Entrevista concedida por Pietro Ubaldi ao Jornal Pernambuco Espírita, em 1955.
No dia 8 de setembro passado, tivemos o primeiro contato com o grande pesador e filósofo Prof. Pietro Ubaldi, na residência do Sr. Sebastião Stanislau, à Estrada do Arraial, em Casa Amarela desta cidade. O autor da “A Grande Síntese” nos recebeu cordialmente, ficando inteiramente ao nosso dispor, respondendo humildemente, qualidade que lhe é peculiar, todas as nossas perguntas em torno da doutrina dos espíritos.
Ele nos declarou textualmente que aceita integralmente toda a codificação kardeciana, não tendo nenhuma restrição a fazer sobre o Espiritismo. E como tal se considera espírita. Fez questão para que “Pernambuco Espírita” divulgasse essa qualidade, o que estamos fazendo. Homem simples e dentro daquela brandura, o grande pensador dos nossos dias, não se sentiu agastado com a nossa presença, ao contrário, cheio de boa vontade para perscrutar-lhe o que ia no mais profundo d’alma e assim tivemos uma oportunidade rara um nossos dias diante dessas situações em que personalidades de alto conceito se apresentam à imprensa para transmitir ao grande público os seus sentimentos deslumbrados com tanta bondade e tanta sabedoria, teremos para com o nobre prof. Pietro Ubaldi estas expressões de gratidão: Muito obrigado, prof. Pietro Ubaldi...
Fizemos ao prof. Pietro Ubaldi, as seguintes perguntas, que sem nenhuma afetação e dentro da maior calma, ele respondeu a todas com absoluta segurança e sem rodeios. Ei-las:
- Como interpreta as doutrinas contidas no Livro dos Espíritos?
R. Aceito espírito e matéria. Admito a existência do perispírito, contudo ainda não cheguei a conclusão científica positiva da sua existência, como um dos elementos formadores da personalidade humana.
- O Sr. aceita a pluralidade dos mundos habitados?
R. Aceito a pluralidade dos mundos habitados, sem nenhuma sombra de dúvida. Cada mundo tem a sua forma particular. Todos obedecendo aos ditames divinos de aperfeiçoamento das suas humanidades. É interessante frisar que em todos eles a reencarnação é a condição de evolução, de reforma. É meio primordial das criaturas chegarem à perfeição.
- O Sr. aceita o Espiritismo no seu tríplice aspecto: ciência, religião e filosofia?
R. O espiritismo no Brasil, assume um aspecto todo especial, em relação aos demais países do mundo. O espiritismo no Brasil é religião, enquanto nos outros países é estudado como ciência e como filosofia.
- O Sr. aceita o Espiritismo como doutrina cristã?
R. Aceito o espiritismo como doutrina eminentemente cristã e como tal, será aceito por todos, logo que se espalhe pelo mundo. Será a religião de terceiro milênio. O mundo tem apenas 45 anos para completar a sua reforma.
- Como concebe Deus?
R. Deus é a inteligência suprema do universo. É o ponto de convergência de todas as criaturas. A ciência oficial não pode compreender Deus. Não pode chegar até Deus, porque não tem conhecimento bastante. Há outro caminho para se chegar até Deus. É o caminho do coração. Quando não de chega até Deus pelo raciocínio, se chega pelo sentimento. A intuição que temos da existência de Deus, não podemos demonstrá-la, porque não conhecemos Deus em sua essência. somente a intuição no-Lo revela e para os conhecimentos atuais da humanidade, isto é o bastante.
- Como encara a Codificação Kardeciana?
R. É um trabalho que veio revolucionar o pensamento humano. Ela deu um sentimento completamente novo ao estudo da metafísica. Imprimiu um novo sentido no campo da bondade, da paciência e da caridade. Estabeleceu para o mundo um conteúdo moral muito elevado da justiça de Deus e seus atributos. Como sistema filosófico espiritualista, tem os principais elementos para constituir uma verdadeira filosofia. Há necessidade de um gênio, alguém para desenvolver estes princípios contidos nos livros básicos do Espiritismo. É necessário um estudo mais desenvolvido.
