sábado, 14 de março de 2020

Allan Kardec, o Educador e Codificador

Um bate-papo com Barbara Pessoni, pedagoga e dirigente da Casa da Esperança (Go), no programa Espiritismo e Ação, da TV Mundial de Espiritismo realizado na ocasião em homenagem ao aniversário de nascimento de Allan Kardec. No programa com o tema “Allan Kardec, o educador e codificador”, Barbara ilustra os fatos que marcaram a codificação da doutrina espírita e conta um pouco mais sobre a vida do mestre lionês, Allan Kardec.

quinta-feira, 12 de março de 2020

A Metodologia Kardequiana


“A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem, nem na de um Espírito; está na universalidade do ensino dado por esses últimos; o controle universal, como o sufrágio universal, resolverá no futuro todas as questões litigiosas; fundará a unidade da doutrina muito melhor do que um concílio de homens.”[1]

- Allan Kardec

Por Vinícius Lousada

O mestre lionês concebia que a fenomenologia espírita constituía uma ordem de fenômenos radicalmente diferente daqueles estudados sob a égide do modelo positivista e materialista de Ciência, até então. Assim como coisas novas pedem palavras novas, fenômenos inusitados merecem, no olhar do pesquisador lúcido, a utilização de um novo método capaz de apreender o objeto científico na sua totalidade, indo além do que já afirmava o jeito materialista de fazer ciência e as leis descobertas, combinando os dados oriundos dos diálogos com os Espíritos juntamente com a observação metódica, atenta e perseverante dos fatos.

Aliás, percebemos, ao passarmos os olhos sob as páginas da Revista Espírita, quando por ele editada, que os colóquios com os Espíritos não se estabeleciam sem questionamentos. Os ditados do além, trazidos pela mediunidade caracterizada por efeitos inteligentes, não ficavam sem novos e insistentes questionamentos. Era a marca do sábio pesquisador, Prof. Rivail, levantar dúvidas e problematizar as teses propostas pelos Espíritos.

O que diziam os Espíritos não era considerado verdade, pura e simplesmente, por se tratar da palavra de alguém domiciliado no mundo dos Espíritos, como erroneamente muita gente ingênua imagina ainda hoje, apesar das reiteradas advertências do hábil Codificador.

Nem os médiuns e nem os Espíritos foram considerados por Allan Kardec como seres infalíveis. Tanto uns como os outros são dotados de saberes relativos, condicionados sempre à sua condição evolutiva e matizados por suas matrizes culturais, sociais e históricas.

No caso dos médiuns, não podemos desconhecer o quanto suas matrizes conceituais têm presença na filtragem mediúnica, como se pode conceber ao estudarmos o papel do médium nas comunicações inteligentes, conforme o exposto em O Livro dos Médiuns, como o sendo de verdadeiro intérprete, e, aquele que interpreta empresta ao objeto de sua interpretação elementos de sua subjetividade.

Individualmente, a produção mediúnica tem um valor relativo a uma opinião de um Espírito fornecida por um médium. Caso a Doutrina Espírita tivesse sido assim concebida, não seria dotada da autoridade científica e filosófica que possui, se trataria de mais um sistema de ideias espiritualistas como tantos outros ou como as religiões que, de forma geral, conferem autoridade somente à letra das escrituras.

Os sábios - como eram chamados os cientistas no século XIX, nem sempre tão sábios quanto pareciam ser –, presos ao paradigma dominante de fazer Ciência, eram incapazes de verem na fenomenologia espírita motivo para uma completa observação dos fatos, normalmente, as análises que atribuíam descrédito a tais fenômenos eram superficiais e precipitadas.

Ignorando os limites metodológicos das ciências positivas que abraçavam, muitos pesquisadores, embora honestos, invalidavam os fatos espíritas por que esses simplesmente não atendiam aos seus critérios de repetição, medição e verificação em laboratório sob a ação exclusiva da sua vontade e não se sujeitavam a leis já conhecidas.

Os membros das corporações científicas desconheciam que esses fatos, revelando uma das forças da Natureza, eram tão antigos quanto a humanidade, vindo, naquela época, a se reproduzir vertiginosamente, em vários pontos do globo, atendendo a uma intencionalidade certamente superior.

Do mesmo modo, se esqueciam de que, em se tratando de inteligências invisíveis, elas eram dotadas de vontade própria, não sendo possível subjugá-las, cegamente, ao desejo do cientista. Essa postura tão própria do dogmatismo científico é qualificadamente criticada por Kardec na introdução de O Livro dos Espíritos, no item VII, ao dizer inclusive que “o Espiritismo não é da alçada da Ciência.”

Allan Kardec, por sua vez estabeleceu uma metodologia capaz de verificar e validar as informações obtidas pelas entrevistas que encetava junto aos Espíritos, partindo da observação, da indução que constrói a generalização a partir dos fatos empiricamente observados e da dedução, que no caminho inverso, sugere como ponto de partida verdades universais rumo a outras mais particulares. Mas foram os Espíritos que se revelaram como tais, essa descoberta não foi fruto de uma hipótese elaborada por Kardec em seu escritório ou laboratório, diferentemente do que acontecia no campo nas ciências exatas.

E ainda, vale lembrarmo-nos de que o fenômeno transitou das mesas girantes, das batidas e diferentes manifestações físicas para as cestas e pranchetas com lápis, para culminar na escrita psicográfica, por sua vez, muito mais veloz e útil para dar materialidade ao conteúdo filosófico que os Espíritos Superiores estavam incumbidos de revelar.

