segunda-feira, 18 de março de 2024

Medo do fim do mundo?

 


Por Rodolfo Collevatti

Revista Galileu publicou, no dia 25 de setembro de 2023, uma reportagem de Caio Santana sob o título “Calor Extremo Irá Dizimar Humanidade e Mamíferos da Terra, Prevê Estudo” (1), divulgando pesquisa feita por cientistas da Universidade de Bristol, na Inglaterra. O estudo antecipa um clima extremamente quente e seco daqui a 250 milhões de anos, após a formação de um supercontinente chamado Pangeia Última, oriundo da união das massas continentais da Terra.

Tal clima, segundo um dos pesquisadores, com temperaturas médias entre 40 e 50 graus Celsius e extremos diários ainda maiores, selaria o nosso destino devido aos elevados níveis de umidade e pela falta de fontes suficientes de comida e água.

De acordo com a pesquisa, somente entre 8% e 16% da superfície do supercontinente seria habitável para os mamíferos.

Uma das cientistas menciona sua preocupação com atual crise climática, com um calor extremo bastante danoso à saúde, e ressalta a importância de zerarmos as emissões de gases de efeito estufa por ação humana o mais depressa possível.

Ora, segundo Allan Kardec, o Espiritismo é ligado a todos os setores da ordem social, e os jornais têm muitos fatos e narrativas “que levantam graves problemas morais, cuja solução só o Espiritismo pode dar” (2). Entendemos que tais assertivas são muito pertinentes e se aplicam a todos meios de comunicação atuais. Dessa forma, somos levados a refletir também sobre o artigo acima citado, à luz do Espiritismo.

Primeiramente, verificamos que a área presentemente impactada pela humanidade é de 14,6% da superfície de solo da Terra (3). Assim, o espaço habitável de Pangeia Última, em média de 12% (considerando a faixa de 8% a 16% já mencionada), não parece ser tão pequeno como a pesquisa sugere, ainda mais se levarmos em conta a redução populacional que seria causada pelas catástrofes anteriores à fusão dos atuais continentes, tais como terremotos, erupções vulcânicas, maremotos, e outros possíveis desastres.

Faltou explicar também a coexistência de fatores antagônicos – clima seco e altos níveis de umidade – ambos citados na matéria como corresponsáveis por dizimar a humanidade e demais mamíferos no supercontinente. A notícia tampouco esclareceu como os altos níveis de umidade ajudariam a selar o nosso fim – supomos que seja pela dificuldade de regulação do calor corporal em locais muito úmidos.

Outra questão é o título da reportagem, que parece ter sido escolhido para chamar atenção, apelando ao medo do fim do mundo, ao omitir o horizonte de tempo distante exposto na pesquisa.

Ora, sabemos que o temor da morte advém inicialmente do instinto de conservação, que nos é dado por Deus para cumprimos nossa tarefa aqui na Terra (4). A morte inspira medo às pessoas mais ligadas à vida corpórea do que à vida espiritual, pelas dúvidas quanto ao futuro, preocupações, ansiedades e pela busca em vão da felicidade na satisfação passageira de todos os desejos materiais (5).

Como vivemos num mundo de expiações e de provas, onde o mal e a matéria predominam (6), a maioria de nós somos Espíritos imperfeitos, propensos ao mal e atraídos pela matéria (7). Assim, somos usualmente predispostos a sentir medo da morte e, dessa forma, atraídos por informações, noticiários, conversas e pensamentos que alimentam em nós tal temor.

Certamente, nossa atração por más notícias é percebida pelos meios de comunicação privados, dependentes de publicidade para sobreviverem.

Isso parece gerar um círculo vicioso: más notícias são divulgadas de forma preponderante. A população parece aceitar bem essa situação, pois, de fato, não notamos mudanças radicais em linhas editoriais nos meios de comunicação e tampouco protestos relevantes contra o fato. Assim, novas más notícias continuam a ser expostas majoritariamente pela mídia.

