terça-feira, 23 de agosto de 2011

Foligno - Cidade natal de Pietro Ubaldi


Os espíritos elevados não descem à terra, senão em missão, maiores ou menores. Depois que a alma atinge uma posição nobilitante, pode continuar sua evolução em qualquer parte do universo. "Na casa do meu Pai, há muitas moradas". Se o ambiente terrestre é o mais propício à quitação do debito que o ser tem para com a Lei Divina, se, aqui ele deve realizar, também a sua missão, para o bem da humanidade, então, desce, cumpre com o seu dever e retorna em paz consigo mesmo. Além de Cristo, o embaixador celestial, vejamos alguns emissários que desceram à Terra: Moisés, Sócrates, Simão Pedro, Paulo de Tarso, S. Francisco de Assis, Martin Lutero, Blaise Pascal, Allan Kardec, nosso biografado, Francisco Cândido Xavier e tantos outros seareiros no campo da ciência, da filosofia e da religião. Todos eles aproveitaram bem sua descida a este mundo.

É verdade que. essas almas sublimes, distanciadas há séculos de nossa escalada evolutiva, podem e escolhem o ambiente para nascer. Não surgem em qualquer lugar, nem de qualquer maneira. Nascer é fácil, mas nascer bem e muito difícil e Pietro Ubaldi escolheu a cidade e o ambiente em que deveria nascer e viver.

Por que nascer em Foligno e no século passado? Foligno é uma cidade pequena e tão velha quanto a Itália; de longas tradições, onde a natureza é exuberante, com muito verde e muita água. Foligno, naquela época, com cerca de 30.000 habitantes, era sustentada, essencialmente, pela agricultura. Com a unificação da Itália, em 15 de setembro de 1860, a cidade passou a fazer parte do Reino Italiano. Foligno é uma planície, a 234m ao nível do mar, no centro do vale úmbrico, distante 158 Km de Roma e apenas 18 Km de Assis. Hoje, a indústria faz parte da vida dos foligneses. Pietro Ubaldi viveu naquela cidade e assistiu à passagem do século XIX para o século XX, conviveu com aquela geração que fazia de Foligno um dos grandes celeiros italianos. Conheceu as pessoas modestas, operários de seus pais, gente humilde e trabalhadora. Nasceu no meio da natureza e sabia amá-la, profundamente.

Como todas as cidades úmbricas, Foligno (província de Perúgia - capital da Umbria) tem uma característica especial: a religiosidade do seu povo, impregnada do misticismo de S. Francisco, talvez pela proximidade de Assis. Costuma-se dizer que a aura de S. Francisco atingia 100 km de raio, logo a cidade natal de Ubaldi recebeu os benefícios do Santo, o maior, depois de Cristo, que já passou pela Terra. Foligno tem muitas igrejas e a famosa Catedral de S. Feliciano, uma das mais bonitas, construída em forma de cruz. Nessa Catedral, Pietro Ubaldi foi batizado, quando chegou a este planeta.

"Um dia senti o meu destino como um feixe de forças convergentes e ascendentes e o reencontrei na força e musicalidade arquitetônica da catedral gótica. As arcadas, sempre se restringindo mais para o vão da porta, exprimem as linhas de concentração do externo para o interior. E eu entrara jovem no templo austero da solidão do pensamento. Lá fora, era para mim estridor e sofrimento e já não podia tornar a gozar as fáceis alegrias do mundo exterior. Desde jovem me acostumei a respirar aquela atmosfera severa, saturada de conceitos profundos. Meus olhos aprenderam a ver na mística penumbra e se alentaram as luzes esplendentes do Alto, que convidavam a subir. O meu olhar embalou-se na música harmoniosa das arquiteturas, no sonho diáfano dos místicos vitrais, na doçura das imagens das coisas eternas e santas. Assim, a minha alma se desafeiçoou, lentamente, da terra e abriu-se toda à visão de Deus. E, como no templo gótico, foi também no meu destino, uma convergência de linhas de força, que me levou acima, acima, ao longo da nave central, até onde a estrutura do edifício abre seus braços em forma de cruz".

Pietro Ubaldi era religioso, desde a sua infância. Gostava de freqüentar as igrejas, conversar com os padres, interrogá-los sobre a vida depois da morte. Ele residia a cerca de cinco minutos da Catedral e se tornou muito conhecido de seus dirigentes, muito embora nunca assumisse papel relevante junto dos sacerdotes. Sentia-se bem naquele ambiente, oposto ao da vida palaciana. Desde menino, os dois mundos, o espiritual que trazia consigo e o material a que deveria adaptar-se, pareceram-lhe conflitantes. “Mas nem tudo, no seu espírito, era trágica tristeza. Havia luz também, e quanta luz! Lembrava-se de haver sido tocado, em criança, mais na vista interior do que nos olhos, certa tarde, numa igreja, por uma luz amiga que fluía do alto, não sabia como, contou o fato, mas ninguém o compreendeu, e então se calou”.

Perguntamos nós: quantas visões não tivera o apóstolo de Cristo naquela Catedral, que lhe era tão familiar e quantas delas não ficaram retidas no fundo do seu coração? Contá-las a quem, se fora obrigado a calar-se diante dos pais e das autoridades eclesiásticas? Proibiram-no de falar, mas não puderam impedi-lo de ver e, melhor ainda, de conviver com aquelas visões, verdadeiros sustentáculos de sua vida.

Como vemos, Foligno era, com todos os seus recursos naturais e religiosos, o ambiente propício ao nascimento do arauto da nova civilização do espírito.


Jose Amaral

Do livro "Pietro Ubaldi e o 3º Milênio", de Jose Amaral.
Imagem: Catedral de S. Feliciano (Foligno-Itália)

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