quarta-feira, 31 de março de 2021

Resumo para Estudo "A Gênese"

 


Superioridade da natureza de Jesus

 

Os fatos relatados no Evangelho e que foram até agora considerados miraculosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, os que têm como causa primeira as faculdades e os atributos da alma. Confrontando-os com os que ficaram descritos e explicados no capítulo anterior, reconhecer-se-á sem dificuldade que há entre eles identidade de causa e de efeito. A História registra outros fatos análogos, em todos os tempos e no seio de todos os povos, pela razão de que, desde que há almas encarnadas e desencarnadas, os mesmos efeitos forçosamente se produziram. Pode-se, é verdade, no que se refere a esse ponto contestar a veracidade da História; mas hoje eles se produzem sob os nossos olhos e, por assim dizer, à vontade e por indivíduos que nada têm de excepcionais. Basta o fato da reprodução de um fenômeno, em condições idênticas, para provar que ele é possível e se acha submetido a uma lei, não sendo, portanto, miraculoso.

O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispirítico, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.

Sem nada prejulgar sobre a natureza do Cristo, cujo exame não entra no quadro desta obra, e não o considerando, por hipótese, senão como um Espírito Superior, não podemos deixar de reconhecê-lo como um dos Espíritos de ordem mais elevada e, por suas virtudes, colocado muitíssimo acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente confia a seus mensageiros diretos, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que Ele fosse o próprio Deus, mas um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais que um profeta, porquanto seria um Messias Divino.

Como homem, tinha a organização dos seres carnais, mas como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual do que da vida corpórea, de cujas fraquezas não era passível. A superioridade de Jesus com relação aos homens não resultava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava a matéria de modo absoluto, e da do seu períspirito, haurido da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. Sua alma não devia achar-se presa ao corpo senão pelos laços estritamente indispensáveis.

Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e muito superior à que comumente possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se nele com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispiríticos ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa força magnética, secundada pelo desejo incessante de fazer o bem.

Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, visto que o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados. Ora, o Cristo não precisava de assistência, pois que era Ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como, em certos casos, o podem fazer os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, aliás, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se porventura Ele recebia algum influxo estranho, esse só de Deus poderia vir. Segundo a definição dada por um Espírito, Ele era médium de Deus.1

Nota do Editor

No livro Obras póstumas, o Codificador discorre sobre interessante capítulo acerca da natureza do Cristo, matéria que tem sido debatida exaustivamente desde os primórdios do Cristianismo, sem, contudo, ter sido resolvida em definitivo pelas religiões cristãs até os nossos dias.

Segundo Allan Kardec, foi a divergência das opiniões sobre este ponto que deu origem à maioria das seitas em que se fragmentou a Igreja, visto que os chefes de cada uma delas, embora homens de talento, esclarecidos e versados na ciência teológica, apoiavam suas opiniões mais em abstrações do que em fatos, recorrendo aos dogmas na expectativa de descobrir o que continham de plausível ou de irracional quanto à natureza de Jesus e sobre outros pontos.

Teriam tido mais sucesso se houvessem recorrido às palavras do próprio Mestre, recolhidas pelos evangelistas e publicadas após a sua passagem na Terra. De fato, quem melhor do que o Cristo de Deus para discorrer sobre a sua própria natureza? Como nenhum historiador profano contemporâneo falou a respeito dele, a única fonte confiável para se chegar ao âmago da questão é buscar a letra e o espírito da Boa-Nova. Por isso os autores sacros, ainda de acordo com Allan Kardec, nada mais conseguiram do que girar dentro do mesmo círculo, dar a sua apreciação pessoal, deduzir consequências de acordo com o seu ponto de vista pessoal, comentar sob novas formas e com maior ou menor brilhantismo o amontoado caótico de opiniões contraditórias.

