Por André Trigueiro
Espiritismo e Ecologia surgiram no mesmo período histórico, em países fronteiriços – França e Alemanha – a partir do trabalho meticuloso de dois homens de ciência que provavelmente não se conheceram, mas que tinham algumas afinidades importantes. Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) e Ernst Haeckel simpatizavam com o Evolucionismo de Darwin e, por essas e outras razões, não eram vistos com simpatia pela Igreja Católica, que defendia o criacionismo como a base fundamental do conhecimento. Mais que isso: tanto o Espiritismo quanto a Ecologia oferecem preciosas ferramentas de percepção de uma realidade sistêmica, que nos revela um universo interligado, interdependente, onde todos os seus elementos constitutivos interagem o tempo inteiro. É curioso constatar que alguns textos referenciais da doutrina espírita poderiam ser confundidos com verdadeiros postulados ecológicos. “De sorte que as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros, e assim sucessivamente, até o átomo” (Cap. XVIII, item 8) é um conceito apresentado em A Gênese tão afinado com os princípios ecológicos quanto o que diz que “tudo no universo se liga, tudo se encadeia, tudo se acha submetido à grande e harmoniosa lei de unidade (Cap. XIV, item 12).
Espíritas e ecologistas também denunciam um senso de urgência em relação ao que precisamos realizar sem demora em favor da vida. Enquanto os ecologistas alertam para o risco de um esgotamento da capacidade de o planeta prover a humanidade das atuais demandas insustentáveis de matéria-prima e energia, os espíritas recomendam que aproveitemos ao máximo a atual encarnação para ajustarmos a nossa vibração à do planeta, que ascende na escala dos mundos. Ou seja, fazer as escolhas erradas agora pode nos custar o impedimento de seguir reencarnando na Terra, já que para o novo mundo de regeneração só virão aqueles com vibração compatível, mais elevados ética e moralmente.
Espíritas e ecologistas alertam para os riscos da poluição nos dois planos da vida. Enquanto os ecologistas denunciam os impactos causados pela poluição do ar, das águas e da terra, os espíritas desdobram esse olhar para o campo sutil, e revelam a importância de mantermos bons pensamentos e sentimentos para que a nossa psicosfera – campo eletromagnético que nos envolve e que reflete nossa realidade evolutiva, padrão psíquico, emoções e estado físico – seja a mais saudável possível. Sanear a mente e o coração tem efeitos diretos e positivos sobre a nossa psicosfera e a qualidade da vibração do planeta que nos acolhe.
Espíritas e ecologistas denunciam com veemência as mazelas do consumismo. Inúmeros relatórios produzidos pela ONU, organizações prestigiadas como a Worldwatch Institute, universidades e instituições de pesquisa espalhadas pelo mundo demonstram que o consumo exagerado, perdulário e compulsivo de aproximadamente 20% da população mundial tem agravado progressivamente o cenário de destruição do meio ambiente. Estima-se que hoje a Humanidade esteja demandando em recursos naturais não renováveis, a cada ano, 30% a mais do que o planeta seja capaz de suportar. Se o consumo favorece a vida, o consumismo degrada, depreda e destrói, em uma velocidade impressionante, os recursos naturais não renováveis.
Publicado em 1857, O Livro dos Espíritos – base da codificação - reserva um capítulo inteiro para a chamada Lei de Conservação, no qual a Espiritualidade Maior explica a diferença entre o que seja necessário e supérfluo, e deixa bastante claro que “a Terra ofereceria ao homem sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se” (resposta à pergunta 705). O enorme apego à matéria – característico dos habitantes dos mundos primitivos - expresso nos valores dominantes da sociedade de consumo dos dias de hoje, revela o risco de desperdiçarmos tempo e energia preciosos com aquilo que é perecível, efêmero e descartável.
São realmente muitas as afinidades entre a doutrina espírita e as ciências ecológicas. Abrir espaço para pesquisas nesta direção significa oxigenar o debate em favor da vida, em um momento estratégico para nossa espécie. Vivemos hoje uma crise ambiental sem precedentes na história da Humanidade e somos diretamente responsáveis por essa situação. O uso soberano do nosso livre-arbítrio nos trouxe até aqui. Hoje, testemunhamos o risco do colapso, do ecocídio que torna o planeta cada vez mais hostil à nossa presença. A boa notícia é que dispomos de todos os meios necessários para reverter essa situação e transformar positivamente essa realidade. Quem procura melhorar-se ética e moralmente – e o Espiritismo elege como uma de suas prioridades a reforma íntima – deve agir em favor da vida, da harmonia e do equilíbrio. Ser sustentável é cuidar de si, dos outros e de nossa casa planetária. Já.
Referências:
TRIGUEIRO, André. Espiritismo e Ecologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 26ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 31ª ed. Rio de Janeiro: FEB.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. 9ª ed. São Paulo. Cultrix, 1996.
SANTOS, Jorge Andréa dos. Energias Espirituais nos Campos da Biologia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Cia. Editora FonFon e Seleta, 1971.
SANT’ANNA, Hernani T. Universo e Vida. Pelo Espírito Áureo. 2ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
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