terça-feira, 25 de novembro de 2008

Destaque: Sacramento, Eurípedes e Tomás

Tomás Novelino


Homenagear Eurípedes está sendo para mim uma grande benção que Deus e a espiritualidade vem me concedendo, pois estou tendo a oportunidade única de conhecer a sua bela história e todo o seu legado de amor, que permanece vivo até hoje na alma do povo, no trabalho e na atmosfera de Sacramento, em Minas Gerais, como também no coração de todos nós, companheiros da doutrina espírita.
Não poderia deixar de referenciar em sua homenagem um de seus grandes discípulos, Tomás Novelino, com essa matéria publicada no Jornal Pingado, em 23/02/2007, Ribeirão Preto/SP. (Carlos Pereira)



Tomás Novelino, o paladino da educação


“Tenho uma missão a desempenhar com esse menino, ou encarnado ou desencarnado” (Eurípedes Barsanulfo)


“Sempre perfumado, de terno branco, gravata borboleta, até muito velhinho, um homem elegante e bem posto, com porte ereto e energia viril”. Tudo que escrevermos aqui para reconhecer o valor deste espírito será pouco. Tomás Novelino discípulo de Eurípedes Barsanulfo, espírita determinado e laborioso, com uma múltipla atuação na comunidade espírita francana, junto ao Hospital “Allan Kardec”, ao jornal “A Nova Era”, à USE/Franca, e especialmente à Fundação Educandário Pestalozzi.
Nasceu no dia 06 de outubro de 1901 em Delfinópolis, antiga Espírito Santo da Forquilha, um arraialzinho na beira da Serra da Canastra. Filho de Tomás Novelino de Aquino e Auta Maria das Dores Novelino. Aos sete anos de idade ficou órfão de pai e mãe, e foi internado no Orfanato "Anália Franco", em São Paulo. Em 1916, ele foi estudar com Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento, e lá permaneceu até 1918, quando Eurípedes desencarnou. Naquele ano, Novelino foi aceito num dos melhores cursos preparatórios de Minas Gerais, o de Muzambinho, e daí rumou para a Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro.
Era carnaval de 1933, quando veio para Franca, pretendia ficar só por uns tempos para o tratamento de um amigo no Hospital “Allan Kardec”, acabou ficando para sempre. Tomás tornou-se médico do hospital, onde atuou como voluntário durante 27 anos e foi também redator do jornal “A Nova Era”, onde publicou uma série de artigos, reunidos no livro “Escritos Espíritas: uma militância pedagógica”. Casou-se, no dia 24 de junho de 1936, com a professora Maria Aparecida Rebêlo Novelino, que residia em Ribeirão Preto. Tiveram seis filhos: Eneida, Icléia, Alcione, Cleber, Climene e Jesiel, e a grande família espiritual do Educandário Pestalozzi.

No início de sua carreira profissional, clinicou em Ibiraci e Monte Santo. Em Franca, exerceu a medicina como cirurgião, parteiro e clínico-geral. Atendia no Hospital "Allan Kardec"; na Santa Casa de Misericórdia, onde foi diretor clínico por muitos anos, e lecionou Medicina Legal na Faculdade de Direito.

Franca estava destinada a ser o cenário da obra de Novelino e sua esposa. Iam ambos seguindo em suas atividades profissionais. Aparecida, sua esposa, era professora e tinha o sonho de ter uma escola, que também era sonho de Tomás. Em 1943 esse sonho ganhou corpo quando o casal se deparou com a intolerância religiosa. Numa escola local, um diretor fanaticamente católico, expulsou um aluno, por pertencer a uma família espírita e se recusar a cumprir os rituais da Igreja. Tomás e Aparecida protestaram publicamente contra tal disparate e resolveram, apoiados pelo movimento espírita e pela maçonaria, abrir uma escola livre, onde crianças de todos os credos pudessem estudar sem discriminação. Em 01 de agosto de 1944, nascia a Escola Pestalozzi.

O trabalho na escola e o trabalho na medicina, não impediram suas ações no Movimento Espírita. Em 1945, as principais Entidades Espíritas do Estado de São Paulo, se reuniram e, em comum acordo, decidiram pela criação de uma entidade única para promover, em todo o Estado, a unificação do Movimento Espírita. Tomás foi convidado a ser Delegado Regional, para visitar os Centros Espíritas da cidade e região. Com o trabalho de Novelino, Franca estava com o Movimento de Unificação e no dia 27 de Fevereiro de 1947, a USE/Franca foi criada, sendo Tomás Novelino, seu primeiro presidente. No dia 05 de julho de 1947, Novelino e outros trabalhadores da Unificação fundaram a USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), no “1º Congresso Estadual de Espiritismo”.