Dentre tantos pontos que a exegese vem explorando, nada tem suscitado mais paixão do que o referente à divindade do Cristo. Seria Jesus o próprio Deus? Os milagres provariam a sua divindade? Como interpretar certas passagens contidas no Evangelho, que supostamente atestariam a ideia de que Jesus e o Pai são expressões de um mesmo Ser divino, coeternos e incriados, iguais em bondade, sabedoria, onisciência, onipotência e justiça em graus superlativos?

Decerto, não foram as palavras de Jesus que autorizaram os teólogos a legislar sobre a sua pretensa divindade, considerando-se que em várias passagens da Boa-Nova Ele protesta de forma veemente contra tal aberração. O fato é que, após vinte séculos de lutas e disputas vãs, durante os quais foi posta inteiramente de lado a parte mais essencial da mensagem de Jesus – o ensino moral – a única que podia garantir a paz para a Humanidade, as criaturas se acham cansadas dessas discussões estéreis, que só perturbação e incredulidade têm gerado, sem que de modo algum tenham satisfeito à razão.

Em favor da união que deve reinar entre os espíritas, deixemos de vez as abstrações que nos dividem, buscando em Allan Kardec a segura orientação, a bússola inviolável que nos fará chegar sem atropelos ao porto seguro. E sobre a natureza de Jesus, objeto desta matéria tão fascinante, como acerca de tantos outros pontos que mereceram a judiciosa apreciação do Codificador da Doutrina Espírita, jamais titubeemos: permaneçamos com ele!

Fonte: Revista Reformador

REFERÊNCIA:

1 KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. cap. 15, its. 1 e 2.

 

segunda-feira, 29 de março de 2021

Resumo para Estudo “A Gênese”

 


 

Por Joel Matias

I – Natureza e propriedades dos fluídos: elementos fluídicos

Os fenômenos materiais tidos vulgarmente como milagrosos, foram explicados pela Ciência, tendo em vista as leis que regem a matéria. Quanto aos fenômenos "em que prepondera o elemento espiritual" não explicáveis unicamente pelas leis da Natureza, encontram explicação nas "leis que regem a vida espiritual".

O fluído cósmico universal assume dois estados distintos: o de imponderabilidade – seu estado normal (eterização), passando ao de ponderabilidade que preside aos fenômenos materiais, de alçada da Ciência; no estado de eterização situam-se os fenômenos espirituais ou psíquicos, ligados à existência dos Espíritos, estudados pelo Espiritismo. Neste estado, os fluídos sofrem maior número de modificações, adquirindo propriedades especiais, sendo para os Espíritos o que para nós são as substâncias materiais: elaboram, combinam, produzindo os efeitos desejados. Tais modificações são feitas por Espíritos mais esclarecidos, enquanto que os ignorantes, mesmo participando do fenômeno, são incapazes de entendê-las.

Nossos sentidos e instrumentos de análise não podem perceber os elementos fluídicos; alguns fluídos, entretanto, pela sua ligação com a vida corporal, podem ser avaliados pelos seus efeitos: são fluídos mais densos que compõem a atmosfera espiritual da Terra. Possuem vários graus de pureza, sendo desse meio que os espíritos deste planeta, encarnados e desencarnados, tiram os elementos necessários à manutenção de sua existência. Em outros mundos ocorre o mesmo, com as devidas variações de constituição e condições de vitalidade de cada um. Os fluídos espirituais na verdade são "matéria mais ou menos quintessenciada"; somente a alma ou princípio inteligente é espiritual. Assim os fluídos espirituais são "a matéria do mundo espiritual". Quanto à solidificação da matéria, na realidade "não é mais do que um estado transitório do fluído universal, que pode volver ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as condições de coesão".

