De que vale ao homem uma crença cega e dogmática, diante das novas e cada vez mais surpreendentes revoluções tecnológicas e científicas, que impelem os cientistas, filósofos e religiosos à constante necessidade de revisão de seus paradigmas? De que vale uma esperança vaga ou fundada em preceitos equivocados com relação ao futuro do Espírito, nessa hora extrema em que transitamos inexoravelmente para outra realidade – a de um mundo em regeneração – que mal começa a ser vislumbrada por alguns, mas que permanece incompreendida ou desconsiderada pela maioria, ávida de novidades, mas tardia em mover-se no sentido do progresso espiritual?
O estudo e a assimilação do manancial de conhecimentos legado pela Doutrina Espírita à Humanidade é, indubitavelmente, um instrumento extraordinário para a edificação de um mundo melhor, porque, além de permitir a filtragem e a releitura da realidade ostensiva até então conhecida, oferece elementos preciosos para a reconstrução do novo homem, a partir do conhecimento de sua origem, de seu destino e de sua missão na Terra.
Diversos são os canais e os meios de acesso ao conhecimento espírita. Porém, qual deles nos permite absorver esse conhecimento, de forma segura, continuada e com oportunidade de intercâmbio de ideias e experiências, senão em grupos de estudos oferecidos pelo Centro Espírita, célula básica do Movimento Espírita?
Com efeito, o Centro Espírita, que tem por missão acolher, consolar, esclarecer e orientar as criaturas, à luz do Espiritismo e do Evangelho de Jesus, encontra, nos grupos de estudos e especialmente no Esde, uma notável ferramenta de auxílio ao cumprimento de sua vocação, visto que tais núcleos de estudos, por meio de recursos apropriados, facilitam a vivência do aprendizado do Espiritismo, preparando a pessoa para sua integração, de maneira extensiva, no núcleo social em que se insere, de forma espontânea, consciente e produtiva.
Com ampla visão do futuro, Kardec já alertava sobre a necessidade da criação de semelhantes espaços de aprendizagem, nos moldes de um “curso regular de Espiritismo”,1 com metodologia apropriada, visando a realizar um estudo sério e continuado da Doutrina Espírita, judiciosamente por ele chamada de “a Ciência do Infinito”,2 cujos ensinos – naturais antídotos do materialismo – não se improvisam e não se adquirem em apenas algumas horas, sem método e sem perseverança.
O Codificador designa a Ciência Espírita como o “elemento de progresso, porque estimula o Espírito”,3 considerando que [...] somente ela pode dar ao homem coragem nas suas provas, porque lhe fornece a razão de ser dessas provas, perseverança na luta contra o mal, porque lhe assina um objetivo [...].3 Eis a razão pela qual é tão importante “formar essa crença no espírito das massas”.3 Em vista disso, a implantação de um curso revestido de tais características exercerá “capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências”.1
Complementando essa orientação, o Codificador enfatiza que não basta cuidarmos somente do nosso adiantamento individual. Necessário se faz, também, levarmos às criaturas, sedentas de esclarecimentos e consolações, a eficiente divulgação da mensagem espírita, oferecendo-lhes o lenitivo dos seus postulados. Sob esse aspecto, cabe aos que se encontram na dianteira a condução dos retardatários ao mesmo desiderato, oferecendo-lhes possibilidades de estudar e aprofundar o conhecimento dos princípios espíritas, enraizados na revelação da Boa Nova.
Mas, como o progresso intelectual pode fomentar o progresso moral? A esse respeito, os Espíritos esclarecem:
Fazendo que se compreenda o bem e o mal; o homem, então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.4
Desse modo, a Instituição Espírita pode oferecer aos que a buscam, por meio de diferentes reuniões de estudo e, em particular, pelos grupos do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (Esde), o acolhimento e envolvimento fraternos, o esclarecimento sobre o que somos, o porquê dos sofrimentos, o destino que nos aguarda e o consolo pela convicção de que somos todos irmãos, de que a vida continua e que todos estamos destinados à felicidade. Além disso, precisa apoiar essas pessoas em seu processo de autoconhecimento, de reforma interior, ensejando-lhes o desenvolvimento de seus potenciais positivos, de condições para atuar de maneira consciente, segura e amorosa na sociedade à qual pertencem. Para isso, é necessário atuar em conformidade com os princípios doutrinários, com simplicidade e humildade, sem elitismos de academia.