Para entendermos, de maneira adequada, qual a metodologia criada e empregada por Allan Kardec para a sistematização da Doutrina dos Espíritos n’O Livro dos Espíritos, que, posteriormente, vai ser desdobrada noutras obras, é preciso visitar as páginas de O Evangelho segundo o Espiritismo.

Na introdução dessa obra extraordinária – em que encontramos a espiritualidade do Espiritismo de modo mais detalhado, onde Kardec se ocupa de trazer reflexões dos Espíritos Superiores e as suas próprias acerca da moral cristã, da aplicação ética dos ensinos de Jesus Cristo em todas as circunstâncias da vida – é que podemos apreender o controle universal do ensino dos Espíritos, a metodologia científica empreendida pelo Codificador.

O ponto capital dessa metodologia pode ser sintetizado assim: “Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.”[2]

Para Kardec, o primeiro crivo a respeito de qualquer conteúdo trazido por alguns Espíritos era a análise da razão, do bom senso, para, a seguir, verificar a veracidade de qualquer princípio, contando com a contribuição de diálogos com outros Espíritos através de médiuns diferentes, que não fizessem parte do mesmo agrupamento espírita.

Somente aqueles princípios revelados coletivamente e que atendiam aos reclames da razão vieram a ser coletados por Kardec e acolhidos no corpo da Doutrina dos Espíritos. Os que careceram do aval do ensino coletivo não figuravam no rol dos saberes genuinamente espíritas, ficaram sendo considerados apenas como hipóteses e, o leitor atento verificará nas obras da Codificação que, quando o eminente professor se ocupa de uma hipótese ele a distingue claramente do que está firmado no ensino coletivo dos Espíritos.

Na concordância universal é que reside a melhor comprovação do que ensinam os Espíritos e mais, para que não haja falhas em seu emprego, devem ser levadas em conta as condições apontadas por Kardec. É nela que reside a autoridade da Doutrina dos Espíritos, como é fácil ver nos esclarecimentos a seu respeito que constam nas páginas introdutórias de O Evangelho segundo o Espiritismo.

As matérias que compõem as obras da Codificação foram elaboradas atendendo a esse critério, o do controle universal do ensino dos Espíritos. Naturalmente, vamos contar com as profundas reflexões e a genialidade de Allan Kardec na sistematização e no desdobramento dos princípios da Doutrina dos Espíritos.

Referências

[1] Revista Espírita, maio de 1864 - Discurso de abertura do sétimo ano social – 1º de abril.

[2] O Evangelho segundo o espiritismo – introdução.

terça-feira, 10 de março de 2020

Os Primeiros Médiuns da Codificação Espírita e a Iniciação Espírita de Kardec


Por Jorge Leite de Oliveira

Nos meios literários acadêmicos, é bastante comum a referência à obra A história de Joana D'Arc contada por ela mesma. Esse livro foi psicografado pela médium Ermance Dufaux de la Jonchère, médium desde os doze anos de idade, mais conhecida como Ermance Dufaux, e publicado quando esta tinha 14 anos. Em 1855. Na época, os neologismos psicografia, médium e mediunidade ainda não tinham sido criados por Allan Kardec, que conheceu a jovem no dia da publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857.

A partir desse dia, Ermance Dufaux passou a colaborar ativamente com Kardec, na segunda edição d'O Livro dos Espíritos, que foi ampliado de 508 para 1019 questões. São Luís, seu guia espiritual, também transmitiu-lhe mediunicamente a obra Confissões de Luís IX. História de sua vida ditada por ele mesmo, escrita em 1857, mas somente publicada em 1864, devido à censura da época, que proibiu sua publicação antes desse ano.

Outras médiuns que também colaboraram com as obras da Codificação Espírita foram as jovens Caroline Baudin (18 anos), Julie Baudin (16 anos) e Ruth Celine Japhet (20 anos) e a Sra. De Plainemaison.

Devido à intolerância religiosa da época, Kardec, cujo nome era Hippolyte-Léon Denizard Rivail, adotou o pseudônimo Allan Kardec e omitiu o nome dessas e outros médiuns, em um total de mais de dez pessoas, que colaboraram na elaboração das obras da codificação espírita, cuja autoria, já sugerida no próprio título do primeiro livro, era, em essência, dos Espíritos.

Mas como começou a missão de Kardec?

O Sr. Fortier, em dez de 1854, falou, entusiasticamente, com o professor Rivail (Allan Kardec) sobre os fenômenos das mesas girantes e falantes; mas este fez pouco caso do assunto, considerando-o um absurdo, pois mesa não tem "nervos para sentir nem cérebro para pensar".

Em 6 de janeiro de 1855, o Sr. Carlotti foi quem primeiro falou a Kardec sobre a intervenção das almas no "fenômeno da mesa". Como estudioso do magnetismo durante 35 anos, o prof. Rivail julgou que tudo não passava de animismo, ou seja, influência da própria alma do magnetizado. Ainda assim, resolveu conferir pessoalmente a informação.

E foi, então, na casa da Sra. Roger, em 1º de maio de 1855, que Kardec teve os primeiros contatos com o fenômeno intitulado "das mesas girantes". (O espiritualismo americano, decorrente dos chamados fenômenos de Hydesville, já vinha sendo praticado na França desde abril de 1853. A Sra. Roger evocou o Espírito de um amigo do Sr. Pâtier e foi atendida. Nesse dia, a Sra. Plainemaison convidou Rivail (Kardec) para assistir a próxima sessão na casa dela. Ele compareceu, em 8 de maio de 1855, e, ante os fenômenos extraordinários e de alta elevação espiritual que presenciou, pela mediunidade da Sra. Plainemaison, passou a estudar e reunir-se com os demais médiuns para construir o edifício da elevada Doutrina Espírita, sob a coordenação maior do Espírito de Verdade.