Formação e propriedades do perispírito

Originado da condensação do fluído cósmico, o perispírito – corpo do espírito envolve a alma, conservando sua "imponderabilidade e suas qualidades etéreas". Assim, tanto o perispírito como o corpo físico originam-se do mesmo elemento primitivo, formados dos fluídos próprios ao mundo em que vivem; "são matéria, ainda que em dois estados diferentes". Ao emigrar para outro planeta o espírito deixa seu envoltório fluídico, para formar "outro apropriado ao mundo onde vai habitar”. Muitos Espíritos inferiores possuem perispíritos tão grosseiros, de tal modo que, mesmo após o desencarne, julgam-se vivos, continuando suas ocupações terrenas. Outros, menos materializados, não conseguem alçar-se "acima das regiões terrestres". Quanto aos Espíritos superiores, podem comunicar-se com mundos materializados como a Terra ou mesmo encarnar em missão, compondo seu perispírito e (ou) corpo a partir dos fluídos deste planeta.

Os fluídos espirituais que envolvem a Terra constituem-se em camadas inferiores mais pesadas, tornando-se mais puras nas faixas mais superiores. Sendo heterogêneas, compõe-se de moléculas elementares alteradas e outras de diversas qualidades, de onde formam seus perispíritos os espíritos que aqui vivem. Entretanto, conforme seja o espírito mais ou menos depurado, "seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluído peculiar ao mundo onde ele encarna". Assim, a constituição íntima de cada perispírito varia conforme o progresso moral realizado em cada encarnação. Um espírito superior encarnado em missão possui o perispírito menos grosseiro que o de um selvagem deste mundo. Quanto ao corpo carnal, é formado dos mesmos elementos, independendo da inferioridade ou superioridade do Espírito. “O fluído etéreo está para as necessidades do Espírito, como a atmosfera para as dos encarnados". Assim como os animais terrestres não sobrevivem em uma atmosfera rarefeita, os Espíritos inferiores não podem suportar o brilho dos fluídos mais etéreos. Somente após depurarem-se, transformando-se moralmente, despojando-se dos instintos materiais, gradualmente se adaptam a um meio mais depurado. Existe, portanto, um encadeamento, uma interligação de tudo que existe no Universo, submetido "à grande e harmoniosa lei de unidade, desde a mais compacta materialidade, até a mais pura espiritualidade".

Ação dos Espíritos sobre os fluídos – Criações fluídicas – Fotografia do pensamento.

Os fluídos espirituais constituem-se nos materiais utilizados pelos Espíritos, o meio onde ocorrem os fenômenos especiais bem como onde se forma a luz perceptíveis no plano espiritual, como também é o veículo do pensamento. Através do pensamento imprimem direção, aglomeram, combinam ou dispersam, dando forma e cor, mudam as propriedades dos fluídos, de acordo com leis específicas. Tais transformações podem ocorrer pela vontade como também resultar de um pensamento inconsciente. Para o Espírito, basta que pense em algo para que se produza. Pode, pois, tornar-se visível a um médium, mostrando a aparência de qualquer encarnação em que fixe seu pensamento, com todas as características e particularidades. Pode criar fluidicamente objetos com duração efêmera (idêntica à do pensamento que os criou) que, para ele "são tão reais como o eram, no estado material, para o homem vivo”. O pensamento "atua sobre os fluídos como o som sobre o ar"; criando imagens fluídicas reflete-se no perispírito como num espelho, encorpa-se e se fotografa. Assim, os mais secretos movimentos da alma repercutem no perispírito, permitindo a que leiam uns aos outros como num livro. Veem a "preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus desígnios bons ou maus".

Qualidades dos fluídos

Assim como "os maus pensamentos corrompem os fluídos espirituais", sendo, portanto, viciados os fluídos que envolvem os Espíritos maus, os fluídos que envolvem e são emitidos pelos bons Espíritos são puros na medida de sua perfeição moral.

Os fluídos modificam-se conforme os eflúvios do meio em que agem, adquirindo qualidades temporárias ou permanentes. Recebem denominação conforme suas propriedades, efeitos e tipos originais. O perispírito dos seres encarnados irradia ao redor do corpo e o envolve com uma atmosfera fluídica. "Desempenha preponderante papel no organismo". Ao expandir-se, o perispírito se relaciona com os Espíritos livres e com os encarnados. O pensamento se transmite através dos fluídos, de Espírito a Espírito, e, "conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluídos ambientes".

