terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Missionária da Educação – 2ª parte


Alunos sem Mães


Entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à famosa “roda” da Santa Casa de Misericórdia, já que essas crianças não eram “negociáveis” como os pais e, assim, eram expulsas das fazendas por serem “impróprias” para o trabalho, sendo obrigadas a perambular e mendigar pelas ruas e estradas. Diante disso, Anália escreveu um manifesto apelando pela ajuda das mulheres fazendeiras, além de trocar seu cargo em São Paulo por outro no interior do estado, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas.

Em uma fazenda, conseguiu uma casa para instalar uma escola primária, fornecida gratuitamente por uma rica fazendeira sob a condição de que não houvesse promiscuidade entre crianças brancas e negras. Como Anália repeliu frontalmente tal situação humilhante, preferiu recusar a oferta gratuita e pagar aluguel, o que fez a fazendeira guardar ressentimentos diante de tamanha altivez.

Surgia assim a primeira e original Casa Maternal, onde Anália Franco recebia todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. Porém, com a mágoa represada e vendo que sua casa se transformou em um albergue de “negrinhos”, a fazendeira resolveu acabar com aquele “escândalo” em sua propriedade, abusando do prestígio político de seu marido. Promoveu diligências junto ao coronel, que conseguiu remover facilmente a professora do local.

Então, Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu próprio bolso o aluguel correspondente à metade de seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, ela não pensou duas vezes e foi pedir esmolas para a meninada pessoalmente. Partiu de manhã em caminhada, levando consigo o grupinho escuro que chamava de “meus alunos sem mães”. Em um jornal local, anunciou que havia um pequeno abrigo para as crianças desamparadas ao lado da escola pública. A fama da notável professora, nem sempre favorável, encheu a cidade.

A curiosidade popular tomou-se de espanto em um certo domingo de festa religiosa. Ela surgiu nas ruas com seus “alunos sem mães” em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher que mendigava para filhos de escravas tornou-se o escândalo do dia. Na opinião de muitos, era uma mulher perigosa. Seu afastamento da cidade começou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias etc., mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, defendendo-a do grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.

Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no interior de São Paulo, Anália Franco retornou para a capital paulista, entrando brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. A preocupação maior era com as crianças desamparadas, levando-a a fundar uma revista própria, intitulada Álbum das Meninas, cujo primeiro número começou a circular em 30 de abril de 1898 e tinha como destaque o artigo “Às mães e educadoras”.


Magaly Sonia Gonsales, Núcleo Fraterno Samaritanos.

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