quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Ensino de Religião nas Escolas

No meio espírita são divergentes as opiniões relativamente ao assunto que dá título a este texto, sobretudo depois que se tornou pública a decisão tomada pelo Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), contrária ao ensino de Espiritismo nas escolas do Rio.

Muitos espíritas apoiam o pensamento dos confrades cariocas, baseados no fato de que a posição do movimento espírita brasileiro contra o ensino religioso nas escolas públicas é clara e antiga. Mas há um número expressivo de pessoas que pensam de forma diferente e têm apresentado argumentos relevantes contrários ao entendimento adotado pelo CEERJ.

Sem dúvida, é função da família, e não da escola, a formação religiosa dos filhos, um papel que pode ser ou não secundado pelas instituições espíritas por meio de suas conhecidas escolas de educação espírita da infância.

Esse pensamento foi exposto com clareza por Emmanuel na questão n.110 do livro “O Consolador”:

– Qual a melhor escola de preparação das almas reencarnadas, na Terra? “A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem. Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da Humanidade.”

No Rio de Janeiro, como o leitor certamente sabe, os fatos se passaram assim: a Secretaria Municipal de Educação contratou mediante concurso 45 professores católicos, 35 evangélicos e dez de religiões afro-brasileiras. Todos, em atenção ao regulamento baixado pela Secretaria, tiveram de apresentar recomendação das igrejas às quais estão ligados.

Foram, no entanto, extintas as dez vagas que haviam sido inicialmente reservadas para os professores de Espiritismo, porque o Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), não aderindo à proposta, recusou-se a indicar os nomes daqueles que, investidos nessa função, seriam contratados. A posição tomada pelos dirigentes do CEERJ baseou-se exatamente na tese de que cabe à família a formação religiosa dos filhos, e não à escola.

Em face dessa medida, duas questões têm sido levantadas pelos que pensam de forma diferente:

1. Extinguir as vagas destinadas aos espíritas não é o mesmo que abrir mão de um recurso importante de divulgação do Espiritismo? Porventura algum dirigente espírita recusaria o espaço concedido gratuitamente por um grande jornal ou uma emissora de rádio para divulgação da doutrina espírita?

2. A educação é, sem dúvida, função precípua do lar, mas não a instrução, uma tarefa que é inerente à escola. Se as crianças recebem na escola informações sobre história, geografia e tantas outras disciplinas, por que sonegar a elas informações básicas sobre Espiritismo?

Bem informadas sobre o que é a doutrina espírita, as crianças de hoje, que serão os adultos de amanhã, saberão com certeza o que diferencia o Espiritismo das religiões afro-brasileiras e das inúmeras denominações religiosas que têm o Evangelho como código moral de conduta.

As questões formuladas não deveriam, portanto, ser ignoradas em um debate honesto e amplo sobre o tema, uma vez que a Lei que instituiu o ensino religioso nas escolas é de âmbito nacional e envolve, assim, o movimento espírita de todos os Estados brasileiros, não apenas do Rio.


Fonte: Texto do Editorial do Jornal O Imortal, Ano 59 Nº 704, Outubro de 2012.

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