quinta-feira, 11 de abril de 2019

Adoração a Deus conforme o Espiritismo


Por Aylton Paiva

Qual seria a melhor forma de adorar a Deus, com vistas às informações religiosas, filosóficas e científicas que temos nos dias atuais?

Iluminando esse ato com os conhecimentos oferecidos, na atualidade, a fim de que se possa entender, cada vez mais, a grandiosa obra da criação Divina: a Vida e o Universo, o Espiritismo amplia nossa compreensão e nosso sentimento de adoração ao Criador Supremo.

Não temos condições para entender a essência Divina, no entanto, os Mentores Espirituais ofereceram uma conceituação ampla e profunda na primeira resposta a Allan Kardec.

Ao ser perguntado por ele: “Que é Deus?”, responderam, em preciosa e profunda síntese:

“- Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. (1)

Mais adiante, Allan Kardec interpela os Espíritos sobre a melhor forma de adorar a Deus, colocando de forma bem direta e incisiva:

“Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?”

Ao que eles responderam:

“- Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes”. (Questão nº 654 de O Livro dos Espíritos.)

Refletindo sobre essa resposta e demais conceitos expressos em a Lei de adoração, inserta na Terceira Parte de O Livro dos Espíritos, pudemos grafar algumas reflexões. (2)

De conformidade com o conceito espírita de adoração, Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que não os tornam melhores para com os seus semelhantes.

Para fazer o bem e evitar o mal é necessário que o homem seja participante da sociedade em que vive, através de ações que preservem os próprios direitos naturais, como, também, dentro de suas possibilidades, defenda os direitos naturais do seu semelhante.

Obviamente, de nada vale a adoração exterior manifesta em rituais e posturas falsas, se o comportamento da pessoa se motiva pelo egoísmo, orgulho, vaidade e prepotência.

A adoração a Deus, no conceito espírita, tem uma ação dentro da sociedade, ou de forma mais ampla no planeta em que se vive: fazer o bem e evitar o mal.

Para fazer o bem e evitar o mal é necessário procurar extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a prepotência, não só de si mesmo, como também das instituições e grupos sociais.

Tal conceito de adoração a Deus leva não só à reforma íntima, ou seja, à autoeducação, como à reforma da sociedade em seus infelizes padrões de egoísmo e orgulho, em nome dos quais se justificam as desigualdades, as injustiças e a própria destruição da vida.

O Espiritismo não apresenta um conceito de adoração fundamentado na submissão passiva e medrosa ao Criador; ajuda na compreensão das limitações humanas e na proteção divina, nunca apelando a uma submissão castradora, de inibição às potencialidades humanas. Pelo contrário, demonstra que a adoração, ao aproximar a criatura do Criador, constitui-se numa possibilidade de estudo de si mesma. As boas ações são as melhores preces, por isso valem os atos mais que a palavra de pessoas cujos atos as desdizem.

Ser religioso significa principalmente entender a si e ao seu semelhante, amando-o e amando-se. (“Ama o teu próximo como a ti mesmo” - Jesus.)

Conforme o Espiritismo, o valor de uma religião, filosofia, ou seita, está em promover o crescimento, a força, a liberdade àqueles que a seguem ou professam.

Se uma religião, através de seus conceitos, inibe a razão e o amor em suas diferentes formas e expressões, revelando, apenas, aspectos tristes da vida, conduzindo ao desprezo de si mesmo, impondo uma contemplação improdutiva, não tem valor. (Questão nº 657 de O Livro dos Espíritos.)

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec insiste quanto à melhor forma de agradar a Deus e os Mentores Espirituais indicam sempre que isso se faz através da ação no bem, pela produtividade no amor ao semelhante. Mesmo no ato exterior da adoração, revelam a atitude psicológica que o determina, demonstrando a diferença entre a adoração autêntica e a hipócrita; o agir de forma egoística e ação motivada pelo amor.

Por isso, o conceito espírita de adoração infunde um profundo respeito pela Vida, uma permanente indagação sobre o universo e o homem, um intrínseco amor pelo semelhante. Estimula sempre o aperfeiçoamento e o progresso da pessoa e da sociedade, através da solidariedade.

Vale lembrar, também, que em seu admirável e esclarecedor estudo sobre o Espiritismo e a Ecologia, o jornalista, escritor e professor universitário, Trigueiro, assinala referindo-se à perspectiva do relacionamento dos seres humanos com Deus relativamente à responsabilidade de ações na preservação da vida planetária: “E Deus nessa história? Bem, o Deus que protege e ampara é o mesmo que delega funções e atribuições. Em uma linguagem típica dos mercados, Deus “terceiriza” e confiou o planeta à tutela dos homens. (3) TRIGUEIRO, André, pág. 46, Espiritismo e Ecologia.

Como visto, ele exemplifica de forma concreta a assertiva dos Mentores Espirituais: “... fazendo o bem e evitando o mal...”

Também alertando sobre o profundo significado no entendimento da nossa ligação com Deus, em seu magnífico estudo sobre a sustentabilidade da vida, Villarga considera: “... a) As leis morais apresentadas no livro Terceiro de O Livro dos Espíritos. Essas leis regem o nosso relacionamento com Deus, com os outros seres humanos, com a Natureza e com os seres desencarnados”. (4) - Pág. 95 – Espiritismo & Desenvolvimento Sustentável – caminhos para a sustentabilidade. FEB.

Consequentemente, no conceito de adoração a Deus, expresso pelo Espiritismo, há todo um comprometimento de participação amorosa na sociedade, reiteradamente manifestado pelos Espíritos a Allan Kardec.

Referência:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. XX ed. FEB.

2. PAIVA, Aylton G. C. Espiritismo e Política: contribuições para evolução do ser e da sociedade. 1ª ed. 1ª imp. Brasília – DF. - 2014, págs. 25 a 27.

3. TRIGUEIRO, André. Espiritismo e Ecologia. 1ª ed. FEB. 1 imp. Brasília. 2009. pág. 46.

4. Espiritismo & Desenvolvimento Sustentável – caminhos para a sustentabilidade. 1ª ed. 1ª imp. Brasília-DF. 2013. página 95.

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