Revista Espírita e Sociedade Espírita de Paris
Por Orson Peter Carrara
Em 1858, por iniciativa de Allan Kardec – o Codificador do Espiritismo –, surgiram a Revista Espírita, tradicional publicação por ele dirigida até sua desencarnação em 1869 e ainda em circulação em vários idiomas, e a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro centro espírita do planeta.
Foi em janeiro daquele ano, conforme expressa o próprio Kardec em nota publicada posteriormente em Obras Póstumas1, segunda parte, com o título A Revista Espírita, em anotação de 15 de novembro de 1857:
“(...) NOTA — Apressei-me a redigir o primeiro número e fi-lo circular a 1º de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender, porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa. A partir daquela data, os números se sucederam sem interrupção e, como previa o Espírito, esse jornal se tornou um poderoso auxiliar meu. Reconheci mais tarde que fora para mim uma felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas ideias e sua vontade e criar-me embaraços. Sozinho, eu não tinha que prestar contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a tarefa.”
Já a Sociedade Parisiense de Estudos Espírita foi fundada em 1º de abril de 1858. Também de Obras Póstumas1, com o título Fundação da Sociedade Espírita de Paris, com anotação na mesma data de 1º de abril, extraímos parcialmente:
“(...) Havia cerca de seis meses, eu realizava, em minha casa, à rua dos Mártires, uma reunião com alguns adeptos, às terças-feiras. A Srta. E. Dufaux era a médium principal. Conquanto o local não comportasse mais de 15 ou 20 pessoas, até 30 lá se juntavam às vezes. Apresentavam grande interesse tais reuniões, pelo caráter sério de que se revestiam e pelas questões que ali se tratavam. Lá não raro compareciam príncipes estrangeiros e outras personagens de alta distinção. (...) A Sociedade ficou, em consequência, legalmente constituída e passamos a reunir-nos todas as terças-feiras no compartimento que ela alugara, no Palais Royal, galeria de Valois. Aí esteve um ano, de 1º de abril de 1858 a 1º de abril de 1859. Não tendo permanecido lá por mais tempo, entrou a reunir-se às sextas-feiras num dos salões do restaurante Douix, no mesmo Palais Royal, galeria Montpensier, de 1º de abril de 1859 a 1º de abril de 1860, época em que se instalou num local seu, à rua e passagem Sant’Ana, 59. Formada a princípio de elementos pouco homogêneos e de pessoas de boa vontade, que eram aceitas com facilidade um tanto excessiva, a Sociedade se viu sujeita a muitas vicissitudes, que não foram dos menores percalços da minha tarefa.”
As duas ocorrências, pois, completam 153 anos em 2011. Motivo de júbilo para a família espírita mundial, pelo significado de ambas. A Revista Espírita constitui extraordinária publicação que o Codificador transformou num verdadeiro laboratório, onde seus relatos e experiências têm muito a ensinar. Publicada sob sua responsabilidade direta até sua desencarnação e ainda em circulação, a Revue ainda é desconhecida da maioria dos espíritas que não imaginam o tesouro que se encontra à disposição para seus estudos e reflexões. Trata-se de coleção (de 1858 a 1869) para permanentes pesquisas e que foi publicada no Brasil, primeiramente pela Edicel, posteriormente pelo IDE-Araras (SP) e recentemente também a Federação Espírita Brasileira a publicou em primorosa encadernação.
A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, por sua vez o primeiro núcleo espírita do planeta, alvo de lutas e dificuldades internas, transformou-se também, assim como a Revue, num importante foco de experiências para amadurecimento das ideias e no intercâmbio entre os espíritas.
As duas citações históricas incentivam o estudo e o conhecimento espírita, mas também o envolvimento de todos nós, com mais comprometimento e dedicação, à divulgação e à vivência do Espiritismo.
E já falamos uma vez mais em júbilos de sesquicentenário2, utilizando trechos de Obras Póstumas, acima transcritos, importante que voltemos nossa atenção aos esforços do Codificador. Suas importantes e sempre oportunas considerações e argumentos, tão fartamente encontradas na Codificação, surgem também em Obras Póstumas com detalhes impressionantes de suas lutas nas anotações pessoais deixadas para a posteridade. E nós, os espíritas da atualidade, com tão ricos conteúdos à disposição, poderemos encontrar muitos temas para apuradas reflexões, tais como se encontram na citada obra.
