A Regra de Ouro
Durante alguns meses haviam estado ao Seu lado, participando das preleções na Galiléia, pela Decápole, Jerusalém e além Jordão. .. Viram-No atender enfermos de variada espécie, demonstrando invulgar poder sobre os "espíritos imundos", que O obedeciam prontamente. Observaram-No em múltiplas situações e sentiam-se maravilhados com Êle.
Embora alguns houvessem abandonado seus quefazeres para O seguirem, sentiam-se invadidos por dúvidas e suspeitas infundadas, é certo, porém acautelatórias.
Aquêle Visionário falava de um Reino Novo que não conseguiam alcançar nem compreender.
"Por que não Israel?! — se perguntavam. — Longos foram os dias do cativeiro sob o impiedoso jugo de estrangeiros desalmados; terrível o ódio das raças vizinhas; e cruentas as batalhas que aquêle povo travara para sobreviver. Novamente o grilhão da escravatura disfarçava as dilacerações nos seus corpos e nas suas almas... Por que não conferir a supremacia a Israel, no concerto das Nações?..."
Sem dúvida, o Seu poder era exercido sobre eles que estavam resolvidos, se necessário, a imolar-se até sob o Seu comando. Quando, porém, se ausentavam e a Sua presença diminuía o facínio neles, sentiam-se fracos, saudosos da vida que levavam antes, receosos da empresa. Conquanto a Sua palavra rutilante e vigorosa lhes caísse como chuva contínua sobre terra sedenta, Êle não dizia tudo. Ensimesmava-se longas horas, quando não desaparecia inúmeras vezes, a sós, retornando com a face pálida e os olhos que sempre brilhavam como duas gotas de luz, sombreados de dorida tristeza.
Relutavam interiormente.
João, por ser mais jovem, febricitado depois de cada discurso, sonhava com as estrelas e cantava entusiasmado a melodia da mocidade nas cordas da harpa do vento. Tiago, no entanto, seu irmão, amadurecido pelos anos de luta e experimentado em longos exercícios da vida, reflexionava, comparando Seus ditos aos escritos do Tora.
Simão e André deixaram as redes e seguiram-No ; Levi, que estava sentado na coletoria, convidado, levantou-se e O acompanhou. Depois, da multidão escolheu os demais, separando-os para a Sua seara: Felipe, Bartolomeu, Tomé, Tadeu, Simão, o Zelotes, Tiago, filho de Alfeu e Judas Iscariotes.. .
Embora alguns houvessem abandonado seus quefazeres para O seguirem, sentiam-se invadidos por dúvidas e suspeitas infundadas, é certo, porém acautelatórias.
Aquêle Visionário falava de um Reino Novo que não conseguiam alcançar nem compreender.
"Por que não Israel?! — se perguntavam. — Longos foram os dias do cativeiro sob o impiedoso jugo de estrangeiros desalmados; terrível o ódio das raças vizinhas; e cruentas as batalhas que aquêle povo travara para sobreviver. Novamente o grilhão da escravatura disfarçava as dilacerações nos seus corpos e nas suas almas... Por que não conferir a supremacia a Israel, no concerto das Nações?..."
Sem dúvida, o Seu poder era exercido sobre eles que estavam resolvidos, se necessário, a imolar-se até sob o Seu comando. Quando, porém, se ausentavam e a Sua presença diminuía o facínio neles, sentiam-se fracos, saudosos da vida que levavam antes, receosos da empresa. Conquanto a Sua palavra rutilante e vigorosa lhes caísse como chuva contínua sobre terra sedenta, Êle não dizia tudo. Ensimesmava-se longas horas, quando não desaparecia inúmeras vezes, a sós, retornando com a face pálida e os olhos que sempre brilhavam como duas gotas de luz, sombreados de dorida tristeza.
Relutavam interiormente.
João, por ser mais jovem, febricitado depois de cada discurso, sonhava com as estrelas e cantava entusiasmado a melodia da mocidade nas cordas da harpa do vento. Tiago, no entanto, seu irmão, amadurecido pelos anos de luta e experimentado em longos exercícios da vida, reflexionava, comparando Seus ditos aos escritos do Tora.
Simão e André deixaram as redes e seguiram-No ; Levi, que estava sentado na coletoria, convidado, levantou-se e O acompanhou. Depois, da multidão escolheu os demais, separando-os para a Sua seara: Felipe, Bartolomeu, Tomé, Tadeu, Simão, o Zelotes, Tiago, filho de Alfeu e Judas Iscariotes.. .
