quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Como Evitar a Melancolia


Conhecida na antiguidade como melancolia, a depressão, em nosso tempo, tem sido o grande mal da humanidade. A melhor terapia para essa doença milenar é a do amor, e o melhor terapeuta é Jesus. Entretanto, muitas vezes, é imprescindível o acompanhamento médico e espiritual simultâneo.

O ser humano é um composto biopsicossocial espiritual. Por isso mesmo, a depressão vem sendo atribuída a quatro causas, em geral, associadas: biológica, psicológica, social e espiritual. A seguir, vamos observar como cada causa se manifesta e quais terapêuticas são indicadas para o seu controle.

1ª – Causa biológica ou orgânica: Acredita-se que algumas pessoas nasçam geneticamente com deficiência orgânica. Outras adquirem doenças crônicas que também levam à depressão, como a Aids, o câncer, a obesidade, a artrite etc.
O tratamento, nesses casos, deve ser feito por um psiquiatra, que procurará suprir a deficiência de serotonina do paciente, com base em antidepressivos. Essas pessoas necessitam, também, de um acompanhamento psicológico, clínico e, portanto, devem seguir à risca as recomendações médicas.

2ª – Causa social: O sedentarismo, a solidão, entre outras causas sociais podem levar a pessoa a sentir-se desprezada pela sociedade e passar a se sentir inútil, desmotivada, profundamente triste.

O melhor tratamento para a melancolia, nesses casos, é a atividade física. A caminhada diária de trinta minutos, a corrida competitiva ou leve, de acordo com as condições físicas e gosto individual, a dança, os exercícios leves da academia, ao menos três vezes na semana, são ótimas terapias para essas pessoas. Ainda assim, se o problema se agravar, também nesse, como em outros casos, a terapia psicológica e/ou psiquiátrica é indispensável.

3ª – Causa psicológica: a morte de um ser querido, a perda de um bom emprego, a separação de um casal, abusos sexuais, entre outros acontecimentos podem levar a pessoa a distúrbios psicológicos. Além desses, há outros problemas, como o estresse, resultante de acúmulo de atividades, a necessidade de ser aceito, o perfeccionismo e a ansiedade.

Quando um casal se separa, em especial por não mais haver atração sexual de um parceiro ou parceira, a angústia e as consequências provenientes de tal situação podem se tornar insuportáveis. O diálogo, a troca diária de afetos, a compreensão, a renúncia e a tolerância, entre outras qualidades positivas, provenientes do amor, são fundamentais a uma vida familiar permanente.

Com relação ao estresse, é preciso lembrar que não podemos assumir compromissos maiores do que o permitam nossas forças realizarem. Por vezes, é necessário saber dizer não, sem com isso melindrar ou ofender os que nos pedem um favor ou serviço. Há pessoas que, pela necessidade sentida de serem aceitas, nada recusam, embora nem sempre deem conta de atender ao que lhe é solicitado. Com isso, deprimem-se.
Outras pessoas, atentas às recomendações de Jesus de serem perfeitas, começam a se comparar com os grandes missionários e santos. Ora, quando Jesus nos recomenda: “Sede perfeitos”, Ele sabe, melhor do que ninguém, o quanto é importante dar “um passo de cada vez”.

Qualquer pessoa pode ser vítima de um obsessor.

Foi por isso que Kardec escreveu esta frase: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (KARDEC, 2008, cap. XVII, it. 4). Ele não disse que devemos nos santificar de uma hora para outra e, sim, que devemos nos esforçar para sermos sempre melhores.

A ansiedade é outra dificuldade a ser superada por nós no combate à causa psicológica da depressão. Há pessoas que passam de uma atividade a outra, mal começam a anterior, acabando por esquecer ou concluir com atraso ou imperfeição quase tudo o que fazem. É preciso nos autoconhecermos, como consta na questão 919 de O Livro dos Espíritos, a fim de agirmos com equilíbrio e bom senso em tudo o que façamos no cotidiano da vida. Devemos ter horário para tudo: para o estudo, para o trabalho, para os exercícios físicos e para a oração e a meditação. Sem isso, nossa vida mental se torna um “inferno”.

4ª – Causa espiritual. As imperfeições morais que trazemos impressas em nosso campo mental nos levam a desprezar a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação”. Tais defeitos têm como base principal o egoísmo, donde provêm todas as demais imperfeições de cada um de nós, como o orgulho, a vaidade, o ciúme, a inveja, a cupidez, a sensualidade e as paixões negativas.

Qualquer pessoa pode ser vítima de um obsessor, pois, segundo a resposta de um Espírito a Allan Kardec, “os Espíritos influenciam nossos pensamentos e atos muito mais do que supomos, pois, de ordinário, são eles que nos dirigem” (KARDEC, 2006, q. 459).

Também qualquer pessoa pode ter, sempre, a companhia dos bons Espíritos, que neutralizam a influência dos maus. Basta pensar e agir sempre no bem. “Sede sempre bons e só tereis Espíritos bons ao vosso lado” (KARDEC, 2009, cap. 9, it. 13).
Mas a obsessão pode variar do tipo simples à subjugação, conforme consta n’O Livro dos Médiuns (Kardec, 2009, cap. 9).

A fascinação é um tipo de obsessão muito perigoso

Na obsessão simples, a pessoa sabe que está sob a influência de um “Espírito mentiroso”, que “não se disfarça, nem dissimula de forma alguma suas más intenções e seu propósito de contrariar”. A entidade maléfica pode ser afastada pelo próprio obsidiado, modificando seus hábitos mentais negativos e pondo em Deus toda a sua confiança. A terapia do amor ao próximo, do estudo das obras básicas de Allan Kardec e da atuação permanente no bem é altamente eficaz, tanto para o obsessor, quanto para o obsidiado, propiciando a ambos sua elevação moral.

A fascinação é um tipo de obsessão muito mais perigoso. “É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa forma, paralisa a sua capacidade de julgar as comunicações” (KARDEC, 2009, p. 389, it. 239). O fascinado não se acredita tapeado, pelo contrário, crê cegamente no Espírito que o obsidia e repele aquelas pessoas que lhe tentam abrir os olhos. A terapia do amor, com orações e desobsessão a distância são recursos apropriados a tal caso.


Referências:
FEITOSA, Nazareno. Depressão: causas, consequências e a terapia do amor. Palestra espírita. CD s.d.
FRANCO, Divaldo Pereira. Conflitos existenciais. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2005.
______. Jesus e o evangelho à luz da psicologia profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2000.
______. Loucura e obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 12. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2011.
_____. Sexo e obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 8. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2013.
______. A obsessão: instalação e cura. Organizada por Adilson Pugliese. 3. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 1998.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008.
______. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006. Ed. comemorativa.
______. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009.

Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Alfabetização Espiritual: uma obrigação de todos nós

Por Anselmo Ferreira Vasconcelos

A vida moderna nos impõe inúmeras obrigações e deveres. Grosso modo, uma existência bem aproveitada implica em administrar com proficiência problemas e dificuldades de toda sorte. Jesus – nosso modelo e guia – e outros expoentes da espiritualidade convivem com labores altamente complexos e desafiadores. Se o Pai Celestial trabalha, como asseverou o Mestre outrora, “... eu trabalho também” (João, 5: 17), deixando entrever a pesada carga de responsabilidades advindas da sua sublime missão de educador dos corações humanos. Portanto, não podemos, então, de nossa parte, esperar algo substancialmente diferente. À medida que evoluímos mais deveres abraçamos. Uma força incoercível nos compele a dar, entregar e a compartilhar mais de nós mesmos. Passamos a perceber, enfim, que somos muito menos que uma gota – e eu estou sendo generoso – do oceano.

No entanto, dada a nossa precariedade cognitiva e considerando as paisagens de sofrimento e destruição que, infelizmente ainda, caracterizam a Terra, temos a obrigação individual de nos autoiluminarmos para transformá-la numa das belas moradas da “casa do Pai”. E tal desiderato não pode ser atingido sem o esforço pessoal de nos alfabetizarmos espiritualmente. Dito de outra maneira, a criatura humana necessita urgentemente educar a sua própria alma. Como já nos referimos algures, “... são raros aqueles que, concomitantemente às exigências da vida moderna – onde sempre predominam as coisas de natureza material –, dão também atenção aos assuntos de origem transcendental. Aliás, se tivéssemos a curiosidade de averiguar quanto do nosso tempo é despendido em coisas ligadas à matéria ou de importância duvidosa, ficaríamos estarrecidos”. (Vasconcelos, A.F. A necessidade da agenda espiritual. O Clarim, nº 1, p. 12, agosto 2005)

De maneira similar, a renomada pesquisadora inglesa, Dra. Ursula King, observa que necessitamos dar mais atenção à educação do espírito. Ela considera que nós necessitamos aprender a desenvolver uma profunda liberdade interior e consciência para nos tornarmos mais alertas espiritualmente e conclui advogando que “A capacidade para espiritualidade está presente em todos os seres humanos, mas necessita ser ativada e realizada. Isso significa que tem de ser ensinada de algum modo, e isso requer novos enfoques para educação espiritual. [...]”.(King, U. The search for spirituality: our global quest for a spiritual life. New York, NY: BlueBridge, 2008, p. 88.)

Obviamente, o curso do autodesenvolvimento espiritual não é tarefa para apenas uma existência. Certamente continuará do lado de lá, assim como em outras encarnações. Também não podemos imaginar que tal aprendizado advirá exclusivamente de determinados cursos que venhamos a frequentar. Eles podem, na melhor das hipóteses, ajudar em determinados momentos, mas a maior parte desse processo de alfabetização ocorrerá mediante: constantes e solitários exercícios de reflexão e meditação acerca das atitudes tomadas no dia a dia; a busca incessante do autoconhecimento; a coragem para enfrentar as sombras da personalidade; e a determinação para proceder tomando sempre o bem como bússola. Paralelamente a esse esforço, o “aluno” deverá voltar-se a Deus através da oração sincera e confiante a fim de que os seus canais intuitivos captem sempre as melhores sugestões.

Não poderá abdicar também de mergulhar a sua atenção em leituras edificantes, esclarecedoras, eivadas de sabedoria e experiências humanas valiosas que lhe facultem condições de vislumbrar a dimensão antes ignorada, isto é, a da vida espiritual. Pode-se prever que o “bom aluno” mudará consideravelmente a sua percepção e conduta a partir daí. Os seus gostos, preferências e aspirações sofrerão profundas mudanças, a sua sensibilidade no trato com os semelhantes será amplificada, assim como dilatada a sua capacidade de compreensão dos fatos e eventos, entre outros tantos benefícios. Com toda certeza estará mais preparado para ouvir, dialogar e entender os companheiros de jornada.

Muitas vezes o “bom aluno” ver-se-á envolvido numa aparente solidão. Afinal, a sua gama de interesses e até mesmo objetivos transmutam-se completamente. Mas é na quietude da alma que encontrará respostas e conclusões para os mais importantes dramas existenciais. Concomitantemente, compreenderá que deverá desenvolver os recursos da paciência, discernimento, humildade, renúncia, emoções positivas, amor, fraternidade e tolerância – algumas matérias, convenhamos, nem sempre lecionadas nas salas educativas da Terra. O novo ser que emergirá dessa alfabetização dominará não apenas pensamentos, emoções e poderosas forças interiores, mas estará apto a entender e a cooperar de maneira mais incisiva na obra do Criador sendo uma criatura melhor sob todos os aspectos e sentidos.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sinais dos Tempos



Por Rogério Coelho


A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social(1)

“(...) O terceiro milênio ficará conhecido como a fronteira da oportunidade terrestre para a emancipação espiritual dos Espíritos calcetas.”
François C. Liran

A humanidade é um ser coletivo em quem se operam as mesmas revoluções morais por que passa todo ser individual, com a diferença de que umas se realizam de ano em ano e as outras de século em século... Acompanhe-se a humanidade em suas evoluções através dos tempos e ver-se-á a vida das diversas raças marcada por períodos que dão a cada época uma fisionomia especial.

Sua marcha progressiva se opera de duas maneiras:

Uma gradual, lenta, imperceptível mesmo, se se considerarem as épocas consecutivas, a traduzir-se por sucessivas melhoras nos costumes, nas leis, nos usos etc., melhoras essas que só com a continuação se pode perceber, como as mudanças que as correntes d água ocasionam na superfície das pedras.

Outra, por movimentos relativamente bruscos, semelhantes aos de uma grande torrente que, rompendo os diques que a continham, transpõe em alguns anos o espaço que levaria séculos a percorrer... É, então, um cataclismo moral que devora em breves lapsos de tempo as ancilosadas Instituições do passado e ao qual sobrevém uma nova ordem de coisas que pouco a pouco se estabiliza, à medida que se restabelece a calma e que acaba por se tornar “definitiva”. (Mas não por muito tempo, vez que o progresso é uma lei dinâmica da Natureza.)

