quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um dia, todos os Povos serão Irmãos



No livro Diálogos com Cientistas e Sábios, [1] a autora, Renée Weber, doutora em filosofia pela Universidade de Colúmbia (EEUU), relata que em 1985 se encontrava na Suíça, na cidade de Rougemont, onde faria uma entrevista com o famoso filósofo e sábio indiano Krishnamurti (1895-1986). Ela havia agendado o compromisso meses antes, mas, estranhamente, o filósofo não queria permitir a gravação do encontro. Weber pretendia conversar com o autor de Diálogos sobre a Vida acerca do BIG BANG, ou Grande Explosão, a teoria mais aceita, por diversos cientistas, para explicar a origem do Universo, anunciada em 1948 pelo cientista russo, naturalizado americano, George Gamow (1904-1968). [2] Era intenção da jornalista dar continuidade à temática, abordada em outra entrevista com o físico Stephen Hawking (1942 -), e que também consta do seu livro.

Contudo, Krishnamurti evita, delicadamente, tocar no assunto: “– Por que falar da Grande Explosão, quando o mundo está em chamas, as pessoas estão chorando, o homem se mostra incrivelmente cruel para com o semelhante?” Ela insiste, mas ele se esquiva, atencioso, preferindo conversar sobre a condição humana. Amor e compaixão são os seus assuntos preferenciais naquele momento. E enfatiza: a menos que a Humanidade desmantele a sua violência por dentro, a partir de uma radical mudança pessoal, todos os nossos planos estarão fadados ao fracasso. Até que seja solucionado o problema humano básico, nada mais interessa.

Há, efetivamente, nestes dias, explosões mais inquietantes em todo o mundo, ameaçando a paz no planeta, exigindo atenção especial. Não é de hoje, porém, este estado de guerra. Ficamos estarrecidos, consultando uma página na Internet, onde nos deparamos com uma longa história dos conflitos humanos, uma grande variedade de beligerâncias, desde 3.000 anos antes de Cristo, com os primeiros embates entre povos da Mesopotâmia (o atual Iraque) e invasores; guerras entre gregos e persas; a Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta; as conquistas de Alexandre, o Grande, na Ásia, tomando o império persa e chegando até a Índia; as Guerras Púnicas, quando Roma derrota Cartago. Tivemos guerras de um dia, dos 6 dias, dos 30 dias, dos mil dias, dos cem anos, guerra de Tróia, de Secessão, do Bacalhau (disputa entre a Islândia e o Reino Unido, em 1970, sobre a jurisdição da área pesqueira); Guerra dos Emboabas, dos Farrapos, dos Alfaiates. Em 1945 começa a Guerra Fria; em 1979, o Projeto Guerra nas Estrelas, um escudo protetor antimísseis. A Primeira Guerra mundial. A Segunda Guerra Mundial, com 55 milhões de mortos, 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Guerra da Coreia, do Vietnã (1960-1973), do Golfo (em 1991), e entre Israelitas e Palestinos. Os recentes conflitos armados entre a Coreia do Sul e a do Norte e os ataques ao Afeganistão, após os atentados terroristas suicidas a Washington e Nova York em 11 de setembro de 2001. E neste momento crucial da História? Estaremos vivendo uma terceira guerra mundial, diferente das anteriores, lenta e longa? Na citada página da Web,[3] o autor informa que “amargurado com a invenção da bomba atômica, o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) teria dito: Não sei como será a terceira guerra mundial, mas a quarta será de paus e pedras”.

Realmente, as consequências das guerras são estarrecedoras. A segunda guerra mundial, por exemplo. Divaldo Franco, em 1990, realizou uma jornada doutrinária ao exterior e fez uma visita ao campo de concentração e de trabalhos forçados em Mauthausen, na Áustria. Nesse local, entre 1938 e 1945, os alemães nazistas dizimaram 122.762 pessoas, com os maiores requintes de crueldade, longe de qualquer piedade ou compaixão. Outros campos de concentração foram mais terríveis, culminando com a morte de 6 milhões de pessoas, na operação chamada por Adolf Hitler (1889-1945) de solução final. Tudo isto está relatado no livro Ante os Tempos Novos (1. ed. LEAL), de autoria de Divaldo Franco e Suely Caldas Schubert. No livro, uma indagação (pag. 77): por que será que o homem pode ser tão cruel e ao mesmo tempo tão gentil? Por que será que o homem é tão impiedoso e explodem essas guerras? Estudiosos apontam quatro causas de aspecto social: políticas e ideológicas, econômicas, religiosas e educacionais.

Existe, porém, uma causa mais profunda, bem mais profunda, que muitos pesquisadores, historiadores e religiosos não atentam corretamente, porque lhes falta a correta visão psicológica do homem, do seu verdadeiro passado e da sua verdadeira natureza, e que uma soberana lei, a lei da reencarnação e seu mecanismo de reajuste, que é a legislação em torno das causas e dos efeitos, rege os destinos humanos.

Allan Kardec (1804-1869), estudioso da Palingênese e orientado pelos Espíritos Elevados, conhecia as causas sociais das guerras e da ausência da paz no mundo; mas sabia que o homem era o epicentro da questão, e renascera com a missão de oferecer solução, através do Espiritismo, a esse problema. Por isso, ao dialogar com os Espíritos Codificadores, busca penetrar o bisturi espírita na investigação dessa realidade, e indaga, na pergunta 742 de O Livro dos Espíritos: — Que é o que impele o homem à guerra? E as Entidades Amigas respondem: — Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. [4] (grifamos)

A causa fundamental da guerra é o homem belicoso. “A causa principal da guerra está no atraso dos indivíduos e das sociedades humanas, donde derivam as paixões desordenadas que tomam o caráter de violência e, com sua impetuosidade, produzem os conflitos”. O que fazer, então? A guerra desaparecerá, um dia, da face da Terra? Ou devemos perder a esperança? Foi o que Allan Kardec perguntou, na questão 743 de O Livro dos Espíritos: — Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá? — SIM, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, TODOS OS POVOS SERÃO IRMÃOS. (destaque nosso) Portanto, é preciso que o homem lute contra as suas paixões. “O homem ainda cultiva suas pequenas guerras, mantém suas pequenas violências”. Como declarou Krishnamurti, é preciso depor as armas, desarmar-nos por dentro, “instalando em nós o Reino de Deus, da piedade fraternal, da tolerância”.


É o que afirma Joanna de Ângelis em O Ser Consciente [5], ao destacar que a grande problemática-desafio da criatura humana é a aquisição da paz, e que a paz mundial é uma utopia! E que a paz externa só é possível através da paz íntima. E sugere uma revisão do comportamento humano através de uma viagem para dentro de si, por meio do silêncio interior, para o ser humano compreender o significado da sua vida, a gravidade da sua conduta em relação a Deus, ao próximo, a si mesmo, e o egoísmo ceder lugar à generosidade, à doação, e, então, em silêncio íntimo, empreender a grande experiência de viver o self em harmonia com as leis da vida.



Adilton Pugliese

Referências:
[1] Edição Círculo do Livro. p. 263 a 275.
[2] Almanaque Abril 1997. p. 171.
[3] Texto A Evolução das Guerras, de Marcelo Ferroni.
[4] 76. ed. FEB.
[5] Ângelis, Joanna de. Divaldo Franco. 1. ed. LEAL. p. 117, 120.

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