sábado, 12 de setembro de 2009


Formação do Novo Homem


A tarefa da Educação Espírita é a formação de um homem novo. A Educação Clássica greco-romana formou o cidadão, o homem vinculado à cidade e suas leis, servidor do Império; a Educação Medieval formou o cristão, o homem submisso a Cristo e sujeito à Igreja, à autoridade desta e aos regulamentos eclesiásticos; a Educação Renascentista formou o gentil-homem, sujeito às etiquetas e normas sociais, apegado à cultura mundana; a Educação Moderna formou o homem esclarecido, amante das Ciências e das Artes, céptico em matéria religiosa, vagamente deísta em fase de transição para o materialismo; a Educação Nova formou o homem psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das angústias e traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo consultório psiquiátrico e psicanalítico, reduzindo a religião a mera convenção pragmática.

Nesse rápido esquema temos uma visão do desenvolvimento do processo educacional e de suas conseqüências. Não pretendemos que seja uma visão perfeita e completa. É apenas um esboço destinado a nos orientar na compreensão do assunto. E vemos que ele pode nos dar uma idéia negativa da Educação, mas se refletirmos a respeito veremos o contrário. Do homem submisso ao Estado ou a Deus, preso a leis, regras e convenções que o amoldam e desfiguram, avançamos para o homem livre do futuro, responsável por si mesmo, que chega a se revoltar contra o próprio Deus no seu profundo anseio de liberdade, mas sempre em busca da sua afirmação como Ser.

Essa afirmação é a que nos traz o Espiritismo com as provas científicas da sobrevivência e a perspectiva da imortalidade, com a desmitização da morte, com a racionalização do nebuloso conceito de Deus e de suas relações com o homem, com o esclarecimento decisivo do destino do homem e da razão de ser da vida e suas peripécias. Cabe, portanto, à Educação Espírita formar o homem consciente do futuro, que já começa a aparecer na Terra, senhor de si, responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a Deus, no qual reconhece a Inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas.

Não é mais possível educar as gerações novas segundo nenhum dos tipos anteriores de Educação. Daí a rebeldia que vemos nas escolas, a inquietação da juventude, insatisfeita com a ordem social e cultural, ambas obsoletas, em que se encontram. A Educação Espírita se impõe como exigência dos tempos. Só ela poderá orientar os espíritos para a formação do homem novo, consciente de sua natureza e de seu destino, bem como de pertencer à Humanidade Cósmica e não aos exíguos limites da humanidade terrena. Só ela pode nos dar, nesse homem novo, a síntese de todas as fases da evolução anterior, numa formulação superior. Porque o homem espírita –– ou o homem consciente –– que essa nova Educação nos dará, será ao mesmo tempo o cidadão, o cristão, o gentil-homem, o homem esclarecido e o homem psicológico, mas na conjugação de todos esses elementos numa dimensão espiritual e cósmica.

Com isso não queremos dizer que toda a Humanidade se converta ao Espiritismo, mas tão somente que os princípios fundamentais do Espiritismo serão as coordenadas do futuro, marcando o âmbito conceptual e ético da nova formação educacional. Não foi necessário que toda a Humanidade se convertesse ao Cristianismo para que os princípios deste remodelassem o mundo. O mesmo acontecerá com o Espiritismo. A função da Educação Espírita é portanto a de abrir perspectivas novas ao processo educacional, adaptando-o às necessidades novas que surgiram com o desenvolvimento cultural e espiritual do homem. As escolas espíritas –– como as escolas cristãs o fizeram –– serão os centros dinamizadores da renovação. E a Pedagogia Espírita –– como o fez a Pedagogia Cristã –– orientará a nova concepção educacional que está nascendo em nossos dias.

Por outro lado, correntes avançadas da Pedagogia Contemporânea, como especialmente a do néo-kantismo, representada por Kerchensteiner na Alemanha e René Hubert na França, darão sua contribuição para o desenvolvimento dessa profunda revolução educacional em marcha. Seria bom, por sinal, que os educadores espíritas procurassem aprofundar-se no estudo do Traité de Pédagogie Générale, de Hubert, que nos parece um verdadeiro monumento de renovação educacional dentro das coordenadas espíritas.

Como vemos, o nascimento da Educação Espírita ainda não se completou. Começando com Kardec, há mais de um século, ainda está se processando em nossos dias. Por isso mesmo, somos todos convocados a participar desse acontecimento espiritual, contribuindo cada qual da maneira que puder para que ele se complete o quanto antes.


José Herculano Pires

Fonte: Pedagogia Espírita, Edição EDICEL.

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