O estudo disciplinado e perseverante é solo seguro para edificar o progresso. É a base sólida, sem a qual nenhuma convicção se sustenta. Mas, apenas estudar não é suficiente, é preciso o contato com o outro, necessária se faz a vivência diária dos ensinamentos cristãos para evoluir. De que adiantaria o conhecimento sem o amor, que é construído no dia a dia, com a prática da tolerância, da aceitação do outro, da compreensão dos problemas de cada um e que transforma o ser?
Ao utilizar como técnica principal a interação dentro do grupo, o Esde propicia a convivência, o intercâmbio de ideias, a troca de experiências e o aprimoramento dos relacionamentos interpessoais, à feição de verdadeiro laboratório da prática do Espiritismo, ao mesmo tempo em que oferece o esclarecimento que ampara e consola. Todo aquele que frequenta ou atua como facilitador de um grupo de Esde tem a oportunidade de modificar-se e inspirar mudanças ao seu redor, ainda que vagarosa e gradualmente, mas sempre com segurança e qualidade, sem rituais nem fanatismos, porquanto haure o conhecimento dentro de suas possibilidades intelecto-morais, com ampla liberdade de consciência.
Para o espírita, integrar o Centro Espírita e o grupo social do qual faz parte é tarefa atual e urgente. O programa do Esde, adequado às particularidades e necessidades da coletividade onde está inserido, desenvolve o conhecimento, modifica os envolvidos, auxilia a integração e, consequentemente, impulsiona a evolução da sociedade.
Conhecer e conhecer-se, esclarecer e esclarecer-se é o grande propósito, enquanto caminhamos da vida finita rumo ao infinito. Somos hoje melhores do que fomos ontem e seremos melhores do que somos agora. O espírita, esclarecido pelo estudo sério a que se dedica, torna-se mais apto a compreender e a enfrentar as demandas do cotidiano. Pelo exemplo do trabalho no bem, da atitude serena e fraterna, do pensamento amoroso, do sentimento de humildade, externados por aqueles que estudam e compreendem a Doutrina Espírita – sem olvidar o seu cará- ter universalista, racional, fraterno e perene – será possível atuar na sociedade e fazê-la progredir.
A propósito, a mensagem do venerando Bezerra de Menezes permanece atual como nunca:
A Codificação Espírita é o alfabeto da Nova Era sobre o qual se erguerá o Templo da Paz, quando a mensagem da Terceira Revelação atingir todas as criaturas do Orbe, realizando o fanal da imensa revolução social que modificará as estruturas da Terra.5
Com esta afirmação, temos o roteiro seguro que indica o caminho para a necessidade e a importância do estudo das obras básicas do Espiritismo, das mais diferentes formas, seja nas palestras públicas, em reuniões específicas para examinar cada um dos livros, seja pela sistematização oferecida pelo Esde, a fim de seguirmos uma mesma direção, sem desvios e sem demora.
Por tudo que se viu, a Campanha do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita é um programa permanente sob a inspiração do Cristo, “de suma importância para a felicidade futura de cada um de nós”,6 cujo êxito auxiliará na edificação de um mundo melhor, pois tem como objetivo final a transformação efetiva do homem e do meio. Por isso, nunca foi tão importante conclamar os dirigentes dos centros espíritas de todo o país a apoiar a implantação e o aprimoramento constante do Esde, incentivando os participantes, facilitadores, coordenadores, enfim, todos os envolvidos no processo, a atender ao chamado amoroso do Mestre, que recomenda: “Ide por todo o mundo e pregai a toda criatura”. (Marcos, 16:15.)
Fonte: O Reformador. ano 131. março 2013
Referências:
1 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 40. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Projeto-1868, it. Ensino espírita, p. 376.
2 ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Introdução, it. 13.
3 ______. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 40. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Credo espírita, Preâmbulo, p. 425.
4 ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. q. 780a.
5 REFORMADOR. Ano 109, n. 1.945, p. 23(115), abr. 1991.
6 TORCHI, Christiano. Espiritismo passo a passo com Kardec. 3. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. cap. 6, p. 282
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