A genialidade do Codificador, tão bem expressa no seu alto bom senso e discernimento, sua clareza e lucidez, ao lado da manifesta bondade d´alma, entusiasmam pela grande capacidade de síntese e intelecto perfeitamente ajustado à integridade moral, ofertando textos que encantam pela profundidade das argumentações.
Portanto, uma vez mais, mantenhamos essas alegrias por sermos contemporâneos dessa expressiva efeméride do sesquicentenário ocorrida em 2008, das expressivas ocorrências da fundação da Revista Espírita e da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, num autoconvite para continuar estudando e nos esforçando intensamente pelo progresso individual, tarefa prioritária da presença do Espiritismo no planeta.
Se pararmos poucos instantes do dia para folhear as obras básicas e também a Revista Espírita, observarmos com atenção o índice de cada obra, observarmos atentamente a distribuição didática dos assuntos e especialmente analisarmos cuidadosamente os temas apresentados em cada obra descobriremos ou redescobriremos, uma vez mais, toda grandeza e lucidez do Codificador, de cujo esforço, inteligência e determinação no trabalho a que se entregou, resultou esse tesouro intelecto-moral à nossa disposição, deixaremos de lado a acomodação ou mesmo os abatimentos e partiremos para a ação consciente do trabalho, pois que a própria dinâmica da vida nos pede esse empenho em favor uns dos outros. O estágio de progresso alcançado pela humanidade solicita esse empenho a que todos podemos aderir com boa vontade e conhecimento.
O que mais é admirável talvez em toda obra é sua atualidade. É impressionante ler textos escritos de 1857 a 1869 e encontrar tamanha lucidez e atualidade. É algo que empolga, que norteia, que esclarece e orienta com bondade, mostrando o quanto há para fazer, refletir, aprender. Especialmente agora que a mentalidade humana está mais desperta para os valores reais da alma imortal.
Notas do Autor:
1 - Vale recordar que o livro Obras Póstumas reúne estudos e anotações de Allan Kardec e foi publicado após sua desencarnação.
2 - Em 2007 foram comemorados os 150 anos de publicação de O Livro dos Espíritos.
3 - As transcrições foram extraídas do CD-ROM - A Codificação – Os Livros Básicos da Doutrina Espírita, edição da Federação Espírita Brasileira.
Fonte: O Consolador
Em 1858, por iniciativa de Allan Kardec – o Codificador do Espiritismo –, surgiram a Revista Espírita, tradicional publicação por ele dirigida até sua desencarnação em 1869 e ainda em circulação em vários idiomas, e a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro centro espírita do planeta.
Foi em janeiro daquele ano, conforme expressa o próprio Kardec em nota publicada posteriormente em Obras Póstumas1, segunda parte, com o título A Revista Espírita, em anotação de 15 de novembro de 1857:
“(...) NOTA — Apressei-me a redigir o primeiro número e fi-lo circular a 1º de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender, porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa. A partir daquela data, os números se sucederam sem interrupção e, como previa o Espírito, esse jornal se tornou um poderoso auxiliar meu. Reconheci mais tarde que fora para mim uma felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas ideias e sua vontade e criar-me embaraços. Sozinho, eu não tinha que prestar contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a tarefa.”
Já a Sociedade Parisiense de Estudos Espírita foi fundada em 1º de abril de 1858. Também de Obras Póstumas1, com o título Fundação da Sociedade Espírita de Paris, com anotação na mesma data de 1º de abril, extraímos parcialmente:
“(...) Havia cerca de seis meses, eu realizava, em minha casa, à rua dos Mártires, uma reunião com alguns adeptos, às terças-feiras. A Srta. E. Dufaux era a médium principal. Conquanto o local não comportasse mais de 15 ou 20 pessoas, até 30 lá se juntavam às vezes. Apresentavam grande interesse tais reuniões, pelo caráter sério de que se revestiam e pelas questões que ali se tratavam. Lá não raro compareciam príncipes estrangeiros e outras personagens de alta distinção. (...) A Sociedade ficou, em consequência, legalmente constituída e passamos a reunir-nos todas as terças-feiras no compartimento que ela alugara, no Palais Royal, galeria de Valois. Aí esteve um ano, de 1º de abril de 1858 a 1º de abril de 1859. Não tendo permanecido lá por mais tempo, entrou a reunir-se às sextas-feiras num dos salões do restaurante Douix, no mesmo Palais Royal, galeria Montpensier, de 1º de abril de 1859 a 1º de abril de 1860, época em que se instalou num local seu, à rua e passagem Sant’Ana, 59. Formada a princípio de elementos pouco homogêneos e de pessoas de boa vontade, que eram aceitas com facilidade um tanto excessiva, a Sociedade se viu sujeita a muitas vicissitudes, que não foram dos menores percalços da minha tarefa.”
