Por Claudio Bueno da Silva
A origem dos povos antigos se confunde com a história de suas religiões. E como toda religião tenta explicar o princípio das coisas, dos seres, a formação do mundo, seus primeiros livros sagrados tratavam da religião e ao mesmo tempo da ciência, refletindo o conhecimento que se tinha na época.
Ciência e Religião são as duas alavancas da inteligência humana. A missão da Ciência é descobrir as leis da natureza. A missão da Religião é desvendar as leis do mundo moral. Tanto uma quanto a outra têm o mesmo princípio: Deus. Portanto, não podem contradizer-se. ¹
Essas forças têm impulsionado o desenvolvimento humano ao longo do tempo, acentuando características próprias do seu campo de ação, científico ou religioso. Contudo, a história registra também, em certos períodos, estagnações provisórias no seu progresso.
A civilização egípcia, cujo legado científico impressiona até os dias de hoje, pode ser citada como exemplo clássico de desenvolvimento na antiguidade.
A concepção do Deus único e os Dez Mandamentos de Moisés registraram um período importante para a humanidade, em que leis de essência divina foram apresentadas concomitantemente a regras e preceitos de caráter transitório para controle da ordem e da disciplina. A ideia do sagrado e a força das tradições oriundas de erros de interpretação desse conjunto arrastaram pelos séculos afora conceitos e pensamentos hoje inaceitáveis pelo bom senso, mas que ainda vigoram no espírito de milhões de pessoas como verdades absolutas.
O aparecimento de Jesus de Nazaré na Terra desencadeou um movimento religioso cujos princípios se mantiveram fiéis à sua pregação original por cerca de três séculos. Mesmo perdendo as características dos primeiros tempos, se alastrou e influiu fortemente na formação religiosa de boa parte do mundo.
Do século V ao XV (cerca de 1000 anos) a humanidade protagonizou através do domínio religioso um dos períodos mais tristes da sua evolução com as chamadas guerras santas, as cruzadas, as fogueiras da inquisição, que produziram perseguição, tortura e morte. O mundo pouco evoluiu nesse período, estando a ciência e a cultura muito atreladas ao poder quase absoluto das ordens religiosas católicas.
Um pouco mais tarde, no entanto, missionários como Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Isaac Newton e inumeráveis outros reencarnam na Terra, contribuindo com a sua ciência para o progresso humano, dando já ao pensamento científico ares um pouco mais independentes.
De certo modo, Ciência e Religião se revezaram no direcionamento da caminhada humana, com predominância acentuada desta última, que fazia ou não concessões àquela, segundo as suas conveniências.
Entre erros e acertos de ambas ao longo do tempo, talvez nada se compare à afronta que sofreu o ensino moral de Jesus na Idade Média, promovido pela incúria religiosa, descaracterizando, falseando, adulterando as ideias originais do Cristianismo.
A secular e desarrazoada incompatibilidade entre Religião e Ciência, alimentada pelo orgulho e exclusivismo de uma e outra, fomentou a incredulidade e a intolerância. A Religião, desprezando as leis orgânicas e imutáveis da matéria, se prendeu aos dogmas artificiais, posicionando a fé em conceitos incertos. A Ciência, decepcionada com o misticismo e a irracionalidade do pensamento, reforçou suas trincheiras com a negação de Deus e o acolhimento das teorias da materialidade, muito ajudada nisso pelas filosofias materialistas.
Fenômenos culturais, políticos, econômicos e sociais de repercussão mundial como o Iluminismo, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, com suas peculiaridades e exigências intrínsecas, dentre outras causas, contribuíram para agravar o antagonismo e aumentar a distância entre elas.
Em meados do século XIX surge o Espiritismo, como proposta anunciada para complementar os ensinos de Jesus e descerrar os véus de mistério deixados por ele para quando chegasse o tempo certo, com a humanidade mais adiantada e esclarecida pelas descobertas científicas. O principal foco a combater: o materialismo.
O volume de informações de interesse universal trazido por essa doutrina é muito grande, de modo que os homens, ajudados pelo avanço das ciências, já estão aptos a compreender as leis do mundo moral e espiritual reveladas pelo Espiritismo.
Homens de ciência começam então a considerar informações relacionadas ao mundo do Espírito, respaldadas pela pesquisa e estudos responsáveis com objetivos intrinsecamente humanitários, e, mais recentemente, vêm trabalhando experiências que “espiritualizam” o pensamento científico.
Homens de religião, sendo forçados pelas evidências científicas que desconstroem velhos e desacreditados dogmas, tendem a voltar suas vistas para o homem integral, considerando como necessária a revisão dos seus discursos doutrinários místicos e míticos.
Os Espíritos afirmam que chegaram os tempos de grandes transformações na Terra, e Ciência e Religião são chamadas a aproximar-se, somando suas experiências conquistadas e a conquistar para impulsionar de vez a humanidade para a era do Espírito, onde finalmente o homem compreenderá de onde veio, para onde vai, e qual é o objetivo da vida na Terra.
¹ Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, “Aliança da Ciência com a Religião”, LAKE Editora, 1975.
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