quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


O Sofrimento


O homem empenha-se, afanosamente, para vencer o sofrimento, que se lhe aparenta como adversário soez.

Em todas as épocas, ele vem travando uma violenta batalha para eximir-se à dor, em contínuas tentativas infrutíferas, nas quais exaure as forças, o ânimo e o equilíbrio, tombando depois em mais graves aflições.

Passar incólume ao sofrimento é a grande meta que todos perseguem. Pelo menos, diminuir-lhe a intensidade ou acalmá-lo, de modo a poder fruir os prazeres da existência em incessantes variações.

Imediatista, interessa-lhe o hoje, sem visão do porvir.

Como efeito, o sofrimento tem sido considerado vingança ou castigo divino, portanto, credor de execração e ódio.

Nas variadas mitologias, as figuras de deuses invejosos quão despeitados, infligindo punições às criaturas e comprazendo-se ante as dores que presenciam, são a resposta ancestral para o sofrimento na Terra.

Diversas escolas filosóficas e doutrinas religiosas, de alguma forma concordes com essas absurdas conceituações, estabeleceram métodos depuradores para a libertação do sofrimento, que vão desde as mais bárbaras flagelações - silícios, holocaustos, promessas e oferendas - ao ascetismo mais exacerbado, procurando negar o mundo e odiá-lo, a fim de, com essas atitudes, acalmarem e agradarem aos deuses ou a Deus.

Paralelamente, o estoicismo, herdeiro de alguns comportamentos orientais, tentou imunizar o homem, estimulando-o a uma conduta de graves sacrifícios que, sem embargo, é desencadeadora também de sofrimento.

Para libertar-se desse adversário, a criatura impõe-se outras formas de dor, que aceita racionalmente, por livre opção, não se dando conta do equívoco em que labora.

A dor, porém, não é uma punição. Antes, revela-se um excelente mecanismo da vida a serviço da própria vida.


Joanna de Ângelis


Divaldo Pereira Franco

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