A codificação kardeciana tem todos os princípios científicos em estado de embrião. A ciência oficial de hoje não os encara como coisa séria. É preciso, pois, alguém de responsabilidade, apareça para incentivar o estudo das doutrinas dos espíritos nos meios científicos, norteando-lhes o verdadeiro estudo, fazendo com que a ciência oficial, siga-lhes as pegadas. E no campo experimental, dentro das instituições espíritas, dar uma novação feição ao estudo da mediunidade hoje tão malbaratada nesses centros de estudos.
As impressões do Prof. Pietro Ubaldi sobre as Comemorações do 1º. Centenário do Espiritismo
Perguntaram-me o que eu penso a respeito do primeiro Centenário do Espiritismo. Antes de tudo quero declarar que me considero espírita. Todas as vezes que no ambiente espírita acho pessoas boas e honestas, como quase sempre achei, mas, que não me posso considerar espírita quando me devo concordar com espíritas que exploram a verdade e não acreditam em Deus e que quereriam para eu ser espírita, que eu condenasse e agredisse os outros grupos de religião. Isto eu não posso fazer, porque quero abraçar a todos. Explico tudo isto para esclarecer vários mal-entendidos que nasceram a este respeito. A minha é a religião da bondade e fico unido a todos os que a praticam em qualquer religião que estejam; no entanto afasto-me de todos que não a praticam, em qualquer religião que estejam.
Para mim interessa a substância e não a forma.
Por isso, se a celebração deste primeiro Centenário do Espiritismo for útil para despertar nas almas esta substância de amor recíproco e bondade, dar-lhe-ei a minha adesão completa. Mas, se pelo contrário, forma somente ruidosa manifestação exterior onde prevaleçam interesses humanos, como infelizmente em geral acontece nas manifestações religiosas de nosso tempo, aí eu não saberia que fazer e vim dizer, embora ficando sempre com o maior respeito para tudo o que for o meu próximo, do que eu devo amar como a mim mesmo.
Prof. Pietro Ubaldi
Jornal Pernambuco Espírita, 1955
Imagem: foto de Pietro Ubaldi na chegada ao Brasil (Monismo.com.br)
No dia 8 de setembro passado, tivemos o primeiro contato com o grande pesador e filósofo Prof. Pietro Ubaldi, na residência do Sr. Sebastião Stanislau, à Estrada do Arraial, em Casa Amarela desta cidade. O autor da “A Grande Síntese” nos recebeu cordialmente, ficando inteiramente ao nosso dispor, respondendo humildemente, qualidade que lhe é peculiar, todas as nossas perguntas em torno da doutrina dos espíritos.
Ele nos declarou textualmente que aceita integralmente toda a codificação kardeciana, não tendo nenhuma restrição a fazer sobre o Espiritismo. E como tal se considera espírita. Fez questão para que “Pernambuco Espírita” divulgasse essa qualidade, o que estamos fazendo. Homem simples e dentro daquela brandura, o grande pensador dos nossos dias, não se sentiu agastado com a nossa presença, ao contrário, cheio de boa vontade para perscrutar-lhe o que ia no mais profundo d’alma e assim tivemos uma oportunidade rara um nossos dias diante dessas situações em que personalidades de alto conceito se apresentam à imprensa para transmitir ao grande público os seus sentimentos deslumbrados com tanta bondade e tanta sabedoria, teremos para com o nobre prof. Pietro Ubaldi estas expressões de gratidão: Muito obrigado, prof. Pietro Ubaldi...
Fizemos ao prof. Pietro Ubaldi, as seguintes perguntas, que sem nenhuma afetação e dentro da maior calma, ele respondeu a todas com absoluta segurança e sem rodeios. Ei-las:
- Como interpreta as doutrinas contidas no Livro dos Espíritos?
R. Aceito espírito e matéria. Admito a existência do perispírito, contudo ainda não cheguei a conclusão científica positiva da sua existência, como um dos elementos formadores da personalidade humana.
- O Sr. aceita a pluralidade dos mundos habitados?
