sábado, 8 de maio de 2010

Amélia Rodrigues, uma Mulher e uma Cidade

Amélia Rodrigues, a mulher - Exemplo de vida

A história de Amélia Rodrigues (mulher) se confunde com a história de Amélia Rodrigues (cidade). A impressão que se tem é que ela sempre foi a causa e o efeito de tudo que aconteceu no lugar que hoje ostenta seu nome. Filha de Félix Rodrigues e Maria Raguelina Rodrigues, Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues nasceu na Fazenda Campos, freguesia de Oliveira dos Campinhos, a 26 de maio de 1861. Faleceu aos 65 anos de idade, no dia 22 de agosto de 1926, deixando a marca de um trabalho inigualável, tanto na Educação, como na Literatura e Assistência Social.

Qualquer ameliense, por mais jovem que seja, deveria conhecer a história de Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues, desde os primeiros passos para sua formação, com o Cônego Alexandrino do Prado. Posteriormente, se tornou aluna exemplar dos professores Antônio de Araújo Gomes de Sá e Manuel Rodrigues Martins de Almeida. Seu sonho era o Magistério. Para realizá-lo, cursou o Colégio mantido pela professora Cândida Álvares dos Santos, onde obteve ensinamentos suficientes para conquistar a nomeação para lecionar no arraial da Lapa.

Os desafios não pararam aí. Alguns anos depois, a jovem professora enfrentava novo concurso, desta feita disputando uma cadeira na cidade de Santo Amaro da Purificação, permanecendo no cargo por oito anos. Em 1891, mais uma conquista para Amélia Rodrigues: pelo seu desempenho na cidade de Santo Amaro, ela foi transferida para Salvador, passando a atuar na escola do bairro Santo Antônio. Autoridades do setor educacional não pouparam elogios à mestra, que requereu sua aposentadoria anos mais tarde, quando já sentia necessidade de repousar.

Mas era difícil permanecer em repouso, quando o ideal de ensinar continuava vivo. Recuperadas as energias, Amélia Rodrigues retoma ao Magistério, desta vez de forma ainda mais marcante: a fundação do Instituto Maternal Maria Auxiliadora, que se constituiu numa das mais destacadas casas de educação e instrução da capital, sendo mais tarde transformada no "Asilo dos Expostos". Uma coisa é certa. Merecedora de respeito e carinho, Amélia Rodrigues sempre contou com o apoio dos conterrâneos para seus empreendimentos, o que os tornavam ainda mais significativos.

Não foi surpresa para ninguém quando a jovem mestra começou a se dedicar também à literatura e ao jornalismo. Incentivada por pessoas de renome, a exemplo do Barão de Vila Viçosa, Antônio Joaquim de Passos, Filinto Bastos e Cônego Emílio Lobo, dentre outras, Amélia Augusta cresceu nestes dois setores vertiginosamente, inicialmente como colaboradora das publicações religiosas "Cidade do Salvador", "Estandarte Católico" e "Mensageiro da Fé". Nesta última, a professora usava o pseudônimo de Juca Fidelis.

Sua participação na imprensa baiana foi mais adiante, quando fundou, em 1910, juntamente com as intelectuais Maria Luíza de Souza e Maria Elisa Valente Moniz de Aragão, a revista "A Paladina", primeiro órgão do Movimento Feminista na Bahia. Três anos antes, já impulsionada pela necessidade de defesa da mulher, Amélia criara a Associação das Damas de Maria Auxiliadora, que serviu de base para a fundação da Liga Católica das Senhoras Baianas, entidade presidida por ela. A revista "A Paladina" foi deixada de lado em 1912, quando se fez necessário o surgimento de um órgão oficial para divulgar as atividades da Liga, a revista "A Voz".

Várias publicações - já extintas - tiveram Amélia Rodrigues como colaboradora, como as revistas "Pantheon", "O Álbum", "A Renascença" e "O Livro". E todas estas atividades a fizeram uma grande conferencista, requisitada por todos os segmentos da sociedade baiana, principalmente para falar sobre mulheres. Uma das conferências de maior destaque foi sobre a "Obra Social Feminina no Mundo Civilizado", que contou com uma platéia da maior relevância, inclusive 14 bispos que se encontravam na capital do Estado. Nesta época, suas poesias também já começavam a ganhar espaço nos jornais baianos.