Àquele que viva bastante para abranger com a vista as duas vertentes da nova fase, parecerá que um mundo novo surgiu das ruínas do antigo. O caráter, os costumes, os usos, tudo está mudado. É que, com efeito, surgiram homens novos, ou melhor, regenerados. As ideias, que a geração extinta levou consigo, cederam lugar a ideias novas que desabrocharam com a geração que se ergue.

Tornada adulta, a humanidade tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas; compreende o vazio com que foi embalada, a insuficiência de suas Instituições para lhe dar felicidade; já não encontra no estado das coisas as satisfações legítimas a que se sente com direito. Despoja-se, em consequência, das faixas infantis e se lança, impelida por irresistível força, para as margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos cerceantes...

É a um desses períodos de transformação, ou se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a humanidade. Da adolescência chega ao estado viril. O passado já não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas necessidades; ela já não pode ser conduzida pelos mesmos métodos; não mais se deixa levar por ilusões, nem fantasmagorias; sua razão amadurecida reclama alimentos mais substanciosos... É demasiado efêmero o presente; ela sente que mais amplo é o seu destino e que a vida corpórea é excessivamente restrita para encerrá-lo inteiramente. Por isso, mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de descobrir num ou noutro o mistério da sua existência e de adquirir uma consoladora certeza... E é no momento em que ela se encontra muito apertada na esfera material, em que transbordante se encontra de vida intelectual, em que o sentimento da espiritualidade lhe desabrocha no seio, que homens que se dizem filósofos pretendem encher o vazio com as doutrinas do nadismo e do materialismo!... Singular aberração!

Esses mesmos homens, que intentam impelir a humanidade para frente, paradoxalmente se esforçam por circunscrevê-la no acanhado círculo da matéria, donde ela anseia por escapar-se. Velam-lhe o aspecto da vida infinita e lhe dizem, apontando para o túmulo: “Nec plus ultra”.

Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas consequências e não o circunscreva à produção de alguns fenômenos terá compreendido que ele abre à humanidade uma estrada nova e lhe desvenda os horizontes do Infinito; inicia-a nos mistérios do Mundo Invisível, mostra-lhe o seu verdadeiro papel na criação; papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual, como no estado corporal. O homem já não caminha às cegas: sabe de onde vem, por que está na Terra e para onde vai. O futuro se lhe revela uma realidade, despojado dos prejuízos da ignorância e da superstição, agora não mais alocado nas inverossímeis utopias empiricamente esboçadas por teóricos detentores de apoucados conhecimentos transcendentais. Já não se trata de uma vaga esperança, mas de uma verdade palpável, tão certa como a sucessão do dia e da noite. Ele sabe que o seu ser não se acha limitado a alguns instantes de uma existência transitória e fugaz; que a vida espiritual não se interrompe por efeito da morte; que já viveu e tornará a viver e que nada se perde do que haja ganho em perfeição. Em suas existências anteriores depara com a razão do que é hoje e reconhece, sem margem a dúvidas, que ele é o artífice do próprio destino, vez que compreende ser hoje o que se fez a si mesmo com seus atos pretéritos, e poderá deduzir o que virá a ser um dia pelo que hodiernamente está realizando ou deixando de realizar. Compreende assim o real sentido das palavras de Jesus registradas em Mateus, (16:27): “a cada um será dado de acordo com as suas obras”.

Que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da imortalidade da Alma! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador do que a lei segundo a qual a vida corpórea e a vida espiritual são apenas dois modos de existência, que se alternam para a realização do progresso! Que de mais justo há e de mais consolador do que a ideia de estarem os mesmos seres a progredir incessantemente: primeiro através das gerações de um mesmo mundo; de mundo em mundo depois, até à perfeição, sem solução de continuidade! Todas as ações têm, então, uma finalidade, porquanto, trabalhando para todos, cada um trabalha para si e reciprocamente, de sorte que nunca se podem considerar infecundos nem o progresso individual, nem o coletivo, vez que de ambos aproveitarão as gerações e as individualidades porvindouras, que outras não virão a ser senão as gerações e as individualidades passadas, em mais alto grau de adiantamento.

A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, mas não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a Alma, o futuro, o progresso individual e coletivo indefinito, a perenidade das relações amigáveis entre os seres de todos os povos.

Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens, vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros.

Essa a fé que o Espiritismo faculta e que doravante será o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam os cultos e as crenças particulares.

Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más. Somente esse progresso pode fazer que entre os homens reine a concórdia, reinem a paz, a fraternidade. Será ele que deitará por terra as barreiras que separam os homens, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando aos homens a se considerarem irmãos que têm o dever de se auxiliarem reciprocamente e, não, destinados a viver à custa uns dos outros.

Hoje a humanidade está madura para lançar o olhar a alturas e horizontes nunca dantes divisados, a fim de nutrir-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia.

A geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos; a geração que surge, retemperada em fonte mais pura, imbuída de ideias mais sãs, imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral que assinalará a nova fase da evolução humana. Somos, pois, as testemunhas oculares e privilegiadas desse movimento regenerador que ora se opera.

Esta será a marca do Terceiro Milênio: a fronteira entre o Mundo de Provas e Expiações que se esvai lentamente e o Mundo de Regeneração que surge por força da imarcescível Lei do Progresso, porque esta é a vontade de Deus.


(1) KARDEC, Allan. A Gênese. 43. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. XVIII, itens 12 e seguintes.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Idosos e Sociedade



Por Anselmo Ferreira Vasconcelos

Um importante fenômeno demográfico e social está presentemente em curso, ou seja, o substancial envelhecimento da população. Seus efeitos são claramente visíveis, particularmente no Ocidente. Para ser mais exato, os adultos com 60 anos ou mais de idade já representam um quinto da população nos países desenvolvidos, e as previsões indicam que serão um terço por volta de 2050.

Em decorrência dessa tendência, na Europa, por exemplo, as preocupações estão no momento fortemente concentradas na busca do equilíbrio dos sistemas previdenciários. De modo geral, a relação entre os adultos participantes da população economicamente ativa e o número de idosos, que se beneficiam de aposentadorias e outros programas assistenciais, é desproporcional.

A gênese desse problema está ligada ao aumento da longevidade e o fato de que as novas gerações estudam muito mais anos em cursos de graduação e pós-graduação do que as precedentes e, em consequência, demoram mais tempo para ingressar no mercado de trabalho. Quando, enfim, optam por formar as suas próprias famílias, os casais têm, em média, um filho.