Começava ali o surgimento de outras grandes e extraordinárias obras literárias mediúnicas, cujo propósito principal é o de convencer-nos sobre a realidade da vida espiritual e aprimorar nossos espíritos na eterna ascensão no rumo da perfeição.

domingo, 8 de março de 2020

História da Codificação Espírita

Um vídeo reportagem que resume a história da codificação espírita feita por Allan Kardec, na França.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Allan Kardec e a Codificação do Espiritismo


Por Geraldo Campeti

O Homem

Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, na França, a 3 de outubro de 1804, e desencarnou em Paris, no dia 31 de março de 1869.

Teve uma vida profícua de 65 anos que pode ser dividida em dois momentos complementares: antes e depois do trabalho da codificação do Espiritismo.

Descendente de família de orientação católica, filho de Jean-Baptiste Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel, mas educado com base em princípios protestantes, pode consolidar um caráter nobre, fundamentado na ética e moral, a conferir-lhe a identificação reconhecida de verdadeiro homem de bem.

Estudou com o renomado educador suíço Johann Heinrich Pestallozzi (1746-1827) em Yverdon, tornando-se seu discípulo e propagador do método educacional, que influenciou a reforma do ensino na França e na Alemanha.

Emérito educador e mestre, poliglota e tradutor, Hippolyte foi um homem cujo perfil caracterizou-se pela disciplina, esforço e perseverança.

Autor de diversas obras didáticas na área das letras e ciências, ocupou-se sempre na busca do aprendizado e do ensino, auxiliando com denodo a todos que palmilhassem seu caminho e a quem pudesse compartilhar sua experiência.

Enfrentou os desafios e dificuldades da jornada terrena sem desânimo nem sentimento de desistência, superando-os, um a um, com o indispensável auxílio de sua digníssima esposa Amélie Gabrielle Boudet, com quem se consorciou em 1832.

O Missionário e a Obra

Somente após os 50 anos de idade Allan Kardec travou contato direto com as questões transcendentais, notadamente pela comunicação dos chamados mortos com os vivos.

Entre 1857 e 1869, um curto período de 11 anos e três meses, o codificador fez vir a lume todas as obras de que foi instrumento como organizador.

As publicações assinadas por Allan Kardec demonstram um planejamento espiritual rigorosamente cumprido pela dedicação e perseverança dos Espíritos amigos, sob a coordenação do Espírito Verdade e, naturalmente, do próprio codificador.

As primeiras edições das principais obras kardequianas foram:

O Livro dos Espíritos (1857)

Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas (1858)

Revista Espírita (1858-1869 – Periódico com 12 volumes)

O Que é o Espiritismo (1859)

O Livro dos Médiuns (1861)

Viagem Espírita em 1862 (1862)

O Espiritismo em sua expressão mais simples (1862)

O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864 – Imitação de…)

O Céu e o Inferno (1865)

A Gênese (1868)

Obras Póstumas (1890 – P.-G. Leymarie)

Os Princípios Fundamentais do Espiritismo

Da elucidativa introdução de O livro dos espíritos, é possível extrair os enunciados que constituem a base da Doutrina Espírita. São princípios das leis naturais ou divinas, como uma síntese do que é essencial à ascensão humana em busca dos destinos de perfectibilidade que lhe estão reservados pela misericórdia do Pai. Dentre eles, destacam-se:

Existência de Deus;

Existência, imortalidade e conservação da individualidade do espírito;

Comunicabilidade dos espíritos;

Reencarnação;

Lei de causa e efeito / livre-arbítrio;

Lei de evolução; e

Pluralidade dos mundos habitados.

*

Temos muito a agradecer a este servidor do Cristo que, cognominado por Camille Flammarion de “bom senso encarnado”, cumpriu integralmente sua missão de materializar no mundo terrestre a Doutrina responsável por promover a regeneração social da Humanidade a começar pela reforma íntima de cada um de nós.

Sugestão bibliográfica

WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador. Brasília: FEB, 2019.

quarta-feira, 4 de março de 2020

O Que é a Codificação Espírita


Por Blog Mundo Maior

A Codificação Espírita é um conjunto de obras escritas por Allan Kardec na França no século XIX. A Codificação é composta por cinco livros, que foram escritos e publicados em um intervalo de onze anos, entre 1857 e 1868.

O primeiro livro a ser publicado é o chamado Livro dos Espíritos, que consiste em uma série de perguntas formuladas por Allan Kardec e respondida por espíritos. É o livro mais famoso e que dá origem ao espiritismo, por assim dizer.

Livro dos Espíritos – 1857: Nesta obra que compõe o pentateuco de Kardec, os Espíritos explicaram tudo o que a Humanidade estava preparada para receber e compreender, esclarecendo-a quanto aos eternos enigmas de sabermos de onde viemos, por que aqui estamos, e para onde vamos, facilitando, assim ao homem, a compreensão dos mais difíceis problemas que o envolvem.

Livro dos Médiuns – 1861: É um manual indispensável para todos aqueles que queiram participar das atividades mediúnicas, ou simplesmente queiram conhecer a natureza e os mecanismos da mediunidade.