É razoável pensar que a maioria das notícias num mundo de expiações e provas não seria de boas novas. Porém, devemos estar atentos para não nos deixarmos levar pelo pessimismo ou medo de coisas ou eventos incontroláveis, que podem atrasar desnecessariamente nossa evolução espiritual.

Cabe ponderar também acerca da hipótese do extermínio da humanidade. Como nos ensina a Doutrina Espírita, nem a destruição de nossos corpos e tampouco o aniquilamento da espécie humana interromperão a marcha do Espírito rumo à perfeição relativa. Ademais, tais eventos são por vezes necessários para acelerar nosso progresso espiritual (8).  Logo, o temor da morte não condiz com o Espiritismo.

Cabe ressalvar que não somos dispensados de cuidar de nós, do próximo e da Terra por sermos Espíritos imortais e, assim, devemos fazer o bem no limite de nossas forças, e respondemos ainda por todo o mal que possa acontecer por não termos praticado o bem (9).

Sabemos, porém, ser necessário que os escândalos venham, pois a reação ao mal serve de castigo para uns e provas para outros, e Deus sempre faz surgir o bem das coisas más (10).

Portanto, trabalhemos para nos tornarmos homens de bem, não desprezando nenhuma ocasião de sermos úteis. Assim, com fé em Deus, na sua bondade, justiça e sabedoria, entenderemos que nada ocorre sem a sua permissão (11) e não nos inquietaremos com reportagens apelando ao medo do fim do mundo. Lembremos finalmente da promessa de Jesus, que iremos um dia estar com ele em outro lugar, além da Terra, como explicou tão bem Allan Kardec: “Não se turbe o vosso coração. (...). Há muitas moradas na cada de meu Pai (...)” (12).

 

Referências

1. Reportagem Revista Galileu: “Calor extremo irá dizimar humanidade e mamíferos da Terra, prevê estudo”. Disponível em:  LINK-1 - Acesso em 30 de setembro de 2023.

2. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. XXIX item 347, p. 412 e 413.

3. Artigo: “This is how much of the Earth’s surface humans have modified”, publicado no World Economic Forum. Disponível em: LINK- Acesso em 30 de setembro de2023.

4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4ª ed. 5ª imp. Brasília: FEB, 2018. Questão 730, p.14.

5. _____,_____. Questão 941, p. 410.

6. _____. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. III, item 4, p.61 e item 9, p.64.

7. _____. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4ª ed. 5ª imp. Brasília: FEB, 2018. Questão 100, p. 91.

8. _____. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra da 5ª ed. Francesa de 1869. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. XVII, item 67, p. 341.

9. _____. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4ª ed. 5ª imp. Brasília: FEB, 2018. Questão 642, p. 291.

10. _____. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. VIII, item 14, p.154.

11. _____,_____. Cap. XVII, item 3, p. 291 e 292.

12. _____,_____. Cap. III, item 1, p. 59.


N.R.:

Artigo apresentado e selecionado no Concurso A Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal Brasília Espírita – www.atualpa.org.br, com parceria com a Revista Eletrônica O Consolador - e da Web Rádio Estação da Luz - Estação da Luz

sábado, 16 de março de 2024

Simplicidade


 

Por Maurício Curi*

A simplicidade, amados amigos, é bem mais do que a ilusória expressão superficial das aparências. Em sua essência, a simplicidade também não significa o simulacro do despojamento ou a falta de recursos materiais.

Com respeito à verdade, a simplicidade é virtude espiritual. Provém do coração do ser imortal como conquista preciosa do seu périplo evolutivo.

Ao contrário da limitada compreensão de nossa humanidade terrestre, sitiada por conflitos na carne, a simplicidade nada tem a ver com a posse efêmera dos recursos materiais.

A simplicidade é o processo de leveza dos sentimentos na exteriorização dos pensamentos em harmonia com as reais necessidades do Espírito.

A simplicidade faz parte da base do sentimento sublime da humildade.