* * *
Escutaram-No há pouco, e a mensagem das bem-aventuranças ecoava docemente nas suas almas. Jamais alguém dissera o que Êle disse e como o disse.
Flutuavam no leve ar as nobres expressões e nos rostos aflitos dos ouvintes o contágio sublime da Sua voz realizara inesperadas transformações.
Todas aquelas gentes vieram ao monte para receberem o largo quinhão das Suas dádivas e estavam fartas: sorriam, e a esperança salmodiava hinos de paz nos seus corações sofridos. Retornavam, agora, aos lares, invadidos pela magia incomum do Seu verbo. Jamais deixariam de ecoar aquelas promessas de vida nas quebradas dos tempos e de repercutirem na acústica das almas.
Ali estavam eles, agora, a sós com Êle.
Chamara-os à parte e com o acento tocante da Sua poesia, reunira-os em torno da Sua pessoa.
As estrelas espiam do engaste sombreado em que tremeluzem no alto e vertem pranto argênteo.
O buliçoso sacudir das ramagens na aragem que perpassa mistura a Sua às vozes do anoitecer.
Flutuando sobre o lago, nele se refletindo, o disco solar no poente de fogo e ouro incendeia a Natureza.
O calor esmaece e um magnetismo envolvente domina, superando as manifestações exteriores.
O Estatuto da felicidade foi apresentado e novos artigos como corolários dos primeiros são aditados.
Por fim, embargado pela emoção, o Rabi, com as vestes claras bordadas pelo ouro da refulgência crepuscular, esclarece:
"Tendes ouvido que foi dito: "Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo". Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque Êle faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos." (*)
"Que ensinamento é este?!, — interrogam-se no âmago da alma surpresa. — E reflexionam: "A Lei é severa: "olho por olho, dente por dente". A alguém que prejudicou, tem o direito a sua vítima de cobrar a sevícia com a mesma intensidade.
Como se poderá unir o amigo e o inimigo no mesmo abraço ! Ajudar o adversário qual se êle fosse companheiro' — eis algo impossível..."
O Mestre os fita enternecido e os embriaga de docilidade.
O homem mau, parece dizer, está enfermo e o adversário infeliz caminha para a loucura.
Será crível atirá-los no fosso de misérias maiores?
Descerrando os lábios, indiferente ao surdo amor deles, prossegue:
"Pois se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? não fazem os publicanos também o mesmo? se saudardes somente aos vossos irmãos que fazeis de especial? Não fazem os Gentios também o mesmo? sede vós, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito." (1)
É um desafio ousado aquele programa.
Esse Estatuto certamente regerá o Reino a que Êle se refere.
As lágrimas rebentam nos seus olhos e correi silenciosas pelas faces. As emoções mais sutis os dominam.
Amar para adquirir a perfeição.
Construir a diferença no íntimo para não serem iguais aos maus. Essa diferença é quase um nada e é tudo: o amor aos inimigos!
A "regra de ouro" para a Humanidade se impõe como o fundamento essencial do novo Reino que Êle vem instalar na Terra.
Já não há equívocos. Os outros eram reinos levantados sobre os despojos dos vencidos, que se transformavam em adubo fecundante, quando não se faziam veículos de pestes dizimadoras. O forte esmagava o fraco e se apresentava como se fora mais forte. A uzura se armava de ambição e marchava sob o comando da impiedade para dominar.
Amar! Amar mesmo os inimigos para instaurar a Era da Misericórdia que precederia a do amor real.
Os primeiros artigos do Estatuto apresentado eram preceitos simples, temas de conversas das margens dos lagos e da boca das lavadeiras nos ribeirinhos cantantes.
Conviver e amar os adversários e não lhes resistir por meio da violência. . .
Êle viveria, durante todo o Seu ministério, aquela regra. Daria a vida. Cumpriria a Lei.
Flutuavam no leve ar as nobres expressões e nos rostos aflitos dos ouvintes o contágio sublime da Sua voz realizara inesperadas transformações.
Todas aquelas gentes vieram ao monte para receberem o largo quinhão das Suas dádivas e estavam fartas: sorriam, e a esperança salmodiava hinos de paz nos seus corações sofridos. Retornavam, agora, aos lares, invadidos pela magia incomum do Seu verbo. Jamais deixariam de ecoar aquelas promessas de vida nas quebradas dos tempos e de repercutirem na acústica das almas.
Ali estavam eles, agora, a sós com Êle.
