sábado, 13 de agosto de 2011

O Cristo de Pietro Ubaldi



Por José Amaral


Quando foi lançado o livro Cristo, algumas vozes se ergueram em criticas precipitadas. Muito natural, porque tratava-se de uma nova concepção apresentada pelo Autor sobre a maior figura da cristandade. Outros, mais afoitos, condenaram-no, ajuizando-o como se ele não estivesse mais ligado às correntes noúricas, tão bem estudadas em seu As Noúres. Não era o Cristo esperado por eles. Puro engano. Pietro Ubaldi nunca escreveu para agradar a essa ou aquela corrente, para concordar ou não com esse ou aquele pensador. Seus princípios sempre foram "Universalidade e Imparcialidade". A fonte de inspiração do Cristo foi a mesma de toda a Obra. Escreveu-o sem pressa. Em Pietro Ubaldi & Nazarius, encontram-se informações, todas comprovadas, sobre o estado físico e espiritual de Pietro Ubaldi, como e onde o Cristo foi escrito. Aqui estão elas.

Na entrevista que concedeu à José Amaral, o Autor do livro em epígrafe, em 29 de Junho de 1968, já com 82 anos, afirmou: "O fato perante o qual me encontro é que o meu corpo está envelhecendo, seguindo o seu curso biológico normal de esgotamento senil. Isto está conforme as regras da vida. Mas outro fato perante o qual me acho é que a parte espiritual do meu ser não segue o mesmo caminho e fica bem lúcida e acordada, independente do envelhecimento do corpo".

Onze dias depois da entrevista, dia 10 de Julho, Ubaldi teve um enfarte. Já bastante recuperado, no dia 16 de Agosto, escreveu uma longa carta relatando o acontecimento e disse: "Não se assuste. Continuarei trabalhando. O que piorou foi a vida física, não a espiritual. Desci um degrau para desencarnar, mas só um degrau e continuarei vivendo neste nível. Sem dúvida chegarei até 1971, como já expliquei na introdução do livro Profecias. Depois veremos".

Ele estava se recuperando numa casa de campo, cercado de árvores frondosas, em Cotia, SP, e, mais onze dias depois enviou outra carta: "No ar livre daqui, espero recuperar-me mais rápido. Claro que terei uma vida de regime, num nível de vida física mais baixo, mas de lucidez espiritual mais alto, e isto é bom para escrever o Cristo ".

Com a permissão do médico, retornou à São Vicente, e no dia 5 de Outubro fala de sua saúde: "Estou me recuperando como pode um velho de 83 anos (fez 82 no dia 18 de Agosto). Estou melhor do que antes, quando você esteve aqui. Continuo num regime regular, como um relógio. O trabalho mental vai muito bem e assim posso continuar vivendo como um espírito que pensa".

Em Março de 1969, começou a escrever o livro Cristo e mandou uma carta muito atenciosa, exatamente no dia 17, de Cotia, onde se encontrava: "Não se preocupe com a correspondência, temos portador de São Vicente para cá todos os fins de semana. Aproveito esta paz e solidão, a ausência de calor e trabalho febrilmente nos meus livros. Logo que terminei a Técnica Funcional da Lei de Deus, iniciei o Cristo. Já escrevi quatro capítulos. Vou gravá-los. Vivo dentro de um regime regular. Estou escrevendo cerca de oito horas por dia. O corpo está cansado, mas a mente se torna sempre mais clara. Estou perto dos 84 anos (ainda não tinha feito 83 anos) e quanto mais envelheço, tanto mais escrevo. Só corpo morre, não o espírito. No Natal de 1971, estará tudo acabado, exatamente porque a Obra foi iniciada no Natal de 1931".

Em 02 de Maio, ainda em Cotia, manda mais notícias do seu Cristo: "Iniciei o livro Cristo, que vai progredindo bem. Fica faltando somente um livro para terminar a Obra".

Quando retornou à São Vicente, em 10 de Junho, afirmou: "Estou sempre trabalhando no livro Cristo. Agora tenho que parar um semana para responder à todas as cartas".

Em 1º de Novembro, outras notícias: "Faço o meu passeio duas vezes por dia, sem afastar-me mais de 500 metros da casa, sempre acompanhado por Agnese. Estou fraco, porém sem sofrimentos, o que é muito. Com a mente bem acordada. Continuo sempre escrevendo e gravando o livro Cristo, que vai muito bem".

Em 28 de Janeiro de 1970, Ubaldi escreve: "Agora tudo está em ordem e voltei ao meu trabalho, com o novo livro (refere-se ao livro que faltava: Pensamentos). Retornarei depois ao livro Cristo, porque são as últimas palavras deste que encerrarão a Obra no Natal de 1971".