O perispírito "recebe de modo direto e permanente a impressão de seus pensamentos", guardando suas qualidades boas ou más. Enquanto o Espírito não se modificar, seu perispírito conserva-se impregnado daqueles fluídos viciados que acabarão por reagir sobre o corpo ocasionando desordens físicas, ou seja, várias enfermidades.

Em uma reunião ocorre o mesmo que numa orquestra: pensamentos bons produzem salutares eflúvios fluídicos tornando agradável o ambiente, como as harmoniosas notas emitidas por uma orquestra afinada. Por outro lado, pensamentos maus, mesmo que não se externem, viciam os fluídos causando ansiedade, mal-estar, assim como uma nota desafinada. Nas reuniões homogêneas e simpáticas o homem "recupera as perdas fluídicas que sofre todos os dias pela irradiação do pensamento". Assim "um pensamento bondoso traz consigo fluídos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral". Para evitar, portanto, a influência dos maus espíritos, o meio é simples: à invasão dos maus fluídos, deve-se opor fluídos bons com a emissão de bons pensamentos, repelindo assim as más influências. Refletindo o perispírito as qualidades da alma, ao melhorá-la criamos como uma couraça que afasta os maus Espíritos.

II – Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais. Vista espiritual ou psíquica. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos.

Representando o perispírito a ligação entre a vida corpórea e a espiritual, permite o relacionamento com os desencarnados e opera no homem os fenômenos tidos como sobrenaturais.

A vista espiritual, dupla vista ou ainda vista psíquica tem como causa as irradiações do perispírito, na função de órgão sensitivo do Espírito, assim como os sentidos do corpo nos dão a percepção das coisas materiais. É a alma que vê independentemente dos olhos do corpo. Durante o sono o Espírito vive uma vida espiritual, quando então ocorre a emancipação da alma, podendo deslocar-se a pontos distantes da Terra, ligado ao corpo pelo laço fluídico; "confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados também". Ao despertar, às vezes conserva uma lembrança de suas peregrinações, que constitui o sonho. Guarda algumas vezes intuições que lhe sugerem novos pensamentos, auxiliando na resolução de problemas que lhe pareciam insolúveis. Fenômenos como o sonambulismo natural e magnético, catalepsia, letargia, êxtase, etc, sendo também "manifestações da vida espiritual", explicam-se igualmente desta maneira.

O mundo espiritual é "iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos próprios", "tem o seu foco em toda a parte", não havendo obstáculos à visão espiritual em razão da distância, nem pela opacidade da matéria, inexistindo para ela a obscuridade. Então a alma, envolta no seu perispírito, "tem consigo o seu princípio luminoso", e desenvolve seu alcance à medida da desmaterialização do Espírito. A vista espiritual nos espíritos encarnados manifesta-se através da segunda vista, em vários níveis, "tanto no sonambulismo natural ou magnético, quanto no estado de vigília". Com maior ou menor lucidez, permite a certas pessoas ver órgãos doentes e descrever a causa das enfermidades. Manifestando-se de modo imperfeito nos encarnados, a segunda vista pode permitir percepções mais ou menos exatas devido ao estado moral do indivíduo, tais como:1)- Fatos reais ocorridos a grande distância, descrição detalhada de uma localidade, causas e remédios para uma enfermidade;2)- Presença dos Espíritos;3)- Imagens fantásticas criadas pela imaginação (criações fluídicas do pensamento), das quais guardam lembrança ao sair do êxtase, dando-lhes a ilusão de confirmarem-se-lhes as crenças de existência do inferno ou paraíso.

Durante os sonhos podem ocorrer as três situações acima, incluindo-se as duas primeiras na categoria de previsões, pressentimentos e avisos, e a última explicando imagens fantásticas, que parecem reais ao Espírito, ao ponto de já ter até causado embranquecimento dos cabelos. São provocadas por exaltação das crenças, fortes lembranças, gostos, desejos, paixões, remorsos, preocupações, necessidades do corpo, disfunção orgânica, ou mesmo por outros Espíritos.

