Primeiros passos na vida terrena
Nosso irmão reencarna em 2 de abril de 1910, na pequena cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, sendo batizado com o nome de Francisco de Paula Cândido. De origem muito humilde, Chico era filho do operário João Cândido Xavier e da lavadeira Maria João de Deus, desencarnados respectivamente em 6/12/1960 e 29/9/1915. As aparições do Espírito de sua mãe, quando a criança ainda não havia completado cinco anos, assinalaram os primeiros fenômenos de clarividência e clauridiência que se ofereciam às suas faculdades mediúnicas, os quais, se proporcionaram grande alegria à sua alma infantil, também lhe valeram castigos e incompreensões por parte de quem tudo julgava invencionices de menino travesso.
Em virtude da escassez de recursos com que a família numerosa sempre se debatia, o Chico foi obrigado, desde menino, a trabalhar para que em casa não faltasse o mínimo necessário. Fazia seus estudos elementares, ao mesmo tempo que se dedicava aos rudes serviços de aprendiz numa tecelagem, onde seu pai o colocara aos 9 anos. Pela manhã, até as 11 horas, o Chico assistia às aulas no grupo escolar, para, em seguida, trabalhar, até as 2 horas da manhã na fábrica de tecidos. Tal regime não permitiu que sua instrução fosse além do grau primário.
Chico ainda trabalharia como caixeiro, garçom, ajudante de cozinheiro e, finalmente, como obscuro funcionário do Ministério da Agricultura, condição em que se aposentou, por invalidez, em janeiro de 1961, em razão de moléstia incurável nos olhos. Tais precariedades, de ordem social e intelectual, obedeciam, todavia, a plano superior, providencial, imunizando o instrumento contra os daninhos prejuízos da presunção acadêmica, da indiferença moral e do materialismo.
Educado sob orientação católica, o Chico atravessaria essa fase primitiva de sua iniciação sob o signo da perplexidade diante de fenômenos cuja explicação satisfatória aguardaria até o ano de 1927, quando, precisamente no dia 7 de maio, assistiria à primeira sessão espírita, promovida pelo casal José Hermínio Perácio e Cármen Pena Perácio, para socorrer um caso de obsessão na pessoa de sua irmã Maria Xavier Pena. Sua intervenção nesse trabalho foi por meio de preces.
José Hermínio e Cármen Pena Perácio foram os instrumentos do Alto para aproximar o Chico da Doutrina Espírita. D. Cármen, portadora de positivas faculdades mediúnicas, serviu de canal para as primeiras orientações da Espiritualidade com vistas à utilização dos dotes do Chico. Em 8/7/1927, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, recém-fundado pelo casal Perácio em Pedro Leopoldo, o jovem médium recebe sua primeira comunicação psicográfica, obedecendo a recomendação dos guias por intermédio de D. Cármen . Dias depois, em sessão particular na Fazenda Maquiné, propriedade dos Perácio, D. Cármen ouve e vê o Espírito Emmanuel, o qual lhe recomenda pedir ao Chico que tome de papel e lápis.
Chico recebe de sua mãe, Maria João de Deus, conselhos em torno do tratamento da irmã Maria Xavier Pena, que se restabelecia de terrível processo obsessivo. Ainda antes de se apresentar às faculdades mediúnicas do Chico, o que ocorreria em 1931, Emmanuel criara para a visão de d. Cármen um quadro fluídico, anunciador da missão destinada ao médium. Foi a 18/1/1929, durante uma sessão no C. E. Luiz Gonzaga: d. Cármen vê que do teto choviam livros sobre a cabeça do Chico e sobre todo o grupo.
É nesse ambiente de paz e de envolvimento superior que o Chico se prepara, sob a condução dos guias e o amparo carinhoso do casal Perácio e dos demais membros do Centro, para os graves desempenhos na seara espírita. Nesse período, após veicular mensagens de orientação, aconselhamento, de cunho íntimo, familiar, inicia-se a produção literária, pela recepção de poesias de elevado conteúdo e fino lavor.
Certamente inspirado pelos Maiores do mundo invisível, o Sr. José Hermínio sugere ao Chico que escreva para Manuel Quintão, vice-presidente da FEB, explicando o que ocorria e pedindo orientação. Esse contato, decisivo para a vida do Chico, se dá em 1931. O médium inicia correspondência com o brilhante cronista de Casos e Coisas, enviando-lhe um punhado de poesias mediunicamente recebidas, para que o devotado obreiro da Casa de Ismael ajuizasse de seu valor literário e doutrinário, bem como as analisasse do ponto de vista de sua autenticidade.
Antes desse contato, muitas peças ditadas ao Chico foram consideradas pelos amigos, e mesmo por seu irmão José Cândido, como nascidas da própria lavra do médium, embora este afirmasse a impossibilidade de tal fato. À revelia do Chico, enviavam os poemas à imprensa espírita (Reformador, O Clarim, Aurora) e à imprensa leiga (Jornal das Moças, Gazeta de Notícias, Almanaque de Lembranças) sob o nome de F. Xavier. Assustado, pois tinha consciência da profunda seriedade do assunto, o Chico decide então submeter ao exame da Federação Espírita Brasileira os versos que continuava a receber, mas agora assinados por seus verdadeiros autores, nomes respeitáveis e ilustres da literatura luso-brasileira.
