quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A Casa Espírita e o Livro


Não é possível imaginar a difusão do Espiritismo no planeta sem o emprego do livro.

O livro é uma das mais revolucionárias invenções do homem. As bibliotecas da Antiguidade Oriental estavam repletas de textos gravados em tabuinhas de barro cozido com as impressões cuneiformes inventadas pelos sumérios, habitantes da Mesopotâmia, no século IV a. C. Eram os primeiros livros.

Depois, o pergaminho e o papiro substituíram os tijolos de barro. Com a invenção do papel, aproximadamente um século antes de Cristo, pelo chinês Cai Lun e, depois, da imprensa, por Johannes Gutenberg, por volta de 1439, os livros passaram a ser impressos mecanicamente, em grande quantidade, tornando possível transmitir fatos, registrar acontecimentos, descobertas, tratados, códigos ou apenas entretenimento.

Atualmente, o livro é considerado um material de consumo, uma mercadoria cultural, instrumento indispensável na difusão de ideias e transmissão de conceitos, entre outras funções que ele desempenha. Não podemos imaginar a difusão do Cristianismo sem os Evangelhos e, muito menos, a implantação do Espiritismo na Terra sem O Livro dos Espíritos e as demais obras literárias dele consequentes. Temos hoje livros de conteúdo vários, tais como os livros: jurídico, filosófico, científico, técnico, de autoajuda e assim por diante. Todos eles são úteis a cada um de nós, segundo os interesses que nos movem, mas é oportuno lembrar o que nos ensina o Espírito Emmanuel:

“Cada livro edificante é porta libertadora.

“O livro espírita, entretanto, emancipa a alma, nos fundamentos da vida.”

E a Casa espírita, o que é e que importância tem para nós?

Na visão dos luminares do plano invisível, ela é uma casa de oração, educandário e hospital. No entendimento dos órgãos orientadores do Movimento Espírita, a Casa espírita é a célula máter para prática e divulgação da Mensagem Consoladora.

Na função de educandário da alma, ensina as diretrizes da vida feliz, acenando com os triunfos e a proposta de autoelevação, norteando-se por um programa de educação, cujo conteúdo são as verdades do Evangelho do Mestre Jesus, clarificadas pela luz do Espiritismo.

Como hospital, recebe enfermos de toda procedência, sem lhe inquirir a doença nem exigir apresentação de carteira de saúde com os antecedentes da moléstia.

Na condição de templo, escuta os soluços da inquietude e atende o pranto das ansiedades, nascidos nos recessos da alma. Para tanto, desenvolve atividades que têm no seu bojo o propósito de ouvir, esclarecer, consolar e amparar a todos que a procuram, atuando com metodologia própria e objetivos definidos, sempre se valendo do livro espírita, estando à frente: O Livro dos Espíritos, O Evangelho segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns.

Qualquer que seja a atividade dentro da instituição espírita, o livro surge como instrumento essencial à sua implementação. A palestra pública, a evangelização infanto-juvenil, as reuniões mediúnicas, o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, o atendimento fraterno, a fluidoterapia, a divulgação e outras atividades, não prescindem do apoio do livro espírita para fundamentar suas ações. Sem dúvida, livros de conteúdo distinto estarão presentes, contribuindo na metodologia da evangelização; no aprimoramento da palavra para servir no aconselhamento e na divulgação; na organização ambiental e administrativa da instituição etc.

Não se pode negar: o bom livro é imprescindível em nossas vidas!

Logo, uma Casa espírita sem o livro espírita e seu perseverante e meticuloso estudo, não estará edificada na rocha, mas sim, na areia. Não suportará a chuva das dificuldades impostas pelas relações humanas mal trabalhadas, nem as torrentes da incompreensão dos que ainda não entenderam o objetivo da doutrina Espírita, sejam eles encarnados ou desencarnados, e, muito menos se manterá firme à frente dos ventos que sopram ideias modernistas que tentam descaracterizar o âmago do Espiritismo, com meias verdades. A rocha é Jesus, é Kardec!
E como a Casa espírita pode valorizar o livro espírita e fazer dele o seu arrimo em suas atividades?

1. Na palestra pública: Orientar o palestrante para que informe aos ouvintes as principais obras espíritas que lhe serviram de base para o seu desempenho. Melhor resultado se obterá se elas forem divulgadas junto com o anúncio das palestras, em quadro específico.