Catalepsia – Ressurreições

O corpo e o perispírito são insensíveis, transmitindo as sensações ao "centro sensitivo, que é o Espírito", o qual as recebe como um choque elétrico. Pode haver interrupção causada por lesões corporais ou em virtude de momentânea emancipação da alma. Em alguns fenômenos de sonambulismo, letargia e catalepsia, ocorre idêntico efeito, embora mais pronunciado, como também nos convulsionários e mártires em que há total insensibilidade. A paralisia, ao contrário, tem causa nos próprios nervos, que "se tornam inaptos a circulação fluídica".

Nos casos de coma, em que o Espírito se acha ligado apenas por alguns pontos ao corpo, podendo inclusive iniciar-se a decomposição parcial, existe ainda vida, que poderá voltar a manifestar-se pela própria vontade ou por um influxo fluídico estranho. Assim se explicam alguns prolongamentos de vida e mesmo supostas ressurreições. Ocorrendo no entanto total desprendimento do perispírito, ou degradação irreversível dos órgãos corporais, "impossível se torna o regresso à vida".

Curas

Tendo o perispírito e o corpo como origem comum o fluído universal, pode o primeiro "fornecer princípios reparadores ao corpo" desde que um Espírito encarnado ou desencarnado, pela sua vontade, inocule "num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico", substituindo cada molécula doente por uma saudável. A cura depende também da intenção e energia da vontade, "que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluído". Uma fonte impura, entretanto, funciona como um medicamento alterado.

Os efeitos da ação fluídica podem ser lentos ou rápidos. Certas pessoas podem operar curas instantâneas, por imposição das mãos ou mesmo só por sua vontade; pessoas com tal poder em seu máximo grau são raras. A ação fluídica depende então da qualidade dos fluídos como também de circunstâncias especiais.

Pode a ação magnética ser produzida pelo próprio magnetizador, dependendo de sua força e qualidade (magnetismo humano), pelo fluído dos Espíritos (magnetismo espiritual), produzindo diretamente e sem intermediário: curas, sono sonambúlico espontâneo, influência física ou moral qualquer. Podem também os Espíritos combinar seus fluídos com os de um magnetizador, imprimindo-lhes qualidades especiais; produz-se assim um magnetismo semi-espiritual, servindo o magnetizador de veículo para aplicação desses fluídos.

Aparições – Transfigurações

Assim como um vapor rarefeito e invisível pode se tornar visível pela condensação, o perispírito pode tornar-se momentaneamente visível pela vontade do Espírito, que o faz "passar por uma modificação molecular", produzindo o fenômeno das aparições, que podem apresentar-se mais ou menos vaporosas, como também podem chegar à tangibilidade; se o desejar, pode o Espírito apresentar-se com "todos os sinais exteriores que tinha quando vivo". Quando tangível existe somente a aparência do corpo carnal; ao desagregarem-se as moléculas fluídicas, instantaneamente desaparecem ou se evaporam. Conhece-se várias aparições de agêneres, que se apresentam como pessoas estranhas com linguagem sentenciosa inspirando surpresa e temor; passam algum tempo entre os humanos e depois desaparecem.

Espíritos encarnados, em momentos de liberdade, também podem aparecer, em local diverso do corpo, sendo reconhecidos, fenômeno "que deu lugar à crença nos homens duplos”. As aparições são percebidas pelos encarnados através da vista espiritual, podendo o Espírito tornar-se visível ou mesmo tangível para algumas pessoas, enquanto outras não o conseguem ver e muito menos tocar. Faltam às aparições as propriedades comuns da matéria, pois, se as tivessem, seriam percebidas pelos olhos do corpo.

