Allan Kardec
o insigne codificador da Doutrina Espírita – DE, com razão foi chamado pelo
cientista Camille Flammarion de “o bom senso encarnado”. Do seu elevado senso
de organização e metodologia científica, resultou o legado do pentateuco
espírita, assim disposto: O Livro dos Espíritos (abril de 1857), contendo a
visão filosófica; O Livro dos Médiuns (janeiro de 1861) um verdadeiro tratado
de ciência espírita, interligando os mundos físico e espiritual; O Evangelho
Segundo o Espiritismo (abril de 1864), apresentando a visão religiosa da DE; O
Céu e o Inferno (agosto de 1865), contemplando a visão religiosa da (*)DE, numa
dimensão supra teológica e, a Gênese, um livro viajando na vastidão cósmica,
tratando da criação e das origens, além de fornecer a chave interpretativa de
uma imensidade de fenômenos incompreendidos e não explicados pelos pensadores,
homens de ciência e religiosos de todos os tempos. Para se entender a
importância da Gênese, no contexto das obras basilares do Espiritismo,
é de melhor alvitre, descrever sobre a riqueza do seu conteúdo.
Na obra em
menção, como premissa do Caráter de Revelação Espirita, está dito: “o
Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo,
acha-se na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria,
e o Espiritismo sem a Ciência, ficaria sem apoio nem exame”. Mas adiante
afirma-se: “o Espiritismo marchando com o progresso, não será jamais excedido,
porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro em um ponto, ele
se modificará nesse ponto; se nova verdade se revelar, ele a aceitará”. Daí
compreender o espírito de ciência e a grandeza desse homem, com
responsabilidade na revelação da Doutrina Espírita.
O livro “A
Gênese”, complementando a explicação sobre Deus, contida no “Livro dos
Espíritos”, afirma: “Os astros se formam pela atração molecular, e se movem
perpetuamente em suas órbitas por efeito da lei da gravitação. Esta
regularidade mecânica no emprego das forças naturais não indica uma
inteligência autônoma. Essas forças são efeitos que devem ter uma causa e
ninguém pretende que estas constitua a Divindade.
Elas são
materiais e mecânicas; não são inteligentes por si mesmas; mas são postas em
funcionamento, distribuídas, adequadas as necessidades de cada coisa, por uma
inteligência que não é a do homem”. Só um arquiteto perfeito pode ser sua
causa: Deus!
Allan Kardec
considerou importante constituir a verdadeira Gênese Universal segundo as leis
da natureza e para tanto valeu-se de muitas comunicações mediúnicas, como as de
Galileu Galilei (que viveu no mesmo século dos astrônomos Nicolau Copérnico e
Tycho Brahe), trazendo conceitos avançados sobre espaço, tempo, criação
primária, criação universal. Conceitua, por exemplo: “ora, quer a substância
que se examine pertença aos fluidos propriamente ditos, isto é, aos corpos
imponderáveis, quer esteja revestida das propriedades ordinárias da matéria,
não há em todo o universo senão uma substância primitiva”. Só uma inteligência
suprema pode conceber e criar uma substância matriz de tudo quanto é matéria ou
energia: Deus!
Reporta-se o
livro “A Gênese” ao Fluido Cósmico Universal, de onde se dimana todos os
estados de matéria, na sua variabilidade inimaginável e na geração de raios,
ondas, partículas, sons, movimento, no laboratório infinito da natureza. Quando
a astrofísica moderna fala em subpartículas atômicas, matéria luminosa, matéria
escura, energia escura, arremete a ciência a um ponto de confluência com o
Espiritismo, compreendendo e definindo a vastidão cósmica universal.
A Gênese
Planetária é apresentada na aludida obra com esboço dos períodos geológicos do
nosso orbe. Naturalmente que a classificação moderna em eras e períodos difere
da apresentada no livro “A Gênese” e, daqui a algum tempo, em face as
escavações arqueológicas e prospecções geológicas, outras teorias ou afirmações
virão e o Espiritismo saberá acolher novas verdades, porém seus conceitos de
gênese e evolução da criação certamente serão confirmados pela ciência.