Segue daí que as contas públicas não fecham, os déficits previdenciários são crescentes e a necessidade de implementação de medidas adicionais (amargas, por sinal) parece ser inevitável. O Brasil, por sua vez, vem sentindo os efeitos daí decorrentes. De fato, as previsões do IBGE, nesse particular, são altamente preocupantes. Veja-se, por exemplo, que os dados colhidos pelo instituto indicavam que, em 2008, para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos, havia 24,7 idosos com 65 anos ou mais de idade. No entanto, as projeções sugerem que, entre 2035 e 2040, haverá muito mais população idosa chegando a alcançar uma proporção 18% superior à de crianças e, em 2050, a relação poderá ser de 100 para 172,7.

Outro dado alarmante: em 2000, para cada pessoa com 65 anos ou mais de idade, aproximadamente 12 estavam na faixa etária chamada de potencialmente ativa (15 a 64 anos de idade). Contudo, as projeções mostram que já em 2050, a relação entre ambos os grupos de idade passa a ser de 1 para pouco menos de 3. Estatísticas à parte, o Brasil conseguiu o expressivo feito de implantar um estatuto especificamente voltado ao idoso. Em tese, tal regulação deveria contribuir significativamente para atenuar as agruras da velhice.

Todavia, é notório que a situação do idoso brasileiro é cercada por dramaticidades sem conta. Senão vejamos: baixo valor pago às aposentadorias (o fator previdenciário simplesmente sequestrou a renda justamente conquistada por esse grupo, o que constitui, indiscutivelmente, uma das maiores arbitrariedades já praticada neste país), custo elevado dos remédios e planos de saúde, infraestrutura inadequada, situação de dependência e percepção de desamparo, entre outras coisas. Os nossos velhos estão longe de viver o tratamento e a atenção dispensada aos seus semelhantes na Suécia, por exemplo.

Não bastasse isso, observa-se igualmente um indisfarçável conflito intergeracional, especialmente nas grandes cidades. Ou seja, o tratamento dado ao idoso pelas gerações mais jovens na atualidade prima, não raro, pela indiferença e frieza. Em viagens de metrô, trens ou ônibus abundam as situações de indelicadeza e ausência de empatia em relação aos mais idosos, não obstante a profusão de avisos e advertências.

Tal constatação nos leva a crer que a velhice está sendo muito mal recebida pela sociedade brasileira contemporânea. Ao que nos consta, não há um estudo detalhado sobre o assunto para explorar, mas os exemplos de tal distorção comportamental são obviamente onipresentes. Há aí, evidentemente, um componente educacional que precisa ser apropriadamente enfocado. A começar pelo berço, embora os pais hodiernos tendam a ser emocionalmente distantes e, as suas orientações, pouco ou nada efetivas.

Dito de outra forma, as novas gerações precisam ser ensinadas desde cedo – por mais óbvia que tal sugestão possa ser – a respeitar o idoso, a conviver harmoniosamente com a velhice e a dar primazia às suas necessidades. A questão é básica. Ser um dia idoso é destino inexorável de todos, conforme estabelecem as leis da vida. Salvo alguma eventual exceção, deveremos transitar – consoante a lógica da vida – um dia por essa fase biológica que, na precária condição terrena, vem acompanhada de limites e restrições inumeráveis.

Desse modo, não fazer aos outros aquilo que não desejamos para nós representa uma norma cristã basilar de vida. Portanto, alocar espaço apropriado para o idoso e respeitar os seus limites denota boa conduta humanitária e espiritual. Não tenhamos dúvida também que lidar com um número crescente de idosos exigirá muito mais paciência e sensibilidade de todos nós. Mas esse é um preço justo derivado do simples fato de se viver em sociedade. Mas ao atender digna e respeitosamente a um idoso estamos trabalhando, na verdade, pelo nosso próprio bem, pelo nosso amanhã.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Carnaval é Tempo de Festa ou Reflexão?



Por Regina Medeiros

Para se entender o carnaval e outras festas populares, é necessário lembrar que a Terra ocupa o segundo lugar na escala evolutiva, por ser um planeta de provas e expiações. Aqui, e em mundos semelhantes, encarnam espíritos recém-saídos da barbárie, dando os primeiros passos na sua história evolutiva e esses espíritos trazem consigo um grupo de sensações ou pulsões que precisam ser extravasadas para que não se voltem contra a sociedade em que encarnaram.

Em verdade, estamos encarnados para reprimirmos as más tendências e adquirir elementos espirituais positivos como o amor, a solidariedade, o respeito ao próximo e as diferenças, em uma palavra, desenvolver as faculdades positivas do espírito.

A festa é o momento em que o espírito tem a oportunidade de por para fora, não necessariamente, o que ele tem de pior, mas as suas emoções mais profundas. Como somos espíritos altamente imperfeitos, as nossas festas quase sempre explicitam emoções do tipo primário.

Muitos espíritas julgam ser inofensiva a sua participação nas festividades carnavalescas, afirmando que não lhes traria qualquer dano espiritual. Entretanto, sabemos que estas festividades não se desenvolvem em clima de sadia e fraterna atividade.

Sabemos também que a influência dos espíritos em nossas vidas é um fato inegável, a depender da nossa sintonia. Se estamos em equilíbrio espiritual, sintonizaremos com espíritos bons e elevados. Se nos envolvemos em sentimentos e pensamentos de baixa vibração, atrairemos companhias espirituais compatíveis com estas emoções.

A quantidade de espíritos inferiores que nos cerca, é muito grande, principalmente por ocasião dessas festividades públicas, onde os excessos de todos os gêneros são praticados por grande quantidade de pessoas, que passam a propiciar clima mental às influenciações dos delinquentes e viciados do plano espiritual inferior.

Espíritos ligados aos vícios e excessos são atraídos, em grande quantidade para estas celebrações, porque através das práticas de sexualidade desregrada, do uso excessivo e abusivo de drogas e de álcool, poderão satisfazer suas pseudo-necessidades de retomar seus vícios e indignidades do passado, através da influenciação e da consequente vampirização dos encarnados, que docilmente lhes aceitam as sugestões, por sintonizarem ainda, com estas práticas primitivas e bárbaras.

“A grande concentração mental de milhões de pessoas, na fúria carnavalesca, irradiações dos que participavam ativamente, enlouquecidos, e dos que, por qualquer razão, se sentiam impedidos, afetava para pior a imensa área de trevas, ao tempo em que esta influenciava os seus mantenedores...” (1).

