quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Consciência Universal - uma Globalização Planetária



Por Luís de Almeida

Depois de 15 bilhões de anos e alguns milhares de civilização, aqui estamos nós. Desde o Big Bang, a evolução continua, criando sempre estruturas mais complexas, das quais somos o mais belo expoente, rumo a uma consciência universal.

As partículas, os átomos, as moléculas, as macromoléculas, as células, os primeiros organismos, as populações, os ecossistemas, e por fim o homem... A evolução continua, mas desta vez é sobretudo técnica e social. A cultura tomou o testemunho. Estamos num ponto de viragem da história análogo ao do surgimento da vida.

Após as fases cósmica, química e biológica inauguramos o quarto capítulo do grande livro da vida, em que a humanidade será protagonista no terceiro milénio. Acedemos a uma consciência de nós próprios, que se tornará coletiva.

Dizemos, com toda a modéstia, que estaremos a criar uma nova fórmula de vida: um macrorganismo planetário, englobante do mundo vivo e produções humanas. Seremos as células, e ele também evolui. Tem o seu sistema nervoso próprio, no qual a Internet é um embrião, e um metabolismo que recicla os materiais. Este cérebro global, criado de sistemas interdependentes, une os homens à velocidade do electrão, revolucionando, assim, as imensas trocas culturais, intelectuais e morais.

Não sendo uma seleção natural, mas sim cultural, as nossas invenções e a nossa nova consciência são as mutações darwinistas. No entanto, esta evolução técnica e cultural progride muito mais rapidamente do que a evolução biológica de Darwin. O homem cria novas "espécies"; o computador cria os satélites, a televisão, a rádio, o telefone, o avião...

Agora, é o homem que faz a seleção darwinista; não observamos o mercado, que seleciona, elimina e faz a escolha dos mais aptos e capazes, das novas "espécies"? A grande diferença é que o homem pode criar, no abstrato, tantas "espécies" quantas desejar. Esta nova evolução desmaterializa o homem. Entre o mundo real e o imaginário, o homem inclui um novo mundo - o virtual -, que lhe permite elaborar e testar objetos e máquinas que ainda não existem, bem como explorar universos artificiais. Para espanto de todos nós, ou não, esta evolução cultural segue a mesma lógica da evolução natural das espécies.

A complexidade segue a sua obra, mas libertando-se, a pouco e pouco, do pesado fardo da matéria. De certo modo, reencontramos o Big Bang, a explosão de energia, muito semelhante ao inverso do «ponto ómega», sendo uma implosão do espírito liberto da matéria. E se abstraíssemos o tempo poderíamos confundir os dois.

O homem deve ainda aperfeiçoar-se muito mais. Quando as células se associam, alcançam uma individualidade muito maior do que se estivessem isoladas. A fase da macrorganização comporta um risco de homogeneização planetária, mas também germes de diversificação. Quanto mais o planeta se globaliza mais se diferencia.

As metáforas mecânicas, as engrenagens, os relógios, dominaram o início do século. São agora as metáforas dos organismos as mais pedagógicas, na condição de não as tomarmos à letra. O organismo planetário que criamos exterioriza as nossas funções e os nossos sentidos: a nossa visão pela televisão, a nossa memória pelos computadores, as nossas pernas pelos transportes... Mas mantém-se de pé a grande questão: iremos viver em simbiose com esse organismo planetário ou tornar-nos-emos parasitas destruidores do hospedeiro, o que nos atiraria para graves crises económicas, ecológicas e sociais?

Atualmente, drenamos, em proveito próprio, recursos energéticos, informações, materiais; e segregamos dejetos no meio ambiente, empobrecendo constantemente o sistema que nos sustenta. Somos parasitas de nós próprios, dado que algumas sociedades industrializadas travam o desenvolvimento das outras.

Se continuarmos na via atual, acabaremos parasitas da Terra.

Num organismo existe um sistema de alarme e de cura. Se o organismo se ferir, o corpo inteiro é mobilizado. É imperioso criar um sistema análogo para o planeta. A ONU, e as inúmeras associações humanitárias, já são esboços desse sistema, mas precisamos de ir muito mais longe. Aí está o papel catalítico do Espiritismo. Se soubermos que existe um ente superior, que nos rege e orienta, que a vida continua (a morte não existe), que a reencarnação é um facto irrefutável, que a lei de causa e efeito é uma realidade, e se conhecermos donde vimos, para onde vamos e o que fazemos aqui, muitos de nós teremos comportamentos diferentes perante a sociedade e o planeta.

Ora, a importância do Espiritismo está aí...