O Evangelho Segundo o Espiritismo – 1864: O Evangelho Segundo o Espiritismo é um verdadeiro manual de vida onde você poderá encontrar profundos apontamentos sobre os ensinamentos morais do Cristo e sua aplicação às diversas situações da vida.

O Céu e o Inferno – 1865: Qual o destino do homem após a morte física? Quais as causas do temor da morte? Existem o Céu e o Inferno? A antiga crença nos anjos e demônios merece crédito? Como procede a Justiça Divina? Estas e outras questões correlatas são devidamente esclarecidas, na Primeira Parte desta obra, à luz da lógica e dos ensinamentos dos Espíritos. Na Segunda Parte, intitulada Exemplos, Kardec registra numerosas comunicações de Espíritos – classificados por categorias, tais como: felizes, sofredores, arrependidos, endurecidos, suicidas – que exemplificam toda a teoria exposta anteriormente.

A Gênese – 1867: O Espiritismo e a Ciência completam-se um ao outro. A Ciência, sem o Espiritismo é impotente para explicar certos fenômenos apenas pelas leis da matéria; o Espiritismo, sem a Ciência, ficaria sem suporte e comprovação. O estudo das leis da matéria devia preceder o da espiritualidade, pois é a matéria que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria tido sua obra abortada, como tudo o que vem antes de seu tempo.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Especial do Mês

Nesse mês de aniversário de desencarne de Allan Kardec, ocorrido a 31 de março de 1869, o Manancial de Luz presta uma homenagem ao nosso emérito codificador da doutrina espírita com o especial “Kardec e a Codificação Espírita”. Em nossas postagens os leitores poderão acompanhar através de textos e vídeos um pouco da história do mestre e cientista lionês, bem como conhecer e estudar um pouco mais sobre a denominada “codificação espírita”.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

O Sentimento de Caridade


Por Ricardo Baesso de Oliveira

O conceito, relativamente recente, de comportamento pró-social, apresentado pela psicologia - as ações humanas que aumentam o bem-estar do próximo e da coletividade -, transcende a modernidade, e pode ser visto em autores muito antigos.

Relativamente aos textos bíblicos, Paulo, antecipando-se aos conceitos da psicologia social, se valeu da palavra grega ágape, para referir-se a um tipo de amor que transcende o amor romântico, o amor maternal e o amor entre amigos. Ágape se identifica como um tipo de amor incondicional, que nada espera em troca, que não se justifica, que é puro e espontâneo, capaz de amar até mesmo os inimigos.

A Vulgata, que traduziu a Bíblia do grego para o latim, traduziu a palavra ágape pelo termo latino caritas, ou seja, o que é caro, de alto valor, digno apreço, e que chegou até nós pela palavra caridade.

Em nossos dias, a caridade perdeu, em grande parte, seu valor, pois vem sendo relacionada apenas à esmola, à filantropia - uma ação que, muitas vezes, promove a indolência e gera uma atitude de acomodação no beneficiado.

Allan Kardec se utilizou muitas vezes do termo caridade, mas dando a ele uma conotação muito mais profunda, ao relacioná-lo à bondade, à tolerância nas relações humanas e ao esquecimento das ofensas (O Livro dos Espíritos, item 886). Em artigo denominado Uma reconciliação pelo Espiritismo, publicado na Revista Espírita, setembro de 1862, Kardec colocou que a caridade resume todos os nobres impulsos da alma para com o próximo, apresentando-a como um continuum, que varia desde a simples esmola até o amor aos inimigos, que é o suprassumo da caridade.

Observamos que Kardec apresenta a caridade com um espectro, que varia conforme o mérito da ação, que se relaciona, obviamente, com a dificuldade em praticá-lo. Em um extremo do espectro Kardec coloca a simples esmola (que também é uma forma de caridade, embora de menor valor, porque, geralmente, custa-nos menos esforço: damos o que nos sobra). No outro extremo, Kardec coloca o amor aos inimigos, que considera o suprassumo da caridade, pois exige do envolvido uma grande dose de abnegação.

E, nesse texto, Kardec volta a se valer da expressão sentimento de caridade, já apresentada por ele em algumas passagens de O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. 17, itens 2 e 3 e cap. 28, item 5) e em O Livro dos Espíritos, itens 717 e 918. No comentário ao item 717, quando examinando a ação antissocial de indivíduos que açambarcam os bens da Terra, com prejuízo daqueles a quem falta o necessário, nosso codificador escreve que é o sentimento de caridade que leva os homens a se prestarem mútuo apoio. No item 918, por sua vez, Kardec, dissertando sobre as qualidades do verdadeiro homem de bem, escreve que, possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.

O que podemos entender por sentimento de caridade? Talvez Kardec se refira à vivência íntima do comportamento de ajuda, a interiorização da ação exterior e que dá significado profundo ao ato. Muitos de nós temos automatizado a ação caritativa, fazendo-a mecanicamente, sem enriquecê-la de um sentimento do belo, do nobre, do generoso. Sabemos que toda ação que beneficia alguém é meritória e credita o beneficiador, porque reduz o sofrimento alheio. Todavia, entendemos que só o comportamento de ajuda que se acompanha do sentimento de caridade representa crescimento espiritual real, ou seja, que ilumina de dentro para fora aquele que o pratica.

Sob esse aspecto, o sentimento de caridade pode ser entendido como a boa vontade permanente, o desejo incessante de ser útil, um estado íntimo de encantamento ante a possibilidade de efetivação do comportamento de ajuda, o estado de graça ante a experiência do bom e do útil.