Kardec, em O Livro dos Espíritos, questão 713, refere a seguinte resposta dos Espíritos: “O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade, abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus.”(2).

As pessoas que se animam para a festa carnavalesca e fazem preparativos para o que consideram um simples e sadio aproveitamento das alegrias e dos prazeres da vida, não imaginam que, muitas vezes, estão sendo inspiradas por entidades vinculadas às sombras. Tais espíritos buscam vitimas em potencial “para alijá-las do equilíbrio, dando inicio a processos nefandos de obsessões demoradas”. Isso acontece tanto com aqueles que se afinizam com os seres perturbadores, adotando comportamento vicioso, quanto com criaturas cujas atitudes as identificam como pessoas respeitáveis, embora sujeitas às tentações que os prazeres mundanos representam, por também acreditarem que seja lícito enlouquecer uma vez por ano.

“Em face dos desconcertos emocionais que os exageros festivos produzem nas criaturas menos cautelosas, há uma verdadeira infestação espiritual perturbadora da sociedade terrestre, quando legiões de espíritos infelizes, ociosos e perversos, são atraídas e sincronizam com as mentes desarvoradas” (3).

“Passada a onda de embriaguez dos sentidos, os rescaldos da festa se apresentarão nos corpos cansados, nas mentes intoxicadas, nas emoções desgovernadas e os indivíduos despertarão com imensa dificuldade para adaptar-se à vida normal, às convenções éticas, necessitando prosseguir na mesma bacanal até a consumação das energias.”(4).

A Doutrina Espírita, nos conscientizando sobre as necessidades espirituais do ser humano, perfectível, que busca sem cessar a auto-iluminação, e, nos revelando as leis morais da vida, essenciais ao desenvolvimento do ser integral, nos direciona para a transformação moral e a maturidade espiritual necessárias ao progresso planetário.

E, como nosso imperativo maior é a Lei do Progresso, um dia, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seu lugar, então, predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade, dentro de um mundo melhor, pacífico e fraterno.


Referências bibliográficas:
1. Divaldo P. Franco/ Manoel P. Miranda- “Nas Fronteiras da Loucura”, pg. 137.
2. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questões 713 e 714.
3. Divaldo Pereira Franco/ Manoel P. de Miranda: “Entre os dois mundos”, pg. 61.
4. Divaldo Pereira Franco/ Manoel P. de Miranda: “Entre os dois mundos”, capítulo 4.
Fonte: http://semeadoresdeluz.blogspot.com.br/2011/02/visao-espirita-do-carnaval.html

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A água pode mesmo acabar?




Por Ari Rangel

“( )... Na verdade eu vos digo que não é a Natureza a imprevidente, é o homem que não sabe regular-se.”

O Livro dos Espíritos, item 705

Frequentemente deparamo-nos com reportagens “apocalípticas” acerca dos destinos do planeta Terra. Mas a grande verdade em torno desses noticiários é que o planeta realmente está no seu limite. Afirma-se que “os próximos 50 anos serão decisivos para determinar se a espécie humana vai garantir o melhor futuro possível para si ou entrar em colapso”1. Nas próximas décadas, ou nos guiamos em direção à sustentabilidade ambiental ou entramos num colapso total, segundo prognósticos mais recentes.

Entre as muitas preocupações que cercam cientistas, geólogos e ecologistas está o problema cada vez mais crônico da escassez da água doce. O uso irresponsável e inconsequente deste bem natural tem trazido sérias consequências para as raras reservas que existem no planeta. Para melhor visualizarmos a matemática da distribuição da água no planeta Terra, também conhecido como planeta Água, visto que dois terços da superfície terrestre são dominados pelos vastíssimos oceanos, é necessário afirmar que a chamada água doce, necessária à vida, é infinitamente menor que a água salgada, ou seja: 97,5% da água disponível na Terra é salgada e se encontra nos oceanos e mares; 2,493% é doce, porém, ela está nas geleiras, nas regiões subterrâneas, chamadas aquíferas e, portanto, de difícil acesso, e, pasmem, os amigos: 0,007% é encontrada em rios, lagos e na atmosfera, acessível ao consumo humano. Daí depreende-se a preocupação cada vez maior dos ambientalistas que sustentam que, apenas e tão somente através da (re)educação ambiental é que o homem moderno conseguirá preservar o pouco que ainda resta. Durante milhares de anos, a água foi considerada um recurso infinito, porém, o mau uso, juntamente com a crescente demanda, a torna, assim, cada vez mais escassa. Considerada um bem comum a toda humanidade, a água já é, inclusive, importada por alguns países. No Brasil, especificamente, os muitos recursos hídricos existentes, aumentam ainda mais este sentimento de infinitude, o que gera comportamentos nada responsáveis. O fato de se pagar pela água tratada, na cabeça de pessoas não esclarecidas, dão a elas a falsa impressão de que, por pagarem, podem usar à vontade a ponto de desperdiçá-la. Quem já não se pegou ou viu alguém lavando o carro ou a calçada com a mangueira aberta e a água doce e tratada indo embora? Antigamente, isso ainda era mais comum. Justamente pelo fato de o Brasil deter 11,6% da água doce superficial do planeta, nos pede mais responsabilidade ainda perante o consumo, pois, 70% destes 11,6% estão localizados nas região amazônica. Os 30% restantes estão distribuídos desigualmente pelo país para atender às necessidades de cerca de 93% da população brasileira. Pergunta-se: podemos, como cidadãos, espíritas, brasileiros, encarnados, ou que adjetivos preferirmos, pensar que o consumo da água pode ser à vontade, como se pensava antigamente? É óbvio que não!

Sem a menor pretensão de nos arvorarmos em catequistas espíritas, ou “eco-chatos”, como são chamados os ecologistas mais radicais, nunca será demais lembrarmos que a nossa “morada”, estando ameaçada como nunca esteve, merece de todos mais respeito. O homem integral é aquele que interage em harmonia com o meio em que ele vive. Atitudes ambientalmente responsáveis devem estar no ideário de todo espírita sincero, sabedor que o é da responsabilidade que pesa a todos, inclusive a ele, herdeiros que somos do que plantamos sempre. Francisco de Assis e Chico Xavier, só para lembrar, dois espíritos de escol, deram-nos além de seu amor, exemplos ímpares da responsabilidade que todos temos perante a mãe natureza. Por isso mesmo, guardadas as devidíssimas proporções, comecemos por fazer o dever de casa, usando a água com mais responsabilidade.

1. Revista Scientific American Brasil, número 41.

O que causa a escassez de água?