R. Aceito a pluralidade dos mundos habitados, sem nenhuma sombra de dúvida. Cada mundo tem a sua forma particular. Todos obedecendo aos ditames divinos de aperfeiçoamento das suas humanidades. É interessante frisar que em todos eles a reencarnação é a condição de evolução, de reforma. É meio primordial das criaturas chegarem à perfeição.
- O Sr. aceita o Espiritismo no seu tríplice aspecto: ciência, religião e filosofia?
R. O espiritismo no Brasil, assume um aspecto todo especial, em relação aos demais países do mundo. O espiritismo no Brasil é religião, enquanto nos outros países é estudado como ciência e como filosofia.
- O Sr. aceita o Espiritismo como doutrina cristã?
R. Aceito o espiritismo como doutrina eminentemente cristã e como tal, será aceito por todos, logo que se espalhe pelo mundo. Será a religião de terceiro milênio. O mundo tem apenas 45 anos para completar a sua reforma.
- Como concebe Deus?
R. Deus é a inteligência suprema do universo. É o ponto de convergência de todas as criaturas. A ciência oficial não pode compreender Deus. Não pode chegar até Deus, porque não tem conhecimento bastante. Há outro caminho para se chegar até Deus. É o caminho do coração. Quando não de chega até Deus pelo raciocínio, se chega pelo sentimento. A intuição que temos da existência de Deus, não podemos demonstrá-la, porque não conhecemos Deus em sua essência. somente a intuição no-Lo revela e para os conhecimentos atuais da humanidade, isto é o bastante.
- Como encara a Codificação Kardeciana?
R. É um trabalho que veio revolucionar o pensamento humano. Ela deu um sentimento completamente novo ao estudo da metafísica. Imprimiu um novo sentido no campo da bondade, da paciência e da caridade. Estabeleceu para o mundo um conteúdo moral muito elevado da justiça de Deus e seus atributos. Como sistema filosófico espiritualista, tem os principais elementos para constituir uma verdadeira filosofia. Há necessidade de um gênio, alguém para desenvolver estes princípios contidos nos livros básicos do Espiritismo. É necessário um estudo mais desenvolvido.
A codificação kardeciana tem todos os princípios científicos em estado de embrião. A ciência oficial de hoje não os encara como coisa séria. É preciso, pois, alguém de responsabilidade, apareça para incentivar o estudo das doutrinas dos espíritos nos meios científicos, norteando-lhes o verdadeiro estudo, fazendo com que a ciência oficial, siga-lhes as pegadas. E no campo experimental, dentro das instituições espíritas, dar uma novação feição ao estudo da mediunidade hoje tão malbaratada nesses centros de estudos.
As impressões do Prof. Pietro Ubaldi sobre as Comemorações do 1º. Centenário do Espiritismo
Perguntaram-me o que eu penso a respeito do primeiro Centenário do Espiritismo. Antes de tudo quero declarar que me considero espírita. Todas as vezes que no ambiente espírita acho pessoas boas e honestas, como quase sempre achei, mas, que não me posso considerar espírita quando me devo concordar com espíritas que exploram a verdade e não acreditam em Deus e que quereriam para eu ser espírita, que eu condenasse e agredisse os outros grupos de religião. Isto eu não posso fazer, porque quero abraçar a todos. Explico tudo isto para esclarecer vários mal-entendidos que nasceram a este respeito. A minha é a religião da bondade e fico unido a todos os que a praticam em qualquer religião que estejam; no entanto afasto-me de todos que não a praticam, em qualquer religião que estejam.
Para mim interessa a substância e não a forma.
Por isso, se a celebração deste primeiro Centenário do Espiritismo for útil para despertar nas almas esta substância de amor recíproco e bondade, dar-lhe-ei a minha adesão completa. Mas, se pelo contrário, forma somente ruidosa manifestação exterior onde prevaleçam interesses humanos, como infelizmente em geral acontece nas manifestações religiosas de nosso tempo, aí eu não saberia que fazer e vim dizer, embora ficando sempre com o maior respeito para tudo o que for o meu próximo, do que eu devo amar como a mim mesmo.
Prof. Pietro Ubaldi
Jornal Pernambuco Espírita, 1955
Imagem: foto de Pietro Ubaldi na chegada ao Brasil (Monismo.com.br)
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