Kardec conclui o artigo afirmando que um dos resultados do Espiritismo bem compreendido é desenvolver o sentimento de caridade e que, quando todos nós estivermos imbuídos desse belo e nobre sentimento, viveremos em permanente harmonia com o nosso próximo e que, se dois indivíduos podem viver em boa harmonia, o maior número também o pode. E, então, serão tão felizes quanto é possível sê-lo na Terra.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Leonardo da Vinci: Um Gênio sob a Visão Espírita



Por Raul Franzolin Neto

No ano passado, especificamente, no dia 2 de maio de 2019, comemoraram-se os 500 anos da morte de um dos maiores gênios da humanidade. Leonardo nasceu em Vinci, na província de Florença, Itália. Com apenas 68 anos de vida na Terra, foi inventor, pintor, cientista, engenheiro, escultor, arquiteto, botânico, músico, poeta, estilista, anatomista, matemático e, sobretudo, gênio.

Monalisa, sua mais famosa pintura, é a maior estrela do museu de Louvre em Paris, visitada por milhares de pessoas do mundo todo, todos os anos. O legado de da Vinci é realmente impressionante. Muitas obras originais nem podem ser exibidas ao público por serem muito valiosas, devendo ser preservadas, o máximo possível. Os manuscritos com desenhos sobre anatomia foram a base da medicina tradicional e beneficiaram toda a humanidade.

Além da Monalisa, outras obras como A Batalha da Anghiari, Homem Vitruviano, a escultura de cavalo de Sforza, o quadro da Santa Ceia, La Vergine dele Rocce, La Madonna Benois, La Bella Principessa e tantas outras imortalizaram o Mestre. Até hoje, biógrafos de Leonardo da Vinci tentam desvendar o incrível homem por trás de tantos trabalhos admiráveis e traços emocionantes. O que há por trás do olhar da Monalisa? E dos lábios? E as formas calculistas do Homem Vitruviano? O olhar e o dedo apontado para cima em San Giovanni Batista?

Diante do avançar da humanidade, vemos alguns gênios que se sobressaem ao extremo. Outros em maior número pulsam com exemplos admiráveis em países e regiões do mundo. Mas por que essa grande diferença de atividades marcantes entre os seres humanos? Como surgem esses gênios de tempos em tempos e locais? Será que é ao acaso?

Há uma convergência de pensamentos daqueles que acreditam na criação Divina em que tudo é obra de Deus. Mas por que Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom, criaria apenas um gênio em relação a milhões e milhões de homens que mantêm uma vida simples e comum na humanidade? Muitos se perguntam por que ele foi assim e eu não consigo fazer quase nada na vida? Houve uma espécie de sorteio divino?

Não, Deus não cria gênios. Ele cria todos os seres humanos iguais, mas cada um percorre o caminho que lhe convém de acordo com a sua vontade, o seu livre-arbítrio. Isso significa que quanto mais o Espírito evolui em seu trabalho para o bem comum, mais ele avança na liberdade de pensamento e em tarefas cada vez mais prodigiosas e humanitárias. Outro que segue o caminho da maleficência, estaciona na evolução e perde infinitas oportunidades de crescimento pessoal. Outro mesmo que não tenha maldade, mas não contribui para o bem, também pouco evolui. Isso faz com que ocorram as distâncias enormes entre os seres humanos diante da infinita escada evolutiva espiritual.

O gênio tem toda a sua bagagem elevada por sua própria conquista. Entretanto, sabemos que a evolução espiritual passa pelo crescimento moral e intelectual. Os dois nem sempre caminham juntos. Pode-se avançar muito o intelectual junto com a ambição, egoísmo, orgulho, passando-se por cima de quem quer que seja, sem se importar com nada. Nesse caso, estão os gênios com grande poder de persuasão sobre as massas, produzindo desajustes com sérias consequências na humanidade. Isso implicará em reencarnações adequadas para estacionar a evolução intelectual e avançar a moral, com desafios imensos a superar.

Assim, a humanidade precisa, de tempos em tempos, de verdadeiros gênios, evoluídos tanto intelectual quanto moralmente para estimular os avanços científicos mais rápidos em várias áreas e, ao mesmo tempo, dando seu exemplo de vida, principalmente quanto à humildade.

Leonardo da Vinci foi um exemplo de vida em todos os aspectos. Com tão pouco tempo na Terra, num ambiente extremamente carente de desenvolvimento tecnológico do final do Século XV e início do XVI, da Vinci deixou um sinal de como cada um pode evoluir. Como seria imaginar um Espírito desse nível, nos dias de hoje, com o avanço tecnológico gerado pela informática? Por outro lado, podemos sentir a sua grandeza moral, expressa em suas frases, tais como: “A pintura é poesia muda. A poesia é pintura muda. Ambas imitam a natureza com o melhor de sua potência, e ambas podem revelar princípios morais”; “Você nunca terá um domínio maior ou menor do que sobre si mesmo...”.

A ciência pode vasculhar o cérebro dos gênios em busca da resposta para tão grande efeito. Embora o Espírito necessite da matéria para sua vida na Terra, é no Espírito que a resposta para a Justiça Divina se encontra.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Recesso de Carnaval


Prezados leitores,

Começa hoje o recesso de carnaval do blog que se estenderá até o dia 26/02, (quarta-feira). Durante esse período faremos uma pausa nas atualizações, retornando normalmente no dia 27/02 (quinta-feira).