Existem 4 fatores que se relacionam com a atual crise da água.

1. O crescimento populacional: a produção de água tratada não pode acompanhar o crescimento populacional, que tem um crescimento previsto de 50% para os próximos 50 anos.

2. O desperdício: 70% da água é consumida pela agricultura, que deveria estar equipada com técnicas mais modernas e racionalizadas de irrigação.

3. A poluição: o consumo de mil litros de água polui outros 10 mil.

4. O desmatamento, a destruição das florestas e a ocupação desordenada do solo. (Fonte: www.adital.com.br)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Pedagogia para um Futuro de Paz



É provável que uma parte significativa dos conflitos que chegam aos tribunais, ou aos campos de guerra, possa ser solucionada através de acordos, consensos e cedências recíprocas, desde que as pessoas estejam preparadas e disponíveis para o exercício de uma nova pedagogia (não cognitiva) e de uma nova justiça (não punitiva), justamente através de um relacionamento leal, responsavelmente crítico e generosamente tolerante.

Reconhecendo-se a autoinsuficiência para solucionar as situações conflituosas, ou para contribuir para um mundo mais pacífico, tal circunstância não invalida, pelo contrário, estimula para o dever de dar um singelo contributo para a minimização de tão grave problema e, nesse sentido, se aponta e defende uma estratégia assente na educação-formação das pessoas, do berço ao túmulo, isto é, ao longo de toda a vida.

Democratizar a política para uma cidadania universal é uma tarefa que responsabiliza os cidadãos em geral e os políticos em particular. Aceita, institucionalizada e implementada a cidadania universal entre todas as nações congregadas na ONU – Organização das Nações Unidas, acredita-se que no decorrer do presente século seja possível atenuar muitos conflitos, eliminar outros e pacificar um pouco mais o mundo.

Educar e formar os cidadãos, qualquer que seja a idade e estatuto, para desenvolverem hábitos de relações humanas sadias, sinceras, leais, cúmplices e recíprocas é uma tarefa que se impõe lançar nas famílias, nas escolas, nas Igrejas, nas demais instituições, nas associações e empresas, em todas as comunidades e na sociedade global em geral, porque qualquer processo que vise reconciliar pessoas, instituições e nações só poderá concluir-se com êxito se os intervenientes souberem relacionar-se de igual para igual.

Quaisquer que sejam as técnicas para a comunicação e relacionamento interpessoais, elas serão ineficazes se as relações humanas, antes de todas as outras: profissionais, comerciais, políticas, religiosas, entre outras, não assentarem em princípios de transparência, de verdade e de respeito pelo outro.

Impossibilitado de vencer o drama pelos recursos materiais de que dispõe, o homem crente volta-se, esperançadamente, para os valores religiosos, nos quais busca a explicação para as situações que desconhece e o atormentam e também para encontrar as soluções para os conflitos que ele próprio cria, alimenta, mas nem sempre sabe e/ou quer resolver.

O grande conflito, porém, continua entre a vida e a morte, porque nascer, viver e morrer é o percurso natural de todo o ser humano, tal como dos outros seres que habitam o mundo conhecido. O homem crente acredita em certos valores religiosos, muitos creem, esperançadamente, numa nova vida, renascendo depois da morte física.

A educação religiosa é, por tudo isso, uma das dimensões a não ignorar, eventualmente, nem sequer a mais determinante, na construção de pessoas que se pretendam íntegras, que possuam a liberdade de se autodeterminar, com responsabilidade e generosidade, para com os seus semelhantes.

A preocupação por uma educação e formação integrais deve ser uma constante em todos aqueles que, de alguma forma e a um qualquer nível social, têm responsabilidades em preparar um futuro de equidade, de conforto, de paz, amor e felicidade.

O mundo, cada vez mais profanizado, precisa de Deus; os homens não podem viver e não conseguem resolver todos os problemas à margem da Bondade e Sabedoria Divinas, contudo, sem radicalismos, sem fanatismos; a humanidade será reduzida à sua mais brutal animalidade se continuar a rejeitar Deus.

O caminho seguro, que poderá conduzir à pacificação do mundo, tem de passar por Deus, e muitos seres humanos sabem que não há outra alternativa. Excluir Deus do processo de pacificação é prosseguir o caminho para a destruição total da humanidade. Nunca como hoje se sentiu tanto esta necessidade de se recorrer aos Valores Supremos.

O caminho para a pacificação da humanidade deve ser percorrido com competência, seja nas relações interpessoais, profissionais, sociais, religiosas, na celebração dos acordos a que se chegar na implementação das medidas consensualizadas e na avaliação dos resultados dos projetos de pacificação.

Os intervenientes devem estar de espírito aberto, acionar os mecanismos de empatia sincera, serem competentes na realização das tarefas, por mais simples e, aparentemente, menos importantes, que possam parecer, manifestarem-se verdadeira e moderadamente otimistas. Os valores imprescritíveis da Solidariedade, da Lealdade, da Verdade, da Confiabilidade, da Abertura, da Gratidão, da Reciprocidade, que conduzem a uma Amizade pura e inegociável, devem, de ora em diante, ser os caminhos da concórdia e felicidade humanas.

Uma pedagogia mista – cognitiva, otimista, não cognitiva –, assente na Fé, onde a teoria, a prática e a esperança sejam os principais eixos que contribuam para uma formação sólida dos alunos, dos formandos – entendidos nos dois sentidos: ora aprendendo, ora ensinando –, auxiliará na busca de soluções para uma humanidade menos conflituosa.

Se cada indivíduo construir, coerentemente, o seu próprio círculo, ou a sua auréola de bem-estar, de valores, princípios e boas práticas, certamente que os círculos que com ele se interpenetram vão se beneficiar destas características.

A sabedoria e a prudência, alicerçadas na Fé em Deus, são seguramente a chave para muitos conflitos, os quais podem ser resolvidos com aquelas virtudes – sabedoria e prudência –, mantendo a Fé inabalável em Deus e na Sua misericórdia, generosidade e compreensão.


Diamantino L. Rodrigues de Bártolo

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Paris, janeiro de 2015




Loucos ou covardes?

Como classificar pessoas como os autores dos atos terroristas de Paris?

Crentes ou dementes?

É difícil admitir que algum tipo de fé religiosa possa justificar tanta barbárie.

Como entender a alma e a mente de indivíduos assim?