Para conseguir dinheiro para a manutenção da Escola Pestalozzi, uma vez que o rendimento do casal Novelino não era suficiente, iniciou-se então a Fábrica de Calçados Pestalozzi. Com o passar do tempo, a escola se transformou em uma Fundação, surgiram o Lar-Escola, a Unidade II, a Unidade III, a Fazenda Pestalozzi e o Observatório Astronômico “Eurípedes Barsanulfo”. Na década de 90, houve uma crise no setor calçadista, que atingiu a Fábrica, que era a maior fonte de recursos da Fundação e houve a necessidade de algumas medidas de economia, reduzindo o trabalho humanitário até então desenvolvido. A fábrica fechou, a fazenda foi vendida para cobrir dívidas, a unidade III foi desativada, o observatório perdido e houve redução de vagas nos lares-escola.

Sem antes nunca ter saído do Brasil, aos 94 anos, em pleno inverno europeu, Tomás foi à Suíça, pois o seu trabalho fora reconhecido internacionalmente e no ano de 1996, recebeu uma homenagem, a Fundação Educandário Pestalozzi foi considerada, dentre as muitas existentes no mundo, uma daquelas que mais se aproxima do modelo idealizado pelo grande educador Pestalozzi, que foi o mestre do nosso querido Allan Kardec.

Aos 99 anos de idade, foi-se serenamente no dia 31 de outubro de 2000. Não conseguiu como queria, alcançar a cifra dos 100, mas cumpriu a sua missão, e certamente foi recebido com flores, por Eurípedes e pela amada Aparecida; deixando uma obra imensa e um exemplo de vida.


Adolfo de Mendonça Junior

Fonte bibliográfica:
Jornal A Flama Espírita - Novembro de 2000.
Jornal Encontro, Ano 1, Nº 3 – Abril de 1981.
Jornal Folha Espírita -Maio de 2000.


- MONTEIRO, Eduardo Carvalho, D’OLIVO, Natalino. USE: 50 anos de unificação. São Paulo: Edições USE, 1997.

2 comentários:

RoseMarrie disse...

Meu nome, Rosa Maria Carreira, estudei nesta maravilhosa escola Educandário Pestalozzi em Franca, tendo como diretores - Profª Aparecida e diretor Tomaz Novelino.
Éramos em 5 irmãos e todos nós estudamos nesta escola a qual tenho a honra de agradecer por ter estudado em tão bela escola. Os jardins da escola nunca saíram de minha memória, a atenção do Dr. Novelino sempre presente e examinava nossas gargantas, ouvidos, olhos, várias vêzes pincelou minha garganta assim como fazia com outros alunos e juntamente com suas filhas. Estudei com Climene -sua filha mais nova, então tinha a oportunidade de perceber a grandeza daqueles espíritos tão evoluídos que tratavam os alunos como se fossem seus filhos era até difícil reconhecer no meio dos colegas quais eram seus filhos pois para ele Dr. Novelino todos nós érmaos filhos. Tive muita sorte tive um diretor que ouvia meus contos de visões espírita, tendo em vista que era médium desde tenra idade, a dona Gerônima era cozinheira da escola..que pessoa divina...E os Professores então? fui muito feliz nesta escola, também sou professora e tudo o que aprendi sobre religião, afeto, cidadania procuro praticar.
Minha primeira professora na primeira série - Doroty era encantadora..tinha um carinho especial, percebia meus vários tipos de mediunidade, e a diretora Profª Aparecida era muito séria mas muito bondosa.
Parabéns a todos que conseguiram estudar naquela escola, foi um previlégio. Agradeço todos os dias de minha vida a todos daquela família e ainda aos colegas e aos profºs. Gláucia de História, Antonieta Barini ensinava Francês, português e aulas de religião, prof.Sudário, Nicanor, Otávio, Marilene, a maravilhosa profª Aparecida Brigagão, esposa de um dentista muito competente e cidadão que atendia a todos com muita atenção, enfim..são tão boas as lembranças, deixo aqui registrado o meu eterno agradecimento a todos - a escola era uma família.
Grata pela oportunidade.

Carlos Pereira disse...

Querida Rosa Maria,

Eu é que tenho que lhe ser grato por ter enriquecido ainda mais o artigo, com esse valoroso depoimento.

Fico muito feliz que tenha testemunhado de perto a vida desse ilustre missionário e da sua família.
Seja sempre bem-vinda !

Abraço fraterno

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