Um carnaval de Paz, alegria e fraternidade para todos!

São os votos de

Carlos Pereira – Manancial de Luz

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Energia, Pensamento e Vida


Por Wagner Ideali

Qual o sentido da vida? A humanidade procura essa resposta desde os primórdios da civilização, pois muitos filósofos, pensadores já fizeram esse questionamento e nunca tivemos uma resposta precisa e acertada. Joanna de Ângelis nos oferece uma resposta direta e objetiva quando ela nos diz que: “desenvolver Deus dentro de nós”. Assim, essa afirmação nos leva a pensar...

O Mestre Jesus nos disse “vós sois deuses”, e então ficamos pensando como desenvolver essa potencialidade?

Existem as energias físicas tais como as ondas magnéticas, elétricas, gravitacionais entre outras, que já temos condições de medi-las e interagir com elas.

Vamos também entender que temos as energias mentais provenientes do nosso corpo físico, que também somos capazes de medi-las para os necessários ajustes do nosso organismo.

No ponto mais alto temos as energias espirituais, que ainda não há instrumento para medi-las, mas Deus nos oferece os médiuns que conseguem medir, mas, como sabemos, de forma muitas vezes imprecisa. Ao estudar as energias espirituais poderemos então ter como realizar os tratamentos espirituais.

Sabemos que muito ainda há por fazer sobre as energias mentais e suas correlações com as energias espirituais.

O Espiritismo nos ensina que o Espírito deseja, o corpo age e depois recebe o retorno de sua ação que é captada pelos sentidos, devolvendo ao cérebro que, por fim, entrega essas sensações ao Espírito.

Assim, com essa rápida análise, começamos a perceber as palavras de Jesus quanto aos nossos profundos potenciais. Vamos pensar, falar e agir, mas dentro de uma nova dimensão, porque sabemos que o pensamento é vida, ele gera energias.

Atitudes enobrecedoras e ação construtiva vão pouco a pouco proporcionando um despertar da nossa divindade interior. Entre tantas coisas que Jesus fez na sua passagem pela Terra uma foi nos mostrar o potencial de transformação que nos oferecem o pensamento, a fala e as ações. Nunca vimos na humanidade uma capacidade tão gigantesca de manusear as energias como Ele o fez.

Sim, somos deuses, podemos fazer tudo que Ele, Jesus, fez, e muito mais, mas depende unicamente de nós mesmos. O que nos falta é aquela fé no tamanho de um grão de mostarda para mover as montanhas inerciais dentro de nós. Pois dia virá que poderemos dizer: “Não sei se estou no Pai ou se o Pai está em mim”.

Que Jesus nos abençoe hoje e sempre.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

“Espíritos Simpáticos”


Por Claudio Viana Silveira

“Os que encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações.” (ESE, XIV, 8.)

Nosso caminho evolucional é comparado a longo deserto que percorremos da Infância Espiritual à Angelitude.

Nossos companheiros de travessia possivelmente se repetem a cada nova encarnação.

Reunimo-nos por simpatia, ou somos “Espíritos simpáticos”; e o núcleo de reunião mais necessário e justo é a família, quer seja ela corporal, espiritual ou satisfaça ambos os requisitos.

Quando afirmamos que “fulano é extremamente simpático”, é possível que seja ele educado, elegante e gentil: qualidades do corpo e do Espírito aí encarnado…

Mas quando o Codificador nos fala em “Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações”, simpáticos toma a conotação de “atração”.

Dessa forma, “simpático”, longe dos conceitos anteriores, passa a significar uma atração por conveniência: desejamos nos atrair por motivos nobres, ou nem tanto.

Se tivermos atração pelo bem, nos reuniremos com Espíritos afins. Se tivermos atração pelo mal, prazerosamente desejaremos nos reunir a Espíritos de tais tendências.

A atração, por conseguinte, é neutra; neutros não o são o bem ou o mal.

A família tem o poder de reunir pessoas de matizes diferentes: para que os maus sejam reeducados e regenerados pelos bons, e para que estes se consolidem como tal: instrutores e missionários.

Evidências se tornarão patentes: não nos reunimos única vez. Já fomos bons juntos, maus juntos, contraímos dívidas uns com os outros e não as saldamos totalmente…

… E, por isso, estamos juntos novamente, nós, afins ou simpáticos, amparando-nos na travessia do deserto Terreno.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O Estudo das Obras Fundamentais do Espiritismo


Por Geraldo Campetti

A leitura atenta e o estudo continuado das obras fundamentais do espiritismo sempre renovam nossa oportunidade de aprender. Dá a impressão, inclusive, de que estamos diante de um conteúdo inédito, quando nos certificamos, após algum tempo, de que já o havíamos lido anteriormente. Isso decorre, em nosso entendimento, de duas razões principais: a constante atualização dos conteúdos doutrinários expostos na obra básica da Codificação Espírita, e a oportuna necessidade de atualizarmos nosso entendimento acerca da mensagem evangélica pelo salutar hábito do estudo.

As orientações seguras advindas da Espiritualidade Superior nos recomendam, inclusive, que dediquemos pelo menos 15 minutos diariamente para a leitura de alguma obra escrita sob a responsabilidade de Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita.

Esse contato diário com a obra básica certamente nos colocará a par da sabedoria espiritual e da genialidade de Kardec ao ensejar que tais ensinamentos renovadores fossem materializados na Terra para acesso de todos nós, trabalhadores da última hora.

