GÊNESE
MOSAICA
Por Joel Matias
Comparando a
teoria da constituição do Universo baseada em dados da Ciência e do Espiritismo
com o texto da Gênese de Moisés, pode-se observar que:
1) - Existe
em alguns pontos notável concordância com a doutrina científica, sendo,
entretanto, arbitrário o número de seis períodos geológicos, pois, conhece-se
pelo menos 25 formações caracterizadas pela Geologia e referentes às grandes
fases gerais, além do fato de que muitos geólogos consideram o período
diluviano um fato transitório e passageiro, encontrando-se as espécies vegetais
antes como depois do dilúvio;
2) - Quanto
à criação do Sol e os astros em geral, objeto da Astronomia, ter-se-ia que
considerar um primeiro período, o período astronômico;
3) -
Considerando-se o período astronômico como sendo o primeiro dia da criação,
período primário = 2o dia, período de transição = 3o dia, período secundário =
4o dia, período terciário = 5o dia, período quaternário ou pós-diluviano = 6o
dia, verifica-se que:
a) - não há
concordância rigorosa entre a Gênese mosaica e a Ciência;
b) - notável
concordância na sucessão dos seres orgânicos, quase a mesma, com o aparecimento
do homem, por último;
c) -
concordância no surgimento dos animais terrestres no período terciário quando
“as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o
elemento árido”, ou seja, quando por elevações da crosta surgiram os
continentes e os mares;
d) - Moisés
queria significar dias de 24 horas quando descreveu a criação. Tal crença
vigorou até que a Geologia lhe demonstrou a impossibilidade;
e) - Há um
anacronismo na criação das plantas e do Sol, pois, é evidente que as plantas
não teriam podido viver sem o calor solar;
f) - Houve
acerto na afirmação de que o “a luz precedeu o Sol”, pois, o Sol é uma
concentração em um ponto do “fluído que, em dadas circunstâncias, adquire as
propriedades luminosas”. Esse fluído é causa e precede o Sol que é efeito. O
Sol é causa “relativamente à luz que dele se irradia; é efeito com relação à
que recebeu”. O erro estava na ideia de que a Terra houvera sido criada antes
do Sol.
g) - Moisés
esposava a antiga crença de que a abóbada celeste era sólida e fora criada para
separar as “águas de cima das que estavam sobre a Terra”. A Física e a
Astronomia provaram ser insustentável tal doutrina.
h) - A
criação do homem através “do limo da terra” tem seu acerto no sentido de que o
corpo do homem deriva dos elementos inorgânicos, enquanto que a formação da
mulher através de uma costela deve ser entendida como alegoria, mostrando a
identidade de natureza perante o homem e perante Deus;
A Gênese
bíblica não deve ser simplesmente rejeitada e sim estudada como sendo “a
história da infância dos povos”. Em suas alegorias há muitos ensinamentos
velados cujo sentido oculto deve ser pesquisado; por outro lado devem ser
submetidos à razão e à Ciência, apontando-se-lhes os erros.
Perda do
paraíso
Assim como a
fábula de Saturno, “que devorava pedras, tomando-as por seus filhos”,
significa: Saturno a personificação do tempo; seus filhos: todas as coisas
mesmo as mais duras, que acabam destruídas pelo tempo, com exceção de Júpiter,
“símbolo da inteligência superior, do princípio espiritual, que é
indestrutível”, também na Gênese grandes verdades morais se encontram por traz
de suas alegorias. Desta forma deve ser entendido que:
1)-Adão personifica
a Humanidade; sua falta: a fraqueza do homem (dominado pelos instintos
materiais); a árvore da vida: emblema da vida espiritual; árvore da Ciência:
emblema da consciência (do bem e do mal); o fruto da árvore: o objeto dos
desejos materiais do homem (comer o fruto é sucumbir à tentação); jardim das
delícias: a sedução (no seio dos prazeres materiais); a morte: aviso das consequências
(físicas e morais); a serpente: a perfídia dos maus conselhos, significando
também encantador, adivinho (o Espírito de adivinhação teria seduzido a mulher
para conhecer, compreender as coisas ocultas); o passeio de Deus pelo jardim: a
Divindade a vigiar o objeto de sua criação; a falta de Adão: infração da lei de
Deus; a vergonha de Adão e Eva ante o olhar divino: confusão do culpado na
presença do ofendido; o suor no rosto para conseguir sua alimentação: o
trabalho neste mundo.(Admitindo-se que a raça adâmica tenha sido exilada, por
punição, de um planeta mais adiantado onde o “trabalho do espírito substituía o
do corpo”, pode-se compreender que a vida em nosso planeta, onde para a mulher
o parto ocorre com dor e o trabalho é corporal, lhes representava a perda do
paraíso); o anjo com a espada flamejante: impossibilidade de penetrar nos
mundos superiores (até merecimento pela depuração do espírito).
Com relação
ao episódio do assassinato de Abel por Caim, em que este foi estabelecer-se a
leste do Éden e passou a construir uma cidade, teve mulher e filho, conclui-se
de sua impossibilidade se realmente só existissem somente seus pais e ele
próprio. Assim “Adão não é nem o primeiro, nem o único pai do gênero humano”.
Através dos conhecimentos trazidos pelo Espiritismo quanto às relações do princípio material e espiritual, natureza da alma criada simples e ignorante, sua união com o corpo, sua marcha na escala do progresso através de reencarnações e através dos mundos, libertação gradual da influência da matéria pelo uso do livre-arbítrio, da causa de seus bons e maus pendores, nascimento e morte, estado na erraticidade e da felicidade futura após perseverança no bem, pode-se entender todas as partes da Gênese espiritual. Sabe então o homem de onde vem, por que está na Terra, para onde vai. Seu cativeiro neste mundo somente dele depende. Compreende então a majestade, bondade e justiça do Criador.
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