"Eurípedes Barsanulpho Sob a Luz da História” é o título do livro do escritor Amir Salomão Jacob, que foi lançado em fevereiro de 2006, narrando a vida de um dos maiores médiuns espíritas de nossa história. Amir, conterrâneo de Eurípedes, é católico e enfrentou preconceitos, dedicou-se inteiramente a esse projeto e realizou uma biografia perfeita e isenta de qualquer sectarismo religioso. Nessa entrevista publicada no site do Jornal mineiro, "O Estado do Triângulo" na época do lançamento da obra, ele falou do livro, das dificuldades que enfrentou e sobre a personalidade de nosso homenageado do mês.
Entrevista na íntegra publicada em Janeiro de 2006:
Cultura Edição n° 984 - 29 Janeiro, 2006 Entrevistas Notícias Religião
O escritor sacramentano, Amir Salomão Jacób,lança na próxima sexta-feira, 03 de fevereiro,mais um livro histórico. Desta vez, sua pesquisa recaiu sobre Eurípedes Barsanulfo, figura nacionalmente conhecida como um dos maiores médiuns da era contemporânea. Amir Salomão, há 10 anos, reside em Cáceres (MT), onde é professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso.
ET - Por que Eurípedes Barsanulfo?
Amir - Na realidade, o que me fez escrever sobre Seu Eurípedes foi a necessidade de não deixar tantas informações sem vir a público. Eu não pretendia escrever sobre ele, embora sempre o respeitei e admirei. Ofereci a pesquisa já pronta a três historiadores espíritas. Mostraram interesse inicialmente e não me retornaram depois. A um deles até insisti por três vezes. Diante disso, com essa bagagem extraordinária de informações, me vi no contexto de escrever, para não deixar perder.
ET - Houve alguma dificuldade? Afinal, você é um católico escrevendo sobre um dos maiores nomes do espiritismo.
Amir - Houve sim, mas não deixei que isso obstaculasse o trabalho. Em Sacramento ainda há uma reserva sectária com relação a Seu Eurípedes. A cidade sempre foi católica e o fato de ser conhecida como "polo do espiritismo" incomoda algumas pessoas que relutam em não evoluir.
ET - Pode citar algum fato dessa natureza?
Amir - São diversos mas, como disse, não dei importância e levei a termo a pesquisa. Muitas pessoas me perguntaram, em tom recriminatório, por que escrever sobre Seu Eurípedes. Outras me indagaram por que, ao invés de Eurípedes, eu não escrevia sobre o Padre Victor. Veja que são coisas sectárias mesmo. Até uma pessoa de nível educacional superior me fez uma indagação que achei por demais interessante: "Como pode o grande devoto de Nossa Senhora da Abadia escrever sobre Eurípedes Barsanulfo?". Talvez a pessoa nem tivesse a intenção de recriminar, mas a frase é peculiar ao pensamento de muitas pessoas aqui. Vejo que incomodou algumas pessoas católicas e eu não encontrei razão para isso, os tempos são outros e ainda mais porque esse é um livro histórico e não religioso.
ET - Por parte da Igreja local, na pessoa do pároco, Pe. Levi Fidelis Marques, você recebeu algum tipo de recriminação?
Amir - Não, nenhum tipo de pressão ou discriminação recebi por parte da Igreja. Pe. Levi não conhece o livro. E creio também que não há motivo para tal, pois, como disse, o livro não tem cunho religioso e sim histórico.
ET - E no meio espírita isso se deu também?
Amir - Não. Onde precisei fui bem recebido e só tenho a agradecer. Houve uma gentileza tal que sequer perguntaram-me a destinação daquilo que eu buscava em arquivos e lugares. Faço na introdução do livro um agradecimento especial à comunidade espírita.
ET - O livro pode surpreender em que?
Amir - Antes de qualquer outra informação, volto a frisar que se trata de um livro histórico e não de um livro voltado a explicar a espiritualidade de Seu Eurípedes. Resgato fatos envolvendo o homem e não o místico. O livro pode surpreender quando eu convido o leitor a buscar uma nova visão de muitas coisas que foram escritas sobre ele, uma visão assentada em documentos e não em emoção. Proponho revisitar fatos que envolvem o homem e diante disso abre-se um campo novo de estudo e entendimento de sua pessoa.
ET - O que, por exemplo, poderia ser revisitado na história de Eurípedes?
Amir - Diversos fatos são revisitados neste livro. Revejo o intento da Justiça Pública de o processar e aponto os verdadeiros motivos dessa ação. Proponho um olhar novo no moço católico, na sua conversão ao espiritismo, sem afirmar os motivos, nas suas atitudes públicas como professor, jornalista, vereador e farmacêutico. Isto porque, na vasta bibliografia sobre ele, há estampadamente uma conotação de "missão espiritual" pesando sobre todas essas atitudes. Eu não nego isso, seria atrevimento negar, mas convido as pessoas a analisarem um homem comum, com acertos e erros. No entanto, reconheço que houve um tempo de maior elevação espiritual, sim. Considero-o um ser santificado nos moldes do cristianismo, embora, como disse, não me prendo a esse tema.
