A Natureza é sempre o livro divino, onde Deus escreveu a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem. Todavia, o atual e desenfreado sistema econômico é uma das barreiras que impedem a consciência de sustentabilidade ambiental. Não é preciso ter o dom da profecia, para sabermos o catastrófico cenário no porvir do nosso Planeta.
Estamos na iminência de desastres ecológicos, de consequências imprevisíveis, em face da rota de colisão entre o homem e o meio ambiente. Um relatório de uma comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) que estudou as mudanças climáticas, é sombrio: "Até o fim do século, três de cada dez espécies de seres vivos desaparecerão do Planeta, e a vida humana será profundamente afetada"(1).
Estudos indicam que a “mudança climática tem matado cerca de 315 mil pessoas por ano, de fome, de doenças ou de desastres naturais, e o número deve subir para 500 mil, até 2030”(2). O estudo estima que o problema do clima afete 325 milhões de pessoas, anualmente, e que, em duas décadas, esse número irá dobrar, atingindo o equivalente a 10% da população mundial da atualidade.
Os resultados dessa síndrome são alarmantes, como o aquecimento e a alteração do clima, precipitando a ocorrência de furacões, tempestades severas e, até, terremotos; o efeito do "El Niño e La Niña", também é aterrorizante, pois que acelera o degelo das calotas polares, aumentando, consequentemente, o nível do mar e inundando regiões litorâneas. Quase 25% da população mundial estão ameaçados pelas inundações, em consequência do degelo do Ártico. São reais os registros de diminuição das geleiras no Himalaia, nos Andes, no Monte Kilimanjaro, e a única estação de esqui da Bolívia, Chacaltaya, pôs fim à sua atividade, pela escassez de neve naquela região.
Os recursos "renováveis" que se consomem e o impacto sobre o meio ambiente não podem ser relegados a questões de menor importância, principalmente, levando-se em consideração a utilização da água potável. Certamente no futuro a sua posse (água potável) pode ser o motivo mais explícito de confronto bélico planetário.
É urgente que se crie uma mentalidade crítica, que permita estabelecer novos comportamentos com foco na sustentabilidade da vida humana. A sociedade deve formatar novos modelos de convivência, lastreados na fraternidade e no amor à natureza.
A falta de percepção, da interdependência e complementaridade, entre os seres humanos, gera, cada vez mais intensamente, o desequilíbrio da natureza. O cientista Stephen Hawking, no livro "O universo numa casca de noz", comenta que: "Uma borboleta batendo as asas em Tóquio pode causar chuva no Central Park de Nova Iorque”(3). Hawking explica, que "não é o bater das asas, pura e simplesmente, que gerará a chuva, mas a influência deste pequeno movimento sobre outros eventos em outros lugares é que pode levar, por fim, a influenciar o clima”(4).
Ao se desmatar as florestas, modificar cursos de rios, aterrar áreas alagadas e desestabilizar o clima, estamos destroçando as bases de uma rede de segurança ecológica extremamente sensível. "O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, destarte, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influência"(5).
Lamentavelmente ainda amargamos os contrastes de uma suprema tecnologia no campo da informática, das viagens espaciais, dos supersônicos, dos raios laser, ao tempo que ainda temos que conviver com esse desrespeito oficializado ao meio ambiente. Por outro lado, e menos mal nos parece é que a necessidade de destruição da natureza “se enfraquece no homem, à medida que o Espírito sobrepuja a matéria”(6). Realmente a consciência de proteção ambiental cresce com o nosso desenvolvimento intelectual e moral.
Devido a esses estertores de aguda dor provinda da “Mãe-Terra”, surgem, em várias partes do mundo, grupos de pessoas fanáticas, que criam seitas e cultos estranhos; abandonam emprego, família, à espera do “juízo final". “Na França há cerca de 200 seitas catastrofistas, com 300 mil adeptos. Nos Estados Unidos, 55 milhões de americanos acham que falta pouco para o mundo acabar”(7).
Os terremotos, os furações, as inundações, as erupções vulcânicas e outras catástrofes naturais são e serão parte inevitável da dinâmica da natureza. Isso não significa dizer que não possamos fazer alguma coisa para nos tornarmos menos vulneráveis. "Aprender com as catástrofes de hoje para fazer frente às ameaças futuras”(8). Somos esclarecidos por Allan Kardec, que os grandes fenômenos da Natureza, aqueles que são considerados uma perturbação dos elementos, não são de causas imprevistas, pois "tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus"(9).
O Livro dos Espíritos afirma ser “preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamamos destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”(10). Porém, qualquer destruição não pode ocorrer antes do tempo. “Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio inteligente.”(11)
Os flagelos da natureza podem ter utilidade, do ponto de vista físico, não obstante os males que ocasionam, pois que “muitas vezes mudam as condições de uma região. Mas, o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam”(12). A Terra não terá de transformar-se por meio de uma hecatombe que destrua de vez uma geração inteira. Até porque, os preceitos espíritas indicam que a atual geração desaparecerá gradativamente e uma nova lhe sucederá naturalmente, ou seja, uma parte dos espíritos que encarnavam na Terra não mais tornarão a encarnar.
Por mais difíceis que sejam os desafios a enfrentar, por conta da própria incúria humana, dinamizemos a vontade de nos harmonizar com a natureza. Não podemos esquecer que Jesus é o Caminho que nos induz aos iluminados conceitos da Verdade, onde recebemos as gloriosas sementes da sabedoria, que dominarão os séculos vindouros, preparando nossa vida terrena para as culminâncias do amor universal no mais profundo respeito à natureza.
Ante os impactos ambientais recordemos sempre que a mensagem do Cristo é o grande edifício da redenção humana em favor da natureza e da sociedade, que haverá de penetrar em todas as consciências humanas, como um dia penetrou nas consciências de Albert Schweitzer, Vicente de Paulo, da irmã Dulce, de Francisco de Assis, da Madre Teresa de Calcutá, de Chico Xavier e de Mahatma Gandhi.
Jorge Hessen
Fontes:
(1) Relatório da comissão que estuda as mudanças climáticas, da ONU (Organização das Nações Unidas), 2007
(2) Conforme Relatório Fórum Humanitário Global (FHG), instituição com sede em Genebra
(3) Hawking, Stephen. O Universo Numa Casca de Noz, São Paulo: Ed. Mandarim, 2a Edição, (2002).
(4) Hawking, Stephen. O Universo Numa Casca de Noz, São Paulo: Ed. Mandarim, 2a Edição, (2002).
(5) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, questão 121
(6) Kardec Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, perg. 733.
(7) Publicado na Revista ISTO É, de 4 de agosto de 1999
(8) Mensagem do ex-Secretário-Geral da ONU , Kofi Annan, Por ocasião do Dia Internacional Para a Redução das Catástrofes Naturais, de 11 de Outubro de 2006, conforme veiculada pelo Centro Regional de Informação da ONU em Bruxelas – RUNIC.
(9) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, perg. 536
(10) idem, questão 728
(11) idem, questão 729.
(12) idem, questão 739.
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