segunda-feira, 23 de março de 2015

O Céu e o Inferno: Um Relato de Pesquisa e Visão da Vida Vitoriosa



Por: Almir Del Prette e Eugênia Pickina

Maltratar as oportunidades é tão só um claro indício de imaturidade.

Pensemos juntos: o Espiritismo tem um caráter educativo. Não apenas porque seu fundador, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804–1869), depois Allan Kardec, tenha sido um respeitável educador francês, seguidor de Pestalozzi, mas porque o núcleo da filosofia espírita diz respeito a uma proposta de educação do Espírito.

Por esclarecer a ilógica do drama da queda e do pecado, o Espiritismo, respaldado no uso da razão, discorda da jornada humana como uma história de salvação, pois na realidade tudo corre conforme previsto pelo Criador, à medida que a humanidade continua a vivenciar (neste planeta) um processo educativo destinado à perfeição. Neste sentido, o Criador não poderia ter cometido um erro de planejamento grosseiro, não prevendo que as primeiras criaturas iriam, por uma curiosidade natural, desobedecê-Lo. O erro inicial da proibição absurda levaria ao erro final da salvação de poucos, especialmente pela prática da adulação?

Ademais, se lemos o Espiritismo com olhos reflexivos, nele reconhecemos com transparência o parâmetro da liberdade, pois fomos lançados livres no universo e Deus, entendido como Pai, por isso nos permite até mesmo vivenciar estações existenciais sombrias para aprendermos, por conta própria, o valor do bem e das virtudes. Ou seja, em palavras simples, o erro participa naturalmente do existir humano.

O principal ganho desta “autoeducação”, e continuada através de existências sucessivas, está implicado com o experimentar no campo íntimo que o pequeno “eu” por esforço próprio está a vencer o egoísmo, impregnando seu existir com o altruísmo, a principal qualidade a guiar sua prática futura aqui e em outras dimensões da Vida.

Se a caminhada é solidária, a transformação pessoal é uma experiência solitária, vivenciada no âmago de si mesmo. Um olhar para dentro de si, que começa nas sombras dos equívocos das distorções daquele que teme o encontro consigo mesmo até a descoberta que esse é o caminho para o autoconhecimento, a verdade e a libertação.

Ora. É um engodo, portanto, e mesmo para pretender apaziguar temas religiosos discordantes, querer conciliar um Deus de Amor – que zela pela liberdade de seus filhos e filhas – com dogmas que entendam a existência humana presa à tragicidade do pecado, submetendo em consequência o indivíduo ao ambiente das penas do inferno ou de um local aonde ele vá, depois da morte, purgar suas culpas e maldades. Não seria este um Deus do horror e do pavor?

Este ano o livro O Céu e o Inferno comemora 150 anos. Nesta obra Kardec aborda, entre inúmeros temas, céu, purgatório e inferno, afastando, com o uso da razão, a existência das penas eternas ou de um local “fixo” para o ser humano, após a morte, purgar as suas culpas, não aludindo, portanto, ao cenário dantesco.

Não. Kardec, esclarecido, tanto assegura a inexistência das penas eternas, como, apoiado na falange do Espírito de Verdade, substitui os conceitos pagãos e católicos, equivocados, pela ideia de evolução contínua pela reencarnação.

Graças, então, à prática realizada através das existências sucessivas, é sabido que o ser humano adentra de novo a “estação corpórea”, para pôr em prática seu processo autoeducativo e, ao mesmo tempo, se for necessário, purgar seus erros infelizes do passado.

Contudo, todo ser humano, sem exceção, sempre é genuinamente assistido pela Misericórdia, inspirado pelas boas presenças que assistem à sua passagem na Terra, local no qual lhe é dada a oportunidade de bem viver e desenvolver-se rumo à beleza e ao bem que estruturam os grandes Espíritos, tal como Jesus, o autêntico modelo de quem se percebe espírita e cristão.

O livro O Céu e o Inferno abre, sem ressalvas e por isso sem receio, as janelas do misterioso “transe da morte”. E longe de encontrar uma nova caixa de pandora o homem se depara com uma realidade muito mais simples e suportável do que aquela da visão condicionada pelas religiões necrófilas. A vida prossegue vitoriosa após a passagem.

É certo que o “morrer” como o “nascer” têm normas da vida comuns a todos os Espíritos, entretanto, a passagem de um lado para o outro pode ser mais ou menos “sofrida” na dependência da condição espiritual daquele que vem ou vai para a erraticidade. Quando o processo atingiu seu limite, ao contrário do que pensam alguns, o não nascer e o não morrer é que seriam traumáticos. Portanto, morrer, segundo pode ser inferido da leitura de Allan Kardec, tem uma semelhança com o nascer. Trata-se de um processo de passagem de um lado para o outro para experiências evolutivas que em alguns aspectos se aproximam e, em outros, se distanciam.

O livro O Céu e o Inferno é, também, um relato de pesquisa, que na atualidade receberia a denominação de “analítica descritiva”. Trata-se, sem dúvida, de um material muito rico que merece, por parte dos estudiosos, seguidas leituras.

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