terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O Mestre e as Mulheres

Por Patrícia Carvalho Saraiva Mendes

Muito já se cantou e louvou a beleza e a importância da presença feminina no orbe.

Nada mais justo.

Em cada presença feminil, há sempre a expectativa de que ali pulse um coração maternal, capaz de acolher, de educar, de amar, numa palavra.

E, não obstante, quão dele se espere, quanto carece de ser amado e compreendido um coração de mulher!

Na verdade, se distendêssemos o olhar na esteira do tempo da vida humana na Terra, certamente veríamos que jamais alguém soube compreender tão bem o sentimento feminino, em sua complexa sensibilidade, como Jesus, o Mestre maior.

Da mesma forma, ninguém jamais conseguiu colocar tão bem a mulher em seu lugar de real valor, como Ele fez.

Quando o Mestre ergue espiritualmente Madalena, a Maria que tanto houvera se equivocado, enaltece-a a nova condição, exemplificando a forma de se portar diante do erro, porventura cometido, em exemplificação irreprochável:

Surpreendido pela aproximação da Madalena [...] não se entrega a acusações e lamentos, com respeito à sua conduta passada, mas sim, descerra-lhe ao espírito de mulher os horizontes da abnegação pura e sublime...

Assim agia Jesus, cujas lições ministradas quedam-se imorredouras.

Quando o Mestre pede a Marta que deixe Maria cuidar do que seria efetivamente essencial (Lucas, 10:38 a 42), ali leciona às mulheres de todas as épocas que não se perdessem no labirinto dos quefazeres compreensivelmente importantes, porém, não fundamentais, do cotidiano. Que não deixassem o mundo arrastá-las num torvelinho de tarefas inúteis, num roldão de coisas fúteis, os quais não as permitissem contemplar a beleza da vida sempre vicejante, janelas afora da locomotiva que conduz a existência material.

Não é para a matéria que foram feitas as mulheres...

Sem jamais desqualificar a Marta desavisada, Jesus alerta que, desprevenidas, as mulheres lamentavelmente haveriam de concentrar ideias, sentimentos e pensamentos “no desperdício das emoções”, perdendo mais que tempo, perdendo a oportunidade bendita da reencarnação.

E, somente agora, dois milênios passados daquela lição magistral, é que podemos dizer que já vislumbramos, em nosso aprendizado espiritual, quanto pode nos valer uma emoção bem direcionada. Quanto a atenção, voltada ao que tem valor efetivo, pode nos poupar, no futuro, lágrimas e ilusões desfeitas.

Em verdade, ninguém soube melhor ler um coração de mãe, de amiga, de filha e de irmã do que Jesus!

Quando se dirige à samaritana (João, 4:1 a 41), o Mestre mostra a todos que a “água da vida”, buscada em cada coração de mulher, que aguarda ser amado; em cada coração de mãe que espera entendimento; em cada coração de companheira, que se sente desamparado, somente da vivência do seu Evangelho poderia verdadeiramente brotar.

Ali, no poço de Jacó, o Mestre revela, a todas as mulheres, que não aguardassem nas luzes do mundo, nas ilusões da Terra, sempre corredias, sempre fugidias, as suas compensações. Não seria jamais, nos brilhos fastidiosos do planeta que as mulheres encontrariam o amor e o conforto afetivo a que seus corações almejam.

No trato com as mulheres, também Jesus permanece como o Modelo inesquecível, porque insuperável.

Ainda quando entrega sua Mãe Amantíssima no instante supremo do Gólgota, ao desvelo do discípulo querido, João, é porque também sabia que aquela mulher, conquanto fosse capaz de vivenciar o amor superlativo, nascido da intimidade mais oculta do seu coração, também merecia o cuidado do olhar filial (João, 19:26-27).

É de se reconhecer: ninguém soube ler tão bem a alma feminina, como Jesus!

Por fim, quando ressurreto, liberto do madeiro infame para a glória eterna, é para uma mulher, aquela mesma que houvera caído, que tanto houvera se desencaminhado em passado recente, que Ele aparece. É a Maria Madalena que Jesus primeiro se mostra.

De volta, ele chama aquela mulher, em pleno processo de redenção, para que, incumbida de avisar aos demais que o Mestre, sim, vivia ela também demonstrasse às mulheres do mundo inteiro que talvez elas não fossem, em muitas ocasiões, compreendidas, quiçá, em muitos momentos, não fossem valorizadas, mas, ainda assim, Ele convidava a todas a renunciar aos valores materiais, sem temor; deixar para trás o passado, sem duvidar; e amar a Deus, vendo-o no próximo, a bem da verdadeira felicidade que passaria a existir em seus corações.

Enfim, metaforicamente, Jesus deixava, em mãos femininas, a chave da vida, porquanto, em verdade, “a chave da vida é a glória de Deus”.

Quando suporta as dores da existência em favor de alguém; quando gera, em seu íntimo, outro ser; quando educa os filhos do mundo; quando cura a quem quer que seja; quando ensina, sem cobrar demonstrações de reconhecimento; finalmente, quando ama, toda mulher está, também, glorificando a Deus, na atitude sublime de buscar tornar a Terra o local que a Providência divina nos concedeu para o nosso aprendizado, num lugar melhor para se estar e viver.

Referências:

Francisco Cândido Xavier, Verdade e Amor. Por Espíritos diversos.
Francisco Cândido Xavier, Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel.
Francisco Cândi Xavier, Luz no Lar. Por Espíritos diversos.

Nenhum comentário:

^