Hoje, não faz qualquer sentido, embora seja de louvar algumas atitudes, por parte dos ecologistas e de todos aqueles que procuram defender o planeta do homem, encerrar a variedade dos seres em guetos, para criar reservas. Quando vemos os bosquímanos, ou ameríndios, relegados para o que chamamos, muito cruelmente, «reservas», perguntamos quem somos nós para termos tal atitude, indigna de um ser humano. Não serão essas prisões ou reservas pequenas ilhas que nos oferecemos para nosso belo prazer, até fazendo excursões turísticas para vermos nossos semelhantes? Pensamos que estas populações não têm outra solução, como vemos ao longo da história, que não seja misturarem-se, genética e culturalmente, conosco, ou então desaparecerão.

Hoje, observando os ainda masai - tribo africana, das margens da caldeira de N'Gorongoro -, que passam a vida no meio dos leões, rinocerontes, búfalos, etc., todos eles bichinhos não especialmente ternos, compreendemos que se pode viver em paz com todos, e com o meio.

Não deixemos que a nostalgia e a petulância nos invadam a mente. Pensemos, isso sim, na importância de encontrarmos, em conjunto, a harmonia e o equilíbrio entre a Terra e a tecnologia, e entre a ecologia e a economia, para assim evitarmos crises. Deveremos observar e estudar as lições que nos dá o conhecimento sobre a evolução da complexidade. Compreender a nossa história pode dar o recuo necessário, um sentido ao que fazemos, e maior sageza. É inegável o crescimento de uma inteligência coletiva, num humanismo tecnológico. Aí está o Espiritismo para corroborar, ensinando, esclarecendo e amando.

Cada vez mais estamos prestes a perder a diversidade: a cultura humana torna-se cada vez mais homogénea, o mundo torna-se global, o planeta mais pequeno. As pessoas viajam muito, quer física quer virtualmente. Misturando-se, desta forma, as culturas, dá-se o fenómeno da aculturação. O homem acumula um conhecimento crescente, progride para um maior saber, uma maior liberdade, para uma cultura mais complexa. Seguimos a mesma lógica da matéria e da vida. A nossa história tem um sentido, uma lógica; não acreditamos nem na contingência nem no acaso, que aos olhos de alguns cientistas só parecem intervir quando estudam períodos muito curtos.

As sociedades humanas organizam-se cada vez melhor. A pouco e pouco temos a consciência do meio ambiente que nos rodeia e de nós próprios. Vejamos a ONU. Estes organismos têm conhecido inúmeras dificuldades. Considerando-se, porém, as coisas com o devido distanciamento, descobre-se que o homem tomou consciência da sua condição mundial em apenas 70 anos; o que é isso, comparado com a nossa história?

A humanidade atual já chegou a um certo nível de reflexão, embora nos pareça muito jovem. Numerosas dificuldades do nosso tempo provêm do facto de muitas populações terem apenas uma informação muito reduzida do mundo; mas a providência divina não deixa as coisas entregues ao acaso, já que o acaso não existe.

No limiar deste século o homem inventou duas maneiras de se autodestruir: o excesso de armamento nuclear, atómico e biológico, e a deterioração do ambiente.

Atualmente, coloca-se uma questão: estaremos capacitados para coexistir com o nosso próprio poder? Se a resposta for não, a evolução continuará sem nós. Como Sísifo, teremos levado o rochedo até ao alto da montanha, para logo de seguida o deixarmos escapar. É um pouco ridículo, não é? Temos de ter plena consciência da gravidade da situação presente, mantendo, contudo, o optimismo. Temos de deitar mão a todos os nossos recursos, intelectuais, culturais, tecnológicos e sobretudo morais, para salvar o planeta, antes que seja tarde. Somos os responsáveis pelos danos causados, quer ativos quer passivos, e também seus herdeiros. É a nós que compete fazer com que este delicioso planeta continue vivendo, mas com saúde.

Estão reunidos todos os meios para que possamos (praticando primeiro) transmitir que a fraternidade é, e será, a pedra angular da felicidade humana e planetária.

Então regeneremo-nos, senão seremos como Sísifo.

Sejamos espíritas, no verdadeiro sentido da palavra. A hora é de unidade fraternal - o saber amar.

Terminamos com uma mensagem psicografada por Divaldo Pereira Franco, na Associação Cultural Espiritualista de Viseu, em maio de 1993, pelo espírito do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes:

«(...) Aqui estamos, em nome dos espíritas do Brasil e de Portugal, pelo laço da fraternidade, para dizer-vos que antes de encarnardes vos comprometestes com a construção da era nova e de um mundo melhor.

Obreiros da fé renovada, ide adiante, confiantes e felizes, e o Senhor irá convosco.»

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