Quando o fanatismo, seja religioso, ideológico ou político, passa a habitar a alma humana, sua mente se fecha para a razão. Renunciar à razão é negar o divino que está em nós. Nada identifica melhor a presença da divindade no interior da alma humana do que o cultivo da razão. Raciocinar é aprender a ler o grande livro da Natureza. Nenhum livro sagrado é mais rico do que o repertório de leis naturais gravadas na consciência imortal do ser humano.

Homens ou feras?

Foram necessários alguns séculos de civilização para que inteligência e ética se encontrassem, dando lugar ao reconhecimento dos direitos fundamentais do homem. Valores como igualdade e liberdade, frutos da fraternidade, fizeram nascer a dignidade. Respeito à vida, à integridade, às ideias, às crenças e sentimentos do outro é o que define o ser humano, distinguindo-nos da fera que já fomos.

Desencanto ou esperança?

Episódios assim geram mais perguntas do que respostas. Mas o tempo age sempre em favor do homem. Ele transmuda ignorância em aprendizado e ódio em amor.



Milton Rubens Medran Moreira, jornalista, escritor, advogado, é presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre (RS).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O Espiritismo e a Cultura Contemporânea



Por Denizard de Souza (DF)

O tema da contemporaneidade ou atualidade cultural representa um grande desafio à compreensão histórica e social de uma época. Afinal, trata-se da tentativa de “decifrar” os caminhos sociais e as tendências culturais de um período histórico, que em boa medida é organizado no seu contexto de espaço e tempo.

Tal empreendimento de estudo, diz respeito à necessidade de compreendermos o “momento histórico” em que vivemos e as diferentes modalidades de organização da vida nos mundos sociais contemporâneos ao nosso.

Neste sentido, o contemporâneo é sempre plural, porquanto as tendências culturais de uma sociedade não se repetem necessariamente noutro contexto, podendo inclusive a pluralidade significar diferentes ritmos históricos, econômicos, sociais, comportamentais e éticos.

Pode parecer estranho, falar de atualidades culturais em termos de tendências plurais, sobretudo nestes tempos de globalização econômica e comunicacional, mas é exatamente dessa forma que vamos debater este assunto neste artigo.

Se a questão da cultura contemporânea é uma preocupação generalizada da humanidade que experimenta o impacto das mudanças econômicas, tecnológicas, políticas e sociais, não pode ser menos relevante para nós espíritas, sobretudo quando consideramos que Allan Kardec, ao organizar o sistema teórico-metodológico do Espiritismo no século XIX, manteve um diálogo cultural intenso com as principais tendências filosóficas e científicas do seu tempo bem como propôs que o Espiritismo “lançasse luz sobre todas as questões da economia social”.

Kardec em “O que é o Espiritismo” e na Revista Espírita analisou inúmeros problemas filosóficos do seu tempo e esclareceu questões práticas, sociais, buscando apresentar a “Solução de alguns problemas com Auxílio da Doutrina Espírita”. (O Que é o Espiritismo, cap.III, Allan Kardec).

As formas de organização do mundo social contemporâneo e as práticas culturais do nosso tempo têm sido definidas de muitas maneiras: pós-modernidade, sociedades-em-rede, sociedade pós-industrial, sociedade da informação e do conhecimento, sociedades de consumo, sendo que, tais denominações foram elaboradas no contexto das mudanças porque passa o mundo em vias de globalização.

É possível identificar no contexto da globalização econômica, o esvaziamento político-social de algumas categorias tipicamente modernas: o “estado-nação”, que enfraquecido, perde em controle econômico e fonte social de identidades coletivas; a crise da ciência moderna, enquanto razão universal, face à diversidade de tradições culturais não-ocidentais; o deslocamento do eixo da economia industrial para o âmbito da “Informação”.

O que se observa é um esforço dos cientistas sociais e historiadores em compreender as consequências políticas, culturais e éticas da formação de uma sociedade mundial.

A cultura contemporânea em sua complexidade é simultaneamente tecnocientífica e mística, global e local, tecnológica e tradicional, democrática e fundamentalista, racional e dogmática. Assim sendo, ela reflete as novas maneiras de “organizar os mundos sociais” os quais estão ideologicamente fragmentados, esteticamente plurais, voltados ao espírito de “seita” em desfavor da “Religião oficial”, economicamente integrados, interligados pelo regime tecnológico da comunicação em redes, com a hegemonia crescente da cultura de consumo e finalmente vivendo a crise de valores da atualidade: a perda das referências nacionais, ideológicas, religiosas, filosóficas, políticas e éticas do nosso tempo.

Nestas rápidas considerações temos algumas características do cenário cultural contemporâneo.

O Espiritismo nasceu com a modernidade, no berço cultural da nova civilização industrial e democrática, na França da segunda metade do século XIX e por consequência disso traz em sua identidade a marca cultural desse contexto, sua síntese e superação.

Graças ao espírito transcendental do pensamento de Kardec, a metodologia original que desenvolveu no estudo dos fenômenos espirituais (Análise Sintética, interface entre racionalidade e transcendência, verificação experimental e diálogo transcendental com os espíritos, análise dos fatos mediúnicos e interpretação complexa dos fenômenos espirituais, em suas múltiplas dimensões), foi possível ao construtor do Espiritismo uma atitude intelectual autônoma face às limitações do materialismo filosófico e científico (Marxismo e Positivismo), ao dogmatismo religioso e a crença tradicionalista na fé cega (Cristandade tradicional).

Em verdade, não fosse a infidelidade de Kardec aos cânones do materialismo científico (filosofia da “ciência positiva”) e da religião tradicional, não seria possível o conhecimento de síntese da realidade que o Espiritismo proporciona. Neste aspecto da integração de linguagens científicas, filosóficas, religiosas, morais e espirituais, Kardec soube está a frente de seu tempo, transcender o contexto cultural da racionalização positivista.

Em outras palavras, o Espiritismo foi elaborado com um modelo de racionalidade aberta, progressiva, que soube integrar, conhecimentos científicos da época e paradigmas futuros. A partir disso, vejamos como é possível examinar o caráter de atualidade, aplicabilidade e contemporaneidade do Espiritismo.

A Doutrina Espírita em sua abrangência é uma visão de complexidade da teia da vida, da espécie humana, da individualidade espiritual e do universo.