A simplicidade foca na aquisição laboriosa no bem dos tesouros morais que apontam para as vivências em regime de paz, de alegria, de benevolência, de indulgência, de amparo e serviço constantes.

A simplicidade impele-nos a usufruir sem deixarmo-nos possuir por nada e ninguém.

A simplicidade espera, não se cansa, apresenta-se sempre com a esperança de partilhar e doar-se sem limites, incondicionalmente.

A simplicidade está nos corações que já alcançaram amplo entendimento do que é transitório e do que é permanente.

A caminho da simplicidade autêntica, das ações de misericórdia e de condutas justas, experimentamos os júbilos da divina comunhão que se estabelece entre o nosso coração e os corações que conosco partilham as trilhas evolutivas.

Estas nossas relações em trânsito iluminativo, em experiências de aprendizado e de resgates para a purificação íntima são redimidas pela experiência, pela dor, pela ciência de bem viver quando conduzidas com serenidade e simplicidade amorosas.

Tenhamos a coragem de alijarmo-nos do fardo dos sentimentos aviltados, das emoções descontroladas pela ânsia patológica de mais ter e mais possuir recursos perecíveis. É preciso despirmo-nos da indumentária e dos instrumentos bélicos de nosso arcabouço íntimo utilizados, até então, nas lutas asselvajadas que nos têm agrilhoado às desesperações de toda as ordens.

A pacificação interna é pré-requisito para aquisição de virtudes, tais como a simplicidade e a humildade que não se expressam sem o despertar da consciência.

A educação e a gestão dos impulsos desgovernados caracterizam-se pela disciplina de nossas potências da alma com a alegria de nos desfazermos de tudo o que não merece ser acumulado nas entranhas de nossos universos íntimos.

Ao sentirmos a leveza experimentando a pureza e a sinceridade nas novas relações, a simplicidade se estabelecerá espontânea em nosso modo de sentir, em nossa maneira de ser.

Simplicidade, serviço e caridade. Eis o nosso roteiro de redenção!

* Coordenador do Departamento de Assistência Espiritual do GEABL e palestrante espírita.

 

quinta-feira, 14 de março de 2024

As inesgotáveis fontes superiores de energia pura

 


A oração é um inestimável recurso Evolutivo

Por Rogério Coelho*

“(...) Higienizemos o pensamento nas águas lustrais da oração, a fim de que as nossas vinculações com as regiões morais inferiores possam ser erradicadas.”

François C. Liran.

Compulsando as Escrituras Neotestamentárias, vamos flagrar Jesus, vezes sem conto, isolando-Se da multidão para subir aos montes onde orava longamente...

Sendo Ele o nosso “Modelo e Guia”1 também nós, espíritos ainda calcetas e refratários à Luz, deveríamos igualmente assim proceder. Mas, quão pouco oramos!...

O permanente contato com as Fontes Divinas é condição sine qua non para a reversão do quadro de precariedade evolutiva no qual ainda estagiamos. Portanto, não descuremos de “lavar” nosso pensamento nos acumes espirituais a fim de saneá-los dos prejuízos com os quais o cumulamos no longo transcorrer dos evos...

Segundo Alexandre, 2 “(...) a criatura que ora, mobilizando as próprias forças, realiza trabalhos de inexprimível significação. Semelhante estado psíquico descortina forças ignoradas, revela a nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores”.

Os cientistas da NASA calcularam em dez metros o potencial energético de irradiação da aura de Chico Xavier, quando nós, os comuns dos imortais, não logramos ultrapassar meros dois centímetros.

Tal fato é totalmente compreensível porque Chico Xavier vivia permanentemente “ligado” às esferas mais altas, nutrindo-se interiormente nas fontes superiores de energia pura, enquanto nós outros, vivemos quase que unicamente conectados aos insalubres pântanos terrestres, e só mui raramente empreendemos breves incursões aos Páramos Celestes em ligeiras e mal alinhavadas preces.

Ensina Manoel Philomeno de Miranda3 : “(...) o homem lúcido edifica-se mediante o cultivo de ideias elevadas, graças, às quais, sintoniza com as fontes inexauríveis da vida...

