A meditação não é uma experiência nem uma lembrança erguida em torno de um dado prazer futuro. Aquele que experimenta move-se sempre dentro dos limites das suas próprias projecções de tempo e pensamento. Uma vez inserida nos limites do pensamento, a liberdade não passará de uma ideia e uma fórmula; o pensador jamais poderá alcançar o movimento da meditação.
A meditação diz sempre respeito ao presente enquanto que o pensamento pertence sempre ao passado. Toda a consciência é pensamento, porém, o estado de meditação não ocorre dentro das suas fronteiras. A meditação consciente é somente o acto de redefinir ainda mais esses limites destruindo assim toda a liberdade. Mas somente em liberdade poderá haver meditação.
Se não meditardes sereis sempre um escravo do tempo, cuja sombra é a dor. O tempo é sofrimento. A meditação não é via para experiências únicas nem excepcionais. Essas experiências conduzem ao isolamento e aos processos auto-encarceradores da memória, e estão sujeitos ao tempo- o que constitui a negação da liberdade.
O vale mais parecia uma carpete de flores e os declives achavam-se repletos de uma abundância multicolorida delas, tão abundantes quanto a vastidão da terra com todas as suas cidades, verdes prados, pastos, bosques e cidades. Lá estavam tão ricas e belas quanto o próprio vale; todavia, tanto a abundância da natureza como o homem estão destinados a morrer e a surgir de novo. A abundância da meditação não é reunida pelo pensamento nem pelo prazer que o pensamento gera mas acha-se para além da flor e da nuvem.
A partir disso a abundância torna-se tão imensurável quanto a flor e a beleza. Contudo jamais se encontram neste lado da sua manifestação.
Sem amor não pode existir silêncio.
Para o poderdes compreender, permanecei imóveis.
A mente meditativa é aquela que se encontra em silêncio. Não se trata do silêncio que a mente pode conceber, nem o silêncio de um entardecer calmo, mas o silêncio que sobrevem quando o pensamento, com todas as suas imagens palavras e percepções cessa completamente. Essa mente meditativa é a mente religiosa- a mente da religião que não é tocada pela Igreja, pelos templos nem pelos cantos. A mente religiosa é a explosão do amor; esse amor não comporta qualquer separação. Para essa mente, longe é perto. Não é “um” nem “muitos” mas sim esse estado de amor em que toda a divisão cessa. Da mesma forma que a beleza, não cabe na avaliação das palavras. Só a partir deste silêncio è que a mente meditativa pode actuar.
Meditar é tornar-se vulnerável. Essa vulnerabilidade não tem passado nem futuro- ontem ou amanhã. Somente o que é novo pode ser vulnerável.
A meditação é uma das maiores artes na vida, talvez mesmo a maior, mas provavelmente não pode ser ensinada. Nisso reside toda a sua beleza. Não possui técnica alguma nem autoridade sequer. Quando nos observamos e por meio dessa observação aprendemos acerca de nós próprios- sobre o modo como caminhamos, comemos, aquilo que dizemos, toda a bisbilhotice, ódio ciúme- se de tudo isso ficarmos cientes, sem escolha, tal processo fará parte da meditação. Assim, a meditação pode ocorrer quando nos sentamos no autocarro ou caminhamos pelos bosques, com sua luz e sombras, ou então quando escutamos o canto dos pássaros e olhamos para o rosto da nossa esposa ou filho.
É curioso como a meditação se torna de todo importante. O seu processo não conhece começo nem fim.
Assemelha-se a uma gota de chuva, que conglomera todas as correntes de água, os vastos rios, as quedas de água e os oceanos. Essa gota de água alimenta a terra e o homem; sem isso a terra tornar-se-ia um deserto. Sem a meditação o coração torna-se um deserto, um terreno baldio.
Meditação é descobrir se o cérebro, com todas as suas actividades e experiências, pode ficar em absoluto silêncio.
Não de modo forçado, porque no momento em que o forçarmos deverá passar a existir dualidade. A entidade que diz: "para poder fazer experiências espantosas tenho que observar a tranquilidade"; tal entidade jamais o conseguirá. Mas se começarmos a pesquisar, a observar e a escutar todos os movimentos do pensamento, com as suas condicionantes, as suas buscas, os seus medos, o seu prazer e observarmos o modo como o cérebro opera, perceberemos de que modo o cérebro se torna absolutamente silencioso. Esse silêncio não é um sono mas uma coisa tremendamente activa e imóvel. É um enorme dínamo que trabalha na perfeição, dificilmente produzindo ruído. O ruído só existe quando há fricção.
Silêncio e imensidão andam juntos. A vastidão do silêncio é a imensidão da mente em que não existe um centro.
Meditação é trabalho árduo e exige a mais elevada forma de disciplina – e não conformação imitação ou obediência - a disciplina que sobrevem por meio da atenção constante, não só das coisas relativas a nós externamente como também interiormente. Assim, a meditação não é uma actividade de isolamento mas a acção da vida diária, uma acção que exige cooperação, sensibilidade e inteligência. Sem estabelecermos as fundações de uma vida correcta, a meditação torna-se uma fuga e, portanto, não tem valor nenhum. Um viver correcto não significa seguir a moral social, mas liberdade com relação à inveja, à cobiça e à busca de poder - tudo o que gera inimizade.