O estudo possibilita ampliar a visão e o entendimento, a reflexão e a prática, sobre tudo o que nos sensibiliza as percepções, dilatando gradativamente a nossa capacidade de compreensão, a zona lúcida, conforme expressão do estudioso francês Paul Gibier.

O estudo espírita pode ser individual, num processo persistente de autodesenvolvimento, e coletivo, quando nos predispomos a interagir algum grupo interessado em propósitos semelhantes de se reunir e aprender, pelo compartilhamento de lições e experiências.

Para o estudo individual, alimentemo-nos de boa vontade, separemos um tempo diário de pelo menos 15 minutos, e iniciemos com o propósito firme de ir adiante. No início, há que se vencer algumas resistências naturais. Depois, torna-se mais fácil.

Para o estudo em grupo, as casas espíritas ofertam várias possibilidades, aproveitando-se do material de excelente qualidade disponibilizado ao Movimento Espírita pela FEB. São os programas do Estudo Sistematizado, do Estudo Aprofundado, do Estudo e Prática da Mediunidade, de cursos específicos sobre as obras da Codificação e de algumas publicações subsidiárias.

Oportunidade de estudo e aprendizado não faltam. O que às vezes falta é a nossa boa vontade de estudar e aprender.

Enriqueçamos nossa trajetória presente, aproveitando a oportunidade de educação espiritual, propondo-nos à efetiva renovação íntima pelo exercício dos magnos mandamentos recomendados pelo Espírito da Verdade: amai-vos e instruí-vos!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O Reflexo das Emoções



Por Waldenir A. Cuin

“Vives sitiado pela dor, pela aflição, pela sombra ou pela enfermidade? Renova o teu modo de sentir, pelos padrões do Evangelho, e enxergarás o Propósito Divino da Vida, atuando em todos os lugares, com justiça e misericórdia, sabedoria e entendimento.” (Emmanuel, no livro Fonte Viva, item 67, psicografia de Francisco Cândido Xavier.)

Na condição de criaturas humanas, sendo racionais, pensamos, agimos, reagimos e temos sentimentos que geram emoções, e estas refletem diretamente em nosso corpo físico.

Emoções saudáveis decorrentes da alegria, otimismo, resignação e compreensão das reais finalidades da vida nos promovem bem-estar, já aquelas que nascem da tristeza, pessimismo, lamentação e inconformismo têm o potencial de nos causar danos e desequilíbrios, gerando desconforto e sofrimento.

Muitas doenças que assolam a nossa constituição orgânica têm como base forte os desajustes emocionais que cultivamos ao longo do tempo. E tais patologias nem sempre conseguem ser contornadas somente com o uso de medicação, embora os fármacos possam contribuir sobremaneira para o alívio desses padecimentos.

A maneira de encarar os desafios da vida precisa ser meticulosamente analisada, buscando a compreensão e o entendimento dos reais objetivos da nossa existência aqui na Terra, partindo do entendimento claro de que possuímos duas naturezas: a física e a espiritual.

Em realidade somos Espíritos criados por Deus para viver eternamente, em sucessivos processos reencarnatórios, buscando a perfeição que nos proporcionará a paz e a felicidade, que tanto ansiamos e que ainda não logramos encontrar. Possuímos, no momento, um corpo físico, mas existíamos antes dele e seguiremos vivendo após o seu término, portanto, não podemos pautar nossas ações, atitudes e comportamentos como se a nossa vida apenas cumprisse um pequeno roteiro do berço ao túmulo.

Indispensável, portanto, se torna a valorização dos nossos sentimentos e emoções, se realmente desejamos usufruir o conforto de dias mais serenos e tranquilos. Erradicar, definitivamente, o orgulho e o egoísmo que residem em nosso coração é tarefa inadiável e urgente, pois que essas terríveis chagas ostentam o nascedouro de tantas outras mazelas.

Ódio, mágoa, ressentimento, melindre, ciúme, avareza e tantos outros defeitos que ainda alimentamos com os nossos desequilíbrios emocionais carregam, de forma invisível, um enorme potencial destruidor com a capacidade extraordinária de arruinar a nossa saúde, nos conduzindo a experimentar o fel do sofrimento.

No entanto, o remédio para esses incômodos que tanto nos atormentam está facilmente ao alcance das nossas mãos, disponível a qualquer criatura há mais de dois mil anos: as sábias e imorredouras lições de Jesus Cristo, contidas em seu Evangelho, tão populares, mas pouco entendidas e praticadas.

Em momento algum podemos descartar o valor da medicina que veio em nosso auxílio, mas ignorar os ensinamentos do Cristo, diante da clareza e atualidade que carregam, será, sem dúvida, menosprezar, descuidadamente, um manancial infinito de bênçãos que está à disposição de quem dele quiser fazer uso.

A diminuta compreensão e o desuso das advertências cristãs permitiram a construção, atualmente, de uma sociedade angustiada, deprimida, pessimista e detentora de poucas esperanças e perspectivas de melhoria. No entanto, se nos aprofundarmos no exercício prático do roteiro cristão, em breve transformaremos o mundo que nos acolhe.

O remédio pode curar uma doença já instalada, mas a vivência evangélica será capaz de prevenir uma patologia ao ensinar, de forma coerente e equilibrada, como uma criatura deverá administrar as suas emoções.

A humanidade já perdeu tempo demais, sofreu muito, vem andando na contramão da lógica. Até quando... será que ainda não teremos “olhos de ver e ouvidos de ouvir”?

Reflitamos...