Chamara-os à parte e com o acento tocante da Sua poesia, reunira-os em torno da Sua pessoa.
As estrelas espiam do engaste sombreado em que tremeluzem no alto e vertem pranto argênteo.
O buliçoso sacudir das ramagens na aragem que perpassa mistura a Sua às vozes do anoitecer.
Flutuando sobre o lago, nele se refletindo, o disco solar no poente de fogo e ouro incendeia a Natureza.
O calor esmaece e um magnetismo envolvente domina, superando as manifestações exteriores.
O Estatuto da felicidade foi apresentado e novos artigos como corolários dos primeiros são aditados.
Por fim, embargado pela emoção, o Rabi, com as vestes claras bordadas pelo ouro da refulgência crepuscular, esclarece:
"Tendes ouvido que foi dito: "Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo". Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque Êle faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos." (*)
"Que ensinamento é este?!, — interrogam-se no âmago da alma surpresa. — E reflexionam: "A Lei é severa: "olho por olho, dente por dente". A alguém que prejudicou, tem o direito a sua vítima de cobrar a sevícia com a mesma intensidade.
Como se poderá unir o amigo e o inimigo no mesmo abraço ! Ajudar o adversário qual se êle fosse companheiro' — eis algo impossível..."
O Mestre os fita enternecido e os embriaga de docilidade.
O homem mau, parece dizer, está enfermo e o adversário infeliz caminha para a loucura.
Será crível atirá-los no fosso de misérias maiores?
Descerrando os lábios, indiferente ao surdo amor deles, prossegue:
"Pois se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? não fazem os publicanos também o mesmo? se saudardes somente aos vossos irmãos que fazeis de especial? Não fazem os Gentios também o mesmo? sede vós, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito." (1)
É um desafio ousado aquele programa.
Esse Estatuto certamente regerá o Reino a que Êle se refere.
As lágrimas rebentam nos seus olhos e correi silenciosas pelas faces. As emoções mais sutis os dominam.
Amar para adquirir a perfeição.
Construir a diferença no íntimo para não serem iguais aos maus. Essa diferença é quase um nada e é tudo: o amor aos inimigos!
A "regra de ouro" para a Humanidade se impõe como o fundamento essencial do novo Reino que Êle vem instalar na Terra.
Já não há equívocos. Os outros eram reinos levantados sobre os despojos dos vencidos, que se transformavam em adubo fecundante, quando não se faziam veículos de pestes dizimadoras. O forte esmagava o fraco e se apresentava como se fora mais forte. A uzura se armava de ambição e marchava sob o comando da impiedade para dominar.
Amar! Amar mesmo os inimigos para instaurar a Era da Misericórdia que precederia a do amor real.
Os primeiros artigos do Estatuto apresentado eram preceitos simples, temas de conversas das margens dos lagos e da boca das lavadeiras nos ribeirinhos cantantes.
Conviver e amar os adversários e não lhes resistir por meio da violência. . .
Êle viveria, durante todo o Seu ministério, aquela regra. Daria a vida. Cumpriria a Lei.
* * *
Eles quase pertenciam às mesmas famílias. Nascidos e crescidos ali às margens do lago, se conheciam.
André e Simão, com sobrenome Cephas ou Pedro, eram ambos filhos de Jonas, nascidos em Betsaida, residentes, porém, há muito em Cafarnaum.
João e Tiago, — os "filhos do trovão", como o Senhor os chamava — descendiam ,de Zebedeu e Salomé, que Lhe foi fiel até o Gólgota; Felipe era de Betsaida; Natanael ou Bartolomeu, filho de Ptolomeu, provinha de Cana; Simão, o Zelotes, viera de Canaan; Tomé ou Dídimo, por ser gêmeo, era descendente de um pescador de Dalmanuta; Tiago, o Moço, Judas Tadeu, seu irmão e Mateus Levi, o ex-publicano, eram filhos de Alfeu e Maria de Cleofas, parenta de Maria, Sua mãe, nazarenos todos, eram primos afetuosos e passavam como "seus irmãos"; e Judas, filho de Simão, originário de Kerioth, a pequena cidade da extremidade sul de Judá.. . Eis o grupo.
Todos galileus, menos Judas. ..
Eram os membros que participavam da fundação do Reino e recebiam as Leis que o deveriam reger. Todos seriam irmãos, mensageiros, "apóstolos" — "que são enviados"!
O ar perfumado dos longes campos chega e a transparência colorida do céu em poente comove.
Eles se dobram sobre as próprias necessidades e raciocinam.