Constituindo esse mundo causal uma realidade caracterizada pela energia pura, quando lhe chegam emissões mentais significativas estabelece-se o contato provedor de bênçãos que se derramam na direção da antena psíquica emissora da onda.

E desse magnificente campo de superior organização promanam as admiráveis conquistas do pensamento humano, que se materializam nas diferentes áreas da ciência, da arte, da filosofia, da religião, dos empreendimentos grandiosos que promovem as criaturas e a humanidade.

Reflexos do amor, essas regiões felizes frequentemente são alcançadas por todos aqueles que aspiram ao bem, à harmonia, à felicidade...

No conceito do Mestre Jesus, quando se referindo às muitas moradas na Casa do Pai, constatam-se, não somente os mundos materiais que pululam no Cosmo, como também essas Esferas espirituais, eminentemente vibratórias que envolvem o planeta terrestre e outros, que sediam os espíritos ditosos, encarregados de promover o progresso moral dos Orbes.

Faz-se indispensável que as mentes humanas diluam as vinculações ancestrais com os círculos morais inferiores dos quais procedem e que predominam nos seus hábitos emocionais.

O ser humano está destinado à glória espiritual, cabendo-lhe desenovelar-se dos terríveis anéis mentais constritores que o mantém em tormento e frustração.

Para o êxito do cometimento, a seleção dos pensamentos a cultivar mediante o esforço da vontade para fixá-los, substituindo aqueles perniciosos a que se está acostumado, gerará nova conduta psíquica de resultados saudáveis.

Nessa fase de mudança de hábitos mentais, a oração se torna elemento de valor inestimável, por lenir as dores morais e propiciar inspiração que procede desses núcleos de captação desse tipo de ondas, transformando-as em respostas portadoras de bem-estar de alento e esperança, de beleza e harmonia.

À medida que se amplia o tempo de sintonia superior, alarga-se o campo de receptividade, proporcionando o registro já não exclusivo de pensamentos, mas também de percepção da ‘vida em abundância’ em diferente expressão daquela material que é vivenciada.

Aspirando-se essa psicosfera que nutre interiormente, outros valores éticos e ambições emocionais passam a estabelecer diretrizes para o comportamento, impulsionando o ser para a conquista do amor pleno e a paz que não sofre qualquer perturbação nos embates do dia a dia da evolução.

(...) A sintonia superior é indispensável para a erradicação dos compromissos perturbadores, dos hábitos perniciosos, dos instintos primários, que se fazem substituídos pelas expressões de nobreza, de honestidade e de bem-estar que lhe são habituais.

Portanto, quando alguém consegue abandonar o charco em que se encontra e alcança o planalto formoso, deslumbra-se com o horizonte visual infinito, com a beleza de luz e cor, com a musicalidade da Natureza, enquanto aspira o oxigênio puro, que vitaliza e renova o ser.

A ascensão espiritual não é diferente, sendo compensadores os esforços e tentativas de sintonia elevada, considerando-se a destinação espiritual que está reservada a todos os homens e mulheres do mundo.

O pensamento é, portanto, o veículo vigoroso que conduz o Espírito à sintonia com a faixa de que se constitui e ao campo vibratório de energia que capta.

Enquanto luz a oportunidade do corpo ou fora dele, cumpre que a mente edifique através de construções ideológicas salutares, a fim de se transformarem em ações dignificantes, graças à inspiração e aos impulsos vigorosos procedentes do mundo real de onde todos nos originamos e para onde retornamos, conforme o teor de qualidade psíquica e os conteúdos morais das ações praticadas”.

1- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.

2 - XAVIER, F. Cândido. Missionários da luz. 12.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1979, p. 66.

3 - Mensagem psicografada por Divaldo Pereira Franco no dia 5.7.2000, no C.E. Caminho da Redenção – Salvador. BA

*Jornalista e escritor espírita, de Muriaé (MG)

 

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