A liberdade disso não sobrevem pela actividade da vontade mas pela atenção para com isso, por meio do auto-conhecimento.
Krishnamurti
Do livro A Arte da Meditação, de Krishnamuti
A meditação diz sempre respeito ao presente enquanto que o pensamento pertence sempre ao passado. Toda a consciência é pensamento, porém, o estado de meditação não ocorre dentro das suas fronteiras. A meditação consciente é somente o acto de redefinir ainda mais esses limites destruindo assim toda a liberdade. Mas somente em liberdade poderá haver meditação.
Se não meditardes sereis sempre um escravo do tempo, cuja sombra é a dor. O tempo é sofrimento. A meditação não é via para experiências únicas nem excepcionais. Essas experiências conduzem ao isolamento e aos processos auto-encarceradores da memória, e estão sujeitos ao tempo- o que constitui a negação da liberdade.
O vale mais parecia uma carpete de flores e os declives achavam-se repletos de uma abundância multicolorida delas, tão abundantes quanto a vastidão da terra com todas as suas cidades, verdes prados, pastos, bosques e cidades. Lá estavam tão ricas e belas quanto o próprio vale; todavia, tanto a abundância da natureza como o homem estão destinados a morrer e a surgir de novo. A abundância da meditação não é reunida pelo pensamento nem pelo prazer que o pensamento gera mas acha-se para além da flor e da nuvem.
A partir disso a abundância torna-se tão imensurável quanto a flor e a beleza. Contudo jamais se encontram neste lado da sua manifestação.
Sem amor não pode existir silêncio.
Para o poderdes compreender, permanecei imóveis.
A mente meditativa é aquela que se encontra em silêncio. Não se trata do silêncio que a mente pode conceber, nem o silêncio de um entardecer calmo, mas o silêncio que sobrevem quando o pensamento, com todas as suas imagens palavras e percepções cessa completamente. Essa mente meditativa é a mente religiosa- a mente da religião que não é tocada pela Igreja, pelos templos nem pelos cantos. A mente religiosa é a explosão do amor; esse amor não comporta qualquer separação. Para essa mente, longe é perto. Não é “um” nem “muitos” mas sim esse estado de amor em que toda a divisão cessa. Da mesma forma que a beleza, não cabe na avaliação das palavras. Só a partir deste silêncio è que a mente meditativa pode actuar.
Meditar é tornar-se vulnerável. Essa vulnerabilidade não tem passado nem futuro- ontem ou amanhã. Somente o que é novo pode ser vulnerável.
A meditação é uma das maiores artes na vida, talvez mesmo a maior, mas provavelmente não pode ser ensinada. Nisso reside toda a sua beleza. Não possui técnica alguma nem autoridade sequer. Quando nos observamos e por meio dessa observação aprendemos acerca de nós próprios- sobre o modo como caminhamos, comemos, aquilo que dizemos, toda a bisbilhotice, ódio ciúme- se de tudo isso ficarmos cientes, sem escolha, tal processo fará parte da meditação. Assim, a meditação pode ocorrer quando nos sentamos no autocarro ou caminhamos pelos bosques, com sua luz e sombras, ou então quando escutamos o canto dos pássaros e olhamos para o rosto da nossa esposa ou filho.
É curioso como a meditação se torna de todo importante. O seu processo não conhece começo nem fim.
Assemelha-se a uma gota de chuva, que conglomera todas as correntes de água, os vastos rios, as quedas de água e os oceanos. Essa gota de água alimenta a terra e o homem; sem isso a terra tornar-se-ia um deserto. Sem a meditação o coração torna-se um deserto, um terreno baldio.
Meditação é descobrir se o cérebro, com todas as suas actividades e experiências, pode ficar em absoluto silêncio.
Não de modo forçado, porque no momento em que o forçarmos deverá passar a existir dualidade. A entidade que diz: "para poder fazer experiências espantosas tenho que observar a tranquilidade"; tal entidade jamais o conseguirá. Mas se começarmos a pesquisar, a observar e a escutar todos os movimentos do pensamento, com as suas condicionantes, as suas buscas, os seus medos, o seu prazer e observarmos o modo como o cérebro opera, perceberemos de que modo o cérebro se torna absolutamente silencioso. Esse silêncio não é um sono mas uma coisa tremendamente activa e imóvel. É um enorme dínamo que trabalha na perfeição, dificilmente produzindo ruído. O ruído só existe quando há fricção.
Silêncio e imensidão andam juntos. A vastidão do silêncio é a imensidão da mente em que não existe um centro.
Meditação é trabalho árduo e exige a mais elevada forma de disciplina – e não conformação imitação ou obediência - a disciplina que sobrevem por meio da atenção constante, não só das coisas relativas a nós externamente como também interiormente. Assim, a meditação não é uma actividade de isolamento mas a acção da vida diária, uma acção que exige cooperação, sensibilidade e inteligência. Sem estabelecermos as fundações de uma vida correcta, a meditação torna-se uma fuga e, portanto, não tem valor nenhum. Um viver correcto não significa seguir a moral social, mas liberdade com relação à inveja, à cobiça e à busca de poder - tudo o que gera inimizade.
A liberdade disso não sobrevem pela actividade da vontade mas pela atenção para com isso, por meio do auto-conhecimento.
Krishnamurti
Do livro A Arte da Meditação, de Krishnamuti
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