo depois de passados mais de cento e cinquenta anos, isso ainda se mostra como um grande desafio hermenêutico(3).
No que se refere ao Espírito, no início do século XX, Léon Denis (1846-1927), escreveu em seu livro O problema do Ser, do Destino e da Dor (pt. 1, cap. IX):
Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente.
Nesse mesmo sentido, Emmanuel, pelo médium Francisco Cândido Xavier, no livro O Consolador (q. 79), assim se expressou:
A escala do progresso é sublime e infinita… O mineral é atração. O vegetal é sensação. O animal é instinto. O homem é razão.
Dessa forma, numa sequência lógica e harmônica, percebe-se a evolução do Princípio Inteligente(4) em uma série de existências anteriores ao período que chamamos de Humanidade(5), que vai desde as plantas até os animais para, num passo seguinte, chegar à condição de Espírito, o Ser Inteligente do Universo(6), portador das condições básicas para encarnar como homem ou mulher, agora dotado de livre-arbítrio, o que o diferencia dos animais, construindo, sob sua responsabilidade direta, a sua evolução intelectual e moral, fato que inexoravelmente o levará à condição de Espírito Puro.(7)
A Doutrina Espírita nos ensina que no Universo existe Deus, Espírito, Matéria e o Fluido Cósmico Universal que, mesmo sendo o princípio elementar de todas as coisas, não é a fonte da vida ou da inteligência. Ele apenas anima o que chamamos de matéria, como um dos seus estágios transitórios.
Tendo-se presente que cada Espírito começou por ser átomo, isso nos leva à necessidade de procurarmos compreender com mais precisão o que é o átomo, cuja primazia conceitual deve-se a Leucipo (séc. V a. C.), Demócrito (460-370 a. C.) e Epicuro (341-270 a. C.)
Assim, pode-se dizer que cada átomo, que também não possui inteligência, é um sistema geralmente estável energeticamente, formado por um núcleo positivo que contém nêutrons, sem carga elétrica definida; prótons, com carga elétrica positiva; e elétrons, com carga elétrica negativa, com estes últimos orbitando o núcleo atômico em uma velocidade de 960 km/s(8).
Cientificamente sabe-se hoje que o hidrogênio é o átomo base do Universo, o qual, seguido dos átomos de hélio e lítio, são os três primeiros na sua moldagem química, ou seja, o Universo também começou por um átomo.
Sequencialmente, há que se considerar, também, que depois de Einstein e da Física Quântica(9) (ou Física Multidimensional) tudo é energia, deduzindo-se assim a inexistência da matéria(10), que nada mais é do que energia de baixa frequência, pois, segundo aquele grande cientista, estivemos completamente equivocados ao que chamamos de matéria; é energia, cuja vibração foi reduzida até se tornar perceptível para os nossos sentidos.
Como cada criatura humana é composta pelo conjunto Espírito, Perispírito e o Corpo Físico, cada um deles em uma frequência energética diferenciada, sendo este último composto por ao redor de 70 trilhões de células, que correspondem a aproximadamente sete octilhões de átomos(11), isso o torna um ser multidimensional, pois, conforme afirma Joanna de Ângelis, todas as criaturas são seres multidimensionais(12), com um poder de ação energética que se estende além dos limites da sua esfera corporal, diríamos fora do espaço-tempo, conforme também percebido por Allan Kardec.
Nesse contexto, quando cada um de nós nos aceitarmos como um Espírito, o ser inteligente do Universo, coadjuvante dos Espíritos Puros em manter o Universo em ordem, Universo esse cuja origem foi um átomo primordial, uma fonte atômica comum à nossa: o Fluido Cósmico Universal, o hálito divino, o qual, num futuro não muito distante terá a sua própria lei(13), quando compreenderemos que a face visível desse Fluido é o átomo, a confirmação da presença de Deus em todas as coisas.
Finalmente, à medida que aprofundarmos as nossas pesquisas científicas, com o auxílio da Física Quântica (Multidimensional), em direção ao núcleo atômico e à distância de Planck (10-33)14, provavelmente confirmaremos a presença de Deus em todos os lugares do macrocosmo, embora somente O iremos compreender, e a nós mesmos como Espíritos, no microcosmo, magistralmente representado pelo núcleo atômico, onde fomos todos criados simples e ignorantes para nos encaixarmos na natureza como Espíritos Imortais que somos.
1 Acima da velocidade da luz: 300.000 km/s2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. questão 540.3 Hermenêutica: ciência, técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos. D. Houaiss.4 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. questão 23.5 Op. cit. questões 606, 607 e 607-a.6 Op. cit. questão 76.7 Op. cit. questões 112, 113 e 170.8 CAPRA, Fritjof. O tao da física. Tradução de José Fernandes Dias. São Paulo: Cultrix, 1983. p. 59.9 Física Quântica: teoria desenvolvida para descrever o domínio dos átomos e das partículas subatômicas ou elementares.10 Segundo Einstein, O materialismo vai acabar por falta de matéria.11 O veículo carnal agora não é mais que um turbilhão eletrônico, regido pela consciência. Cada corpo tangível é um feixe de energia concentrada. Emmanuel, Nos Domínios da Mediunidade, Raios, ondas, médiuns, mentes.12 FRANCO, Divaldo Pereira. Vida: desafios e soluções. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 6. ed. Salvador: LEAL, 2001. cap. 7.13 A Lei do Fluido Cósmico Universal, relatada em palestra de Divaldo Pereira Franco, em 4.5.2008, na cidade de Salvador (BA).14 Tamanho abaixo do qual as equações de Teoria da Relatividade Geral e as da Mecânica Quântica deixam de ter conflito e a noção convencional de espaço se dissolve.
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