2. No estudo sistematizado da doutrina espírita – ESDE: Colocar à disposição os livros básicos do Espiritismo para consulta dos participantes, levando em conta que muitos deles não têm condição de adquiri-los para organizar sua biblioteca particular.

3. No atendimento fraterno: Praticar a biblioterapia1, indicando aos que comparecem ao diálogo a leitura de livros como coadjuvantes na busca de si mesmo, do autoconhecimento, favorecendo a reforma íntima: o livro espírita encoraja, esclarece, revela e conduz o homem a Deus, em qualquer situação, e não tem contraindicação. Na falta de um conceito espírita para este método de tratamento, valemo-nos do ensinamento do Espírito Philomeno de Miranda:

“[...] é através da leitura evangélica que o Espírito se irriga de esperança e se renova, abrindo verdadeiras clareiras e brechas na psicosfera densa que elabora e de que se nutre, a fim de que penetrem outras energias benéficas que o predisporão para o bem, de intervalo a intervalo, até que logrem modificar a paisagem interior, animando-se a investimentos maiores.”2

A biblioterapia, cujos resultados são bastante profícuos, há que ser adotada com alguns critérios para não invalidar os resultados esperados. São eles:

a) Adequar a indicação do livro ao grau de perturbação do paciente, ouvindo as considerações deste. Sabemos que há irmãos vitimados pela obsessão que confessam não encontrar disposição para ler, sendo vencidos por incoercível sono.

b) Esclarecer o paciente o porquê da possível dificuldade que terá para fazer a leitura indicada. Uma solução é pedir que alguém faça a leitura para ele ouvir.

c) Orientar o paciente quanto ao modo de fazer a leitura indicada para o melhor aproveitamento. Que leia pequenos trechos e, em seguida, reflita sobre o que leu, interrogando se aquele conteúdo tem relação com ele e com suas dificuldades.

d) Sublinhar a importância da participação efetiva do paciente no seu tratamento.

1. Na evangelização. Durante as reuniões com o grupo de pais, não somente enfatizar a missão deles e pedir-lhes apoio para a evangelização de seus filhos, mas, também, divulgar e incentivar a leitura de livros que lhes despertem a responsabilidade da reeducação dos seus filhos ou fortaleçam-lhes o ânimo e o entendimento nesse ministério. Quanto possível, levar em consideração o nível socioeconômico dos pais, e fazer a doação daqueles livros.

2. Na livraria. Colocar à venda livros que já foram consagrados como sendo verdadeiramente espíritas. Para tanto, leva-se em conta o autor espiritual e o médium, quando se tratar de obra mediúnica. De autores novos, o conteúdo deverá estar alinhado com a Codificação. O mesmo serve para os títulos escritos por autores encarnados. Se a Casa exige que suas atividades sejam embasadas nas obras genuinamente espíritas, por que não ser coerente com a venda de livros? Dois pesos, duas medidas?

3. Na biblioteca, adotar os mesmos critérios da livraria.

Na esperança de que o livro espírita seja soberbamente valorizado e divulgado, encerramos com a rogativa de Emmanuel, muito conhecida de todos nós, no que se refere ao estudo do Espiritismo na Casa espírita, para que ela faça parte da constelação da Doutrina Consoladora:

Sentir Kardec; Estudar Kardec;
Anotar Kardec; Meditar Kardec;
Comentar Kardec; Interpretar Kardec;
Cultivar Kardec; Ensinar Kardec e
Divulgar Kardec...


Waldehir Bezerra de Almeida

Referencias:

1. O dicionário Houaiss diz: “biblioterapia é o emprego de livros e de sua leitura no tratamento de distúrbios nervosos”. Porém este conceito é ampliado e diversificado pelos estudiosos do assunto sendo, no entanto, unânimes em assegurar que a leitura auxilia o doente a verificar que há mais de uma solução para o seu problema; que é um método subsidiário no tratamento de transtornos psíquicos; que a leitura leva a uma introspecção, favorecendo a diminuição do conflito pelo aumento da autoestima, e que encoraja o leitor a encarar sua situação de forma realista, conduzindo-o a uma ação renovadora, ajudando-o a libertar-se dos medos, dos pensamentos obsessivos e de emoções inferiores.

2. Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda.


Fonte: Revista Internacional de Espiritismo, Ed. Agosto de 2013

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