Logo depois foi passar o verão na casa de campo em Cotia e de lá veio uma carta, em 10 de Abril, dizendo: "Aqui estou, sempre escrevendo; retornei ao livro Cristo, que está bem adiantado. De saúde, estou sempre na mesma. Posso trabalhar muito bem".

Como se vê o livro Cristo está sendo escrito em Cotia.

Em 31 de Maio ainda estava em Cotia e nos mandou boas notícias: "Pediram-me da Europa um livro sobre a Obra, para publicar em francês e italiano. Iniciei-o em 15 de Fevereiro e acabei-o em 15 de Abril. No fim de Abril estava todo gravado. Ontem estava batido à maquina e enviado via aérea. Foi um trabalho dura, escrever um livro em dois meses. Agora posso voltar ao livro Cristo, que foi interrompido".

Em 5 de Outubro daquele ano, temos: "Eu continuo envelhecendo, enfraquecendo e trabalhando. Isto é natural aos 85 anos (ainda ia completar em 18 de Agosto do ano seguinte). Estou bem adiantado com o livro Cristo, mas preciso gravá-lo em fitas. Ele está em italiano. Depois precisa bater à máquina".

Carta de 24 de Maio de 1971: "De saúde sempre na mesma. Com um regime regular, posso trabalhar mentalmente. O livro Cristo encerrará a Obra neste 1971. Tudo estará regularmente executado, como previsto em Profecias, quarenta anos depois que iniciei (Natal de 1931)".

Quando completou 85 anos, em 18 de Agosto de 1971, escreveu uma bela missiva em que dizia: "Hoje mesmo entro nos 86 anos de idade. O que me surpreende é a clareza mental com a qual estou escrevendo. Como vê, nunca paro. Poderei continuar trabalhando enquanto viver. Terminei de escrever toda a Obra. Os livros grandes (400 páginas) não se pode publicar porque custam demais. Este é um trabalho que outros farão, quando puderem. A minha parte de escrever, está feita. Neste Natal de 1971, a Obra estará definitivamente encerrada, como previsto em Profecias".

A sua missão completou-se nesse dia; inclusive terminou de escrever o livro Cristo, faltando-lhe apenas o prefácio que foi escrito no Natal daquele mesmo ano, cumprindo assim a profecia anunciada desde 1955 e ratificada muitas vezes.

Ainda na penúltima carta ao amigo, em 3 de Dezembro de 1971, voltou a falar da sua saúde: "A saúde é sempre a mesma, fisicamente fraco, mas mentalmente bem acordado. Assim, continuo sempre trabalhando".

Natal de 1971: "O Cristo representa o termo conclusivo de uma Obra de 24 volumes, perfazendo cerca de 10.000 páginas. Trata-se de um longo caminho, no qual este escrito se conclui na fase de maturação alcançada - à guisa de coroamento. Podemos dizer agora: esta Obra está completa, bastando observar o ritmo musical segundo o qual ela se desenvolveu e termina. Nasceu no Natal de 1931 e terminou neste Natal de 1971". (Prefácio do Cristo).

Porque tanto tempo para escrever o livro Cristo? A grandeza e a profundidade da Obra necessitava de um ambiente de muita paz e tranqüilidade encontrado na casa de campo em Cotia, onde o livro foi escrito. Também A Grande Síntese foi revelada ao mundo na Tenuta Santo Antônio, uma bela chácara na estrada de Colle Umberto (Perugia - Itália), em quatro verões sucessivos (1932-1935).

Com estes dados, todos documentados, os que tiverem interesse em analisar o conteúdo do último volume da Coleção Pietro Ubaldi, poderão fazê-lo melhor.

Manuel Emygdio da Silva fez uma pergunta a Pietro Ubaldi, sete anos antes do livro ser escrito: "Para entender o Cristo, estaremos em face de uma corrente crística ou de um espírito individual que encarnou em Jesus para nos ensinar o caminho?"

O Sábio e Autor do livro Cristo respondeu: "Para entender quem era o Cristo, é preciso entender Deus, a Criação, o Sistema e o Anti-Sistema, e todo o nosso sistema filosófico sobre a natureza e estrutura do Universo. Então poderíamos colocar o Cristo no ponto devido dentro desse quadro".

Este foi o caminho percorrido por Pietro Ubaldi para escrever o Cristo, e pode ser também o nosso para entendê-lo em toda a sua plenitude, Se foi difícil, vamos assimilando-o na medida do possível, mas é bom conhecê-lo.


Campos dos Goytacazes, Páscoa de 1998.

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