Manuel Quintão, que era escritor e poeta, não hesita em aceitar a origem mediúnica do material a ele enviado para exame, identificando os autores espirituais pelo inconfundível estilo de cada um e estribando-se igualmente na probidade moral daquele que, com humildade e desinteresse, procurava honrar a Verdade. O fruto de tão decisivo contato seria o aparecimento, em julho de 1932, da monumental obra Parnaso de Além-Túmulo, que inauguraria a fecunda produção do médium, com vistas a sustentar os princípios do Espiritismo Cristão no Brasil.
Em Reformador de 1967, páginas 145 a 147, num artigo intitulado “Chico Xavier em 40 anos”, Ismael Gomes Braga evoca esses lances iniciais da trajetória do saudoso médium, recordando ter sido em 16/2/1930 a primeira vez que aparecem no órgão da FEB versos mediúnicos então atribuídos a F. Xavier. Ismael os reapresenta ao público, juntamente com outras poesias, ainda atribuídas a F. Xavier, que apareceram em Reformador de maio de 1930 e julho de 1931, além de outro poema publicado no Jornal das Moças, de 1931. Nesse artigo, Ismael revela seus autores espirituais: João de Deus, Antero de Quental e Cruz e Souza. (Artigo publicado em Reformador de julho de 2002, p. 12(202)-14(204). *Eis aqui dois, dos sonetos:
Os Felizes
No triste horror,
Destes caminhos
Cheios de espinhos,
E de amargor,
Os pobrezinhos,
Filhos da Dor,
Têm mais carinhos
Do Criador!
Pois sabem ver,
Em seu sofrer
Pela existência,
A caridade,
Suma bondade
Da Providência!
João de Deus
(De Reformador de 16/2/1930.)
O Cristo de Deus
Lendo M. Quintão
Cristo de Deus, que eras a pureza
Eterna, absoluta, invariável,
Antes que fosse a humana natureza,
Estes cosmos – matéria transformável;
Que já eras a fúlgida realeza,
Dessa luz soberana, imponderável,
O expoente maior dessa grandeza,
Da grandeza sublime do Imutável!
Ainda antes da humana inteligência,
Eras já todo o Amor, toda a Ciência,
Perfeição do perfeito inconcebível;
Foste, és e serás eternamente,
O Enviado do Pai onipotente,
Cristo-Luz da verdade inconfundível!
Antero de Quental
(De Reformador de 16/5/1930.)
Fonte: Site da FEB, Revista O Reformador, abril de 2010
*Adaptação do texto original, devido a ter sido apenas divulgado esses dois versos no texto do site da FEB.
Em virtude da escassez de recursos com que a família numerosa sempre se debatia, o Chico foi obrigado, desde menino, a trabalhar para que em casa não faltasse o mínimo necessário. Fazia seus estudos elementares, ao mesmo tempo que se dedicava aos rudes serviços de aprendiz numa tecelagem, onde seu pai o colocara aos 9 anos. Pela manhã, até as 11 horas, o Chico assistia às aulas no grupo escolar, para, em seguida, trabalhar, até as 2 horas da manhã na fábrica de tecidos. Tal regime não permitiu que sua instrução fosse além do grau primário.
Chico ainda trabalharia como caixeiro, garçom, ajudante de cozinheiro e, finalmente, como obscuro funcionário do Ministério da Agricultura, condição em que se aposentou, por invalidez, em janeiro de 1961, em razão de moléstia incurável nos olhos. Tais precariedades, de ordem social e intelectual, obedeciam, todavia, a plano superior, providencial, imunizando o instrumento contra os daninhos prejuízos da presunção acadêmica, da indiferença moral e do materialismo.
Educado sob orientação católica, o Chico atravessaria essa fase primitiva de sua iniciação sob o signo da perplexidade diante de fenômenos cuja explicação satisfatória aguardaria até o ano de 1927, quando, precisamente no dia 7 de maio, assistiria à primeira sessão espírita, promovida pelo casal José Hermínio Perácio e Cármen Pena Perácio, para socorrer um caso de obsessão na pessoa de sua irmã Maria Xavier Pena. Sua intervenção nesse trabalho foi por meio de preces.
Iniciação no Espiritismo
José Hermínio e Cármen Pena Perácio foram os instrumentos do Alto para aproximar o Chico da Doutrina Espírita. D. Cármen, portadora de positivas faculdades mediúnicas, serviu de canal para as primeiras orientações da Espiritualidade com vistas à utilização dos dotes do Chico. Em 8/7/1927, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, recém-fundado pelo casal Perácio em Pedro Leopoldo, o jovem médium recebe sua primeira comunicação psicográfica, obedecendo a recomendação dos guias por intermédio de D. Cármen . Dias depois, em sessão particular na Fazenda Maquiné, propriedade dos Perácio, D. Cármen ouve e vê o Espírito Emmanuel, o qual lhe recomenda pedir ao Chico que tome de papel e lápis.