O Rabi silencia. Reino de Amor!
Lançadas suas bases, deveria resistir até os confins dos séculos.
Preservando a regra áurea do amor, Tiago, o moço, foi arrojado do pináculo do Templo e apedrejado até a morte. ..
Bartolomeu, ouvindo n’alma a musicalidade do amor, sofreu o martírio e morreu na cruz de cabeça para baixo, após ser esfolado vivo.
Judas Tadeu, esparzindo aquele pólen de amor, doou a vida na Arménia, sob flechadas cruéis.
André, crucificado, e Felipe, martirizado, permaneceram amando.
Simão, o Zelotes, amando, deixou-se crucificar na Pérsia em singulares traves.. .
Tomé, o Dídimo, renovado, crente e amoroso, padeceu o golpe de uma lança, na índia, oferecendo-Lhe a vida...
Tiago teve decepada a cabeça, fiel ao amor, na Casa do Caminho...
Mateus, também, amoroso, consentiu em ser martirizado...
Pedro, esfuziante, dominado pelo milagre do amor, permitiu-se crucificar em Roma...
O tributo do amor — não resistir aos maus!
Do grupo híbrido sai a Nova Humanidade a renovar e modificar a Terra.
"Amai os vossos inimigos" e doai o bem a quem vos faça o mal — enunciara.
O Reino de Deus chegara à Terra dos homens e confraternizava com eles, em nome do Amor.
André e Simão, com sobrenome Cephas ou Pedro, eram ambos filhos de Jonas, nascidos em Betsaida, residentes, porém, há muito em Cafarnaum.
João e Tiago, — os "filhos do trovão", como o Senhor os chamava — descendiam ,de Zebedeu e Salomé, que Lhe foi fiel até o Gólgota; Felipe era de Betsaida; Natanael ou Bartolomeu, filho de Ptolomeu, provinha de Cana; Simão, o Zelotes, viera de Canaan; Tomé ou Dídimo, por ser gêmeo, era descendente de um pescador de Dalmanuta; Tiago, o Moço, Judas Tadeu, seu irmão e Mateus Levi, o ex-publicano, eram filhos de Alfeu e Maria de Cleofas, parenta de Maria, Sua mãe, nazarenos todos, eram primos afetuosos e passavam como "seus irmãos"; e Judas, filho de Simão, originário de Kerioth, a pequena cidade da extremidade sul de Judá.. . Eis o grupo.
Todos galileus, menos Judas. ..
Eram os membros que participavam da fundação do Reino e recebiam as Leis que o deveriam reger. Todos seriam irmãos, mensageiros, "apóstolos" — "que são enviados"!
O ar perfumado dos longes campos chega e a transparência colorida do céu em poente comove.
Eles se dobram sobre as próprias necessidades e raciocinam.
O Rabi silencia. Reino de Amor!
Lançadas suas bases, deveria resistir até os confins dos séculos.
Preservando a regra áurea do amor, Tiago, o moço, foi arrojado do pináculo do Templo e apedrejado até a morte. ..
Bartolomeu, ouvindo n’alma a musicalidade do amor, sofreu o martírio e morreu na cruz de cabeça para baixo, após ser esfolado vivo.
Judas Tadeu, esparzindo aquele pólen de amor, doou a vida na Arménia, sob flechadas cruéis.
André, crucificado, e Felipe, martirizado, permaneceram amando.
Simão, o Zelotes, amando, deixou-se crucificar na Pérsia em singulares traves.. .
Tomé, o Dídimo, renovado, crente e amoroso, padeceu o golpe de uma lança, na índia, oferecendo-Lhe a vida...
Tiago teve decepada a cabeça, fiel ao amor, na Casa do Caminho...
Mateus, também, amoroso, consentiu em ser martirizado...
Pedro, esfuziante, dominado pelo milagre do amor, permitiu-se crucificar em Roma...
O tributo do amor — não resistir aos maus!
Do grupo híbrido sai a Nova Humanidade a renovar e modificar a Terra.
"Amai os vossos inimigos" e doai o bem a quem vos faça o mal — enunciara.
O Reino de Deus chegara à Terra dos homens e confraternizava com eles, em nome do Amor.
Amélia Rodrigues
Divaldo Pereira Franco, do Livro Luz do Mundo
(*) e (1) — Mateus 5: 43 a 48
Nota da Autora espiritual.
Divaldo Pereira Franco, do Livro Luz do Mundo
(*) e (1) — Mateus 5: 43 a 48
Nota da Autora espiritual.
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