Neste sentido, o Espiritismo reúne dimensões de análise de diferentes culturas e períodos históricos da humanidade: da modernidade ocidental aplica a Racionalidade experimental, da Hermenêutica define o objeto de fé do Espiritismo, da Tradição cultural da Grécia Antiga explica a Imortalidade da alma, a Reencarnação, o Autoconhecimento, das Tradições milenares do oriente, converte o “Karma” determinista em Lei dinâmica da evolução, do Iluminismo torna transcendente as leis sociais do progresso, do extraordinário legado do Cristo recebeu a Lei universal do Amor e da herança espiritual da mediunidade A Comprovação e uma Interpretação inovadora destes grandes Fundamentos da Sabedoria Universal.

Pelo visto, o Espiritismo está equipado para lidar com as questões e desafios do mundo contemporâneo.

A Física contemporânea identificou os limites da “ciência moderna” no esgotamento de seu paradigma unidimensional da matéria. A atualidade científica ou tecnológica trabalha na criação de equipamentos visando o aproveitamento e o controle de padrões de energia (“sutis”) da estrutura subatômica da matéria (universo quântico). Trata-se da desconstrução do velho materialismo científico, da superação da concepção newton-cartesiana de mundo.

O Espiritismo na atualidade, através dos avanços da Transcomunicação instrumental (utilização de equipamentos eletrônicos para captar energias de planos espirituais) e por meio da investigação científica dos “Campos bio-magnéticos estruturadores das formas biológicas”, pode ser estudado em interface com a pesquisa da Física contemporânea e da biologia molecular, que há muito fez a integração entre o conceito de “unidades biológicas” e os “sistemas de auto-organização”, orientados por códigos e informações.

Em outro campo da cultura contemporânea, a opinião pública mundial redefiniu a perspectiva puramente econômica da ideia de progresso e luta por um desenvolvimento social sustentável, que integre de forma harmônica todos os componentes do ambiente social e natural nos benefícios do progresso.

O Espiritismo aplica o conceito reencarnacionista de forma ecológica, uma vez que demonstra a unidade das várias personalidades reencarnantes na individualidade espiritual, ou seja, estabelece um sentido de solidariedade entre as gerações, porquanto ao invés de usarmos os recursos do meio ambiente de forma sustentável visando os nossos descendentes, o fazemos visando a comunidade espiritual da qual participamos e que retorna para “herdar” no tempo e no espaço, os recursos do meio ambiente, “esgotados” ou “sustentados” conforme o uso.

O mundo contemporâneo assistiu estupefato os últimos ataques terroristas no WTC, indivíduos de tal modo “integrados na consciência coletiva” (“fanático-religiosa” de seu grupo), matam-se e assassinam milhares de pessoas “em nome de valores fundamentalistas”. Por outro lado, a aliança da OTAN, “capitalista-democrática”, emprega a retaliação em forma de bombardeio aéreo, provocando destruição e morte.

O Espiritismo desde o seu nascedouro assumiu uma visão hermenêutico-libertária da experiência da fé. Nas palavras do sábio francês, Allan Kardec, “O Espiritismo dirige-se àqueles que não creem ou duvidam, e não aos que têm fé e aos quais essa fé é suficiente; não diz a quem quer que seja que renuncie às suas crenças para seguir as nossas, e nisto é consequente com os princípios de tolerância e de liberdade de consciência que professa”. (Revista Espírita, 1863, pág.367, Allan Kardec).

Como se vê, na posição adotada pelo codificador do Espiritismo há mais de 138 anos atrás, a Doutrina Espírita não tem pretensões conversionistas nem salvíficas muito menos assume uma perspectiva etnocêntrica. Ou seja, a visão espírita reconhece o significado da fé para àqueles que a professam e vivenciam, valorizando portanto a liberdade de consciência, a tolerância e a pluralidade das crenças, como algo saudável e desejável.

O Espiritismo oferece elementos de mudança do comportamento face à “cultura de consumo” da atualidade. Tal tipo de cultura é organizada como “vitrine social”, na qual os signos (“marcas de consumo”) simulam “qualidades estéticas, traços de personalidade, estilo de vida e valores morais”, que não apenas reproduzem o ciclo da economia capitalista como também constituem mundos sociais de aparência, sem valores éticos de profundidade.

No dizer de Kardec “a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura”. (Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec, 1994:06) Neste caso, o Espiritismo ao descrever, demonstrar, explicar e esclarecer, por meio da mediunidade, a vida futura, suas nuanças, a relação com a vida presente, o estado do ser humano espiritual, vivendo e agindo após a morte física; torna-se este conhecimento, convertido em prática social, um poderoso agente de transformação dos valores, crenças, estilos de vida, hábitos e comportamentos sociais.

Pelo que vimos, o Espiritismo em sua abrangência de abordagem das questões contemporâneas, sócio-espirituais, não dissocia o plano material do espiritual. Ao contrário, os estuda como sendo níveis ou aspectos de uma mesma realidade, contínua, interdependente, histórico-sócio-espiritual, evolutiva e mantida em processo de integração e desenvolvimento pelas Leis que regem a vida universal.



Bibliografia

ANDRADE, Hernani Guimarães. Psi Quântico, Uma Extensão dos Conceitos Quânticos e Atômicos à Ideia do Espírito, São Paulo, Ed. Pensamento, 1986.

CANCLINI, Néstor Garcia. Consumidores e Cidadãos, Conflitos multiculturais da globalização, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, Quarta edição, 1999.

DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo, São Paulo, Ed. Pensamento, 1995.

FEATHERSTON, Mike. Cultura de Consumo e Pós-modernismo, São Paulo, Ed. Studio Nobel, 1995.

FRANCO, Divaldo P. No Rumo da Felicidade, São Paulo, Departamento Editorial do Centro Espírita Dr. Bezerra de Menezes, 2001.

HEISENBERG, Werner. Física e Filosofia, Brasília, Editora UnB, 1995.

KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo, Rio de Janeiro, Ed. Feb, 1994.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro, Ed. Feb, 1994.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro, São Paulo, Cortez Editora/UNESCO, 2000.

WILBER, Ken. A Consciência Sem Fronteiras, Pontos de Vista do Oriente e do Ocidente sobre o Crescimento Pessoal, São Paulo, Ed. Cultrix, 1979.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Especial do Mês



Prezados leitores,

É com imensa alegria que estamos retornando hoje com as nossas postagens após o primeiro período de férias do nosso blog. Para darmos início aos nossos especiais do mês, trazemos o tema “O Espiritismo e a Contemporaneidade”, com artigos e vídeos com enfoques espíritas para assuntos relevantes da nossa atualidade.

A todos vocês o meu muito obrigado pela estimada presença no Manancial de Luz.

Muita Paz e que Deus os abençoem!

Um grande abraço fraterno!

Carlos Pereira - Manancial de Luz
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