sábado, 10 de agosto de 2013

O Materialismo e as Bases do Edifício Social


Sem causas no ontem e sem consequências para o amanhã, como enxergar justiça no materialismo?

Quanto mais predomina o materialismo em uma sociedade, mais ela se apresentará como descumpridora dos deveres sociais que têm por base os três princípios: fraternidade, igualdade e liberdade.

Estes princípios, quando integralmente aplicados, dão sustentabilidade à ordem social e ao progresso da humanidade.

Faremos uma avaliação seguindo a ordem de importância para a realização da felicidade social através destes três conceitos: fraternidade, igualdade e liberdade.

A fraternidade é a síntese dos deveres dos homens uns para com os outros; é a concretização do ensinamento de Jesus: “proceder para com os outros como queríamos que os outros procedessem para conosco”.

Em uma sociedade onde se viva fraternalmente não haverá privilégios, todos se tratarão como irmãos. O lema característico do egoísmo, “cada qual por si”, cederá lugar ao “todos por todos”, e o dever do forte será proteger o fraco, jamais explorá-lo.

A igualdade é consequência da fraternidade e tem como maior inimigo o orgulho, responsável pela atitude pretensiosa de merecer privilégios e exceções. O orgulho poderá até suportar a igualdade social, mas, na primeira oportunidade a destruirá. É realmente uma das chagas da sociedade e oporá obstáculo à verdadeira igualdade.

A liberdade é filha da fraternidade e da igualdade. Em uma sociedade onde os homens vivem como irmãos, são valorizadas a cidadania e a igualdade de direitos, indispensáveis à justiça social, não causarão dano uns aos outros e a liberdade jamais se transformará em anarquia, pois, ninguém abusará dela em prejuízo dos seus semelhantes.

Disse Allan Kardec que estes três princípios são solidários entre si e se prestam mútuo apoio; sem a reunião deles o edifício social não estaria completo. A fraternidade não pode ser praticada em toda a sua pureza, com exclusão dos outros dois, pois, sem a igualdade e a liberdade, não há verdadeira fraternidade. A liberdade sem a fraternidade é rédea solta a todas as más paixões, que desde então ficam sem freio; com a fraternidade o homem nem um mau uso faz da sua liberdade: é a ordem; sem a fraternidade, usa da liberdade para dar curso a todas as suas torpezas: é a anarquia, a licença. Por isso é que as nações mais livres se veem obrigadas a criar restrições à liberdade. A igualdade sem a fraternidade conduz aos mesmos resultados, visto que a igualdade reclama a liberdade; sob o pretexto de igualdade, o pequeno rebaixa o grande, para lhe tomar o lugar, e se torna tirano por sua vez; tudo se reduz a um deslocamento de despotismo.

Conhecida a imensa importância da observância destes princípios em uma sociedade, a que conclusão chegaríamos se fosse essa sociedade regida pelo materialismo?

Antes de qualquer resposta precisamos tecer breve comentário a respeito da doutrina materialista. Ela é uma doutrina filosófica que surgiu na Grécia, no século VI a.C., através de alguns filósofos que refutavam as argumentações religiosas; aderiram à ideia de que o conhecimento resulta da observação da natureza, seguida do raciocínio de que a única substância que existe é a matéria; tudo tem sua origem nela. Afirma também que tudo o que acontece na natureza tem uma causa simples e única – o acaso. A inteligência é resultado de complexas operações cerebrais e o homem nada era antes e nada será depois da vida corporal.

Nesta linha de pensamento do materialismo, percebe-se que inexiste o ontem e o amanhã, e que tudo tem origem na matéria como resultado do acaso; busca apenas soluções imediatas para os complexos problemas que exigem tempo e paciência. Não vê lógica em sacrificar o repouso ou o bem-estar por causa dos outros.

Nesse modelo de sociedade, onde não há o mínimo de disposição entre seus componentes ao sacrifício de uns pelos outros, a prática da fraternidade torna-se impossível. E esta impossibilidade também torna impossível os outros dois princípios: igualdade e liberdade.

Ora, como estes três princípios constituem a base do edifício social, sem eles teremos uma sociedade frágil, onde predominarão a injustiça, o despotismo e anarquia.

Dessa forma conclui-se que o materialismo, por desvalorizar estes princípios, estimula a injustiça e a desordem social, pondo em risco a sustentabilidade da sociedade.


– KARDEC, A. Obras Póstumas. FEB, 17ª. ed., pag. 233-237.


F. Altamir da Cunha, Jornal O Clarim Julho 2013

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