Quando trata
da Gênese Orgânica, a obra fala do princípio vital, ou princípio da vida
material orgânica, com muita propriedade. O mentor espiritual André Luiz
aprofunda sobre o tema, particularmente no livro “Evolução em Dois Mundos” e,
mais modernamente, a Medicina Homeopática, lidando no campo da energia, fala em
vitalismo, estreitando vínculos com a tese espírita do corpo vital, ou duplo
etéreo dos hinduístas, exercendo papel importante no corpo físico, a partir do
corpo espiritual. Fantástico!
Avançando
para a Gênese Espiritual, a importante obra da DE estabelece o conceito de que
o princípio inteligente, distinto do princípio material, individualiza-se e
elabora-se, passando pelos diversos graus de animalidade e é nesses graus que a
alma se ensaia para a vida. Esse sistema funda-se sobre a grande Lei de Unidade
que preside a criação, confessando-se aí a justiça e a bondade do Criador.
Inevitavelmente penetra-se na ciranda dos renascimentos, ou das reencarnações,
ou ainda da paligenesia, conforme designação da metapsíquica.
Para coroar
a teoria espírita sobre a gênese, atendendo uma sequência pedagógica, a
admirável obra aborda sobre a Gênese Mosaica, estabelecendo uma correlação com
os períodos geológicos. Esclarece-se que, a raça adâmica é uma dessa
imigrações, ou por outra, uma dessas colônias de Espíritos vindos de outras
esferas, que deu nascimento à raça simbolizada por Adão. Complementa-se: é
preciso considerar as raças negra, mongólica e caucásica como tendo origem
própria e havendo nascido simultânea ou em tempos diferentes em diversas partes
do globo. Acentua-se no final que a gênese mosaica, despida da alegoria
estreita e mesquinha, apresenta-se grande e digna da majestade, da bondade e da
justiça do Criador.
É enorme o
encantamento na abordagem dos chamados Milagres do Evangelho. Indaga o
codificador: Deus faz milagres? Resposta: pode fazê-los, sem dúvida. Mas,
tê-los-ia feito? Ou, em outros termos, derrogará Ele as leis que estabeleceu?
Com brilhantismo, daí em diante, para corroborar a tese da não existência de
milagres, desenvolve a teoria dos fluidos (natureza, propriedades e
qualidades), a existência do corpo espiritual ou perispírito (formação e
propriedades) e a ação e inferência dos Espíritos na natureza. Com isso
desaparece o sobrenatural, os milagres e os fenômenos a conta de maravilhosos
esplendem dos dons, da lei natural, da fé realizante e da vontade operante, sem
que haja derrogação das leis do Altíssimo! Daí compreender a anotação do
evangelista Mateus, 10/8: Curai os enfermos, limpai os leprosos, expeli os
demônios, ressuscitai os mortos: de graça recebei, de graça daí.
A Teoria da
Presciência recebe trato de profundidade no livro “A Gênese”. ” Para Deus o
tempo não existe; o começo e o fim dos mundos são o presente”. Já na Teoria das
Predições, penetra-se no campo das faculdades mediúnicas ou anímicas e, na
metapsíquica, como percepção extra-sensorial conhecida como precognição, ou
ainda profetismo nos tempos distanciados do judaísmo. Allan Kardec dá
explicações com simplicidade e rara sabedoria desse dom raro e não raras vezes
explorado com leviandade e misticismo.
O livro ”A
Gênese” traz reflexões admiráveis no seu final: “a humanidade realizou até hoje
progressos incontestáveis, os homens, pela inteligência, chegaram a resultados
jamais atingidos, relativamente às ciências, às artes e ao bem-estar material.
Resta-lhes ainda imensos progressos a realizar, qual seja fazer reinar entre si
a caridade, a fraternidade e a solidariedade; a nova geração, em contraposição
a atual, deve fundar a era do progresso moral, distinguindo-se por uma
inteligência e uma razão geralmente precoces, aliadas ao sentimento inato do bem
e às crenças espiritualistas. Não se comporá exclusivamente de Espíritos
eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo já progredido, estão
preparados para se apropriarem de todas as ideias progressistas e aptos para
secundarem o Movimento Regenerador”.
Essa é uma
sinopse desse livro magistral!
Célio Alan Kardec
Escritor e
conferencista espírita
(*) DE = Doutrina Espírita
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