quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Aura Celeste - Vida e Obra (Parte 3)


Por volta de 1920, com a família já formada, volta Aura a exercer suas atividades, percorrendo as cidades com suas conferências, com seu trabalho mediúnico e principalmente com os passes curativos e receituários, sendo nessa fase assistida pelo Dr. Joaquim Murtinho.

Foi ele médico homeopata e responsável por muitas fórmulas, que beneficiaram grande número de pessoas, que se deram muito bem com essas doses homeopáticas, por não trazerem nenhum efeito colateral. E através dessa notável médium, Dr. Joaquim Murtinho voltou a receitar e a curar enfermos necessitados que eram atendidos gratuitamente em sua casa ou durante as reuniões no “Círculo Espírita Cáritas”, dirigido por Inácio Bittencourt.

Aura Celeste confiava a esse não menos batalhador e médium Bittencourt, da imensa saudade que sentia de seu orientador, Dr. Bezerra de Menezes. Bittencourt, com sua ternura de pai, dizia-lhe que esse mentor espiritual estaria sempre a auxiliá-la. Jamais ele deixaria de estar presente àqueles que se oferecem a trabalhar na Seara de Jesus.

Entre as diversas mediunidades exercidas por Aura ainda havia a faculdade da bilocação, isto é, quando o médium deixa o corpo e vai prestar socorro onde a necessidade se apresente. Mediunidade essa exercida por Eurípedes de Barsanulfo, Cairbar Schutel, Francisco Cândido Xavier, Francisco de Assis e outros veneráveis benfeitores.

Certa ocasião estava Aura Celeste em Juiz de Fora, numa conferência, quando ausentou-se, em seu desdobramento fluídico, aparecendo em espírito num hospital, atendendo a enfermos, que em pensamento pediam socorro a ela. Muitos a viam aplicando-lhes passes, aliviando suas dores. O mesmo aconteceu em Corumbá.

Esses fatos foram provados e constatados pelos próprios enfermos, a quem ela visitava quando no local. Isso porque Aura Celeste, antes de qualquer atividade que fosse convidada a desenvolver, procurava os hospitais e sanatórios que houvessem nos locais, onde visitando aos doentes aplicava-lhes passes regeneradores, oferecendo também preces aos espíritos desencarnados que envolviam os doentes encarnados. Por esse motivo era ela muito requisitada em suas viagens doutrinárias. Viagens essas realizadas às suas próprias custas.

Nesse período, com todas as viagens e seu grande trabalho como médium receitista, psicógrafa, psicofônica e orientadora, atendia a todos que a procuravam e ainda achava tempo para escrever.

Dentre as obras deixadas durante a sua reencarnação, destacam-se as poesias: “Vozes d'Alma”, “Sentimentais”, “Aspectos da Alma”, “Palavras Espíritas” (feitos em contos e de suas palestras compiladas em obras), “Rumo à Verdade” e “Luz do Alto”.

Escreveu para muitas revistas, jornais e páginas avulsas distribuídas ao público. Aura Celeste dizia que esse era o melhor processo, para aqueles que não tinham recursos para adquirir um livro.

Organizando-se para poder prestar assistência às crianças órfãs, Aura Celeste ainda encontrou tempo para poder levar a esses coraçõezinhos relegados ao abandono, o seu valor maternal. Procurou reunir as crianças que andavam pelas ruas, conseguindo escola e comida.

Conseguira por empréstimo um galpão abandonado e ali, essas crianças foram alojadas. Com a ajuda do próprio Bittencourt e outros companheiros do “Cáritas”, arranjou os móveis necessários, como camas, colchões, mesas, cadernos, lápis, enfim tudo com o tempo foi aparecendo e um abrigo surgiu por meio dessa valorosa mulher, para que esses pequeninos todos fossem adotados por ela. Mas com o tempo, esse abrigo começou a ter problemas.



Um dos participantes do grupo “Cáritas”, sabendo dos esforços de Aura Celeste para manter essas crianças, começou a angariar recursos para que pudessem trabalhar num local melhor e mais arejado. Ele próprio foi até a médium e esboçou seu projeto, pois gostaria também de fazer parte dessa tarefa. Aura Celeste ficou muito feliz e reuniu-se a ele para buscarem mais donativos.

Aura Celeste cuidou dos pequenos enquanto viveu como se fossem seus filhos. Procurou, além de alimentá-los materialmente, dar-lhes o alimento do espírito.

Essas crianças amaram Aura Celeste a ponto de nunca terem perguntado por suas verdadeiras mães. Mesmo com todo esse trabalho de acompanhar passo-a-passo o desenvolvimento dessa imensa família que adotara, ela continuou suas tarefas como médium, sem desrespeitar as funções que exercia nos lugares em que se responsabilizara pelos trabalhos assumidos.

No Rio de Janeiro e arredores sua presença era aplaudida por onde comparecesse. Todos a solicitavam e faziam questão de ouvi-la, declamando seus poemas que transmitiam consolo e falavam aos corações sofridos.

Aura Celeste exercia grande influência entre os jovens.

Continuou sua vida sempre pautada de lealdade para com os princípios que adotara da Doutrina Espírita.

Seu contato com os Espíritos Superiores eram frequentes. Recebia orientação direta do Dr. Bezerra de Menezes e do Dr. Joaquim Murtinho com relação ao receituário homeopático, que lhe deu muita projeção na FEB.

Os anos se passaram lépidos para essa lutadora até o dia 24 de outubro de 1944, quando veio a desencarnar, sendo assistida pelos médicos que sempre lhe deram guarida, Dr. Bezerra e Dr. Murtinho, que a ajudaram a se desprender dos laços terrenos. Aura Celeste deixou muita saudade entre todos que com ela conviveram. Sua partida foi muito reverenciada entre os espíritas e fora do espiritismo por ser dócil e abnegada, que consolava e sabia ajudar desde os mais necessitados até os mais “famintos de amor”, que com sua extremada compreensão levava-os até Jesus.

Entre as muitas homenagens que lhe foram dedicadas nos periódicos espíritas ou jornais das cidades, o conhecido jornalista da época e famoso literato Leal de Souza deixou no final de sua mensagem de adeus a ela:

“Parte para o 'Mundo Maior', aquela que foi considerada a grande Musa moderna, a Musa espiritual, poetisa de valor, que deixa a sua vida terrena repleta de exemplos, como esposa, mãe e defensora da estrada reta de luz, sob a providência do Cristo.”

O Asylo Espírita João Evangelista, no Rio de Janeiro, em sua sede própria, continua amparando e levando aos corações ali atendidos, o carinho que sua fundadora ensinou.

A ela toda homenagem e reconhecimento, pois através do médium Francisco Cândido Xavier, foram muitas poesias deixadas para que o seu coração continuasse a falar na Terra.



Texto parcial e imagem extraídos do artigo Adelaide Augusta Câmara, Aura Celeste publicado na revista espírita mensal “Seareiro”, edição de maio de 2008.

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