Chico recebe de sua mãe, Maria João de Deus, conselhos em torno do tratamento da irmã Maria Xavier Pena, que se restabelecia de terrível processo obsessivo. Ainda antes de se apresentar às faculdades mediúnicas do Chico, o que ocorreria em 1931, Emmanuel criara para a visão de d. Cármen um quadro fluídico, anunciador da missão destinada ao médium. Foi a 18/1/1929, durante uma sessão no C. E. Luiz Gonzaga: d. Cármen vê que do teto choviam livros sobre a cabeça do Chico e sobre todo o grupo.
É nesse ambiente de paz e de envolvimento superior que o Chico se prepara, sob a condução dos guias e o amparo carinhoso do casal Perácio e dos demais membros do Centro, para os graves desempenhos na seara espírita. Nesse período, após veicular mensagens de orientação, aconselhamento, de cunho íntimo, familiar, inicia-se a produção literária, pela recepção de poesias de elevado conteúdo e fino lavor.
Certamente inspirado pelos Maiores do mundo invisível, o Sr. José Hermínio sugere ao Chico que escreva para Manuel Quintão, vice-presidente da FEB, explicando o que ocorria e pedindo orientação. Esse contato, decisivo para a vida do Chico, se dá em 1931. O médium inicia correspondência com o brilhante cronista de Casos e Coisas, enviando-lhe um punhado de poesias mediunicamente recebidas, para que o devotado obreiro da Casa de Ismael ajuizasse de seu valor literário e doutrinário, bem como as analisasse do ponto de vista de sua autenticidade.
O “Parnaso”
Antes desse contato, muitas peças ditadas ao Chico foram consideradas pelos amigos, e mesmo por seu irmão José Cândido, como nascidas da própria lavra do médium, embora este afirmasse a impossibilidade de tal fato. À revelia do Chico, enviavam os poemas à imprensa espírita (Reformador, O Clarim, Aurora) e à imprensa leiga (Jornal das Moças, Gazeta de Notícias, Almanaque de Lembranças) sob o nome de F. Xavier. Assustado, pois tinha consciência da profunda seriedade do assunto, o Chico decide então submeter ao exame da Federação Espírita Brasileira os versos que continuava a receber, mas agora assinados por seus verdadeiros autores, nomes respeitáveis e ilustres da literatura luso-brasileira.
Manuel Quintão, que era escritor e poeta, não hesita em aceitar a origem mediúnica do material a ele enviado para exame, identificando os autores espirituais pelo inconfundível estilo de cada um e estribando-se igualmente na probidade moral daquele que, com humildade e desinteresse, procurava honrar a Verdade. O fruto de tão decisivo contato seria o aparecimento, em julho de 1932, da monumental obra Parnaso de Além-Túmulo, que inauguraria a fecunda produção do médium, com vistas a sustentar os princípios do Espiritismo Cristão no Brasil.
Em Reformador de 1967, páginas 145 a 147, num artigo intitulado “Chico Xavier em 40 anos”, Ismael Gomes Braga evoca esses lances iniciais da trajetória do saudoso médium, recordando ter sido em 16/2/1930 a primeira vez que aparecem no órgão da FEB versos mediúnicos então atribuídos a F. Xavier. Ismael os reapresenta ao público, juntamente com outras poesias, ainda atribuídas a F. Xavier, que apareceram em Reformador de maio de 1930 e julho de 1931, além de outro poema publicado no Jornal das Moças, de 1931. Nesse artigo, Ismael revela seus autores espirituais: João de Deus, Antero de Quental e Cruz e Souza. (Artigo publicado em Reformador de julho de 2002, p. 12(202)-14(204). *Eis aqui dois, dos sonetos:
Os Felizes
No triste horror,
Destes caminhos
Cheios de espinhos,
E de amargor,
Os pobrezinhos,
Filhos da Dor,
Têm mais carinhos
Do Criador!
Pois sabem ver,
Em seu sofrer
Pela existência,
A caridade,
Suma bondade
Da Providência!
João de Deus
(De Reformador de 16/2/1930.)
O Cristo de Deus
Lendo M. Quintão
Cristo de Deus, que eras a pureza
Eterna, absoluta, invariável,
Antes que fosse a humana natureza,
Estes cosmos – matéria transformável;
Que já eras a fúlgida realeza,
Dessa luz soberana, imponderável,
O expoente maior dessa grandeza,
Da grandeza sublime do Imutável!
Ainda antes da humana inteligência,
Eras já todo o Amor, toda a Ciência,
Perfeição do perfeito inconcebível;
Foste, és e serás eternamente,
O Enviado do Pai onipotente,
Cristo-Luz da verdade inconfundível!
Antero de Quental
(De Reformador de 16/5/1930.)
Fonte: Site da FEB, Revista O Reformador, abril de 2010
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