As portas do teatro também se abriram para a escritora, poetisa, professora e jornalista. Dentre seus trabalhos teatrais, são citados como os melhores "Fausta", representado no Teatro de Santo Amaro, "A Força", que foi levado a outros estados brasileiros e "A Natividade", drama sacro, representado em 23 de dezembro de 1889, no Politeama, em Salvador. Dentre as poesias, merecem destaque “O Leproso”, (Vida da Madre Vitória da Encarnação), “Religiosa Clarissa” (trabalho publicado em 1916, na revista da Liga das Senhoras Católicas), "Cartas a uma Amiga”. (com o pseudônimo Dinorah) e "Bem-me-queres".

Amélia Rodrigues se dedicou, durante muito tempo, à literatura infantil (dramas, comédias e poesias, a maioria ainda desconhecida) e às obras didáticas. "Flores da Bíblia" (versos para escola), "Rosas do Lar" (livro de leitura) e "Mãe e Mestra" são alguns exemplos. Publicado em 1898, o livro "Mãe e Mestra", seu primeiro trabalho nesta área, apresenta noções de Moral e Civismo, merecedoras de elogios do poeta Múcio Teixeira e do intelectual Rui Barbosa e de grande aceitação nos estabelecimentos de ensino baianos.

No gênero do romance – como em tudo que se propôs a fazer - Amélia Rodrigues logrou êxito. Depois de "Um casamento segundo os novos moldes", veio "A Promessa", vertido para o alemão. Suas poesias e outros trabalhos são transcritos ainda hoje. Seu intento era ser professora, sua vocação para as letras a fez escritora, seu destino a fez mestra e mãe de uma geração. Nunca serão esquecidos seus questionamentos espirituais e sua grandiosa luta por um ensino mais amplo, que atingisse o aspecto humanitário de cada um de seus discípulos.

Quando entre as mãos da criança,
um livro aberto se vê,
e a voz da mestra se escuta,
que diz à criança - lê!
- parece que Deus, sorrindo,
por sobre este grupo lindo,
mais uma vez reproduz,
no caos de um outro infinito,
aquele fecundo grito
de outrora - Faça-se a luz.

Amélia Rodrigues


Dorme em paz, coração, não tenhas medo
Da tempestade que lá fora explode
Ela quebrar-te em seu furor não pode,
Porque tu és forte, assim como um rochedo.

Tu tens em Deus o mágico segredo
De expulsar tudo quanto te incomoda
Ao seu oceano a calma fresta acode
E o sol para iluminar-te sai mais cedo.

Deus vela enquanto dormes, Deus escuta
A voz de tua prece, vê teu pranto
E dá-te forças na contínua luta.

Seu olhar é uma túnica de amianto
Que te envolve - claríssima, impoluta
Dorme em paz, coração, não temas tanto!

Amélia Rodrigues


Faz anos a filha do Senhor,
Tudo é prazer nos solos do sobrado.
Das janelas, através do cortinado
Sai em jarros a luz, passa o calor.

Rescende fora do banquete o odor
Soa em tubos o piano bem tocado.
E os gorjeios de um canto apaixonado
De rouxinol, nos lábios de uma, flor.

Mas enquanto lá dentro a festa
A dança, brindes, risos, intemperança,
Misturam-se aos fogos de vivas e bravos,
Do engenho em negro o imundo calabouço
Presos num tronco vil, pelo pescoço
Gemem, tintos de sangue, alguns escravos.

Amélia Rodrigues: Vida de luta e de glórias.


Amélia Rodrigues, A Cidade


O município de Amélia Rodrigues está situado na microrregião 151, ocupando uma área de 143 quilômetros quadrados. Distante da capital apenas 80 quilômetros, uma localização privilegiada - às margens da BR-324 - e um clima ameno (temperatura média anual de 24,8°C), o município limita-se com Conceição Rio Jacuípe (Norte), São Sebastião do Passé (Sul), Terra Nova (Leste) e Santo Amaro da Purificação (Oeste e Sul) a antiga parada de tropeiros. Sua população está distribuída entre as zonas urbana e rural.

O solo e o clima são fatores determinantes para o desenvolvimento de vários tipos de lavoura. Embora a cana-de-açúcar esteja em maior evidência, desde as origens do município, também se cultiva mandioca, feijão, milho, amendoim, fumo e abacaxi (culturas temporárias); banana, laranja, manga, abacate e coco (culturas permanentes). Por sua localização na zona fisiográfica do Recôncavo, Amélia Rodrigues é beneficiada pela Bacia Hidrográfica Recôncavo Norte, tendo como rios principais o Jacuípe e o Traripe. Argila é uma das principais ocorrências minerais do solo.

Os amelienses tem como padroeira Nossa Senhora da Conceição da Lapa e comemoram o dia 26 de maio comemora-se o aniversário da patrona. No dia 20 de outubro, comemora-se a emancipação política e administrativa do município.


Fonte: Artigo publicado no site Jacuípe Notícias

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