As transfigurações, por outro lado, resultam "de uma transformação fluídica" que se produz sobre o corpo vivo tornando-se visível para todos os assistentes pelos olhos do corpo. Resultam da irradiação do perispírito em torno do corpo carnal, envolvendo-o com uma camada fluídica e o tornando mais ou menos apagado; vistos através dessa camada, os traços da pessoa podem aparecer totalmente modificados e com outra expressão.

Manifestações físicas – Mediunidade

O perispírito é o meio pelo qual o Espírito quando encarnado atua sobre o corpo, como também o é, quando desencarnado, para manifestar-se. Envolvendo e penetrando um objeto com seu fluído perispirítico, produzindo uma espécie de atmosfera fluídica, pode produzir fenômenos de tiptologia, mesas girantes, levitação, etc. Ao envolver um médium com seu eflúvio fluídico, faz com que escreva, fale, desenhe. Representam então, tanto o médium como os objetos de que se utiliza, os instrumentos de manifestação do Espírito. Para o Espírito não há dificuldade em erguer no ar uma pessoa ou uma mesa, tomar um objeto e lançá-lo longe. Produz ruídos dirigindo um jato de fluído sobre o objeto, causando o efeito de um choque elétrico. Há médiuns que possuem a aptidão de escrever em língua estranha, explanar ou escrever sobre assuntos acima de sua instrução, sendo alguns até analfabetos, compõem poesias e músicas, desenham, pintam, esculpem, utilizam a grafia e assinatura do Espírito comunicante. Agem os Espíritos sobre eles como se a uma criança se guiasse a mão fazendo com que executasse a tarefa que desejássemos. Entretanto quando possui o médium na mente os conhecimentos a respeito do que pretende o Espírito executar, torna-se o trabalho mais fácil e rápido. Tais conhecimentos podem ter sido adquiridos pelo médium em encarnações anteriores.

Obsessões e possessões

A ação malfazeja dos maus Espíritos é uma constante na Humanidade "em consequência da inferioridade moral de seus habitantes". A ação persistente de um Espírito mau sobre uma pessoa, constrangendo-a a agir contra sua vontade, ação esta que pode ser perceptível ou não, influenciando moral ou fisicamente, ou então a obstinação em manifestar-se através de um médium tornando-o exclusivo, constitui-se na obsessão. Decorre sempre de uma imperfeição moral do obsidiado. Contra seus efeitos deve-se contrapor uma força moral com o fortalecimento da alma através do trabalho na melhoria íntima. Representam as obsessões quase sempre uma vingança com origem em encarnação anterior. Nos casos graves o obsessor envolve sua vítima com um "fluído pernicioso, que neutraliza a ação dos fluídos salutares e os repele". Juntamente com a aplicação de passes no obsidiado é necessário que se atue com superioridade moral sobre o obsessor, levando-o a "renunciar aos seus maus desígnios". A vontade e a prece por parte do obsidiado concorrem efetivamente para que mais rapidamente seja libertado da obsessão. Quando, porém, se ilude com as qualidades de seu obsessor e se compraz no erro a que é levado, resulta em estado de fascinação, "infinitamente mais rebelde sempre, do que a mais violenta subjugação". A prece é o "mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor".

Na possessão o Espírito atuante toma temporariamente o corpo por consentimento do encarnado, falando por sua boca, vendo por seus olhos, movimentando-se como se vivo estivesse, imprimindo-lhe sua voz, linguagem, maneiras e até expressão fisionômica. Pode se tratar de um espírito bom que deseja se comunicar de forma mais expressiva, não causando qualquer perturbação ou incômodo. Entretanto, se for um Espírito mau e se o encarnado não possuir força moral, será martirizado, podendo inclusive o possessor tentar exterminá-lo. Blasfema, maltrata as pessoas que o cercam, mostrando-se louco furioso. Tanto a obsessão como a possessão ocorrem, na maior parte dos casos, individualmente. Pode, no entanto, "uma revoada de maus Espíritos" invadir uma localidade atacando muitos indivíduos ao mesmo tempo, em caráter epidêmico.

Mostrando a causa das misérias humanas, o Espiritismo "indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência".

 

^