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O Mestre e as Mulheres

Por Patrícia Carvalho Saraiva Mendes

Muito já se cantou e louvou a beleza e a importância da presença feminina no orbe.

Nada mais justo.

Em cada presença feminil, há sempre a expectativa de que ali pulse um coração maternal, capaz de acolher, de educar, de amar, numa palavra.

E, não obstante, quão dele se espere, quanto carece de ser amado e compreendido um coração de mulher!

Na verdade, se distendêssemos o olhar na esteira do tempo da vida humana na Terra, certamente veríamos que jamais alguém soube compreender tão bem o sentimento feminino, em sua complexa sensibilidade, como Jesus, o Mestre maior.

Da mesma forma, ninguém jamais conseguiu colocar tão bem a mulher em seu lugar de real valor, como Ele fez.

Quando o Mestre ergue espiritualmente Madalena, a Maria que tanto houvera se equivocado, enaltece-a a nova condição, exemplificando a forma de se portar diante do erro, porventura cometido, em exemplificação irreprochável:

Surpreendido pela aproximação da Madalena [...] não se entrega a acusações e lamentos, com respeito à sua conduta passada, mas sim, descerra-lhe ao espírito de mulher os horizontes da abnegação pura e sublime...

Assim agia Jesus, cujas lições ministradas quedam-se imorredouras.

Quando o Mestre pede a Marta que deixe Maria cuidar do que seria efetivamente essencial (Lucas, 10:38 a 42), ali leciona às mulheres de todas as épocas que não se perdessem no labirinto dos quefazeres compreensivelmente importantes, porém, não fundamentais, do cotidiano. Que não deixassem o mundo arrastá-las num torvelinho de tarefas inúteis, num roldão de coisas fúteis, os quais não as permitissem contemplar a beleza da vida sempre vicejante, janelas afora da locomotiva que conduz a existência material.

Não é para a matéria que foram feitas as mulheres...

Sem jamais desqualificar a Marta desavisada, Jesus alerta que, desprevenidas, as mulheres lamentavelmente haveriam de concentrar ideias, sentimentos e pensamentos “no desperdício das emoções”, perdendo mais que tempo, perdendo a oportunidade bendita da reencarnação.

E, somente agora, dois milênios passados daquela lição magistral, é que podemos dizer que já vislumbramos, em nosso aprendizado espiritual, quanto pode nos valer uma emoção bem direcionada. Quanto a atenção, voltada ao que tem valor efetivo, pode nos poupar, no futuro, lágrimas e ilusões desfeitas.

Em verdade, ninguém soube melhor ler um coração de mãe, de amiga, de filha e de irmã do que Jesus!

Quando se dirige à samaritana (João, 4:1 a 41), o Mestre mostra a todos que a “água da vida”, buscada em cada coração de mulher, que aguarda ser amado; em cada coração de mãe que espera entendimento; em cada coração de companheira, que se sente desamparado, somente da vivência do seu Evangelho poderia verdadeiramente brotar.

Ali, no poço de Jacó, o Mestre revela, a todas as mulheres, que não aguardassem nas luzes do mundo, nas ilusões da Terra, sempre corredias, sempre fugidias, as suas compensações. Não seria jamais, nos brilhos fastidiosos do planeta que as mulheres encontrariam o amor e o conforto afetivo a que seus corações almejam.

No trato com as mulheres, também Jesus permanece como o Modelo inesquecível, porque insuperável.

Ainda quando entrega sua Mãe Amantíssima no instante supremo do Gólgota, ao desvelo do discípulo querido, João, é porque também sabia que aquela mulher, conquanto fosse capaz de vivenciar o amor superlativo, nascido da intimidade mais oculta do seu coração, também merecia o cuidado do olhar filial (João, 19:26-27).

É de se reconhecer: ninguém soube ler tão bem a alma feminina, como Jesus!

Por fim, quando ressurreto, liberto do madeiro infame para a glória eterna, é para uma mulher, aquela mesma que houvera caído, que tanto houvera se desencaminhado em passado recente, que Ele aparece. É a Maria Madalena que Jesus primeiro se mostra.

De volta, ele chama aquela mulher, em pleno processo de redenção, para que, incumbida de avisar aos demais que o Mestre, sim, vivia ela também demonstrasse às mulheres do mundo inteiro que talvez elas não fossem, em muitas ocasiões, compreendidas, quiçá, em muitos momentos, não fossem valorizadas, mas, ainda assim, Ele convidava a todas a renunciar aos valores materiais, sem temor; deixar para trás o passado, sem duvidar; e amar a Deus, vendo-o no próximo, a bem da verdadeira felicidade que passaria a existir em seus corações.

Enfim, metaforicamente, Jesus deixava, em mãos femininas, a chave da vida, porquanto, em verdade, “a chave da vida é a glória de Deus”.

Quando suporta as dores da existência em favor de alguém; quando gera, em seu íntimo, outro ser; quando educa os filhos do mundo; quando cura a quem quer que seja; quando ensina, sem cobrar demonstrações de reconhecimento; finalmente, quando ama, toda mulher está, também, glorificando a Deus, na atitude sublime de buscar tornar a Terra o local que a Providência divina nos concedeu para o nosso aprendizado, num lugar melhor para se estar e viver.

Referências:

Francisco Cândido Xavier, Verdade e Amor. Por Espíritos diversos.
Francisco Cândido Xavier, Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel.
Francisco Cândi Xavier, Luz no Lar. Por Espíritos diversos.
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