domingo, 25 de outubro de 2015

“Eduquemo-nos para discernir”


Somos herdeiros de nossos atos e das conquistas realizadas na luta pela sobrevivência, com aquisições elevadas ou inferiores, na romagem das vidas sucessivas...

Nem sempre conseguimos em nossos relacionamentos ser transparentes e sinceros. Criamos barreiras e dificuldades para o grupo social ou familiar no qual estamos inseridos, sempre que somos contrariados ou chamados à aferição de nossos valores reais.

Entretanto, quando agimos em constante discordância e agressões para com os companheiros das atividades comuns, sentimo-nos infelizes e sem a harmonia íntima tão importante na vida de relação.

É de grande significado para nossa evolução, como seres humanos, um relacionamento saudável e equilibrado.

Joanna de Ângelis nos leciona que:

Na convivência com o próximo, o ser humano lima as arestas interiores e ajusta-se ao grupo, aprendendo que a sua perfeita sintonia com os demais resulta em produção e aperfeiçoamento para todos. O seu crescimento é conquista geral, o seu fracasso é desastre coletivo. Nesse mister, portanto, descobre a beleza da harmonia, que resulta da perfeita identificação com os componentes do conjunto.1

Todos nós, seres gregários que somos, temos necessidade de viver em harmonia com os que estão ligados a nós por laços familiares, sociais, ou mesmo integrados no mesmo trabalho na seara espírita. Quando não agimos com fraternidade e compreensão, as coisas não funcionam bem para nós nem para o nosso próximo.

Sem renúncia pessoal e entendimento maior em torno das limitações e necessidades dos que caminham conosco, evidenciamos o egoísmo e a insensibilidade diante dos problemas que surgem. Muitas vezes faltamos com a caridade e a compreensão fraterna, dificultando as tarefas empenhadas.

Os estímulos humanos funcionam de acordo com os propósitos agasalhados, porque a mente, trabalhando os neurônios cerebrais, estimula a produção de enzimas próprias aos sentimentos de solidariedade ou às reações belicosas. Assim, portanto aspirar e manter ideias de teor elevado constitui meio seguro de conseguir-se relacionamentos saudáveis.2

Nosso comportamento na vida de relação será sempre o reflexo de nosso mundo interior. Exteriorizamos o que realmente somos e nem sempre agimos de má-fé, mas temos dificuldades por não estarmos habituados às reflexões mais demoradas acerca de nossas deficiências e erros, desculpando-nos sempre, justificando atitudes impensadas e prejudiciais ao grupo social, sem a humildade de analisar mais profundamente o que somos, sem o autoconhecimento para discernir onde falhamos, sem conhecer realmente as nossas necessidades.

Sem a análise de nosso mundo interior, dificilmente entenderemos nosso companheiro de jornada terrena. Agimos com precipitação e preconceito sem dar tempo ao outro de apresentar suas justificativas ante as acusações que lhe são endereçadas por mentes enfermiças, incapazes de manter em harmonia seu mundo íntimo. Exteriorizamos reações perturbadoras diante de quaisquer problemas.

Emmanuel tem uma frase pequena, mas de grande significado moral quando diz: “Eduquemo-nos para discernir”. 3

É essencial buscarmos a educação moral e psíquica para um bom relacionamento. Não apenas a busca do conhecimento através da instrução, mas principalmente a educação dos sentimentos e o equilíbrio das emoções que nos farão mais serenos e felizes, mantendo a harmonia íntima e favorecendo o discernimento quando vivenciarmos situações adversas.

O Benfeitor espiritual, sempre atento às nossas necessidades de aprimoramento moral, chama nossa atenção quando comenta a citação de Pedro (I Pedro, 4:8): “Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros”.4

Busquemos, portanto, através deste sentimento sublime – a caridade – manter atitudes mais humanas e coerentes com nossas tarefas no bem, com o conhecimento maior sobre a vida e nossa destinação espiritual, não apenas amando formalmente como irmãos e companheiros das lides espíritas, mas com a “ardente caridade” que o apóstolo nos propõe.

Eis a recomendação de Emmanuel para todos nós:

Quando pudermos distribuir o estímulo do nosso entendimento e de nossa colaboração com todos, respeitando a importância do nosso trabalho e a excelência do serviço dos outros,renovar-se-á a face da Terra, no rumo da felicidade perfeita. Para isso, porém, é necessário nos devotemos à assistência recíproca, com ardente amor fraterno... 5

Ardente – veemente e intenso – qualificando de forma mais apropriada o que está faltando em nossas atitudes fraternas, mesmo quando as colocamos ao lado do amor que sentimos uns para com os outros!

Analisando a citação acima,sentimos quanto estamos distantes, ainda, desta fraternidade real; todavia já podemos elucidar com maior discernimento a causa de estarmos sintonizados com o lado inferior de nossas emoções, deixando que o orgulho e a vaidade ensombrem nossos sentimentos e nossas aspirações enobrecedoras.

Não existem tarefas maiores ou menores na seara de Jesus. Todas são importantes quando nos propomos a ajudar ao próximo e divulgar os ensinamentos espíritas, nesta hora em que a Humanidade sofre diante da violência e da degradação moral. Por isso, todos somos chamados a servir nesta fase difícil da transição planetária. Muito será pedido a cada um de nós porque muito temos recebido em bênçãos de conhecimentos e proteção espiritual.

Coloquemo-nos como fiéis seguidores de Jesus, com boa vontade e compreensão ante as dificuldades do caminho.

Vejamos o lado bom das pessoas que conosco convivem e elas identificarão nossas melhores intenções. Busquemos ajudar desinteressadamente a todos, estendendo nossas mãos, e eles responderão com apreço e nos soerguerão nos momentos infelizes... Todavia, para nos mantermos em paz é necessário cultivá-la em nosso mundo íntimo. Procuremos compreender e servir em todos os momentos em que formos chamados a colaborar, dando o melhor dentro de nossas possibilidades.

Se já conhecemos as lições edificantes do Espiritismo, à luz dos ensinamentos do Cristo, clarificando nossas consciências, “o cultivo sistemático da compreensão e da bondade tem força de lei em nossos destinos...”.6


Lucy Dias Ramos


Referências:

1 FRANCO, Divaldo P. Vida: desafios e soluções. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL. p. 119 e 120
2 Idem, ibidem. p. 120
3XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 91, p. 212
4 Idem, ibidem. Cap. 122, p. 279.
5 Idem, ibidem. p. 280.
6XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 126, p. 288

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