ET - O que é um ser santificado nos moldes do cristianismo?
Amir - Na minha concepção, santo é todo amigo de Deus. Toda alma que está com Deus é de um santo ou santa, independentemente de canonização ou convicção religiosa. Isto porque Deus é Santo. Então, aquele que teve a felicidade de passar por este mundo amando a Deus e servindo o próximo é santo. Em assim sendo acredito que Seu Eurípedes fez isso, independentemente de sua posição religiosa.
ET - Mas, no caso de Eurípedes, você falou em um "tempo de elevação espiritual".
Amir - Sim, e isso é natural. São Francisco de Assis teve um tempo que amava a guerra. São Paulo perseguia cristãos e assim, a grande maioria dos santos teve tempo em que foram, vamos dizer, mais humanos do que santos. Seu Eurípedes, na minha visão, passou por essas fases. Isso pode contrariar alguns biógrafos dele que o colocam predestinado desde criança. Não vejo assim, vejo fases.
ET - Pode explicar melhor essas fases?
Amir - A capa do livro conta isso. Lá vemos Seu Eurípedes em três fases: menino, jovem e adulto, já perto da morte. Eu, depois de estudá-lo, vejo-o nitidamente nessas três fases: a do menino, que pouco se sabe dele, a do jovem maduro e vaidoso, convertido a uma nova fé, redator de um jornal que era repudiado pela maioria da população e vereador; e, em última fase, a do homem sofrido que casara com o sofrimento do povo. Nessa foto ele estava com 33 anos de idade e aparentava muito mais. Vejo, nitidamente, nessa sua última fase de vida sua elevação espiritual. Alguém que, pouco depois, morreria no exaustivo trabalho de servir os mais pobres. Doou a vida pelos seus, isso foi sua maior ventura.
ET - O livro se assenta somente em fatos documentados?
Amir - Não. O melhor seria isso, mas não foi possível. O corpus documental é importante demais numa pesquisa sobre a vida de alguém, e eu busquei isso ao máximo, mas não desprezei, de forma alguma, a informação oral que também é muito importante. Assim, analisei fatos documentados e citei a tradição oral para que não se percam essas informações.
ET - Um dos capítulos de seu livro se intitula, "A perseguição católica". O que pode ser adiantado sobre isso?
Amir - É um dos capítulos mais interessantes, cujo tema "perseguição" deve ser revisitado à luz da razão e não da emoção. Não há como negar que Seu Eurípedes passou por dificuldades ao abraçar uma nova fé, mas isso deve ser visto à luz contemporânea dos fatos. Uma menina, Concheta Lenza, em 1917 perguntou à mãe: "Mamãe, quem está gritando?" A mãe respondeu: "É o espírita que está rezando". Essa resposta é por demais interessante, porque fala de uma exclusão, de alguém posto em ala diferente da sociedade da época. A mãe, em outras palavras disse: "É aquele diferente de todos nós!" Então, é natural que tenha passado por dificuldades, mas isso o livro propõe uma nova visão. E essa nova visão pode surpreender e muito.
ET - Houve dificuldades para a edição do livro?
Amir - Muitas. Veja, sou professor e você sabe o que ganha um professor. Tenho meu tempo ocupado pela universidade. O pouco que me sobra lá estou eu a pesquisar a história de Sacramento. Faço isso por amor à minha terra. Nunca ganhei dinheiro com livros. Mas, para editar um livro é complicado, tudo muito caro e difícil. Por isso, estou recorrendo ao Senhor Prefeito Municipal, Joaquim Rosa Pinheiro, ao Presidente da Câmara, Dr. Bruno Cordeiro e ao Laticínio Scala, na pessoa de seus dirigentes. Não pedi dinheiro, pedi que me adquirissem exemplares do livro. Graças a Deus todos se mostraram solidários, o que muito agradeço.
ET - E o livro?
Amir - Com aproximadamente 370 páginas, encadernação de luxo, 80 fotografias, algumas inéditas e um passeio pela Sacramento do começo do século XX. Acredito que o livro deve agradar. Recebi proposta de três editoras, uma de São Paulo, outra de Campinas e da UCG -Universidade Católica de Goiás, onde está sendo feito. Fiquei com esta porque eu já tenho um livro publicado por ela, então ficou mais fácil, só por isso.
ET - Alguma outra consideração? O lançamento...
Amir - Apenas agradecer ao jornal O Estado do Triângulo a oportunidade que sempre me oferece de falar sobre um trabalho meu. E, ainda, na oportunidade convidar a todos para o lançamento do livro, dia 03 de fevereiro, sexta-feira, às 20h30, na Casa da Cultura.
Fonte: http://sacrahome.net/oestadotriangulo/ (texto e imagens)
Nenhum comentário:
Postar um comentário