Por Inês Rivera Sernaglia
Cerca de onze mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. Na agenda Global, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo, uma a cada 40 segundos. Diante de um caso de suicídio, a primeira pergunta que fazemos é por quê? O que leva uma pessoa a tirar a própria vida?
Sem dúvida é por uma dor muito profunda, porque lidar com o sofrimento é uma das coisas mais difíceis da vida. Mas, o que existe na verdade, é a crença equivocada de que o sofrimento, a dor, a vida acabam com a morte do corpo físico, ou que com a morte podemos ir ao encontro dos entes queridos desencarnados.
Na realidade, isso não passa de um completo desconhecimento da vida espiritual. É a falta de consciência de que um problema, qualquer que seja ele, pode ser visto como um degrau no caminho da evolução. Por isso, diante dos grandes desafios da vida, é fundamental entender a necessidade que se tem em manter a calma e refletir na infinita bondade de Deus que ampara e conforta aliviando-nos a carga das aflições; acreditar que o desespero e os reveses têm fim, pois assim a suportabilidade e a compreensão são naturalmente aumentadas.
Allan Kardec comenta em O Livro dos Espíritos, na pergunta 943, que o desgosto pela vida que se apodera de alguns, na maioria das vezes, é efeito da ociosidade e da falta de fé, daí o suicídio voluntário. Ele é uma transgressão às Leis Divinas, porque não apaga o desgosto e o sofrimento, pelo contrário, eles se agravam.
As tribulações da vida são provas ou expiações e mesmo em casos em que a morte é inevitável, tendemos a querer abreviar o sofrimento. Que grande equívoco o de não esperar o tempo fixado por Deus...
Há também o suicídio indireto, quando dispensamos energias com excessos e vícios provocando um desencarne antecipado, desperdiçando oportunidades. Fazemos isso muito mais do que percebemos, e se avaliarmos nossa própria existência, poderemos notar quantas vezes desperdiçamos oportunidades de crescimento. No mínimo, seríamos reprovados no colégio de análise evolutiva. O nosso corpo é uma ferramenta bendita de relacionamento que possibilita ao Espírito oportunidades para o aprendizado. Portanto, fundamental é que cuidemos e respeitemos esse corpo.
Também é importante lembrar que a mente necessita estar alinhada aos cuidados com esse corpo, pois, se não estiver em condições favoráveis, acaba envenenando-o ao invés de preservá-lo: “Mente sã em corpo são”. Mas quando vem o desespero, o medo e a falta de perspectiva, o que fazer? Onde buscar auxílio diante de pensamentos destrutivos? Sabemos que existem interferências severas e graves da parte espiritual, mas também sabemos que existe ajuda no campo do auxílio e da proteção. Então, a oração é o começo do socorro. Abrir o coração para que o plano espiritual possa chegar com o amparo. Acreditar no amor e na misericórdia de nosso Pai que nunca nos abandona; deixar esse egoísmo de lado e pensar nas pessoas que nos amam e precisam de nós. E se chegarmos ao ponto de não ver o quanto somos amados e úteis, atendamos ao pedido que o benfeitor espiritual Emmanuel nos faz: visitemos hospitais, presídios, orfanatos; passemos pelas ruas olhando quantas pessoas não têm onde dormir e nem o que comer, e nem água para beber ou simplesmente para tomar um banho.
Quantos passam a vida solitária em hospitais psiquiátricos, ou ainda idosos largados em asilos, como se não tivessem tido sequer uma família... Quando olhamos para a dor do próximo e, principalmente, quando trabalhamos a seu serviço, nos esquecemos das nossas dores e frustrações. Aliás, elas se tornam pequenas frente a tanto sofrimento alheio. Nunca desconsideremos que muitos estão aturdidos por ideias sombrias, procurando auxiliar, dentro das nossas limitações, com palavras acolhedoras, calmantes, com a prece e principalmente com muito amor.
O suicídio não é um ato de covardia, e sim, um ato de desespero. Tenhamos, assim, compaixão de todos e de nós mesmos também. Abracemos o trabalho e a prece como bússola no nosso caminho, porque a prece ilumina, guia, reanima e consola, e o trabalho liberta, restaura e sustenta.
Nosso Mestre passou pela Terra atravessando suor e lágrimas. Sua peregrinação foi laboriosa entre os homens e sua fé nunca se abalou. A prece e o trabalho deram a marca de sua trajetória exemplar. Portanto, lembremo-nos sempre dos seus passos e, nos momentos difíceis, recordemo-nos de suas palavras: “Tende bom ânimo! Eu estou aqui”.
Bibliografia:XAVIER, F. C. Encontro Marcado – ditado pelo Espírito Emmanuel – 16ª edição, FEB Editora, lição 30._________ O Consolador – ditado pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição, FEB Editora, perguntas 154 e 252._________ Religião dos Espíritos – ditado pelo Espírito Emmanuel – 8ªedição, FEB Editora, “O Suicídio”- pág. 119.KARDEC, Allan – O Céu e O Inferno – Segunda Parte, cap. V.______________ O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. V, itens 19 e 29 – cap. XXVIII, item 71.______________ O Livro dos Espíritos – questões 257, 376, 758, 943.
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