sábado, 31 de outubro de 2015

Não te canses de Amar...


A multiplicidade de cores neste amanhecer, adornando a paisagem de uma beleza incomparável, anuncia um novo dia com promessas indefiníveis... Colorindo as nuvens em tons rosáceos, o Sol ainda não despontou por trás da montanha, mas já altera a imagem que descortino nesta contemplação que me emociona, modificando a cada segundo a tonalidade das cores que se acentuam e chegam a nuanças mais intensas e avermelhadas para logo depois suavizarem...

A cada nova percepção, na qual me demoro em reflexões, a paisagem muda, conservando a luminosidade do Sol que, agora, mais próximo em seu despontar, vai colorindo em tons dourados a montanha que desperta.

Tocados pela magia do alvorecer em sua beleza imensurável, quando o coração, sob a égide do amor, colore como o Sol benfazejo tudo o que toca e atinge, procuramos com nosso pensamento irradiar a gratidão pelas bênçãos da vida e pelo que ela nos presenteia neste alvorecer.

Oramos e agradecemos a Deus por um novo dia!

Nestas divagações, que procuro realizar a cada despertar, antes de assumir os deveres de cada dia, busco em meu íntimo a valorização de tudo o que a vida me concede em dádivas de amor, de oportunidades de trabalho no bem, nas afeições queridas que plenificam meu viver, nos valores morais que amealhei ao longo desta caminhada.

Reconheço que ainda estou longe de tudo o que posso melhorar para compensar o que tenho recebido através da misericórdia divina, em vidas sucessivas nas quais busco a perfeição moral.

Mas, estou feliz pelo que já conquistei neste entardecer da vida e hoje, quando escrevo sobre conflitos familiares, quando falo no poder do amor suavizando as dores da alma, na riqueza do conhecimento que nos leva a refletir mais demoradamente sobre nossa destinação na Terra, consigo agradecer, com profundo sentimento a Deus, pela vida que esplende diante de mim. Nessa imersão em pensamentos de paz e amor, sinto que estou conseguindo vencer minhas dificuldades, aprimorando meu ser.

Comprova o que sinto o despertar da espiritualidade que se acentua na mesma proporção em que envelheço, e vou, através do bem que já posso realizar, adquirindo a maturidade emocional indispensável para viver o amor em toda a sua plenitude, conquistando a paz que tanto almejo.

Toda esta abertura que a admiração da natureza imprime em meu ser, desperta recordações do que devo repassar para você, querido leitor, nesta manhã. Falo de vivências familiares, do lar como o santuário de bênçãos onde aprendemos e exercitamos a paciência, o perdão, a compreensão e a tolerância, possibilitando-nos assim enfrentar as agruras da vida em sociedade, na qual teremos que desenvolver com maior intensidade estas virtudes assimiladas no dia a dia junto ao grupo familiar.

Emmanuel nos leciona com sabedoria:

A casualidade não se encontra nos laços da parentela. Princípios sutis da Lei funcionam nas ligações consanguíneas.

Impelidos pelas causas do passado a reunir-nos no presente, é indispensável pagar com alegria os débitos que nos imanam a alguns corações, a fim de que venhamos a solver nossas dívidas para com a humanidade.1

Essa compreensão maior das leis da vida torna-nos mais aptos a vencer as dificuldades no relacionamento familiar e assim, movidos pelo amor, vamos amenizando as feridas da alma, aparando as arestas da animosidade latente e suavizando a convivência, por vezes tão áspera.

Creio que a dificuldade maior, em se tratando de convivência familiar, está no apego excessivo aos que caminham conosco, nas atitudes de egoísmo com relação aos direitos alheios e nas exigências descabidas de afetos, de considerações que ainda não dispensamos aos outros, exigindo da vida, distraídos de nossos deveres, o que não doamos, movidos pelo egoísmo.

Considero a gentileza o primeiro estágio para aprendermos a amar e tolerar o próximo. E quando digo – próximo – falo daquele que está ao nosso lado na vida diária, principalmente no lar. Aprendamos a respeitar os que amamos, ou pretendemos amar, como desejamos que nos amem e respeitem. Não façamos dos entes queridos objetos de nossa satisfação e de atitudes egoísticas, usando-os como se fossem seres sem desejos próprios ou sonhos pessoais.

No lar iremos aprender a exercitar o despojamento, o respeito, a ternura de amar sem exigir reciprocidade, a renúncia, a caridade moral, erguida em alicerce sólido e duradouro do exemplo, do amor, da solicitude e da compaixão.

Leciona o Benfeitor espiritual:

Aprendamos a viver com todos, tolerando para que sejamos tolerados, ajudando para que sejamos ajudados, e o amor nos fará viver, prestimosos e otimistas, no clima luminoso em que a luta e o trabalho são bênçãos de esperança.2

Quem ama o próximo aprende, antes de qualquer coisa, a compreender, porque o amor tem este poder mágico de transformar os sentimentos, melhorando-os e educando-os para externar as intenções com relação ao outro, edificando a paz em nosso íntimo e estendendo-a aos que convivem conosco.

Nesta compreensão maior de nossa destinação espiritual e dos reais objetivos da vida, ampliando o discernimento em torno do sentido existencial, iremos fortalecendo nossa fé, aprimorando o mundo íntimo e enriquecendo-o dos valores imperecíveis que serão, realmente, aquisições permanentes e estáveis.

Jesus, o educador por excelência e psicoterapeuta ideal, quando estabeleceu as bases de sua doutrina no amor, sabia que este seria o caminho de nossa redenção espiritual.

Em todas as situações dolorosas, somente o amor nos dará subsídios para vencer e não nos deixarmos levar pela animosidade, pelo desconforto do desânimo e da intolerância.

Enumeramos algumas situações que nos constrangem e poderão nos levar ao desânimo:

• julgamento descaridoso perturbando os planos de serviço;
• enfermidade dominando nossas forças;
• incompreensões e dificuldades no lar;
• decepções com a vida e com os que amamos;
• perdas e separações que amarguram.

E a nobre Benfeitora espiritual concita-nos:

O amor é bênção de que dispões em todos os dias da tua vida para avançares e conquistares espaço no rumo da evolução. Não te canses de amar, sejam quais forem as circunstâncias, por mais ásperas se te apresentem. A Doutrina de Jesus, ora renascida no pensamento espírita, é um hino canção de amor, assinalando a marcha do futuro através das luzes da razão unida à fé em consórcio de legítimo amor.3

Joanna de Ângelis, em várias exortações ao amor, como a única solução para nossos problemas vivenciais, alerta-nos quanto à necessidade deste sentimento nobre em várias circunstâncias e estabelece normas que constituem as únicas capazes de nos conduzir com segurança para a conquista da paz e da serenidade íntima.

No lar, escola que edifica nossas almas, o amor agirá como o sentimento nobre que nos liberta e redime, conclamando-nos à compreensão e à generosidade diante de todos os que caminham ao nosso lado.

Somente assim, encontraremos a perenidade das coisas que nos convêm, agindo como alavancas de nosso crescimento moral.


Lucy Dias Ramos

Referências:
1 XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 6. imp. Brasília: FEB, 2013.
2 ______. ______. cap. 158.
3 FRANCO, Divaldo P. Viver e amar. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 4. ed. Salvador: Leal, 2010. cap. 1.

Nenhum comentário:

^