As duas ocorrências, pois, completam 153 anos em 2011. Motivo de júbilo para a família espírita mundial, pelo significado de ambas. A Revista Espírita constitui extraordinária publicação que o Codificador transformou num verdadeiro laboratório, onde seus relatos e experiências têm muito a ensinar. Publicada sob sua responsabilidade direta até sua desencarnação e ainda em circulação, a Revue ainda é desconhecida da maioria dos espíritas que não imaginam o tesouro que se encontra à disposição para seus estudos e reflexões. Trata-se de coleção (de 1858 a 1869) para permanentes pesquisas e que foi publicada no Brasil, primeiramente pela Edicel, posteriormente pelo IDE-Araras (SP) e recentemente também a Federação Espírita Brasileira a publicou em primorosa encadernação.
A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, por sua vez o primeiro núcleo espírita do planeta, alvo de lutas e dificuldades internas, transformou-se também, assim como a Revue, num importante foco de experiências para amadurecimento das ideias e no intercâmbio entre os espíritas.
As duas citações históricas incentivam o estudo e o conhecimento espírita, mas também o envolvimento de todos nós, com mais comprometimento e dedicação, à divulgação e à vivência do Espiritismo.
E já falamos uma vez mais em júbilos de sesquicentenário2, utilizando trechos de Obras Póstumas, acima transcritos, importante que voltemos nossa atenção aos esforços do Codificador. Suas importantes e sempre oportunas considerações e argumentos, tão fartamente encontradas na Codificação, surgem também em Obras Póstumas com detalhes impressionantes de suas lutas nas anotações pessoais deixadas para a posteridade. E nós, os espíritas da atualidade, com tão ricos conteúdos à disposição, poderemos encontrar muitos temas para apuradas reflexões, tais como se encontram na citada obra.
A genialidade do Codificador, tão bem expressa no seu alto bom senso e discernimento, sua clareza e lucidez, ao lado da manifesta bondade d´alma, entusiasmam pela grande capacidade de síntese e intelecto perfeitamente ajustado à integridade moral, ofertando textos que encantam pela profundidade das argumentações.
Portanto, uma vez mais, mantenhamos essas alegrias por sermos contemporâneos dessa expressiva efeméride do sesquicentenário ocorrida em 2008, das expressivas ocorrências da fundação da Revista Espírita e da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, num autoconvite para continuar estudando e nos esforçando intensamente pelo progresso individual, tarefa prioritária da presença do Espiritismo no planeta.
Se pararmos poucos instantes do dia para folhear as obras básicas e também a Revista Espírita, observarmos com atenção o índice de cada obra, observarmos atentamente a distribuição didática dos assuntos e especialmente analisarmos cuidadosamente os temas apresentados em cada obra descobriremos ou redescobriremos, uma vez mais, toda grandeza e lucidez do Codificador, de cujo esforço, inteligência e determinação no trabalho a que se entregou, resultou esse tesouro intelecto-moral à nossa disposição, deixaremos de lado a acomodação ou mesmo os abatimentos e partiremos para a ação consciente do trabalho, pois que a própria dinâmica da vida nos pede esse empenho em favor uns dos outros. O estágio de progresso alcançado pela humanidade solicita esse empenho a que todos podemos aderir com boa vontade e conhecimento.
O que mais é admirável talvez em toda obra é sua atualidade. É impressionante ler textos escritos de 1857 a 1869 e encontrar tamanha lucidez e atualidade. É algo que empolga, que norteia, que esclarece e orienta com bondade, mostrando o quanto há para fazer, refletir, aprender. Especialmente agora que a mentalidade humana está mais desperta para os valores reais da alma imortal.
Notas do Autor:
1 - Vale recordar que o livro Obras Póstumas reúne estudos e anotações de Allan Kardec e foi publicado após sua desencarnação.
2 - Em 2007 foram comemorados os 150 anos de publicação de O Livro dos Espíritos.
3 - As transcrições foram extraídas do CD-ROM - A Codificação – Os Livros Básicos da Doutrina Espírita, edição da Federação Espírita Brasileira.
Fonte: O Consolador
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